Mais do que para rir, o texto de ALBERTO GONÇALVES, de uma lucidez inenarrável, no seu impecável sentido de humor, a que aponho o comentário de observador censurado, frisando as palavras proféticas de Marcelo Caetano :
"... A Federação do futebol encontra-se
empolgada. O governo “vê com muito bons olhos” a coisa. O dr. Costa já a
baptizou: o “‘Mundial’ da paz”. E, naturalmente, o prof. Marcelo aplaude tudo.
O que nos vale é haver tantos visionários à solta, embora alguns merecessem
estar na cadeia." Brilhante. Parabéns Alberto. O rumo de Portugal está na Federação Portuguesa de
Futebol. O governo PS consegue "ver" esse rumo porque tem "bons
olhos" e Marcelo, o inteligente, além de "ver", aplaude a
"visão". Portador de deficiência era o padrinho de Marcelo que, há cerca de 45 anos,
não conseguia "ver" nem "aplaudir": "Sem
o Ultramar estamos reduzidos à indigência, ou seja,
à caridade das nações ricas, pelo que é
ridículo continuar a falar de independência nacional. Para
uma nação que estava em vésperas de se transformar numa pequena
Suíça, a revolução foi o princípio do fim. Restam-nos o Sol, o Turismo, a pobreza crónica e as divisas da emigração, mas só
enquanto durarem. As matérias-primas vamos agora adquiri-las às
potências que delas se apossaram, ao preço que os lautos vendedores houverem
por bem fixar."
O Mundial 2030 era o desígnio nacional
que faltava
A
Federação do futebol encontra-se empolgada. O governo “vê com muito bons olhos”
a coisa. O dr. Costa já a baptizou: o “‘Mundial’ da paz”. E, naturalmente, o
prof. Marcelo aplaude tudo.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 08 out 2022, 00:2153
Quando
o assunto são as sedes dos campeonatos do mundo, a FIFA não escolhe ao acaso. Em
2010, decerto seduzida pela ausência de corrupção local, escolheu a África do
Sul, o que permitiu salvar inúmeros indigentes das ruas e enfiá-los em barracos
distantes do olhar turístico. Em 2014, optou pelo Brasil da dona
Dilma, outro regime avesso a falcatruas, que, além de salvar os sem-abrigo,
ainda expropriou milhares de famílias para demolir casas e construir
“infra-estruturas” bem bonitas. Em
2018, o campeonato foi na Rússia, sobre a qual são escusados comentários:
provavelmente, tratou-se de um prémio pela anexação magnânima da Crimeia,
quatro anos antes. Em 2022, leia-se daqui a um mês, teremos o “Mundial”
do Qatar, com instalações moderníssimas, imprescindíveis restrições religiosas,
mão-de-obra escrava mas dedicada e poucas dezenas (ou centenas) de
trabalhadores mortos no processo.
Sendo
uma instituição prevenida, a FIFA já prepara o torneio de 2030. Se for uma
instituição coerente, a FIFA entregará a respectiva organização à imbatível
candidatura de Portugal, Espanha e Ucrânia. Descontada a picuinhice da geografia, não é difícil
encontrar critérios comuns. Os
três são países sob ajuda de oligarquias marxistas, dois a partir de dentro, um
a partir de fora. Os três resistem valentemente ao avanço do nazi-fascismo. Os
três respiram saúde económica. Os três não têm mais com o que se preocupar. Os
três existem, e é plausível que pelo menos um ou dois continuem a existir nos próximos
oito anos.
Enquanto
português, estou a fazer figas, as figas que os funcionários da saúde fizeram
para ter em Lisboa a final da “Champions” de 2020. Por diversas razões. Desde
logo, há a questão do estímulo das massas, um bocadito apreensivas ante a incapacidade
de pagarem casa, comida e minúcias assim. Na semana passada, elogiei o empenho
do governo em presentear-nos com sucessivos e maravilhosos e crescentemente
ambiciosos projectos: o novo aeroporto fora de Lisboa, o comboio de alta
velocidade, o programa espacial indígena. Até sugeri que, a esse ritmo,
estaríamos agora a festejar o anúncio da colonização de Marte, a iniciar por
2045 ou 3048. Enganei-me. Felizmente. O “Mundial” de 2030 é um sonho de
dimensão superior ao marciano e, quiçá, ao da “Champions”. Desta vez, não será
só a rapaziada do SNS a celebrar nas ruas o prestígio e o progresso da nossa
pátria.
