Talvez nós, portugueses bailantes, sejamos
os donos do vira em termos cantantes e dançantes – mais ritmados e melódicos, com
certeza, mas a radicalidade dos chefes chineses – no caso presente, do seráfico
Xi – (a
acrescentar à do puritano Putin que destrói
e acusa os que destrói de serem destruidores) – não faz prever um final breve e
feliz nem para o mundo interno nem para o mundo externo. Veremos como tudo vai
virando e vamos pedindo a Deus, como fazia Guerra Junqueiro
«Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto»
mas não
«para todo o crime o seu perdão de Pai».
Não, não há perdão para tanta crueldade sôfrega de
visibilidade e poder.
A viragem totalitária na China
A China é um dos maiores investidores
externos em Portugal. Os EUA o maior aliado na defesa do país. Ninguém deseja
ter que escolher entre um e outro mas por vezes é necessário fazer escolhas
difíceis.
JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do Observador
OBSERVADOR, 27
out 2022, 00:1916
O
Congresso do Partido Comunista da China acabou definitivamente com uma enorme
ilusão liberal: a integração da China na economia global e o aprofundamento
das relações comerciais levariam a uma progressiva abertura e moderação do
regime chinês. No último Congresso, Xi Jinping consolidou o seu poder e
agora governa a China como se fosse um Imperador moderno. A prisão
em directo do seu antecessor, Hu Jintao, foi a demonstração simbólica do seu
poder absoluto.
O
reforço do poder de poder de Xi é notório na composição dos órgãos do partido,
nomeadamente o Comité Permanente do Politburo (o centro do poder). O antigo PM,
Li Keqiang, o maior defensor da abertura do regime, e o maior
opositor de Xi, foi afastado. A saída
de outro reformista, Yi Gang,
Governador do Banco Central, também é vista como um retrocesso. Nas escolhas dos novos membros, prevaleceu a lealdade
e a obediência a Xi em vez da competência ou do talento. Muito provavelmente, estas escolhas vão tornar a
recuperação económica da China mais difícil e mais demorada. Aliás, a reacção
dos mercados com grandes perdas de empresas chinesas listadas mostra a percepção
negativa sobre o futuro da economia chinesa. O índice bolsista chinês está
hoje ao nível do final dos anos de 1990.
A
China é igualmente vista como uma potência emergente com uma expansão sem
retorno até se tornar a maior economia do mundo. Talvez seja esse o destino da China, mas actualmente
há sinais muito preocupantes. O envelhecimento do país está a ser mais rápido e
mais dramático do que se previa. A dívida pública, cerca de 270% do PIB, é
alarmante especialmente no caso de um país cuja moeda não é uma referência
global. A dívida privada e o colapso do mercado imobiliário estão a atrasar o
crescimento económico. A política Covid zero, incompreensível, e caso único no
mundo, impede a recuperação da economia. A China enfrenta assim um fraco
crescimento económico, o que no caso chinês significa na verdade uma recessão.
Parece óbvio que a liderança chinesa
está preocupada com a situação do país. Como resultado, apertou o controlo
político e económico, e tornou-se mais ideológica e menos reformista. O sector
privado será uma das maiores vítimas. Tem sido um dos motores do crescimento
económico, mas a partir de agora será inteiramente controlado pelo Estado, ou
será mesmo nacionalizado. O investimento externo também irá diminuir.
A grande incógnita será a
consequência da viragem totalitária para a política externa chinesa. Haverá uma China mais agressiva regionalmente,
incluindo em relação a Taiwan? Ou vamos assistir a um período de maior
isolacionismo com a China a concentrar-se nas questões internas? De qualquer
modo, haverá um maior afastamento entre os países do G7 e a China nos próximos
anos. A própria União Europeia tem dado sinais claros de que olha para a China
como um rival e um competidor. Apesar da visita a Pequim do Chanceler alemão na
próxima semana, a tendência de afastamento da China não mudará.
No
meio destas mudanças internas na China e das alterações na geopolítica global,
Portugal poderá ser forçado a fazer escolhas que quer adia ou que não está
preparado para fazer. A China é um dos maiores investidores externos em
Portugal. Os EUA é o maior aliado na defesa do país. Todos sabemos que ninguém
em Portugal deseja ter que escolher entre um e outro. Mas, muitas vezes, a
política não se faz com base em desejos. Por vezes, é necessário fazer escolhas
difíceis. O que fará Portugal se o confronto global entre os EUA e a China não
der margem para posições neutrais, especialmente na Europa? Convém pensar nisso
porque o dilema pode surgir mais cedo do que se julga.
COMENTÁRIOS: (de 14)
bento guerra: Recomendo, antes, uma aproximação à, agora tão querida
Arábia Saudita. Um caso exemplar de democracia, onde as mulheres já podem ter
carta de condução Carlos Quartel: Como sempre, a escolha não é entre USA e China, é
entre a liberdade ou a ditadura. Se somos democratas, se acreditamos nas
liberdades individuais, na livre expressão de opinião, então não há por onde
hesitar. O capital chinês em Portugal foi sempre um erro,
comparável ao exclusivo dado à Rússia, no fornecimento de gás e
petróleo. As democracias deixaram-se levar no canto da sereia,
do dinheiro fácil para contentar os cidadãos e com isso conquistar votos. A
relaxação na exigência dos valores democráticos foi perigosa e pode mesmo ser
trágica. Tempo de recuar, de rever todos esses investimentos chineses e tentar
livrar-se deles, mesmo com custos ......
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