sexta-feira, 29 de julho de 2022

Entrevista reveladora


E de novo Paulina Chiziane, numa entrevista que leio na revista Ipsilon de 27 de Maio, dos Públicos que me traz a minha irmã, e que eu não lera antes de ler o seu livro “BALADA DE AMOR AO VENTO” que lhe mereceu oPrémio Camões” de 2021. A entrevista tem por título “O que é que esta mulher tem para dizer?”

Uma entrevista bem encaminhada, tanto pela entrevistadora, Isabel Lucas, como pela entrevistada, a escritora Paulina Chiziane, esta, uma mulher transbordante de referências, diluídas educadamente as reservas naturais contra o colonizador, que viveu juntamente com os seus, por alturas da descolonização apelativa dos ódios contra os brancos, que este “Prémio Camões” não ajuda certamente, a debelar. De facto, se a língua em que foi forçada a escrever parece causar-lhe frustração, porque não teve hipótese de escrever na dos seus antepassados bantus – por falta de escola destes, necessária às descodificações dos comportamentos humanos que bem descreve nos seus livros - pois parece ser com reserva que se exprime no português que lhe foi ensinado, na língua desse tal Camões, que cita, porque lhe deu o prémio e a fama, e diz amar na paridade das suas rebeldias (apesar dos tais versos bonitos de amor que condescende em admirar, julgo que por cortesia, em virtude do prémio com a tal designação), mas naturalmente desprezando em Camões o exaltador do “peito ilustre lusitano” da sua projecção épica que ignora, da mesma forma que omite qualquer palavra de apreço por aqueles professores que a ajudaram a descodificar uma cultura e uma escrita em que hoje é exímia, para sempre permanecendo a jovem distribuidora dos panfletos estimulada pelo ódio que vimos semeado nas Joanas Simeões dessa altura, que também vivemos, propícia aos ódios por lá, por essas terras do alargamento terráqueo, com que um povo minúsculo, mas corajoso, iniciara outrora a globalização.

Não, nenhuma palavra de simpatia lhe acode por esses portugueses que a ajudaram a enriquecer o espírito e nem sequer mesmo pelos camaradas portugueses e portuguesas que eu própria conheci, lá como cá, defensores das Paulinas e dos Paulinos de então – esta Paulina de lá, entretanto, acalmada nas suas ambições aguerridas, porque outros foram os chamamentos da sua vida, dissipadas – quem sabe se em frustração – as razões de tanto ódio a esses portugueses que a favoreceram na sua ascensão intelectual, todavia permanecendo fechada a amizades portuguesas, apesar desse Prémio Camões que merecidamente recebeu, por ser criativa e expressiva na sua escrita em português.

 

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