Que enche de prazer o mundo real, de receio também pelas consequências
fatídicas sobre o povo heróico ucraniano e o mundo terreno restante, e de
espanto pela inércia geral do povo russo ante as atrocidades do chefe.
O "milagre" de Putin explodiu. Como a Rússia viu arder um dos
maiores símbolos da ocupação da Ucrânia
Explosão na ponte que ligava Crimeia à
Rússia foi aparatosa. "Odiada" pelos ucranianos, ponte mais alta do
que Estátua da Liberdade e mais comprida que a Vasco da Gama é um símbolo da
ocupação russa.
OBSERVADOR, 08 out 2022, 11:56 12
Dezanove quilómetros de comprimento e
maior em altura do que a Estátua da Liberdade. É assim a ponte de Kerch, que liga a península da Crimeia ao território
russo, e que este sábado foi atingida por uma explosão de grandes
dimensões que deixou parte da estrutura em chamas.
As
circunstâncias em que a explosão aconteceu ainda estão por esclarecer, mas já
há uma certeza: é um abalo forte num dos mais importantes símbolos da
ocupação russa — e num dos projectos em que Vladimir Putin tinha apostado
as suas fichas.
A ponte foi, de resto, inaugurada em
maio de 2018 com pompa e circunstância pelo próprio Presidente russo, que abriu
a circulação no tabuleiro para carros conduzindo, ele próprio, um camião. E “é difícil exagerar quanto à sua importância”,
garante este sábado uma análise publicada
pela BBC, frisando que foi construída como uma afirmação de
que “a Crimeia era russa”.
Descrita
na imprensa russa, na altura, como a “construção
do século”, a
importância da ponte era então sublinhada por Putin, como recorda o The Guardian: “Em diferentes épocas históricas, mesmo
na época do czarismo, houve quem sonhasse construir esta ponte. Depois voltaram
à ideia nos anos 1930, 1940, 1950. E agora, graças ao vosso trabalho e ao vosso
talento, o milagre aconteceu”.
Como o jornal escreve, estava inaugurada a “jóia da
coroa” não só de Putin, mas da própria
ocupação russa da Crimeia — que tinha começado em 2014 precisamente com a
anexação, considerada ilegal pela esmagadora maioria dos países, da península.
O
símbolo da ocupação materializava-se assim numa ponte longa — supera em
comprimento a Ponte Vasco da Gama, em Lisboa — e cara, envolvendo um
investimento de 3,7 mil milhões de euros.
Explosão pode dificultar envio de munições para a Rússia
A
importância da ponte de Kerch, conhecida também como ponte da Crimeia,
é, no entanto, tão simbólica quanto prática. É que a estrutura garantia
também a ligação por terra da península ao território russo, o que permitia
facilitar o envio de munições às tropas russas, razão pela qual tem
estado sob forte proteção e vigilância russa desde o início da
guerra: a ligação também pode ser feita através de ferries ou
passando por território ucraniano (não anexado), mas a ponte tornava mais
rápido e eficaz o envio desses materiais.
Embora
não estejam ainda esclarecidas as circunstâncias em que a explosão aconteceu — os
russos começaram por falar num “camião-bomba”, mas Putin já ordenou a
criação de uma comissão governamental para investigar o incidente — é
certo que os responsáveis russos já antecipavam que a ponte pudesse tornar-se
um alvo da Ucrânia durante a guerra. A ponte é “particularmente odiada” pela
Ucrânia pelo seu simbolismo, nota a BBC, na análise já citada.
Como
recorda o Guardian, em abril o antigo Presidente russo, Dmitry Medvedev,
já tinha avisado que os generais ucranianos estariam a falar em atingir a
ponte, dizendo “esperar que soubessem” que haveria retaliação.
Agora,
em plena contra-ofensiva ucraniana, a Rússia está convencida de que foi isso
mesmo que aconteceu: a agência russa Interfax cita declarações do governador da
Crimeia indicado pelo regime de Putin, Vladimir Konstantinov, que reagiu
criticando os “vândalos ucranianos” que terão atingido a ponte com as
suas “mãos sangrentas”. “Agora, têm alguma coisa da qual podem estar orgulhosos.
Em 23 anos de actividade económica não conseguiram construir nada digno de
atenção na Crimeia”.
Ainda
assim, o responsável russo garantiu que a destruição não é de grandes
proporções — uma informação que ainda não é clara e que é contrariada pelo
lado ucraniano, que garante que o transporte de munições e pessoal para as
tropas russas será claramente dificultado.
“Parabéns,
senhor Presidente”
Para a Ucrânia, que não reivindicou
oficialmente responsabilidade pela explosão, a importância simbólica do
incidente, pelo menos, está garantida. Durante toda a manhã, sucederam-se
as celebrações nas redes sociais, incluindo de altos responsáveis do
Governo.
O
líder parlamentar do partido de Zelensky apressou-se a dizer que a “construção ilegal
da Rússia está a começar a cair e a pegar fogo. A razão é simples: se constróis
algo explosivo, vai explodir mais tarde ou mais cedo”, disse David
Akarhamia no Telegram.
Noutro
sinal, se não de revindicação, pelo menos de celebração, o conselheiro presidencial
Mykhailo Podolyak fez questão de partilhar uma fotografia da ponte em chamas
com a legenda “Crimeia, a ponte, o início”, prosseguindo em tom de ameaça:
“Tudo o que é ilegal deve ser destruído, tudo o que foi
roubado deve ser devolvido à Ucrânia, toda a ocupação da Rússia deve ser
expulsa”.
E
também houve lugar para a ironia. No Twitter, o secretário do Conselho de
Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, partilhou um vídeo que mostra,
por um lado, a explosão na ponte e, por outro, a famosa atuação de Marilyn Monroe a cantar os
parabéns ao presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy. A referência
não é inocente: Putin celebrou o seu 70º aniversário ontem.
Resta saber as consequências que a
explosão de parte da ponte — que ficou em parte inutilizada, envolta em colunas
de fumo, como mostram os vídeos divulgados nas redes sociais durante esta manhã
— trará, numa fase da guerra em que a Ucrânia se esforça por recuperar terreno.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO CRIMEIA
COMENTÁRIOS:
Francisco Bandeira: O putin no
aniversário teve direito a fogo de artificio na ponte! José Ramos:
Happy Birthday, Mr. Putin...! Aríete: É incrível a
reacção russa, acusando a Ucrânia de terrorismo. Isto, no mesmo
dia em que mísseis atingiram no centro do Karkiv instalações de saúde. Atingem
hospitais, escolas, arrasam bairros residenciais e agora queixam-se com o dói-dói
na ponte. Ainda há de vir o Jerónimo defender o tabuleiro da
ponte. Filipe
Costa: O Putin está a envelhecer sem qualidade
de vida, algo se passa naquela cabecinha que deu curto-circuito. Já tinha a
Crimeia, podia largar o Donbass e viver feliz, mas não, tanto quis que se
enterrou de vez.
Cisca Impllit: Ocupou
e faz a guerra - de que estava à espera, um Putin, espirro da ex
URSS? Pena é a o rastro de mortandade deste f de Putin
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