A pôr os pontos nos iiii. Alberto Gonçalves. Com a sua qualidade inimitável, de penetração caracterológica, na tragicomédia nacional. E de descritivo linguístico exemplar. Infelizmente, para destinatários cegos e surdos. Mas de modo algum mudos, mau grado a verborreia perfeitamente vazia. Sinistramente enxovalhante.
Um manicómio em formato de Portugal
A rábula do jovem Pedro terminou com
um pedido de desculpas – alegadamente ao dr. Costa, certamente não aos
portugueses. É natural. Os portugueses não são de exigências.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 02
jul 2022, 00:217
Noto que a balbúrdia no PS e no governo não deflagrou
por causa do colapso do SNS. Ou da falta de professores. Ou do curioso preço
dos combustíveis. Ou da inflação a galope. Ou da dívida pública em valores sem
precedentes. Ou da situação na Justiça. Ou do inferno fiscal. Ou da
produtividade de rastos. Ou da imigração dos qualificados. Ou da pobreza que
alastra. Ou da crescente restrição dos direitos civis. Ou de qualquer dos
resultados inevitáveis de uma visão estatista, arcaica, opressora e, em suma,
socialista do mundo.
Não, senhor. Com tudo a
desabar em redor, os senhores do PS e do governo andam à bulha por causa do
aeroporto de Lisboa. Ou de três aeroportos de Lisboa, quatro se incluirmos o de Beja, que a
capital tem as costas e as fronteiras largas. E mesmo o pretexto do aeroporto
não se prendeu com divergências acerca da necessidade de poupar ou torrar
desenfreadamente o dinheiro dos contribuintes: a zanga deveu-se a minúcias hierárquicas, para cúmulo
antigas, que opõem o chefe do bando ao moço que sonha ser chefe no lugar do
chefe. Há qualquer coisa de simbólico no pormenor de nem na luta partidária
essa gente recorrer a uma razão urgente, relevante e sobretudo digna. O dr. Costa
e o jovem Pedro não se pegaram por discordarem quanto ao desastroso rumo do
país. Como é hábito, mantêm o rumo, ignoram o desastre e servem-se do país para
potenciar os próprios destinos. O desprezo deles pela vida da ralé é tão impune
que não tentam disfarçá-lo, e tão evidente que não conseguiriam fazê-lo.
É claro que o
jovem Pedro não avançou com os aeroportos para solucionar com rapidez um drama
nacional, mas para exibir o que ele julga ser capacidade de liderança. E é
claro que Costa não o desautorizou por achar a solução prejudicial (e o gesto
chanfrado), mas por ter sido anunciada à revelia da sua excelsa pessoa. A
circunstância de ninguém acabar demitido prova que gozar connosco é bastante
menos decisivo que o braço-de-ferro entre dois rústicos. E prova que o carácter de
ambos os rústicos é o que é. Se o dr. Costa valorizasse, um pingo que fosse, o
famoso “interesse público”, não podia deixar de demitir um ministro que, com
uma dose de candura raramente vista fora do jardim-escola, agita sozinho um “investimento”
de milhares de milhões a fim de se mostrar homem. O dr. Costa não lamentou a
infantilidade: aproveitou-a para tentar ganhar pontos numa rixa sem vergonha.
Na desgraçada situação em que estamos, e nas mãos de criaturas que apenas
agravam a situação, o único ponto que os portugueses arriscam ganhar é o final.
Não tenciono gastar dez segundos com as “estratégias”,
os “avanços”, os “recuos”, os lucros e as perdas de semelhantes portentos. No
fundo, distinguir as “personalidades” em questão implicaria a utilização de
pacómetro digital. E seria inútil. Os Costas,
os Pedros, as Martas, os Fernandos, as Marianas, os Cabritas, as Anas Catarinas
e o que calha são na essência indistinguíveis, videirinhos sem história ou
interesse. Analisar os rituais do poder
socialista é elevar essa gente a um estatuto que não merece. Quando trogloditas
desatam ao murro num estádio da bola não nos pomos a avaliar a qualidade dos
golpes infligidos pelo Zé Camolas, o carisma do Tó Orelhas e a esfera de
influência do Fábio Naifas. Espera-se, com enfado e repulsa, que a autoridade intervenha. O problema é que aqui a autoridade é o PS, que suscita
muito mais danos que a excitação dos “hooligans”. E é um problema grave. Com a
discutível excepção do posto de arrumador numa rua com pouco trânsito, nenhum
desses espécimes deveria ocupar cargos de responsabilidade. Infelizmente, por
falta de oposição, de escrutínio, de sorte e de juízo os espécimes mandam
nisto. As consequências são óbvias – e ilimitadas.
