terça-feira, 19 de julho de 2022

Lições


O Dr. Salles serve-se da democracia na India, para nos dar lições sobre a autenticidade da referida democracia nessa Índia, que seja bom exemplo para a nossa, portuguesa, em que a autenticidade da democracia sofre tratos de polé, por falta de tradição nacional. Aproveito o tema para consultar o mapa e parte do estudozinho da aprumada wikipédia, a cargo, neste caso, como em muitos mais, dos estudiosos brasileiros de sínteses competentes. Agradeço, pois, aos dois – o Dr. Salles por nos lembrar quão distantes estamos dos ideais democráticos indianos, pese embora o sistema de castas que não me parece coadunarem-se com esses, sobretudo no que respeita aos párias, que julgo estarem abaixo dos elefantes, das vacas e outros bichos na questão de direitos e amizades e muito menos de veneração; a Wikipédia, por nos favorecer com tais artigos e mapas do nosso interesse passageiro, conquanto autêntico e verdadeiramente encantado.

E fico feliz com a agilidade do discurso e da ironia do Dr. Salles – a mesma de sempre, na narração das suas memórias, leve e animada com as suas evocações e paralelos, com as ferroadas da tradição.

NA PRAIA DOS CÃES - 5

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 18.07.22

DA DEMOCRACIA INDIANA

Sobre os Deputados que mudam de Partido no decorrer de uma Legislatura

* * *

Shri Beltrano

Shri  Cicrano

Shri Fulano

(por ordem alfabética do primeiro nome)

Cavalheiros,

Para além de ter um grande fascínio pela Índia – que conheço por estrada em muito maior extensão do que a maioria dos cidadãos indianos – sou um observador estrangeiro da tradicionalmente respeitada democracia do vosso país.

A democracia ou é pluripartidária ou não é democracia. Cada Partido assenta em princípios doutrinários próprios, donde resulta um conceito de bem comum: a cada Partido corresponde um (e só um) conceito de bem comum. Nos sufrágios periódicos universais e necessariamente livres, o que verdadeiramente se escrutina são os diversos conceitos de bem comum.

E o que não for assim, não é democracia.

E, de um modo geral, assim funcionou a democracia indiana em torno de dois ou três grandes conceitos de bem comum para a maior parte do território da União e com outros dois ou três conceitos alternativos entre si para os Estados do Sul da mesma União. Mas o que verdadeiramente importa em democracia é que o eleitorado possa optar por uma dentre as várias alternativas que lhe são oferecidas. A partir do momento (eleitoral) em que um conceito de bem comum é democraticamente considerado vencedor, o eleitorado adquire o direito inalienável de se ver governado ao abrigo desse conceito – e não de qualquer outro conceito.

E o que não for assim, não é democracia.

Em democracia, o Poder é ascendente, ou seja, emana do eleitorado e aos seus representantes, os eleitos, cumpre seguir os ditames que os conduziram ao cargo, ou seja, os mandatos para que foram eleitos e só para esses mesmos mandatos. Esses ditames e não outros, são imutáveis durante toda Legislatura sob pena, mudando-os, de deturpação da vontade do eleitorado no que deve ser considerada uma fraude democrática.

Qualquer eleitor tem o direito de mudar de opção em qualquer momento; os eleitos têm a obrigação da fidelidade aos conceitos com que foram eleitos, fidelidade exigida durante toda a Legislatura.

A democracia exige honra, seriedade e espírito de serviço.

Mudança de Partido durante o decorrer de uma Legislatura é acto anti democrático e impõe-se que haja uma Instância Superior que obste a esse absurdo e casse os mandatos irregulares.

E o que não for assim, não é democracia.

