Por Rui Ramos e vários comentadores atentos. É
triste que não haja reacções expressivas, ao estado de sítio a que a tal
democracia branda e voluptuosa nos levou. CONTINUEMOS,
como diria o Dr. Salles. Neste caso com ironia.
A guerra não é só com Putin: é também connosco
próprios
O Ocidente precisa de readquirir a
prudência que vem da noção dos limites. É por isso que a guerra na Ucrânia não
é só com Putin: é também contra a nossa complacência e distracção.
RUI RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 29
jul 2022, 06:3825
Vamos quase com meio ano de guerra. Ao contrário do que todos
previam, nem as tropas russas esmagaram a Ucrânia, nem sanções ocidentais
dobraram a Rússia. A este
respeito, a guerra tem sido reveladora: quanto mais os governos europeus tentam
desligar-se da ditadura russa, mais claro se torna o modo como deixaram que o
regime de Putin se tornasse parte do nosso mundo, ao ponto de não ser fácil
separarmo-nos dele.
Começamos assim a perceber melhor o
que foi a época do “fim da história”, a seguir a 1989. Não foi simplesmente o tempo em que nos convencemos de que as ditaduras
estavam destinadas a dar lugar a democracias. Foi também o tempo em que
deixámos de dar importância ao carácter autoritário dos regimes, desde que não
nos ameaçassem abertamente, como a Coreia do Norte ou o Irão. Durante a Guerra Fria, o Ocidente
e a União Soviética eram dois mundos à parte. Depois,
democracias e ditaduras passaram a fazer parte de um mundo só, o da
globalização. A integração económica entre os EUA e a China comunista,
por exemplo, não levantava em geral mais dúvidas do que as que diziam respeito
à lealdade da concorrência chinesa. Tudo o mais que se pudesse dizer era
logo menosprezado, pelos sábios, como “conversa de guerra fria”. Foi
assim que na Europa a Alemanha se tornou dependente da Rússia.
A complacência era tão grande que uma invasão russa da Ucrânia não
chegou para o Ocidente perceber o que era o regime de Putin. Foram precisas
duas, porque depois da anexação russa da Crimeia, em 2014, as obras do novo
gasoduto a ligar a Alemanha à Rússia continuaram imperturbavelmente até este
ano. Devemos admirar-nos por Putin se ter sentido tentado a testar mais uma vez
a tolerância ocidental às suas conquistas? A questão é a de perceber donde veio
esta complacência quase suicidária.
Não é um grande mistério, se
pensarmos que o Ocidente – os EUA, a Europa ocidental e, a partir de certa
altura, o Japão – produziu durante quase duzentos anos, entre o fim do século
XVIII e a o princípio do século XXI, a maior parte da riqueza mundial. Em 1989, assistiu ao colapso da União Soviética, que tentara disputar a sua primazia. É
muito natural que se tivesse persuadido de que correspondia ao mais elevado
patamar da evolução da humanidade, e que, portanto, podia desprezar a prudência
dos séculos e permitir-se as mais variadas experiências.
Daí,
por exemplo, a integração das ditaduras chinesa e russa. Daí, também, a fabricação de dinheiro como
meio de resolver problemas, fosse a crise bancária de 2008 ou a pandemia de
2019. Daí, ainda, a
disponibilidade para renunciar aos elementos que estruturaram historicamente as
sociedades, como as fronteiras e as identidades nacionais. Os resultados desta complacência só podem
surpreender quem acreditou mesmo que não havia limites para o poder ocidental.
A destruição de fronteiras e de identidades nacionais, em nome da inclusão,
apenas fez sociedades mais divididas e menos seguras. A fabricação
indisciplinada de dinheiro levou previsivelmente à inflação, um flagelo para os
mais pobres. A arrogância globalizante deixou as ditaduras corromper e
subverter o mundo. Como
poderia ter sido diferente?
