O Dr. Salles serve-se da democracia na India, para nos dar lições sobre a
autenticidade da referida democracia nessa Índia, que seja bom exemplo para a
nossa, portuguesa, em que a autenticidade da democracia sofre tratos de polé,
por falta de tradição nacional. Aproveito o tema para consultar o mapa e parte
do estudozinho da aprumada wikipédia, a cargo, neste caso, como em muitos mais,
dos estudiosos brasileiros de sínteses competentes. Agradeço, pois, aos dois –
o Dr. Salles por nos lembrar quão distantes estamos dos ideais democráticos
indianos, pese embora o sistema de castas que não me parece coadunarem-se com
esses, sobretudo no que respeita aos párias, que julgo estarem abaixo dos
elefantes, das vacas e outros bichos na questão de direitos e amizades e muito
menos de veneração; a Wikipédia, por nos favorecer com tais artigos e mapas do
nosso interesse passageiro, conquanto autêntico e verdadeiramente encantado.
E fico feliz com a agilidade do discurso
e da ironia do Dr. Salles – a mesma de sempre, na narração das suas memórias,
leve e animada com as suas evocações e paralelos, com as ferroadas da tradição.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 18.07.22
DA DEMOCRACIA INDIANA
Sobre os Deputados que mudam de Partido no decorrer de
uma Legislatura
* * *
Shri
Beltrano
Shri
Cicrano
Shri
Fulano
(por
ordem alfabética do primeiro nome)
Cavalheiros,
Para
além de ter um grande fascínio pela Índia – que conheço por estrada em muito
maior extensão do que a maioria dos cidadãos indianos – sou um observador
estrangeiro da tradicionalmente respeitada democracia do vosso país.
A democracia ou é pluripartidária ou não é democracia. Cada Partido assenta em princípios doutrinários
próprios, donde resulta um conceito de bem comum: a cada Partido
corresponde um (e só um) conceito de bem comum. Nos
sufrágios periódicos universais e necessariamente livres, o que verdadeiramente
se escrutina são os diversos conceitos de bem comum.
E o que não for assim, não é
democracia.
E, de um modo geral, assim funcionou
a democracia indiana em torno de dois ou três grandes conceitos de bem comum
para a maior parte do território da União e com outros dois ou três conceitos
alternativos entre si para os Estados do Sul da mesma União. Mas o que verdadeiramente importa em
democracia é que o eleitorado possa optar por uma dentre as várias alternativas
que lhe são oferecidas. A
partir do momento (eleitoral) em que um conceito de bem comum é
democraticamente considerado vencedor, o eleitorado adquire o direito
inalienável de se ver governado ao abrigo desse conceito – e não de qualquer
outro conceito.
E o que não for assim,
não é democracia.
Em
democracia, o Poder é ascendente, ou seja, emana do eleitorado e aos seus
representantes, os eleitos, cumpre seguir os ditames que os conduziram ao
cargo, ou seja, os mandatos para que foram eleitos e só para esses mesmos
mandatos. Esses
ditames e não outros, são imutáveis durante toda Legislatura sob pena,
mudando-os, de deturpação da vontade do eleitorado no que deve ser considerada
uma fraude democrática.
Qualquer eleitor tem o direito de mudar de opção em qualquer
momento; os eleitos têm a obrigação da fidelidade aos conceitos com que foram
eleitos, fidelidade exigida durante toda a Legislatura.
A democracia exige honra, seriedade e espírito de serviço.
Mudança de Partido durante o
decorrer de uma Legislatura é acto anti democrático e impõe-se que haja uma
Instância Superior que obste a esse absurdo e casse os mandatos irregulares.
E o que não for assim, não é
democracia.