Julho de 2022

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIO:

 Anónimo  19.07.2022  15:41: Li o teu post, Henrique, sobre a Democracia Indiana e naturalmente saiu-me a expressão “Claro que sim, pois claro”. Mas tu e os teus posts têm o condão de me fazer pensar. E de repente lembrei-me de “Os Inadiáveis”. Uma ligeira pesquisa e aí está: 37 dos 73 deputados, que constituíam o grupo parlamentar do PSD, assumiram o estatuto de independentes, em 1978, quando havia Governo PS/CDS. Depois, recordei-me o que aconteceu em Itália no mês passado com a cisão do Grupo Parlamentar “Movimento 5 estrelas” e constituição do Grupo “Juntos para o Futuro”. Também na Legislatura anterior, entre nós, alguns deputados tornaram-se “independentes” do respetivo Partido à sombra do qual foram eleitos. Também não estamos incólumes, nestes dias…
A curiosidade fez-me ir mais longe. Dei uma “olhada” para o que se passa no Brasil. Céus
!... A “migração” partidária é perfeitamente legal, admitida, desde que ocorra no prazo previamente definido – 30 dias – a que se chama “janela partidária”. Este ano, foi entre 1/3 e 1/4. Neste caso, a troca de partido não implica infidelidade, nem perda de mandato. Tudo legal, como manda a Lei 9.096/1995, no seu artigo 22º-A. Acho que foi acrescento feito em 2015. E a explicação é esta: “as movimentações servem como termómetro das candidaturas, indicando qual a leitura que cada parlamentar faz do programa eleitoral e das pesquisas de intenção de voto”. Nada mais claro…
Não estamos perante “vira-casacas” ou “troca-tintas”. Nada disso. Estamos perante o exercício de um direito parlamentar legal
. A propósito de “vira-casacas”, deixa-me, Henrique, partilhar contigo um conhecimento que, por acaso, adquiri ao ler um livro de Henry Kissinger. Escreve ele a certa altura, acerca da representação das Nações no Congresso de Viena, em 1814: “Luís XVIII, de França, confiou a sua representação a Talleyrand [Charles de], que assim manteve o record de ter servido todos os governantes de França desde a época anterior à revolução.” Encontrei citação a este senhor em outros livros, mas nada mais simples do que a Wikipédia, que menciona a meia dúzia de partidos por onde passou, como o Jacobino, o Bonapartista e o Orleanista. Conseguiu ser Ministro dos Negócios Estrangeiros em 4 períodos diferentes e até, calcula, Primeiro-Ministro! Diz a enciclopédia que o senhor, ao lado do polícia Fouché, foi uma das pessoas mais polémicas de França.
Grande abraço.
Carlos Traguelho

COMENTÁRIOS:

 Anónimo  19.07.2022  15:41: Li o teu post, Henrique, sobre a Democracia Indiana e naturalmente saiu-me a expressão “Claro que sim, pois claro”. Mas tu e os teus posts têm o condão de me fazer pensar. E de repente lembrei-me de “Os Inadiáveis”. Uma ligeira pesquisa e aí está: 37 dos 73 deputados, que constituíam o grupo parlamentar do PSD, assumiram o estatuto de independentes, em 1978, quando havia Governo PS/CDS. Depois, recordei-me o que aconteceu em Itália no mês passado com a cisão do Grupo Parlamentar “Movimento 5 estrelas” e constituição do Grupo “Juntos para o Futuro”. Também na Legislatura anterior, entre nós, alguns deputados tornaram-se “independentes” do respetivo Partido à sombra do qual foram eleitos. Também não estamos incólumes, nestes dias…
A curiosidade fez-me ir mais longe. Dei uma “olhada” para o que se passa no Brasil. Céus
!... A “migração” partidária é perfeitamente legal, admitida, desde que ocorra no prazo previamente definido – 30 dias – a que se chama “janela partidária”. Este ano, foi entre 1/3 e 1/4. Neste caso, a troca de partido não implica infidelidade, nem perda de mandato. Tudo legal, como manda a Lei 9.096/1995, no seu artigo 22º-A. Acho que foi acrescento feito em 2015. E a explicação é esta: “as movimentações servem como termómetro das candidaturas, indicando qual a leitura que cada parlamentar faz do programa eleitoral e das pesquisas de intenção de voto”. Nada mais claro…
Não estamos perante “vira-casacas” ou “troca-tintas”. Nada disso. Estamos perante o exercício de um direito parlamentar legal
. A propósito de “vira-casacas”, deixa-me, Henrique, partilhar contigo um conhecimento que, por acaso, adquiri ao ler um livro de Henry Kissinger. Escreve ele a certa altura, acerca da representação das Nações no Congresso de Viena, em 1814: “Luís XVIII, de França, confiou a sua representação a Talleyrand [Charles de], que assim manteve o record de ter servido todos os governantes de França desde a época anterior à revolução.” Encontrei citação a este senhor em outros livros, mas nada mais simples do que a Wikipédia, que menciona a meia dúzia de partidos por onde passou, como o Jacobino, o Bonapartista e o Orleanista. Conseguiu ser Ministro dos Negócios Estrangeiros em 4 períodos diferentes e até, calcula, Primeiro-Ministro! Diz a enciclopédia que o senhor, ao lado do polícia Fouché, foi uma das pessoas mais polémicas de França.
Grande abraço.
Carlos Traguelho