Insisto que não vou esmiuçar “estratégias”: um primeiro-ministro com descaramento suficiente para
poupar o Cabrita dos bólides e a Marta do hino da CGTP não enxotaria o jovem
Pedro por esconder os guaches, perdão, os aeroportos da turma. No governo cabe
tudo, na medida em que nada o penaliza. Os socialistas, cegos de
cobiça, não têm escrúpulos. Mancos de liberdade, os eleitores não têm noção.
Lembro que a rábula do jovem Pedro terminou com um pedido de desculpas –
alegadamente ao dr. Costa, certamente não aos portugueses. É natural. Os
portugueses não são de exigências. A garantia da miséria já nos satisfaz. Por
isso estamos satisfeitos, e não tarda estaremos ainda mais.
Agora há que
seguir em frente. Acima de minudências como a sobrevivência do país, de resto
comprometida, talvez sem retorno, o fundamental é a estabilidade política (cito
Sua Excelência, o Senhor Presidente da República). Afinal, erros de comunicação
acontecem. Neste manicómio em formato de Portugal, o que é que não acontece?
PEDRO NUNO SANTOS POLÍTICA GOVERNO ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS:
Miguel Sanches: Gente sem competência, e, mais
grave ainda, sem decência, para ocupar aqueles lugares. Mas isso levar-me-ia mais
longe: a maneira como lá chegam. Através do voto, temos isto. É uma
constatação, não estou a insinuar mais nada... Carlos Silva: Concordo com o formato. Até já
mete rios e montenegros ! Alguns até já têm o quadro à cabeceira! Tá lindo tá! Luis Tovar: entretanto o problema do sns
ficou resolvido. Vitor Batista: Nunca pensei assistir a algo do género, uma autêntica
cambada de garotos desavindos no recreio da escola, mas se houvesse um pr a
sério, obviamente que teriam sido todos demitidos. S Belo: Excelente A G ! Na forma e no
conteúdo! Jorge
Tavares: Já é altura
enfrentar a realidade: a actual geração de políticos NÃO está empenhada no bem
público. Os partidos 1.0 foram totalmente capturados por grupos de interesse. Há
anos que só querem o poder para uma coisa: saquear a sociedade e os cidadãos,
usando o Estado como meio para isso. As "gorduras", lembram-se?
É por isso que
nunca são feitas reformas. Estes políticos recusar-se-ão sempre a desmantelar a
máquina que montaram. A nova geração de políticos são todos ex-jotas - já de
meia idade, mas sem CV e sem uma profissão para além do partido em que militam.
Aprenderam funcionar num meio que é uma autêntica madraça de falta de ética e
corrupção. Não é realista esperar que algo de bom venha de gente que passou
nesses critérios de selecção. Os ex-jotas não conseguiriam governar bem, mesmo
que quisessem: são incompetentes demais para isso. É por isso que as
diligências de grupos de cidadãos e agentes económicos, junto dos governantes
(quando são recebidos), resultam sempre na desilusão ou mesmo consternação.
Aquela gente não foi lá para governar. Eles "estão noutra". A
decadência do País só será invertida, quando o povo português acordar e se
revoltar contra o sistema político de partidocracia, sem voto nominal, que
impõe jotas no parlamento e na governação, à revelia das preferências do
eleitorado. S
Belo > Jorge Tavares: A corrente é muito forte e não se
vislumbra situação capaz de regular o seu curso. O povo ou não vota, ou
não percebe em quem vota, ou vota em quem lhe garanta uns tempinhos mais de paz
podre. MPSRRS: Excelente, como sempre! É isso mesmo, as "encenações" sucedem-se
quase diariamente, os actores, digo e repito, são muito fracos. Não
convencem ninguém. E o nível de mediocridade em que estamos
submergidos vai aumentando de dia para dia... a instabilidade em que
vivemos é mais prejudicial à saúde do que qualquer virose.
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