Julho de 2022
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIO:
Anónimo 19.07.2022 15:41: Li o teu post, Henrique, sobre a
Democracia Indiana e naturalmente saiu-me a expressão “Claro que sim, pois
claro”. Mas tu e os teus posts têm o condão de me fazer pensar. E de repente
lembrei-me de “Os Inadiáveis”. Uma ligeira pesquisa e aí está: 37 dos 73
deputados, que constituíam o grupo parlamentar do PSD, assumiram o estatuto de
independentes, em 1978, quando havia Governo PS/CDS. Depois, recordei-me
o que aconteceu em Itália no mês passado com a cisão do Grupo Parlamentar
“Movimento 5 estrelas” e constituição do Grupo “Juntos para o Futuro”. Também
na Legislatura anterior, entre nós, alguns deputados tornaram-se
“independentes” do respetivo Partido à sombra do qual foram eleitos. Também
não estamos incólumes, nestes dias…
A curiosidade fez-me ir mais longe. Dei uma
“olhada” para o que se passa no Brasil.
Céus!... A “migração” partidária é
perfeitamente legal, admitida, desde que ocorra no prazo previamente definido –
30 dias – a que se chama “janela partidária”. Este ano, foi entre 1/3 e 1/4. Neste caso, a troca de
partido não implica infidelidade, nem perda de mandato. Tudo legal, como manda
a Lei 9.096/1995, no seu artigo 22º-A. Acho que foi acrescento feito em
2015. E a explicação é esta: “as movimentações servem como termómetro das
candidaturas, indicando qual a leitura que cada parlamentar faz do programa
eleitoral e das pesquisas de intenção de voto”. Nada mais claro…
Não estamos perante “vira-casacas” ou
“troca-tintas”. Nada disso. Estamos perante o exercício de um direito
parlamentar legal. A propósito de “vira-casacas”, deixa-me, Henrique,
partilhar contigo um conhecimento que, por acaso, adquiri ao ler um livro de
Henry Kissinger. Escreve ele a certa altura, acerca da representação das Nações
no Congresso de Viena, em 1814: “Luís XVIII, de França, confiou a sua
representação a Talleyrand [Charles de], que assim manteve o record de ter
servido todos os governantes de França desde a época anterior à revolução.”
Encontrei citação a este senhor em outros livros, mas nada mais simples do
que a Wikipédia, que menciona a meia dúzia de partidos por onde passou, como o
Jacobino, o Bonapartista e o Orleanista. Conseguiu ser Ministro dos Negócios
Estrangeiros em 4 períodos diferentes e até, calcula, Primeiro-Ministro! Diz a
enciclopédia que o senhor, ao lado do polícia Fouché, foi uma das pessoas mais
polémicas de França.
Grande abraço. Carlos
Traguelho
COMENTÁRIOS:
Anónimo 19.07.2022 15:41: Li o teu post, Henrique, sobre a
Democracia Indiana e naturalmente saiu-me a expressão “Claro que sim, pois
claro”. Mas tu e os teus posts têm o condão de me fazer pensar. E de repente
lembrei-me de “Os Inadiáveis”. Uma ligeira pesquisa e aí está: 37 dos 73
deputados, que constituíam o grupo parlamentar do PSD, assumiram o estatuto de
independentes, em 1978, quando havia Governo PS/CDS. Depois, recordei-me
o que aconteceu em Itália no mês passado com a cisão do Grupo Parlamentar
“Movimento 5 estrelas” e constituição do Grupo “Juntos para o Futuro”. Também
na Legislatura anterior, entre nós, alguns deputados tornaram-se
“independentes” do respetivo Partido à sombra do qual foram eleitos. Também
não estamos incólumes, nestes dias…
A curiosidade fez-me ir mais longe. Dei uma
“olhada” para o que se passa no Brasil.
Céus!... A “migração” partidária é
perfeitamente legal, admitida, desde que ocorra no prazo previamente definido –
30 dias – a que se chama “janela partidária”. Este ano, foi entre 1/3 e 1/4. Neste caso, a troca de
partido não implica infidelidade, nem perda de mandato. Tudo legal, como manda
a Lei 9.096/1995, no seu artigo 22º-A. Acho que foi acrescento feito em
2015. E a explicação é esta: “as movimentações servem como termómetro das
candidaturas, indicando qual a leitura que cada parlamentar faz do programa
eleitoral e das pesquisas de intenção de voto”. Nada mais claro…
Não estamos perante “vira-casacas” ou
“troca-tintas”. Nada disso. Estamos perante o exercício de um direito
parlamentar legal. A propósito de “vira-casacas”, deixa-me, Henrique,
partilhar contigo um conhecimento que, por acaso, adquiri ao ler um livro de
Henry Kissinger. Escreve ele a certa altura, acerca da representação das Nações
no Congresso de Viena, em 1814: “Luís XVIII, de França, confiou a sua
representação a Talleyrand [Charles de], que assim manteve o record de ter
servido todos os governantes de França desde a época anterior à revolução.”