O Ocidente precisa de
humildade. Precisa
de aprender que não é todo o mundo, mas apenas uma parte do mundo. Precisa de
aprender que os seus regimes políticos, por melhores que sejam, nem por isso
são menos perecíveis. Precisa de respeitar as tradições que sustentaram a sua
prosperidade e liberdade. Precisa, em suma, de readquirir a prudência que vem
da consciência dos limites. É por isso que esta guerra na Ucrânia não é só uma
guerra com Putin: é também uma guerra connosco próprios, contra a nossa
complacência e distracção.
PS: O
presidente da Câmara Municipal de Lisboa já disse que não prometeu erguer uma
estátua a Vasco Gonçalves. A uma
vereação democrática, a figura histórica de Vasco Gonçalves não deveria merecer
nenhuma espécie de homenagem. Sim, o general colaborou no derrube da ditadura
salazarista. Não o fez, porém, para instaurar o regime democrático pluralista
em que vivemos, mas outra ditadura. Felizmente, falhou. Deve ser estudado,
não celebrado.
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA
EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS
NUNO SILVA: É verdade o
que diz sobre Vasco Gonçalves. Mas havia nele uma genuína inclinação para
defender os mais desfavorecidos. Muitos outros defendiam o mesmo apenas para
alcançar o poder, a ele movia-o a noção de serviço. Não voltei a ver isso de
forma tão autêntica. Não me surpreende que tenha admiradores. Não se enganou
rotundamente no caminho? Sim. Quantos de nós também não andámos equivocados
atrás de enganos? Ainda hoje temos a maior estátua de Lisboa, a da rotunda, a
homenagear quem formatou um país dependente dos seus governantes e esquecido da
liberdade. Se vier a ser construída a tal estátua, não mudarei de passeio com
os meus netos, antes aproveitarei para lhes contar das paixões que vivemos, dos
erros cometidos, das sadias brisas que se podem levantar com o arrependimento. Liberales
Semper Erexitque > NUNO SILVA: "Ou se está com a revolução, ou se está com a
reacção!" Faz
cá tanta falta como as Chagas e como a peste! Filipe Costa: Portugal tem uma vasta área marítima, tem que investir
em navios de guerra, fragatas e caças de topo. E vamos tarde. klaus muller: Se
virmos bem, geralmente as democracias costumam reagir tardiamente, chegando
mesmo a "levar pancada" no início destas crises mais brutais.
Mas, depois, até acabam por vencer a barbárie.
Pode ser que também seja assim desta vez. Maria
Rita Menezes: Muito
lúcida análise! Parabéns! Cpts Alexandre Barreira: A madre superiora do convento é que tinha razão. "Minhas meninas, tenham
calma, guerra é guerra" ! Joao Almeida Garrett: Pois é, vamos nos próximos anos
pagar os erros sucessivos desde 1989. Quanto à estátua de Vasco Gonçalves,
figura execrável, nem a brincar. R C: Excelente! Nuno Torres: O lucro fácil e rápido da
mão-de-obra e energia baratas. Fomos engolidos pela ganância! Antonio C.: Bravo. Assino e subscrevo. Mais
uma brilhante e certeira análise. Deixamo-nos adormecer à sombra da bananeira.