Segue-se
a questão da ousadia. Por hábito, aliás recente, as candidaturas conjuntas à
recepção de torneios da bola limitam-se a duas nações contíguas ou quase
(bocejo). É fantástica a decisão de Portugal e Espanha em
concorrerem agregados à Ucrânia, situada a três mil e tal quilómetros da meseta
ibérica. Eu teria sugerido o Afeganistão,
mas adiante. O dinamismo que isto provocará na movimentação dos adeptos é
simples de imaginar. Por mim, imagino as multidões de bolivianos que, no final
de uma empolgante jogatana com a Eslovénia, saem com urgência do estádio de
Castelo Branco rumo ao TGV no Carregado de modo a apanhar em Santarém o avião
para Kiev, a tempo de acompanhar a sua selecção nos oitavos-de-final contra o
surpreendente Burundi. No total, serão largos milhares e milhares de pessoas,
viagens, voos, hospedagens e cervejas a demonstrar que, de Lisboa a Odessa, a Europa
está pujante, que a crise energética tem dias e que a “emergência climática” é
conversa para vender bicicletas e enregelar a ralé.
Depois, há a questão do investimento. Se
descontarmos o prejuízo decorrente destes eventos, que costuma rondar as centenas
de milhões (subornos aos decisores incluídos), os “mundiais” dão aos organizadores um lucro
incalculável – no sentido de que ninguém é capaz de o calcular. Sobretudo dão um pretexto e deixam um legado. É
preciso que a memória não seja curta. Não fora o Euro-2004 e cidades como
Aveiro, Coimbra, Leiria, Braga e Loulé não beneficiariam hoje de belos estádios
a troco de meros 4 milhões gastos por ano em manutenção, que os munícipes
patrocinam com orgulho. E quem diz estádios diz rotundas, hotéis, apeadeiros,
rotundas, viadutos, derrapagens, rotundas, aeroportos, rotundas, compadrios,
mamarrachos, rotundas, etc. Houve um Portugal antes do
“Europeu” e um Portugal após o “Europeu”, como haverá um Portugal antes do
“Mundial” e, se tivermos muita sorte, um Portugal após o “Mundial”.
Por fim, resta a coragem. Falo da
coragem em assumir a co-responsabilidade de um acontecimento tão vital por
parte de uma nação que as más-línguas declaram ameaçada, encurralada,
falida, desnorteada, arrasada, vencida, dependente e a viver de esmolas. Sei
que a Ucrânia também não anda famosa. Mas o que me interessa é Portugal. É
preciso que a pátria esteja à altura da sua História. É preciso acreditar que
somos os melhores dos melhores. É preciso responder aos desafios do futuro. É preciso
repetir clichés. É preciso, em suma, não cedermos ao “bota-abaixismo”,
expressão feliz do destemido eng. Sócrates. A Federação do futebol encontra-se
empolgada. O governo “vê com muito bons olhos” a coisa. O dr. Costa já a
baptizou: o “‘Mundial’ da paz”. E, naturalmente, o prof. Marcelo aplaude tudo.
O que nos vale é haver tantos visionários à solta, embora alguns merecessem
estar na cadeia.
ESTÁDIOS DESPORTO FUTEBOL MUNDIAL 2022
COMENTÁRIOS:
Alexandre Barreira: E vai ser lindo. Maravilhoso. Ver o CR7 a jogar de "andarilho" !
observador censurado: "... A Federação do futebol encontra-se empolgada. O governo “vê com muito bons olhos” a coisa. O dr. Costa já a baptizou: o “‘Mundial’ da paz”. E, naturalmente, o prof. Marcelo aplaude tudo. O que nos vale é haver tantos visionários à solta, embora alguns merecessem estar na cadeia." Brilhante. Parabéns Alberto. O rumo de Portugal está na Federação Portuguesa de Futebol. O governo PS consegue "ver" esse rumo porque tem "bons olhos" e Marcelo, o inteligente, além de "ver", aplaude a "visão". Portador de deficiência era o padrinho de Marcelo que, há cerca de 45 anos, não conseguia "ver" nem "aplaudir": "Sem o Ultramar estamos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade das nações ricas, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava em vésperas de se transformar numa pequena Suíça, a revolução foi o princípio do fim. Restam-nos o Sol, o Turismo, a pobreza crónica e as divisas da emigração, mas só enquanto durarem. As matérias-primas vamos agora adquiri-las às potências que delas se apossaram, ao preço que os lautos vendedores houverem por bem fixar."