Encontrei citação a este senhor em outros livros, mas nada mais simples do
que a Wikipédia, que menciona a meia dúzia de partidos por onde passou, como o
Jacobino, o Bonapartista e o Orleanista. Conseguiu ser Ministro dos Negócios
Estrangeiros em 4 períodos diferentes e até, calcula, Primeiro-Ministro! Diz a
enciclopédia que o senhor, ao lado do polícia Fouché, foi uma das pessoas mais
polémicas de França.
Grande abraço. Carlos
Traguelho
Francisco G. de Amorim 21.07.2022 13:47:
Pois
é, mas aqui no Brasil isso é prática corrente, normal e ... corrupta
Adriano Miranda
Lima 21.07.2022 17:47: A
mudança de partido no decurso duma legislatura não devia acontecer numa
verdadeira democracia. Fala-se amiúde dos defeitos ou das limitações da
democracia e nada o poderia ilustrar melhor que essa aberração consentida em
alguns regimes, certamente não muitos mas o suficiente para destratar e atentar
contra aquilo que é ou devia ser a essência mais pura do sistema. A democracia
só tem valor se for o veículo da verdade, da sinceridade, da autenticidade e da
seriedade das escolhas políticas e respectivas promessas que se fazem ao
eleitorado. Não sendo assim, tudo não passa de uma fraude e a democracia será
apenas o rosto de
Antonio Fonseca 22.07.2022 01:56: E eu que pensava que a Índia (inclusive Goa) era um caso inédito! Agora posso andar de cabeça erguida! (Ironia)
NOTAS DA INTERNET:
Índia
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Índia
é um país da Ásia Meridional. É o segundo
país mais populoso, o sétimo maior em área geográfica e a democracia mais populosa
do mundo. Delimitada
ao sul pelo Oceano Índico,
pelo mar da Arábia a
oeste e pelo golfo de Bengala a
leste, a Índia tem uma costa com 7 517 km
de extensão. O
país faz fronteira com Paquistão a
oeste; China, Nepal e Butão ao norte e Bangladesh e Mianmar a
leste. Os países
insulares do Oceano Índico — Sri Lanka e Maldivas — estão localizados bem próximo da Índia.
Lar da Civilização do Vale do Indo, de rotas comerciais históricas e de vastos
impérios, o subcontinente indiano é identificado por
sua riqueza comercial e cultural de grande parte da sua longa história. Quatro grandes religiões hinduísmo, budismo, jainismo e siquismo — originaram-se no país, enquanto o zoroastrismo,
o judaísmo,
o cristianismo e
o islamismo chegaram no primeiro milénio d.C. e
moldaram a diversidade cultural da região. Anexada gradualmente
pela Companhia Britânica das Índias
Orientais no início do século XVIII e colonizada pelo Império Britânico a partir de meados
do século XIX, a Índia
tornou-se uma nação independente em 1947, após uma luta social pela independência que foi
marcada pela extensão da resistência não violenta. A Índia é uma república composta
por 28 estados e sete territórios da união, com um sistema de democracia parlamentar. O país é a sexta maior economia do mundo em
Produto Interno Bruto (PIB) nominal, bem como a terceira maior do
mundo em PIB medido em Paridade de Poder de Compra. As reformas económicas feitas desde 1991
transformaram o país em uma das economias de mais rápido crescimento do mundo; no
entanto, a Índia ainda sofre com altos níveis de pobreza, analfabetismo,
violência de género, doenças e desnutrição. Uma sociedade pluralista, multilingue e multiétnica,
a Índia também é o lar de uma grande diversidade de animais selvagens e
de habitats protegidos. A Índia passou do 140.º para o 177.º lugar entre 2016
e 2018 no Índice de Desempenho Ambiental compilado por pesquisadores das
Universidades de Yale e Columbia. Em particular, o estudo destaca a "alarmante"
deterioração da qualidade do ar.
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