quarta-feira, 6 de julho de 2022

Não basta


A boa imagem de serenidade e seriedade, que apresenta, Luís Montenegro. Um país que se arrasta sob a égide de quem escolheu – finório na manipulação - não vai decerto tão cedo desistir do seu manipulador. Mas, para já, gostei da informação sobre a não-aceitação do referendo sobre a regionalização, para 2024, segundo ouvi esta noite, o que vai gerar protestos e as habituais disputas. Vivemos de disputas, não de seriedade no trabalho, Luís Montenegro talvez não consiga progredir na luta que tem pela frente, Eugénia de Vasconcellos faz um bom retrato da situação, sobre uma ansiada mas hercúlea – talvez impossível - mudança.

 Os trabalhos de Luís Montenegro

Espero que Montenegro entenda que é preciso devolver a esperança a quem a perdeu. À geração mais diferenciada que emigrou e nem pensa voltar. Aos que ficaram e se arrependem todos dias de não ter ido.

EUGÉNIA DE VASCONCELLOS, Poeta, ensaísta, escritora

OBSERVADOR, 05 jul 2022, 00:1414

Luís Montenegro, líder já entronizado do PSD, tem diante de si os trabalhos de Hércules. Não porque o PSD esteja em risco de extinção, mas porque a vocação do PSD é a governação.

ado não voltará. Parte poderá voltar: aqueles que trocaram o PSD pelo PS por não haver uma clara cerca sanitária ao populismo do Chega; os que encontraram na Iniciativa Liberal a reacção adequada à falta de disputa e de oposição à governação socialista. Não duvido que Rui Rio tenha querido fazer o melhor pelo país e pelo partido, mas nem por isso a sua herança é menos pesada: uma maioria absoluta socialista e uma oposição entregue à direita populista e antidemocrática.

(Jorge Moreira da Silva, um homem com qualidades, com pensamento e competências executivas, cujo futuro político aguardo, teve, infelizmente, como mandatária em Lisboa Ana Rita Cavaco, quem mais exuberantemente sinalizou o oposto daquilo que Moreira da Silva é e defende, ambiguidade reforçada com o seu alinhamento-contra alinhamento com Rui Rio.

Se as eleições antecipadas nos mostraram alguma coisa, foi o que os eleitores não querem em tempos mais exigentes: instabilidade política e falta de clareza.

Acredito que Jorge Moreira da Silva não será, como afirmou, líder de qualquer facção: o PSD terá ele próprio aprendido a dura lição «socrática» de uma liderança instável.

Espero que a lição de Jorge Moreira da Silva aproveite também a Luís Montenegro. No seu discurso, não rejeitou o eleitorado do Chega, os mais vulneráveis, os excluídos, mas sim o populismo anti-democrático, «xenófobo e racista», que enforma aquele partido. Convinha, no entanto, ao líder do PSD ser inequívoco no discurso e nas acções. Aliás, a moção de André Ventura, que capitalizará se continuar a liderar a oposição, é experimental, é de teste tanto quanto de censura: quer avaliar a posição do PSD.)

Doravante serão provados o PSD e o seu líder como força de oposição ao imobilismo socialista, à sua infiltração na coisa pública, à apropriação e degradação institucionais. E também serão provados na sua capacidade de convergência em matérias obrigatórias: a revisão constitucional; a alteração da lei eleitoral. Bem como na colocação política do centro-direita na relação com o populismo e a extrema-direita.

A governança do PSD é, historicamente, estrutural e reformista: concorde-se ou discorde-se daquilo que faz, o PSD faz. Foi assim com Sá Carneiro. Foi assim com Cavaco Silva. E foi assim com Passos Coelho. Sabemos que cometeram erros, alguns graves. Mas antes errar por fazer do que errar por nada fazer enquanto o país se afunda em todos os indicadores internacionais, medidos com isenção, ainda que sujeitos à engenharia socialista.

Espero que Luís Montenegro compreenda que é preciso devolver a esperança aos portugueses que a perderam. À geração mais diferenciada de sempre que emigrou e nem pensa regressar. Aos que ficaram e se arrependem todos dias de não ter saído. E aos não têm meios para lutar por si mesmos nem quem defenda os seus interesses e, de facto, nem têm voz. Esperam-se reformas: SNS, Segurança Social, emprego, salários. Confiança institucional – também por isto, no discurso de Montenegro, foi importante a referência à oposição ao referendo da regionalização. É impensável criar-se mais uma camada administrativa quando é mais eficaz, ainda que não satisfaça a partidarite crónica, aumentar o poder dos municípios reforçando-lhes o poder económico e a autonomia.