Resta saber se outros já não arruínam o resto da plantação… Sérgio: Muito bom! Andrade QB: A arrogância do Ocidente chegou ao ponto de ser do seu seio que partem as
maiores críticas à sua existência. Só isso explica que se tenha instalado um
justicialismo radical e de culpa colectiva para com os pecados e pecadilhos do
Ocidente e uma ilimitada compreensão, aceitação e encobrimento dos mais
hediondos crimes contra as pessoas diariamente cometidos de forma legal nos
países pró comunistas. Ver migrantes africanos a quem nunca passou pela cabeça
imigrar para a Rússia ou China, e em que os poucos que se atrevem, sabem
aí o que é o verdadeiro racismo, LGBTs, ambientalistas e a generalidade
dos profissionais da comunicação social a diariamente andarem a combater o
Ocidente com o correspondente apoio ao regime não ocidental, só se percebe
porque também eles estão arrogantemente convencidos de que o regime ocidental é
eterno e garantido. A realidade mostra que não. Carlos Quartel: Tem razão RR. As sociedades
democráticas baixaram a guarda, colaboraram com ditaduras, perderam a noção do
real valor da liberdade, vergaram-se ao vil metal e aos melhores negócios,
alguns com o Diabo. Putin anda há 20 anos a dar sinais sobre o que
pensa das democracias pluralistas, o seu caminho está pejado de cadáveres,
jornalistas, políticos, gente da KGB, com venenos, chapéus de chuva, empurrões,
balas, dezenas de mortes suspeitas nas residências, a que se junta a Chechénia
(um massacre), a Geórgia e agora a Ucrânia. Mas vendia o gás barato e era
recebido como uma pessoa de bem, enquanto tentava desestabilizar os nossos
sistemas, financiando partidos de ruptura e manigâncias nas redes de internet,
de modo a perturbar eleições. Felizmente para nós e
infelizmente para ele, parece que ainda temos algum ânimo para defender o valor
supremo da liberdade individual e ainda continuamos com força para recusar a
passagem a rebanho. Claro que é preciso passar esta mensagem, o que está em
causa não é Putin, o que está em causa é o ataque a uma sociedade livre,
plural, onde as divergências são vistas com naturalidade e onde a diferença de
projectos é resolvida por votos.
bento guerra > Carlos Quartel: Tem a razão, o Biden foi , há
uma semana, à Arábia Saudita e o Macron anda por lá. Aquilo, sim, é gente
democrática e que trata bem opiniões diferentes. O dinheiro não tem cheiro, nem
ideologia Carlos
Quartel > bento guerra: Não tenciono mandar-lhe nenhum
míssil. Esse é o valor que tento vender. A liberdade e a naturalidade do
desacordo. Que, neste caso, até nem existe. Tão grave é fazer negócios com o
tipo que mandou liquidar o jornalista num consulado, como com o camarada que
fornece chás de polónio. A desculpa do Ocidente acaba por ser o sistema. O
poder depende do voto e o voto depende do conforto do cidadão. A perfeição
continua por descobrir ..... Alberto
Rei: Não, não é essa a
guerra contra Putin, Prof. Ramos. É claro que o ocidente precisa de entender
que é apenas uma parte do mundo, e que não deve tentar impor a sua vontade aos
outros. O ocidente tem de entender, que os outros também têm Poder, não
interessa agora como o adquiriram ou lhes deixaram adquirir. Quando a seguir à
derrota da Rússia por causa da guerra das estrelas de Reagan, os EUA,
continuaram a prosseguir uma política de imposição que se agravou com Bush,
Obama, Trump e agora Biden. Dantes ainda o pós-Guerra Fria mascarava a expansão
da "democracia", mas logo se começou a ver que de democracia a imposição
nada tinha mas sim império, domínio, e uso para próprio interesse. Hoje,
com com um shift de power para a Rússia e a China, a máscara caiu de vez, it’s
ugly, os EUA dominam as instituições financeiras internacionais, daí anunciarem
a aplicação de sanções sem antes serem alvo de aprovação e estudo, e domina por
abandono da defesa da Europa, a organização militar chamada Nato, que a usa a
seu bel‘prazer. Tem de ter a humildade, de negociar, de aceitar, de conceder,
para depois exigir. Ao não agir assim, meteu como se diz o c......ão na virilha
à UE, ela própria sem ambição imperial, ao metê-la no conflito com a Rússia,
desnecessariamente. Como o Professor diz, é preciso respeitar as nossas
tradições que sustentaram a prosperidade e liberdade, e fazermos um restart a
nós próprios bento
guerra: Na Ucrânia, deviam
ter cumprido os Acordos de Minsk e o destino das regiões russófilas. Não só não
