Atados às nossas Bíblias, sem Micromégas imaginários a perturbar-nos o
sistema de grandeza própria, assente nas nossas capacidades terráqueas superiores,
em entendimento e convicção de poder, ainda mesmo que só cheguemos a Marte,
pelos vistos, um atraso de vida… Uma pausa, nas actuais mazelas terrenas. Mas
vamos continuar a espreitar os de alma liliputiana, que tanto poder maligno
demonstram, sem precisão de outros mundos. Fiquemo-nos pela “ida para os
anjinhos”, de que esses se encarregam convictamente. Esquecidos.
Se
ainda existir vida em Marte, estará escondida nas profundezas
A procura
continua, mas ainda não se encontrou vestígios de vida em Marte (presente ou
passada). Ainda assim, um modelo teórico simula uma origem da vida semelhante à
da Terra e a sua evolução.
OBSERVADOR, 11 out 2022, 12:52
▲O
rover Perseverance vai explorar a cratera Jezero, em Marte, à procura de
vestígios de vida microscópica fossilizada
ESA/DLR/FU-Berlin
Será que existiu vida em Marte?
Teoricamente é possível que sim, mas se ainda existir neste momento estará
escondida nas profundezas e não à superfície, onde as condições para a
manutenção de vida, mesmo de microorganismos resistentes, é escassa. O modelo teórico foi apresentado esta
segunda-feira na revista científica Nature Astronomy.
A Terra e Marte formaram-se mais ou
menos na mesma altura, há cerca de 4,6 mil milhões de anos. Cerca de mil milhões de anos depois (há
3,5 a 3,7 mil milhões de anos), ter-se-á originado a vida na Terra. Assumindo que a vida em Marte poderá ter surgido
também nesse período, a equipa de Boris Sauterey, investigador no Instituto de
Biologia da Escola Normal Superior de Paris, simulou como poderia ter
evoluído a vida no planeta vermelho.
Verificámos que a habitabilidade no subsolo era muito provável, limitada
principalmente pela extensão da cobertura de gelo superficial. A produtividade
da biomassa poderia ter sido tão elevada como nos primórdios do oceano
terrestre”, escrevem os autores do artigo.
Os investigadores consideraram que, à
semelhança do que aconteceu na Terra, os primeiros seres vivos em Marte
foram microorganismos que consumiam hidrogénio e produziam metano. A
antiga crosta (camada superficial do planeta) teria condições para manter este
tipo de microorganismos — tal como os oceanos primitivos na Terra —, desde que
não estivesse coberta de gelo. A ser real, a actividade dos microorganismos
poderá ter provocado um arrefecimento global da superfície, que os teria
obrigado a uma migração para regiões mais profundas do planeta.
A
evolução destes ecossistemas [que albergavam os microorganismos produtores
de metano] foram condicionadas pelas diferenças climáticas,
geoquímicas (como a salinidade) e, sobretudo, pelas características e
composição atmosférica”, acrescenta César
Menor Salván, astrobiólogo que não esteve envolvido no estudo.
Por
outro lado, a confirmar-se a presença dos microorganismos no
passado do planeta vermelho, o efeito pode ter sido o oposto ao da Terra: em
vez de potenciar o aparecimento de formas mais complexas de vida, criou
condições cada vez piores de habitabilidade,
diz César Menor Salván,
professor de Bioquímica na Universidade de Alcalá (Espanha) ao Science
Media Center Espanha (SMC España).
Modelo excelente, mas puramente teórico
Jesús Martínez Frías, geólogo
planetário e astrobiólogo no Instituto de Geociências de Espanha, defende a qualidade do trabalho, mas lembra que se
trata de um exercício puramente teórico. “Os
autores [do estudo] realizaram uma aproximação teórica excelente, mas limitada
exclusivamente por aquilo que é: um modelo teórico.”
É
um exercício interessante, com conclusões válidas em relação ao que foi
sugerido e à metodologia utilizada”, diz Jesús Martínez Frías, que não
participou no estudo, ao SMC España.
Apesar
da qualidade do trabalho e da abordagem inovadora, e de ser uma hipótese
possível (a par de outras), o investigador espanhol destaca que nunca
foi encontrada vida em Marte, nem vestígios (como os fósseis que permitem
dizer quando terá surgido vida na Terra) e que também não se provou a
existência de microorganismos produtores de metano agora ou no passado.
César
Menor Salván concorda que um modelo teórico terá sempre limitações, mas
também que o artigo faz uma abordagem interessante. “Embora o trabalho se
baseie em modelos teóricos climáticos e ecológicos, o que é sempre uma
limitação e terá de ser corroborado por futuras explorações, é consistente
com o que sabemos sobre a vida na Terra e fornece algumas ideias interessantes.”
O
professor de Bioquímica destaca que o modelo pode mesmo ajudar nessas
explorações à superfície do planeta porque indica quais as áreas com maior
probabilidade de ter tido um ecossistema capaz de manter estes microorganismos:
Hellas Planitia, Isidis Planitia e cratera Jezero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário