domingo, 30 de outubro de 2022

Amor é um fogo que arde sem se ver


É – também – um não querer mais que bem-querer.

Mas é provável que outros poemas do nosso escol literário sugiram outros afectos, na vasta galeria das longas siglas afectuosas dos tempos de hoje. Citemos, para isso comprovar, ou mesmo o seu contrário, ao contrário do que sugerem os do contra, que em tudo descobrem lenha para queimarem os outros, quando a lenha não passa por vezes de simples argueiro no olho alheio, para mais, a maior parte das vezes invisível, aos olhos dos menos perspicazes:

Não te amo, quero-te: o amor vem d’alma.
      E eu n’alma - tenho a calma,
      A calma - do jazigo.
      Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
      E a vida - nem sentida
      A trago eu já comigo.
      Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
      De um querer bruto e fero
      Que o sangue me devora,
      Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
      Quem ama a aziaga estrela
      Que lhe luz na má hora
      Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
      De mau, feitiço azado
      Este indigno furor.
      Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
      Que de mim tenho espanto,
      De ti medo e terror...
      Mas amar!... não te amo, não.

                                   Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas’

É certo que a retratação chega por vezes, mesmo tardia, confirmando a velha asserção de que não há fumo sem fogo, valha-nos Deus, que tudo pode:

«Eu tinha umas asas brancas,

Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.

— Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
— Veio a ambição, coas grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.

Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.

Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
— Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas…
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.

Cegou-me essas luz funesta
De enfeitiçados amores…
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!

— Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena me caíram…
Nunca mais voei ao céu. 
Almeida Garrett

Poderíamos recorrer também aos exemplos poderosos que a nossa Amália confirma, a respeito do nosso genérico amador, feito de paixão, por exemplo o seu “Confesso que te amei, confesso Não coro de o dizer, não coro” a título de demonstração desculpabilizante, mas de facto já vai muito decantada esta prosa, de sensibilidade justificativa das nossas relações de afectos múltiplos em verso, leiamos antes a prosa de MIGUEL PINHEIRO, Director executivo do Observador, que tem referências mais conclusivas nesse capítulo, de bastas jogadas de recurso, não, é certo, para nosso espanto, depois da nossa larga travessia não tarda que quinquagenária, nos bastos casos de uma corrupção exemplar. Leiamos igualmente os Comentadores, com os dados do seu saber de experiência vasta.

O estranhíssimo regresso de José Sócrates

Esta semana, Costa e Santos Silva agitaram o nome de Sócrates de forma pública e com orgulho, como se fosse um estandarte ou uma medalha. Não sabemos se é uma coincidência ou um plano — mas é um sinal

MIGUEL PINHEIRO Director executivo do Observador

OBSERVADOR, 29 out 2022, 00:2158

Quando ninguém estava à espera, José Sócrates voltou. E, estranhamente, estando em causa um egocêntrico furioso, não voltou por vontade própria — voltou por conveniência do Partido Socialista. Primeiro, foi António Costa. No debate sobre o Orçamento do Estado, o actual líder do PS declarou ser o orgulhoso herdeiro de uma nobre linhagem de antigos primeiros-ministros que combateram a pobreza indígena e multiplicaram a riqueza nacional — e onde incluiu, num luminoso lugar de destaque, José Sócrates.

Dois dias depois, foi a vez do pré-candidato presidencial Augusto Santos Silva. Em entrevista à CNN, o ainda presidente do Parlamento declarou, com solenidade e orgulho, que o primeiro governo de Sócrates “foi um dos mais reformistas que o país teve”; acrescentou, com severidade e desgosto, que o segundo governo de Sócrates “caiu nas consequências da crise e também da impossibilidade de conseguir um acordo no parlamento que nos permitisse escapar à troika”; e terminou, com cinismo e dissimulação, afirmando que todas as outras “questões” relativas a Sócrates serão tratadas num “julgamento que ainda nem começou”, sendo que, naturalmente, “as pessoas são inocentes até ao trânsito em julgado”.

António Costa e Augusto Santos Silva falam de José Sócrates como se fosse um político normal. Mas esquecem, ou tentam esquecer, ou tentam fazer com que nos esqueçamos, que ninguém precisa de um julgamento — menos ainda do trânsito em julgado de uma eventual condenação — para saber que Sócrates não é um político normal. Não são precisas provas: o próprio José Sócrates admitiu que recebia dinheiro em notas para viver acima das suas possibilidades. E as justificações para isso são tão abstrusas que incluem a afirmação, feita pelos seus advogados, de que este recurso ao dinheiro vivo se justificava por o ex-primeiro-ministro “não confiar nos modos normais de circulação de fundos”.