o fizeram, como andaram a aliciar a ligação à Nato. O "urso"
chateou-se e como o jogo não é em terreno neutro, o país está tramado e o
Ocidente entalado(uma tal Applebaum deu ontem uma entrevista na RTP3 ,com uma
arrogância que não leva a nada. Derrotar Putin e pronto Rui Lima: Fico feliz por ler o que escreve Rui Ramos no 5.º
parágrafo, há muito anos que penso o mesmo. Lembro-me
de questionar alguém da elite francesa sobre a chegada de milhões vindos
de uma cultura com outros valores , recordo de ele ter dito que toda essa
gente iria adoptar o nosso modelo sociedade, vendo o nosso bem-estar , a
nossa riqueza , a nossa liberdadem, a nossa cultura, os nossos direitos …
na verdade aconteceu o contrário eles rejeitam os nossos valores
e querem impor o seu modo de vida. Relativamente às ditaduras, as nossas
elites pensavam que esses países só podiam escolher o modelo liberal e
para isso bastava serem um pouco mais ricos para o fazer. Luis Martins: O dito ocidente com os países democráticos na Europa e
no Norte da América estão a colher os frutos daquilo que semearam nos últimos
30 anos. Deixaram deslocalizar as fábricas para a China e outros países com
ditaduras e mão de obra barata para enriquecer as grandes empresas. A Europa
deixou-se ficar refém do gás Russo porque as políticas ambientais na UE era
fechar as centrais de produção de electricidade a carvão e a energia nuclear
para serem substituídas por centrais de produção de electricidade a gás e
depois estavam a obrigar as empresas petrolíferas a investir em energias
renováveis, pois as empresas petrolíferas estavam a pagar carradas de taxas por
emissões de CO2. A maior aberração é que a Europa e Eua importam 90% dos
painéis solares da China ou seja saltam do lume do gás Russo para a fogueira
dos painéis solares chineses. As políticas criminosas energéticas da
UE fizeram com que agora estamos todos com as calças na mão, pois a UE
ficou dependente a nível energético de 2 grandes ditaduras que são
politicamente inimigas da UE e irão fazer tudo para destruir as democracias
ocidentais. Nós por
cá fizemos o 25 de 1974 para depois vendermos as melhores empresas portuguesas
a ditaduras como a da China e os nossos governantes , políticos e elite
empresarial, especializaram-se a roubar o pote dos impostos os subsídios vindos
da UE e a parirem bancarrotas. Vão
ser necessários mais de 10 anos para minimizar a dependência da Rússia e da
China, e este ano vai ficar na história como o início da desglobilização
e recuperação das soberanias económicas do mundo ocidental .Chegámos
ao cúmulo da aberração de eu como ocidental estou impedido de comprar casa, ou
terrenos ou comprar um banco ou uma grande empresa na China e em muitos outros
países da Ásia e África, mas eles podem comprar tudo e mais alguma coisa
no mundo ocidental , são estas políticas criminosas e um puro suicídio que nos
conduziu ao estado em que estamos, com a Europa a definhar a grande
velocidade. Antonio Tavares: Em que data os políticos na gestão dos serviços do
estado informam o início do racionamento de combustíveis e de energia na Tugalândia? Vamos a ver quem são os "amigos" e/ou
"sócios" dos políticos que vão facturar muitos euros nos
negócios na candonga de combustíveis e de energia. Alexandre Barreira: Enquanto a Rússia tiver o apoio da China, bem podem
pintar a manta. E está visto que a Europa anda toda acagaçada ! Rui Lima: “A destruição
de fronteiras e de identidades nacionais, em nome da inclusão, apenas fez sociedades
mais divididas e menos seguras. “ Rui Ramos ainda pode escrever estes linhas
não sei por quanto tempo, da Suécia à França todo o tipo de violência é diária,
das violações às facadas, mas a grande imprensa esconde para não ser acusada de
estar com as forças “racistas” . A minha técnica para ter informação é ir à
Google escrever o nome de uma cidade francesa e couteau (faca ) hoje escrevi Le
Mans e deu isto de ontem facadas em quem passava na rua . “Des passants ont été
agressés au couteau par un homme ce mercredi 27 juillet au Mans”. O espaço onde
existiam nações, passa a ser ocupado por várias comunidades que pouco têm em
comum a soma de todos esses grupos não dará um país dará um Líbano. Hoje, se a
França necessitasse em caso de guerra de recrutar a sua juventude 30% estariam
ausentes porque nada sentem pela França, na 3.ª geração quando se pergunta qual
é o seu país dizem, Argélia , Marrocos …
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