Luís Montenegro está fora do parlamento. Ainda bem: Portugal também está.

O país que deu a maioria absoluta ao Partido Socialista já não existe – a bem da verdade, nem aquele Partido Socialista existe já, é outro, como Pedro Nuno Santos e António Costa, os protagonistas da última crise da semana, demonstraram. O PS não governa em cenários económicos críticos e é neste cenário, para além de qualquer bazuca, que estamos. O país que existe, o país que temos é o das urgências fechadas, das listas de espera infindáveis, de uma burocracia esmagadora, um país sufocado pelos baixos rendimentos, pelas taxas e pelos impostos, pela assimetria social, pela desigualdade de oportunidades. A este país ainda é preciso somar a inflação, o custo de vida, e o que cedo ou tarde chegará a casa de todos os que conseguiram comprar casa a crédito no meio da crise da habitação: juros galopantes.

O país, palmo a palmo, fora do parlamento, é o país pelo qual Luís Montenegro e o PSD têm de lutar.

O PSD é o mais inclusivo dos partidos. Não fora e as suas lutas internas não teriam feito manchetes. Do centro ao centro-direita este espectro da democracia plural fez dele casa: os mais e os menos conservadores; os cristãos e os humanistas sem religião; os mais liberais e os mais estatistas. A plataforma comum foi, quase sempre, a visão europeísta de desenvolvimento económico entre a social democracia e a democracia cristã. Talvez por isso a acusação recorrente de subordinação da ideologia à realidade. Não deixa de ser verdade. A maior parte do eleitorado tradicional do PSD é feito de gente que prefere o bom senso e a moderação, a estabilidade que permite o emprego, a habitação, a educação dos filhos, mobilidade social ascendente de geração em geração, ou seja, gente que prefere a desprezada arte do possível em detrimento de purismos e de utopias de elevadíssimos custos em vidas e liberdades.

Hoje, as notícias de um PSD unido, liderado por Luís Montenegro, com Carlos Moedas à cabeça do Conselho Nacional, são boas. Amanhã, ainda não sabemos.

CONGRESSO DO PSD   POLÍTICA   LUÍS MONTENEGRO   PSD

COMENTÁRIOS:

