sábado, 30 de julho de 2022

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Por Rui Ramos e vários comentadores atentos. É triste que não haja reacções expressivas, ao estado de sítio a que a tal democracia branda e voluptuosa nos levou. CONTINUEMOS, como diria o Dr. Salles. Neste caso com ironia.

A guerra não é só com Putin: é também connosco próprios

O Ocidente precisa de readquirir a prudência que vem da noção dos limites. É por isso que a guerra na Ucrânia não é só com Putin: é também contra a nossa complacência e distracção.

RUI RAMOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 jul 2022, 06:3825

Vamos quase com meio ano de guerra. Ao contrário do que todos previam, nem as tropas russas esmagaram a Ucrânia, nem sanções ocidentais dobraram a Rússia. A este respeito, a guerra tem sido reveladora: quanto mais os governos europeus tentam desligar-se da ditadura russa, mais claro se torna o modo como deixaram que o regime de Putin se tornasse parte do nosso mundo, ao ponto de não ser fácil separarmo-nos dele.

Começamos assim a perceber melhor o que foi a época do “fim da história”, a seguir a 1989. Não foi simplesmente o tempo em que nos convencemos de que as ditaduras estavam destinadas a dar lugar a democracias. Foi  também o tempo em que deixámos de dar importância ao carácter autoritário dos regimes, desde que não nos ameaçassem abertamente, como a Coreia do Norte ou o Irão.  Durante a Guerra Fria, o Ocidente e a União Soviética eram dois mundos à parte. Depois, democracias e ditaduras passaram a fazer parte de um mundo só, o da globalização. A integração económica entre os EUA e a China comunista, por exemplo, não levantava em geral mais dúvidas do que as que diziam respeito à lealdade da concorrência chinesa. Tudo o mais que se pudesse dizer era logo menosprezado, pelos sábios, como “conversa de guerra fria”. Foi assim que na Europa a Alemanha se tornou dependente da Rússia.

A complacência era tão grande que uma invasão russa da Ucrânia não chegou para o Ocidente perceber o que era o regime de Putin. Foram precisas duas, porque depois da anexação russa da Crimeia, em 2014, as obras do novo gasoduto a ligar a Alemanha à Rússia continuaram imperturbavelmente até este ano. Devemos admirar-nos por Putin se ter sentido tentado a testar mais uma vez a tolerância ocidental às suas conquistas? A questão é a de perceber donde veio esta complacência quase suicidária.

Não é um grande mistério, se pensarmos que o Ocidente – os EUA, a Europa ocidental e, a partir de certa altura, o Japão – produziu durante quase duzentos anos, entre o fim do século XVIII e a o princípio do século XXI, a maior parte da riqueza mundial. Em 1989, assistiu ao colapso da União Soviética, que tentara disputar a sua primazia. É muito natural que se tivesse persuadido de que correspondia ao mais elevado patamar da evolução da humanidade, e que, portanto, podia desprezar a prudência dos séculos e permitir-se as mais variadas experiências.

Daí, por exemplo, a integração das ditaduras chinesa e russa. Daí, também, a fabricação de dinheiro como meio de resolver problemas, fosse a crise bancária de 2008 ou a pandemia de 2019. Daí, ainda, a disponibilidade para renunciar aos elementos que estruturaram historicamente as sociedades, como as fronteiras e as identidades nacionais. Os resultados desta complacência só podem surpreender quem acreditou mesmo que não havia limites para o poder ocidental. A destruição de fronteiras e de identidades nacionais, em nome da inclusão, apenas fez sociedades mais divididas e menos seguras. A fabricação indisciplinada de dinheiro levou previsivelmente à inflação, um flagelo para os mais pobres. A arrogância globalizante deixou as ditaduras corromper e subverter o mundo. Como poderia ter sido diferente?