Não é preciso haver um crime para existir uma vergonha. E, como consequência disso, não é preciso haver um julgamento criminal para existir um julgamento político. Tudo o que já se conhece sobre a vida de José Sócrates deveria ser suficiente para António Costa e Augusto Santos Silva manterem tanta distância dele como do vírus do Ébola.

E, no entanto, algo se move. Numa mesma semana, os dois principais dirigentes do PS agitaram o nome de José Sócrates de forma pública e com orgulho, como se fosse um estandarte ou uma medalha. Não sabemos se é uma coincidência ou um plano — mas é seguramente um sinal. Como diz a frase célebre, “Se anda como um pato, se nada como um pato e se grasna como um pato, então é porque é um pato”. Esteja sentado em São Bento ou esteja a candidatar-se a Belém, este PS está disponível para, através de um banho lustral, transformar Sócrates num exemplo. Costuma dizer-se, lembrando os Bourbons, que não aprenderam nada, nem esqueceram nada. Mas eu temo que se lembrem de tudo e que tenham aprendido demasiado.

JOSÉ SÓCRATES   POLÍTICA   PS

COMENTÁRIOS:

Alexandre Barreira: Mas qual estranhíssimo. Qual quê. Então o "selfies" vem com o choradinho do Passos Coelho. É natural que o Costa venha com saudades do "patrão" ! Zé das Esquinas o Lisboeta: A vida é uma coisa estranha, muitas vezes bela outras vezes cheia de contradições e incertezas. Lembro, há muitos anos, um amigo residente no concelho de Oeiras, a propósito das suspeitas que havia do seu hoje e na altura presidente de câmara de corrupção e ou comissionista, ter-me comentado qualquer coisa do género: "pode até ser tudo verdade, mas o certo é que Oeiras, desde que ele é presidente, tornou-se o concelho com melhor qualidade vida, belo e desenvolvido do país e eu que até não votei nele nas próximas eleições irei votar". Certo é que mesmo após ter sido destituído do cargo, julgado e condenado, Isaltino voltou a ser eleito pelos oeirenses para a presidência da câmara. Sócrates ainda não foi julgado nem condenado e tudo aponta para que nunca o venha a ser, pois Portugal não é uma verdadeira democracia (porque onde a Justiça não funciona, não existe democracia) e o povo tem tendência em votar com quem se identifica, logo tudo de mau pode vir a acontecer. Quem não se lembra das manifestações de apoio ao ex-primeiro ministro, de fazer 'inveja' a muita estrela pop? Todos os governos dos países, ditos democráticos, são reflexo dos seus eleitores. Lamentavelmente a grande maioria dos eleitores não tem educação cívica, podem ter 'cursos superiores' ou não, porque neste caso, não faz diferença nenhuma. O elogio ou as referências a Sócrates não os envergonham porque quem as faz não têm vergonha nenhuma e, até ver, têm um passado comum.                    João Angolano: Escrevi um comentário muito minimalista que dizia apenas e só : ‘ nojo profundo’. O comentário foi enviado para a censura….não seria hora de o Observador apresentar os seus censores?               Rosa Silvestre: Está a dar resultado no Brasil, porque não aqui?              Luís Abrantes: Os canhotos protegem sempre os seus, por mais vigaristas que sejam… até porque ser canhoto significa ser vigarista…                  Filipe Freitas: Quase parece que o lamaçal ainda não é suficientemente confuso e pouco recomendável para estes senhores. Juro que não entendo como há quem ainda acredite ou vote nestes dirigentes do PS. Espero bem que a oposição os confronte com tudo isto! E com certeza que há pessoas competentes perdidas lá no meio do PS. Mas todas as decisões, medidas e propaganda estão a cargo do pior que Portugal tem para oferecer: chico-espertos que só se preocupam com o próprio umbigo. Nem sequer nos próprios netos pensam cujo futuro será provavelmente emigrar.                Luis Santos: Não fiquei admirado pois são todos farinha do mesmo saco.              