E de novo Paulina Chiziane, numa entrevista que leio na revista Ipsilon
de 27
de Maio, dos Públicos que me traz a minha irmã, e que eu não lera antes de
ler o seu livro “BALADA DE AMOR AO VENTO” que lhe mereceu o “Prémio Camões” de 2021. A entrevista tem
por título “O que é que esta mulher tem
para dizer?”
Uma entrevista bem encaminhada, tanto
pela entrevistadora, Isabel
Lucas, como pela entrevistada, a escritora Paulina Chiziane, esta, uma mulher transbordante de
referências, diluídas educadamente as reservas naturais contra o colonizador,
que viveu juntamente com os seus, por alturas da descolonização apelativa dos
ódios contra os brancos, que este “Prémio
Camões” não ajuda certamente, a debelar. De facto, se a língua em que foi
forçada a escrever parece causar-lhe frustração, porque não teve hipótese de
escrever na dos seus antepassados bantus – por falta de escola destes, necessária
às descodificações dos comportamentos humanos que bem descreve nos seus livros
- pois parece ser com reserva que se exprime no português que lhe foi ensinado,
na língua desse tal Camões, que cita, porque lhe deu o prémio e a fama, e diz
amar na paridade das suas rebeldias (apesar dos tais versos bonitos de amor que
condescende em admirar, julgo que por cortesia, em virtude do prémio com a tal
designação), mas naturalmente desprezando em Camões o exaltador do “peito ilustre lusitano” da sua projecção
épica que ignora, da mesma forma que omite qualquer palavra de apreço por
aqueles professores que a ajudaram a descodificar uma cultura e uma escrita em
que hoje é exímia, para sempre permanecendo a jovem distribuidora dos panfletos
estimulada pelo ódio que vimos semeado nas Joanas Simeões dessa altura, que
também vivemos, propícia aos ódios por lá, por essas terras do alargamento
terráqueo, com que um povo minúsculo, mas corajoso, iniciara outrora a
globalização.
Não, nenhuma palavra de simpatia lhe
acode por esses portugueses que a ajudaram a enriquecer o espírito e nem sequer
mesmo pelos camaradas portugueses e portuguesas que eu própria conheci, lá como
cá, defensores das Paulinas e dos Paulinos de então – esta Paulina de lá, entretanto,
acalmada nas suas ambições aguerridas, porque outros foram os chamamentos da
sua vida, dissipadas – quem sabe se em frustração – as razões de tanto ódio a
esses portugueses que a favoreceram na sua ascensão intelectual, todavia
permanecendo fechada a amizades portuguesas, apesar desse Prémio Camões que
merecidamente recebeu, por ser criativa e expressiva na sua escrita em
português.
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