domingo, 2 de outubro de 2022

Lagarto, lagarto…

 

Só sei que nada sei, e que a razão tem razões que vão de encontro ao que o coração receia…

 A guerra ainda mal começou…

Enquanto Putin e os seus «siloviki» – os «durões» originários do KGB – se mantiverem no poder, uma de duas: ou a NATO consente que a Rússia recorra ao nuclear ou a mesma NATO responde ao ataque.

MANUEL VILLAVERDE CABRAL

OBSERVADOR, 24 set 2022, 00:1649

Ao cabo de pouco mais de sete meses, a guerra movida pela Rússia contra a Ucrânia pode ainda durar muito tempo. Depois de um período em que a Rússia pareceu consolidar a ocupação de boa parte da frente leste ucraniana até ao sul ameaçando Odessa, o recente contra-ataque da Ucrânia não só permitiu recuperar parte dos territórios de Leste como abalou decididamente a invasão russa.

Foi isso que obrigou Vladimir Putin a fazer um discurso inédito, admitindo o recuo militar e anunciando a mobilização maciça de 300 mil homens da reserva militar. No início da invasão, chegou a haver na Rússia manifestações de protesto que deram então lugar a mais de mil prisões ao mesmo tempo que se iniciou um movimento de fuga da população para o estrangeiro. Foram estas as poucas formas de resistência que ninguém podia fazer pela Rússia!

Por último, as movimentações do exército ucraniano desencadearam da parte de Putin uma nova alusão ameaçadora ao recurso a ataques nucleares, como já havia feito e repetido desde a declaração de guerra à Ucrânia. A concluir o seu discurso, Putin recorreu a um patético apelo contra os países que se uniram para derrotar a «Grande Rússia», privando-a do seu «grandioso passado histórico»! Se isto pode fazer sorrir, é essa concepção do mundo que espalha o terror nuclear externo, mas também interno, se Putin der tal passo.

Se é certo que a presidência de Zelensky mobilizou a população ucraniana, a qual tem resistido heroicamente à destruição do país e à morte de crianças e idosos estranhos à guerra, só um movimento equivalente poderá levantar a população russa contra Putin e o seu regime. Como já fiz notar, apoiando-me em observadores de origem russa fugidos à velha URSS, tal levantamento tem faltado até agora. Em contrapartida, o prolongamento da guerra, a mobilização de centenas de milhares de pais de família na reserva militar e, por último, a ameaça nuclear anunciada repetidamente poderão levar uma parte significativa da sociedade russa a levantar-se contra o regime em que vive. Com excepção da Bielorússia, todos os aliados de Putin já se afastaram dele, desde a China e a Coreia do Norte à Índia e à Turquia

Pelo seu lado, os Estados Unidos e a maioria da NATO rejeitam a possibilidade de recorrer à guerra nuclear e têm agido como se a Rússia nunca o venha a fazer. Com a massacrante insistência de Putin, contudo, países como os Estados Unidos e a Inglaterra não podem excluir que Putin passe da ameaça à prática. Já a França é titubeante, pois a «esquerda» odeia mais a NATO do que a Rússia e não me admirava se muitos europeus votassem a favor da Rússia em caso de conflito nuclear…

Resta saber como agirão os cidadãos russos. É certo que não podemos antecipar o que Putin fará com a bomba nuclear mas quem ameaça é ele. Aquilo que Putin já fez desde Fevereiro, mais o anúncio dos 300 mil novos «reservistas», deveria ser suficiente para a população russa se manifestar contra a ditadura e impor um regime minimamente liberal. O que está em jogo não é a NATO nem a Ucrânia. Foi a sociedade russa que pactuou com os sucessivos regimes desde o «fim do comunismo».

As primeiras reacções ao desaustinado discurso de Putin parecem ter mexido com a passividade manifestada até aqui pela sociedade russa perante a invasão da Ucrânia e a incoerência da governação. Assim seja! Histórica e socialmente falando, o destino desta guerra ficará a dever-se ao comportamento da sociedade russa perante a continuação do conflito. A simples ideia de utilizar armamento nuclear, como Putin repete constantemente, é suficiente para afastar do poder tal indivíduo. Quando Biden deixou escapar publicamente a ideia de que Putin devia desaparecer da cena, toda a diplomacia ocidental tremelicou, mas o mais provável é que o presidente norte-anericano tenha razão.

Enquanto Putin e os seus «siloviki» – os «durões» originários do KGB – se mantiverem no poder, uma de duas: ou a NATO consente que a Rússia recorra ao nuclear e arrase o que resta da Ucrânia, como tem ameaçado e, embora não seja provável que a NATO o permita; ou a mesma NATO responde ao ataque. Neste caso, será inevitável uma resposta militar dos Estados Unidos e da Inglaterra ao crime de Putin. E daí ao resto do mundo

Em suma, é à sociedade russa que cabe resistir o mais rápida e eficazmente possível ao regime de Putin para não se chegar lá. A verdade, porém, é que esse levantamento ainda não teve lugar. Não é à União Europeia que cabe agir e daí que o recente discurso da actual presidente do Conselho tenha ultrapassado as suas competências. Com efeito, se alguém franqueou a porta à Rússia foi a ambiciosa primeira-ministra da Alemanha de quem mais ninguém quis ouvir falar

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA EUROPA   MUNDO   VLADIMIR PUTIN 

COMENTÁRIOS:

Rui Lima Lembra que a esquerda francesa gosta mais de Putin de que da NATO , se recuar 4 anos toda a Europa gostava mais dos presidentes russos e chinês que do Americano segundo sondagens   e consideravam o Trump um perigo para o mundo ,  ( isto já depois de Putin ter ocupado a Península da Crimeia) é ir ver ou ter memória :

:“16 juil. 2018 — Os alemães gostam mais de Putin do que de Trump, ... “

 Os novos Europeus vindos de fora da Europa  especialmente  do Norte  África  e a da outra África  com a mesma religião (a Ucrânia não tem aliados em África)  estão contra a Ucrânia e mostram simpatia por Putin por oposição aos USA, é normal vivem cá mas odeiam o Ocidente porque os colonizou e os impedem de aplicar todos os seus costumes da poligamia a justiça religiosa, ou terem  de enviar os filhos e as filhas as escolas laicas

A maioria dos jovens em França terão origem não europeia não defenderão o país   que os acolheu    muito menos os valores do mundo ocidental pelo contrário querem o seu mundo na Europa  ( entre o Putin e os que irão tomar conta da Europa dentro de 2 gerações estes ainda serão piores  …por isso nem sei o que será melhor para os meus netos …)

 

 

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