Antonio Silva: "os dois principais dirigentes do PS agitaram o nome de José Sócrates de forma pública e com orgulho, como se fosse um estandarte ou uma medalha". Calados, preventivamente, durante meses e meses, ei-los agora a incensar um biltre que em má hora foi primeiro-ministro. Costa e Sócrates são farinha do mesmo saco, apaniguados do Sócrates e só enganam os tolos e distraídos. Declarações destas são a medida da sua falta de carácter a par da incompetência traduzida em 17 anos de marasmo e decadência do País. Infelizmente, ou talvez não, os portugueses apoiam esta mafia há anos. Perderam não só o direito de se queixarem como são co-responsáveis pela nossa falta de futuro. Danem-se!                  João Eduardo Gata: António Costa e Santos Silva estiveram sempre alinhados com o Criminoso José Sócrates, que Aldrabou e Roubou o Povo Português, e conduziu Portugal à Bancarrota e à Troika em 2011. Assim sendo, tudo fica mais claro.                    Luís Rodrigues: Não é preciso haver um crime para existir uma vergonha.” A estratégia do PS, desde Sócrates, tem beneficiado da erosão do conceito de vergonha. Ao mesmo tempo, todas as declarações dos seus responsáveis vão no sentido de desvalorizar julgamentos morais, como se a moral se reduzisse à jurisprudência e às sentenças dos tribunais.               António Silva: Suponho que tenha a ver com as eleições brasileiras e com a provável vitória de Lula. Enquanto goza o seu “termo de identidade e residência” por diversas vezes foi ao Brasil preparar o seu futuro. Se Lula vencer, teremos a resposta.               Amigo do Camolas: Se Costa não teve um pingo de vergonha em apoiar, Lula, um condenado pela justiça brasileira em três instâncias por ter roubado o povo brasileiro em quantias que dava quase para tirar toda a população brasileira da miséria, o estranho seria não apoiar, Sócrates, o seu amigo do crime. Caso seja preciso. E se Costa disse que foi enganado pelo Sócrates quando o Juiz Rosa disse para todo o País ouvir que Sócrates era um corrupto prescrito e agora com Lula, em vez de se pôr de lado para não ser enganado outra vez, o que faz? Ignora tudo, romantiza o ex-presidiário e luta ferozmente pela volta do mesmo ao local do crime. Só se pode concluir que ao Costa só o engana quem ele quer.                  João Floriano: É caso para dizer: «aqui há gato e daqueles escondidos com o rabo de fora». Ontem só faltava a entrevista de novo entregue a Anabela Neves ser regularmente interrompida com anúncios do patrocínio de uma qualquer lixívia gentil. Não gosto de ASS, e por isso mesmo posso ser extremamente tendencioso na apreciação da entrevista. Lavar a loiça é relaxante, percebe de bandas punk, tem um livro cuja capa é ilustrada por um desenho infantil do filho, não sabe onde fica o botão para tirar  a palavra a um deputado, os deputados do CHEGA são apenas enfants terribles, contextualiza o seu gosto por malhar na direita e sobretudo dá um banho de lixívia gentil em Sócrates. Declara-se disponível para o serviço público em Belém: depois de um entertainer, um cínico vem mesmo a calhar. É como se andassem (Costa e ASS) a arrumar a casa. Outro pormenor interessante é que subitamente André Ventura tem sido muito requisitado na CS. Foi a entrevista no Observador, comentários sobre guinadas à esquerda, e ontem estava no Expresso da Meia Noite. Parece tudo muito bem encaixado. Para quê? Nunca tive espírito  maquiavélico mas em breve vamos saber.                 Joaquim Lopes: O regresso do Lula português, promovido pelos tribunais e pela justiça, pela ditadura comunista que tem como porta-voz o Ernesto, LCI, Liga Comunista Internacionalista e o Costa que deve ter enriquecido como Obama, é mais um pântano de país onde a CNN é uma das TVs mais activas ou seja a TVI, junto com todas as outras. Temos censura, temos corrupção generalizada, temos um país parada e estagnado sem futuro, nem projectos e agora para ser visto como o governo que diminui dívida com aumento brutal de impostos por via da inflação, vamos ter um Inverno que os irá depois mostrar como se governa um povo miserável e analfabeto, quando as luzes se apagarem por via da política energética morrerão os mais velhos e os mais doentes e pobres, como tordos.

 

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