josé maria: Luís Montenegero, o grande moralizador da vida política portuguesa: Há dias descobrimos que o escritório de advocacia do qual Luís Montenegro é coproprietário era o mais recente avençado do papão socialista. As autarquias de Espinho e Vagos, ambas governadas pelo PSD, gastaram cerca de 400 mil euros no escritório do novo líder do PSD. São 10 contratos, todos por ajuste directo, no espaço de apenas 4 anos (2014-2018).O facto de Montenegro ser de Espinho, de ser o seu partido que se senta na cadeira do poder e do próprio Montenegro ter no passado sido presidente da Assembleia Municipal não terá nada a ver com este desfecho. Se fosse do PS teria, mas a malta do PSD é impoluta, não se mete nesses esquemas. São ajustes directos do bem. Tão do bem que nem o Ventura, seu potencial futuro ministro, solta um pio. Aventar,3/6/2022         bento guerra > josé maria: Hoje, o Avental, deu-te essa para distribuir                   josé maria > bento guerra: Você deve estar a confundir-me com o seu amigo Isaltino de Oeiras, aquele que mandou fazer um monumento a Priapo por uma pipa de massa de dinheiros públicos. Pouco depois de, em junho deste ano, ter saído da prisão, onde esteve 427 dias, Isaltino Morais foi reintegrado na Grande Loja Legal de Portugal. E desde setembro lidera mesmo a Loja Mercúrio, uma das mais influentes da maçonaria. Todo este episódio é relatado no livro o Fim dos Segredos, da jornalista Catarina Guerreiro. Sol, 9/11/2015 Comente esta, ó bento...           A N > josé maria: Os goodfellas do costume. É ver como está Espinho graças a estes tipos.           João Floriano:  « Luis Montenegro está fora do parlamento. Ainda bem! Portugal também está»: Belíssima frase que resume bem o momento que politicamente vivemos. S. Bento todo voltado à esquerda não representa o país real. Apenas a maioria dos poucos que votaram, que não se abstiveram, uma maioria muito relativa. Já não concordo quando a articulista apressa o PSD de Montenegro a carregar mais uma vez nas estafadas linhas vermelhas. Está à vista o resultado. Goste-se ou não o CHEGA é a colher de óleo de fígado de bacalhau que o PSD vai ter de engolir, se quiser ressurgir. Para já parece dar sinais positivos. Um desses sinais aconteceu onde no frente a frente entre a simpática Rita Matias, ainda muito inexperiente neste tipo de confrontos e  António Leitão Amaro. Quando se esperava a mesma lengalenga requentada sobre os «pecados» do CHEGA, eis que o representante laranja guina inesperadamente e aponta ao PCP. Não direi que houve por ali ventos de mudança, mas levantou-se certamente uma brisa mais fresca. Obviamente que com a moção de censura o CHEGA está  a testar o novo PSD. Talvez cedo demais. Não espero que o PSD se junte ao CHEGA, aposto que se vai abster e apresentar futuramente a sua própria moção. Mas o CHEGA está  a fazer política e nesta jogada sairá sempre como ganhador.              Carlos Chaves: Caríssima Eugénia de Vasconcellos, no geral gostei do seu artigo e começo pelo fim! “Amanhã ainda não sabemos” (se virão boas notícias) … claro que não sabemos, sobretudo porque ainda nada nos foi dito sobre as políticas alternativas que supostamente o PSD irá implementar se voltar a ser governo. Ao contrário dos grandes líderes e Primeiros Ministros sociais democratas, Francisco Sá Carneiro, Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho que apareceram com projectos e políticas claras e mobilizadoras, este líder entronizado e aclamado, aparece com sete prioridades sem explicar como as irá implementar na prática, no fundo, na vida de todos nós. Por enquanto dou-lhes o benefício da dúvida, mas para início a estratégia de Luís Montenegro e da sua equipa, apresenta muito pouca substância. Quanto ao Rui Rio, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele, a sua erradíssima estratégia fez mal ao país e aos Portugueses, é completamente indiferente a intenção da personagem.                 João Ramos:  Quem é que autorizou esta senhora a dizer que o Chega é anti democrático, só porque tem uma opinião diferente da dela, ora isso mesmo é que é ser anti democrático!             bento guerra: Sem uma onda social, que só virá com o desastre, isto pode mudar "Os outros países também têm problemas" conhecem a frase?         Fernando Prata: O PS nunca soube governar, muito menos em crise. A maioria absoluta foi um autêntico presente envenenado para Costa, que perdeu qualquer oportunidade de arranjar um pretexto para fazer cair o governo. Por isso, penso que só lhe resta uma solução: o Presidente da República dissolver o parlamento. Para mim, este caso bizarro entre o PR e o primeiro-ministro foi um teste a essa possibilidade. Fosse o presidente Jorge Sampaio, ela teria tido sucesso e Costa já poderia ir para a Europa. Com Marcelo, acho que não vai ter grandes hipóteses. Veremos os próximos capítulos. Montenegro que se cuide, porque ainda pode vir a cometer o erro de Passos Coelho, que foi salvar o país e ser tratado como um malandro. É preciso perceber que grande parte dos portugueses já não adere á realidade dado que vota maioritariamente num partido que trouxe o pântano, a bacarrota e a pobreza. Assim sendo, Montenegro deve ter cuidado e deixar o PS ser cozido em lume brando.          Alberico Lopes > Fernando Prata: É realmente o que sempre tenho dito: deixem o Costa e o PS a ser fritado em lume brando! Muito boa a alusão ao facto de Passos Coelho na sua ânsia de evitar a bancarrota que já estava à espreita, se ter proposto salvar o país para depois ser tratado como um vilão com os causadores da desgraça a esfregar as mãos de contentes, por terem arranjado alguém a quem culpar pelas medidas que tinham que ser tomadas! Montenegro está bem avisado! Não se vai  deixar enganar pelo tal irritante!           João Duarte > Alberico Lopes:  Sem tomar lados ou partidos, todos estão avisados de tudo, e a história repete-se constantemente.          Meio Vazio: É um poema?           Vitor Batista > Meio Vazio; A governação xuxa? é um acto de terror....

 

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