 Francisco G. de Amorim  21.07.2022  13:47: Pois é, mas aqui no Brasil isso é prática corrente, normal e ... corrupta

 Adriano Miranda Lima  21.07.2022  17:47: A mudança de partido no decurso duma legislatura não devia acontecer numa verdadeira democracia. Fala-se amiúde dos defeitos ou das limitações da democracia e nada o poderia ilustrar melhor que essa aberração consentida em alguns regimes, certamente não muitos mas o suficiente para destratar e atentar contra aquilo que é ou devia ser a essência mais pura do sistema. A democracia só tem valor se for o veículo da verdade, da sinceridade, da autenticidade e da seriedade das escolhas políticas e respectivas promessas que se fazem ao eleitorado. Não sendo assim, tudo não passa de uma fraude e a democracia será apenas o rosto de

 Antonio Fonseca  22.07.2022  01:56: E eu que pensava que a Índia (inclusive Goa) era um caso inédito! Agora posso andar de cabeça erguida! (Ironia)

NOTAS DA INTERNET:

Índia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Índia  é um país da Ásia Meridional. É o segundo país mais populoso, o sétimo maior em área geográfica e a democracia mais populosa do mundo. Delimitada ao sul pelo Oceano Índico, pelo mar da Arábia a oeste e pelo golfo de Bengala a leste, a Índia tem uma costa com 7 517 km de extensão.  O país faz fronteira com Paquistão a oeste;  ChinaNepal e Butão ao norte Bangladesh e Mianmar a leste. Os países insulares do Oceano Índico — Sri Lanka e Maldivas — estão localizados bem próximo da Índia.

Lar da Civilização do Vale do Indo, de rotas comerciais históricas e de vastos impérios, o subcontinente indiano é identificado por sua riqueza comercial e cultural de grande parte da sua longa história.  Quatro grandes religiões  hinduísmobudismojainismo e siquismo — originaram-se no país, enquanto o zoroastrismo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo chegaram no primeiro milénio d.C. e moldaram a diversidade cultural da região. Anexada gradualmente pela Companhia Britânica das Índias Orientais no início do século XVIII e colonizada pelo Império Britânico a partir de meados do século XIX, a Índia tornou-se uma nação independente em 1947, após uma luta social pela independência que foi marcada pela extensão da resistência não violenta. A Índia é uma república composta por 28 estados e sete territórios da união, com um sistema de democracia parlamentar. O país é a sexta maior economia do mundo em Produto Interno Bruto (PIB) nominal, bem como terceira maior do mundo em PIB medido em Paridade de Poder de Compra. As reformas económicas feitas desde 1991 transformaram o país em uma das economias de mais rápido crescimento do mundo; no entanto, a Índia ainda sofre com altos níveis de pobreza, analfabetismo, violência de género, doenças e desnutrição. Uma sociedade pluralistamultilingue e multiétnica, a Índia também é o lar de uma grande diversidade de animais selvagens e de habitats protegidos. A Índia passou do 140.º para o 177.º lugar entre 2016 e 2018 no Índice de Desempenho Ambiental compilado por pesquisadores das Universidades de Yale e Columbia. Em particular, o estudo destaca a "alarmante" deterioração da qualidade do ar.

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