O Ocidente precisa de humildade. Precisa de aprender que não é todo o mundo, mas apenas uma parte do mundo. Precisa de aprender que os seus regimes políticos, por melhores que sejam, nem por isso são menos perecíveis. Precisa de respeitar as tradições que sustentaram a sua prosperidade e liberdade. Precisa, em suma, de readquirir a prudência que vem da consciência dos limites. É por isso que esta guerra na Ucrânia não é só uma guerra com Putin: é também uma guerra connosco próprios, contra a nossa complacência e distracção.

PS: O presidente da Câmara Municipal de Lisboa já disse que não prometeu erguer uma estátua a Vasco Gonçalves. A uma vereação democrática, a figura histórica de Vasco Gonçalves não deveria merecer nenhuma espécie de homenagem. Sim, o general colaborou no derrube da ditadura salazarista. Não o fez, porém, para instaurar o regime democrático pluralista em que vivemos, mas outra ditadura. Felizmente, falhou. Deve ser estudado, não celebrado.

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO

COMENTÁRIOS

NUNO SILVA: É verdade o que diz sobre Vasco Gonçalves. Mas havia nele uma genuína inclinação para defender os mais desfavorecidos. Muitos outros defendiam o mesmo apenas para alcançar o poder, a ele movia-o a noção de serviço. Não voltei a ver isso de forma tão autêntica. Não me surpreende que tenha admiradores. Não se enganou rotundamente no caminho? Sim. Quantos de nós também não andámos equivocados atrás de enganos? Ainda hoje temos a maior estátua de Lisboa, a da rotunda, a homenagear quem formatou um país dependente dos seus governantes e esquecido da liberdade. Se vier a ser construída a tal estátua, não mudarei de passeio com os meus netos, antes aproveitarei para lhes contar das paixões que vivemos, dos erros cometidos, das sadias brisas que se podem levantar com o arrependimento.           Liberales Semper Erexitque > NUNO SILVA: "Ou se está com a revolução, ou se está com a reacção!" Faz cá tanta falta como as Chagas e como a peste!              Filipe Costa: Portugal tem uma vasta área marítima, tem que investir em navios de guerra, fragatas e caças de topo. E vamos tarde.             klaus muller: Se virmos bem, geralmente as democracias costumam reagir tardiamente, chegando mesmo a "levar pancada" no início destas crises mais brutais. Mas, depois, até acabam por vencer a barbárie. Pode ser que também seja assim desta vez.        Maria Rita Menezes: Muito lúcida análise!  Parabéns! Cpts                  Alexandre Barreira: A madre superiora do convento é que tinha razão. "Minhas meninas, tenham calma, guerra é guerra" !               Joao Almeida Garrett: Pois é, vamos nos próximos anos pagar os erros sucessivos desde 1989. Quanto à estátua de Vasco Gonçalves, figura execrável, nem a brincar.                R C: Excelente!            Nuno Torres: O lucro fácil e rápido da mão-de-obra e energia baratas. Fomos engolidos pela ganância!         Antonio C.: Bravo. Assino e subscrevo. Mais uma brilhante e certeira análise. Deixamo-nos adormecer à sombra da bananeira. Resta saber se outros já não arruínam o resto da plantação…              Sérgio: Muito bom!                 Andrade QB: A arrogância do Ocidente chegou ao ponto de ser do seu seio que partem as maiores críticas à sua existência. Só isso explica que se tenha instalado um justicialismo radical e de culpa colectiva para com os pecados e pecadilhos do Ocidente e uma ilimitada compreensão, aceitação e encobrimento dos mais hediondos crimes contra as pessoas diariamente cometidos de forma legal nos países pró comunistas. Ver migrantes africanos a quem nunca passou pela cabeça imigrar para a Rússia ou China,  e em que os poucos que se atrevem, sabem aí o que é o verdadeiro racismo,  LGBTs, ambientalistas e a generalidade dos profissionais da comunicação social a diariamente andarem a combater o Ocidente com o correspondente apoio ao regime não ocidental, só se percebe porque também eles estão arrogantemente convencidos de que o regime ocidental é eterno e garantido. A realidade mostra que não.                