sábado, 15 de outubro de 2022

Não ata nem desata


É o que se conclui desta covid de artimanhas. E Alberto Gonçalves que o demonstra com a perícia psicológica de sempre, preocupado com os seus efeitos sobre uma sociedade cada vez mais amodorrada.

O culto da Covid

Para muitos, a Covid não é uma doença, e sim um culto que deu sentido a vidas que careciam dele. Esses devotos não têm medo: têm fé. E têm saudade.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 15 out 2022, 00:214

Há dias, numa comissão do Parlamento Europeu sobre Covid, um eurodeputado holandês perguntou à representante da Pfizer se a empresa havia testado a eficácia da vacina na prevenção da transmissão do vírus. Após umas voltinhas, a senhora lá acabou por responder: não.

Não sendo exactamente uma surpresa, é a prova de que nos mentiram ao longo de meses. E essa mentira, produzida pelas farmacêuticas e repetida para efeitos de legitimação pelas entidades de saúde, permitiu aos governos uma violação sem precedentes dos direitos individuais em sociedades que tínhamos por democráticas. Por um tempo, medonho e ridículo, o “certificado de vacinação”, que distinguia os homens puros da sujidade restante, foi condição indispensável para viajar, fazer desporto, frequentar restaurantes, tomar um café no “shopping”. Nada, excepto a propensão de uns para a opressão e a propensão de outros para a obediência, justificaria isto. Porém, dentro do cenário alucinado em que nos vimos metidos, o “argumento” empoleirava-se num único critério: a vacina, ou a falta dela. Os vacinados, lindos meninos, não contaminariam ninguém, ou praticamente ninguém. Os não vacinados confundiam-se com o próprio Belzebu, e, salvo nos países em que literalmente os prenderam, andavam por aí a infectar inocentes. Entre parêntesis, não convinha notar que os inocentes estavam, juravam-nos, protegidos pela Pfizer ou pela Janssen, logo a questão da infecção não se punha. Mas, na famosa “pandemia”, não pôr questões era a regra número um, a número dois e a número três. Adiante.

No mundo real, muito antes da confirmação da senhora da Pfizer, os factos depressa mostraram que, infelizmente, a vacina não impedia a transmissão do vírus. E depressa os poderes vigentes adaptaram o discurso – sem admitir a adaptação. Como mentiram antes, continuaram a mentir: toda a gente, do sr. Fauci aos “especialistas” que por cá animavam “telejornais”, surgiu a explicar que a vacina apenas serve para diminuir a probabilidade de doença grave ou de morte. Quando inquiridos a propósito, o que aliás era raríssimo, todos juraram que nunca, nunca, nunca tinham dito que a vacina evitava, total ou largamente, a transmissão e a infecção. Eles fossem ceguinhos, embora no fundo apostassem na cegueira alheia. O descaramento é uma coisa extraordinária.

E o mais extraordinário é que o descaramento funciona. Na quinta-feira, dediquei o Ideias Feitas, na Rádio Observador, à confissão da senhora da Pfizer. E partilhei o programa no Twitter. Em minutos, dezenas de sujeitos irromperam a esclarecer-me que ninguém, Pfizer incluída, alguma vez dissera que a vacina impedia a transmissão. Mesmo não as conhecendo, vi que se tratava de criaturas sofisticadas na medida em que rematavam o esclarecimento com o epíteto de “chalupa”, dirigido à minha rudimentar pessoa. O que aconteceu depois teve piada. Dezenas de sujeitos diferentes, que também desconheço, encheram as “caixas” de comentários com vídeos e artigos de finais de 2020 e inícios de 2021, nos quais incontáveis protagonistas da novela “pandémica” garantiam que a vacina – vejam lá – impedia, sempre ou quase sempre, a transmissão.

O processo, mecânico e recorrente, merecia estudo académico. Num momento, o indivíduo X acusava-me de espalhar falsidades: “Ó sua besta, então a Pfizer disse que a vacina impedia a transmissão e a infecção? Chalupa!” No momento seguinte, o indivíduo Y publicava um filmezinho em que o CEO da companhia, o sr. Bourla (com “o”), prometia o êxito da vacina na prevenção da transmissão e da infecção. Imune às evidências, X retorquia a Y: “Não falo com terraplanistas. Chalupa!” Agora troquem o sr. Bourla pelo sr. Biden, o sr. Fauci, a responsável do CDC, o tiranete do Canadá, a doutora da DGS e cinco punhados de “autoridades” sortidas e ficam com uma ideia do que sucedeu no meu Twitter durante umas horas bem passadas: acusação e insulto; desmentido cabal; insulto e fuga. Ou tese furada, antítese e palermice, a dialética hegeliana ao alcance de caipiras. Caipiras rijos, dos que se lançam contra a parede às cabeçadas necessárias até a parede se render.

O problema aqui não é mera teimosia, a incapacidade de reconhecer um erro e mudar de opinião em conformidade. O problema, constante desde o início da Covid, não é a tendência para personagens simples adquirirem um certificado instantâneo de erudição através da desvalorização de terceiros, naturalmente reduzidos a “trogloditas”, “terraplanistas” e, claro, “chalupas”. O que impressiona é o fervor dos simples na defesa da exacta prepotência que os oprimiu a eles tanto quanto aos demais. Genuína e fervorosamente, desprezaram a liberdade, perseguiram incréus, abençoaram sacrifícios e entregaram-se a dogmas, que pelos vistos não largam. Para muitos, a Covid não é uma doença, e sim um culto que deu sentido a vidas que careciam dele. Esses devotos não têm medo: têm fé. E têm saudade.

E têm graça em invocar a “ciência”. Se a ciência dependesse de tamanhos adversários da dúvida, da crítica e da realidade, nenhuma vacina a salvaria de uma morte terrível.

CORONAVÍRUS   SAÚDE PÚBLICA   SAÚDE    INDÚSTRIA FARMACÊUTICA   INDÚSTRIA   ECONOMIA

 

Fernando Cascais: No outro dia ouvi alguém explicar o objetivo de uma determinada organização que era guardar as memórias de Estaline para que estas não se perdessem ou fossem truncadas com o tempo. Com o Covid, Alberto Gonçalves está a assumir muito bem esse importantíssimo papel. Não podemos esquecer o que aconteceu e o que foi dito. Trago á memória dois médicos: a) Gustavo Corona, proferiu em directo das declarações mais anormais dignas de um "Stalini", designadamente expulsar da OM Fernando Nobre e restringir a liberdade aos chamados negacionistas das vacinas e apoiantes da gestão sueca da altura. b)Jorge Sales Marques, outro médico que até escrevia sobre Covid na altura no Observador e que anunciou um número incalculável de mortos quando apareceu a variante ómicron na RSA. Dois exemplos entre milhares deles oriundos dos mais diversos sectores da sociedade. Alberto Gonçalves que seja o guardião (que tal um livro para eternizar declarações e personagens) das memórias destes tempos recentes (foi há 1 ano que não podíamos entrar num restaurante, fecharam os cafés e não podíamos circular entre concelhos) da pandemia do Covid. Vem aí o inverno, será que a pandemia acabou?              Alexandre Barreira: É pá. Essa da vacinação "chalupa" é simplesmente divinal. Aliás, até diria que com uma "velinha" e "joelheiras", a "pica chalupa" deve surtir efeito !             José Fernandes: A representante confirma não ter sido testada a transmissão; sim, a melhoria de doença grave.               Pedro R. Almeida: Essa sua fixação no covid começa a fazer-lhe mal.


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