Maria Silva: Sublime! adorei... :) Revelando profunda sensibilidade, inteligência e
"boa memória" retrata a nossa triste realidade fazendo-nos soltar -
pelo menos a mim - saborosas gargalhadas. Obrigada, AG! Helder Machado: Confesso, até os meus olhos se humedecem só de pensar em tamanho desígnio.
Obrigado, obrigado. Nas épocas difíceis é que as almas voam bem alto. Sejamos
gratos a quem só nos deseja venturas e alegrias. Vitor Batista: "O que nos vale é haver tantos visionários à solta, embora alguns
merecessem estar na cadeia ". Curto e grosso caro Alberto, esta gente não se enxerga
mesmo, quando uma grávida não tem a certeza onde irá dar à luz, estes tipos
brincam aos mundiais, sabemos porquê, porque lhes engorda a conta bancária, e
eles são uma famiglia de xuxas muito extensa, e cada "iletrado"que
votou nesta máfia deveria responder por eles e elas. Eduardo Cunha: "sei que a Ucrânia também não anda famosa". sublime. Manuel Martins: O nosso governo sabe que o futebol é um excelente placebo para os
problemas de Portugal. A inclusão da Ucrânia na candidatura é ridícula. Maria Clotilde Osório: Este país é um colosso. Tá tudo
grosso! Tá tudo grosso! Maria Tubucci; Muito bom, AG, ironicamente
realista. Recorrendo às suas palavras, é preciso que a pátria socialista mostre a sua
negritude e baixeza na História. É preciso que todos acreditem, que eles são os
piores dos piores. É preciso ver, e ter realmente visto que, vai-se a um
hospital, sobrevive-se a um AVC, mas não se sobrevive a uma bactéria
hospitalar, hospital socialista. É preciso, em suma, concluir que a
estratosférica carga fiscal socialista só serve para nos destruir, sustentando
o polvo, o seu único desígnio. O que não lhes interessa é Portugal, os
4F de antigamente passaram a ser: (Fátima), futebol, fisco, fado triste e
lamentável e fiquem na penúria, os Portugueses, claro. Maria Emília Ranhada Santos:
São precisas coisas, ou
acontecimentos para disfarçar a situação catastrófica para onde caminhamos a
passos de gigante, e muitos vão na carruagem muito bem formatados! Estão
prontos para dizer a tudo que sim! Meio Vazio > manuel soares Martins:
Boa ironia! De
facto, mais do que "sentido de oportunidade" (conceito de conotação
positiva, revelador de opção louvável), estamos ante
"oportunismo", golpe cínico, próprio de quem se aproveita da
desvantagem de outrem (...coisa banalíssima nesta "maravilhosa
república" onde, aliás, é identificada com "inteligência" desde
2014). Henrique Guedes:
obrigado, Alberto
Gonçalves, por mais uma contribuição irónica realista e inteligente!!
Lidia Santos: Excelente! Brilhante! Luis Santos: Será uma oportunidade para a Ucrânia agora destruída, vir a ter montes de
rotundas. bento guerra: Mundial Ibérico (como o
presunto) com ajuda à Reconstrução ucraniana. Não faltarão aficionados a viajar
Lisboa-Madrid-Kiev.Recuperação definitiva da TAP Lily Lx: Lá vamos estourar dinheiro que não temos em coisas que não interessam. Liberales Semper Erexitque: A pátria da chuteira volta a atacar... Paga Zé! Meio Vazio: Que nunca se lhe quebre a pena, excelente AG! Eduardo L: Brilhante e com um sentido de humor apurado! Foi só rir durante a leitura. S
Belo: Só nos
faltava mais esta !!!
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