Carlos Quartel: Tem razão RR. As sociedades democráticas baixaram a guarda, colaboraram com ditaduras, perderam a noção do real valor da liberdade, vergaram-se ao vil metal e aos melhores negócios, alguns com o Diabo. Putin anda há 20 anos a dar sinais sobre o  que pensa das democracias pluralistas, o seu caminho está pejado de cadáveres, jornalistas, políticos, gente da KGB, com venenos, chapéus de chuva, empurrões, balas, dezenas de mortes suspeitas nas residências, a que se junta a Chechénia (um massacre), a Geórgia e agora a Ucrânia. Mas vendia o gás barato e era recebido como uma pessoa de bem, enquanto tentava desestabilizar os nossos sistemas, financiando partidos  de ruptura e manigâncias nas redes de internet, de modo a perturbar eleições. Felizmente para nós e infelizmente para ele, parece que ainda temos algum ânimo para defender o valor supremo da liberdade individual e ainda continuamos com força para recusar a passagem a rebanho. Claro que é preciso passar esta mensagem, o que está em causa não é Putin, o que está em causa é o ataque a uma sociedade livre, plural, onde as divergências são vistas com naturalidade e onde a diferença de projectos é resolvida por votos.               bento guerra > Carlos Quartel: Tem a razão, o Biden foi , há uma semana, à Arábia Saudita e o Macron anda por lá. Aquilo, sim, é gente democrática e que trata bem opiniões diferentes. O dinheiro não tem cheiro, nem ideologia                 Carlos Quartel > bento guerra: Não tenciono mandar-lhe nenhum míssil. Esse é o valor que tento vender. A liberdade e a naturalidade do desacordo. Que, neste caso, até nem existe. Tão grave é fazer negócios com o tipo que mandou liquidar o jornalista num consulado, como com o camarada que fornece chás de polónio. A desculpa do Ocidente acaba por ser o sistema. O poder depende do voto e o voto depende do conforto do cidadão. A perfeição continua por descobrir .....             Alberto Rei: Não, não é essa a guerra contra Putin, Prof. Ramos. É claro que o ocidente precisa de entender que é apenas uma parte do mundo, e que não deve tentar impor a sua vontade aos outros. O ocidente tem de entender, que os outros também têm Poder, não interessa agora como o adquiriram ou lhes deixaram adquirir. Quando a seguir à derrota da Rússia por causa da guerra das estrelas de Reagan, os EUA, continuaram a prosseguir uma política de imposição que se agravou com Bush, Obama, Trump e agora Biden. Dantes ainda o pós-Guerra Fria mascarava a expansão da "democracia", mas logo se começou a ver que de democracia a imposição nada tinha mas sim império, domínio, e uso para próprio interesse.  Hoje, com com um shift de power para a Rússia e a China, a máscara caiu de vez, it’s ugly, os EUA dominam as instituições financeiras internacionais, daí anunciarem a aplicação de sanções sem antes serem alvo de aprovação e estudo, e domina por abandono da defesa da Europa, a organização militar chamada Nato, que a usa a seu bel‘prazer. Tem de ter a humildade, de negociar, de aceitar, de conceder, para depois exigir. Ao não agir assim, meteu como se diz o c......ão na virilha à UE, ela própria sem ambição imperial, ao metê-la no conflito com a Rússia, desnecessariamente. Como o Professor diz, é preciso respeitar as nossas tradições que sustentaram a prosperidade e liberdade, e fazermos um restart a nós próprios           bento guerra: Na Ucrânia, deviam ter cumprido os Acordos de Minsk e o destino das regiões russófilas. Não só não o fizeram, como andaram a aliciar a ligação à Nato. O "urso" chateou-se e como o jogo não é em terreno neutro, o país está tramado e o Ocidente entalado(uma tal Applebaum deu ontem uma entrevista na RTP3 ,com uma arrogância que não leva a nada. Derrotar Putin e pronto              Rui Lima: Fico feliz por ler o que escreve Rui Ramos no 5.º parágrafo, há muito anos que penso o mesmo. Lembro-me de questionar alguém da elite francesa  sobre a chegada de milhões vindos de uma cultura com outros valores , recordo de ele ter dito  que toda essa gente iria adoptar o nosso modelo sociedade,  vendo o nosso bem-estar , a nossa riqueza , a nossa liberdadem, a nossa cultura, os nossos direitos  … na verdade  aconteceu o contrário  eles rejeitam os nossos valores e querem impor o seu modo de vida. Relativamente às ditaduras, as nossas elites pensavam que esses países  só podiam escolher o modelo liberal e para isso bastava serem um pouco mais ricos para o fazer.           Luis Martins: O dito ocidente com os países democráticos na Europa e no Norte da América estão a colher os frutos daquilo que semearam nos últimos 30 anos. Deixaram deslocalizar as fábricas para a China e outros países com ditaduras e mão de obra barata para enriquecer as grandes empresas. A Europa deixou-se ficar refém do gás Russo porque as políticas ambientais na UE era fechar as centrais de produção de electricidade a carvão e a energia nuclear para serem substituídas por centrais de produção de electricidade a gás e depois estavam a obrigar as empresas petrolíferas  a investir em energias renováveis, pois as empresas petrolíferas estavam a pagar carradas de taxas por emissões de CO2. A maior aberração é que a Europa e Eua importam 90% dos painéis solares da China ou seja saltam do lume do gás Russo para a fogueira dos painéis solares chineses. As políticas criminosas energéticas da UE fizeram com que agora estamos todos com as calças na mão,  pois a UE ficou dependente a nível energético de 2 grandes ditaduras que são politicamente inimigas da UE e irão fazer tudo para destruir as democracias ocidentais. Nós por cá fizemos o 25 de 1974 para depois vendermos as melhores empresas portuguesas a ditaduras como a da China e os nossos governantes , políticos  e elite empresarial, especializaram-se a roubar o pote dos impostos os subsídios vindos da UE e a parirem bancarrotas. Vão ser necessários mais de 10 anos para minimizar a dependência da Rússia e da China,  e este ano vai ficar na história como o início da desglobilização e recuperação das soberanias económicas do mundo ocidental .Chegámos ao cúmulo da aberração de eu como ocidental estou impedido de comprar casa, ou terrenos ou comprar um banco ou uma grande empresa na China e em muitos outros países da Ásia e África, mas eles podem comprar tudo e mais alguma  coisa no mundo ocidental , são estas políticas criminosas e um puro suicídio que nos conduziu ao estado em que estamos,  com a Europa a definhar a grande velocidade.           Antonio Tavares: Em que data os políticos na gestão dos serviços do estado informam o início do racionamento de combustíveis e de energia na Tugalândia? Vamos a ver quem são os "amigos" e/ou "sócios"  dos políticos que vão facturar muitos euros nos negócios na candonga de combustíveis e de energia.            Alexandre Barreira: Enquanto a Rússia tiver o apoio da China, bem podem pintar a manta. E está visto que a Europa anda toda acagaçada !                Rui Lima:  A destruição de fronteiras e de identidades nacionais, em nome da inclusão, apenas fez sociedades mais divididas e menos seguras. “ Rui Ramos ainda pode escrever estes linhas não sei por quanto tempo, da Suécia à França todo o tipo de violência é diária, das violações às facadas, mas a grande imprensa esconde para não ser acusada de estar com as forças “racistas” . A minha técnica para ter informação é ir à Google escrever o nome de uma cidade francesa e couteau (faca ) hoje escrevi Le Mans e deu isto de ontem facadas em quem passava na rua . “Des passants ont été agressés au couteau par un homme ce mercredi 27 juillet au Mans”. O espaço onde existiam nações, passa a ser ocupado por várias comunidades que pouco têm em comum a soma de todos esses grupos não dará um país dará um Líbano. Hoje, se a França necessitasse em caso de guerra de recrutar a sua juventude 30% estariam ausentes porque nada sentem pela França, na 3.ª geração quando se pergunta qual é o seu país dizem, Argélia , Marrocos …

 

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