Apenas para os noticiários fofoqueiros. Mas ainda bem que Helena Matos os assinala, com as devidas extrapolações sobre a panorâmica dos nossos costumes - os do nacional porreirismo, da velha guarda, entre outros. Água mole… Mas duvido que alguma vez fure a nossa pedra dura.
A moral da história do Rei dos Catalisadores
Ah Portugal que te indignas com os
casos do Governo e não reparas aonde te leva a política desse Governo. Tu,
Portugal, terás sempre o Rei dos Catalisadores. E também o do Descaramento.
HELENA MATOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 09 out
2022, 00:2019
O Rei dos Catalisadores. “Vítor Macedo, conhecido por “Rei dos Catalisadores” pelos diversos furtos
a que está associado, atropelou um ciclista, neste sábado de manhã, quando
seguia em contramão num carro furtado, junto ao Hospital da CUF, na
Circunvalação, Porto. Interceptado pela PSP, o “Rei dos Catalisadores” foi
detido” — Portanto dia 8 de Outubro, sábado, o “Rei dos
Catalisadores” foi detido, coisa que pode parecer difícil de entender para
aquelas pessoas que desligaram das notícias na quinta-feira, dia em que a GNR
detivera em Vila do Conde o mesmíssimo Vítor Macedo, homem suspeito de mais de
uma centena de furtos, incumprimento de inúmeros termos de identidade e vários
outros delitos. Ora acontece que na sexta, dia 7, o Rei dos Catalisadores foi
posto em liberdade. Rouba um carro na madrugada de sábado, 8, e horas depois
dá-se o atropelamento do ciclista. Presente a juiz fica em prisão preventiva,
coisa que a todos, e certamente ao próprio, pareceu espantosa, inacreditável
até, acrescento eu.
Esta era a nona detenção que
acontecia a Vítor Macedo nos últimos seis meses. Invariavelmente
era mandado em paz e sossego com uns termos de identidade que nunca cumpriu.
Foi necessário roubar um carro, conduzi-lo em contra-mão e atropelar um
ciclista para que o “Rei dos Catalisadores” ficasse em prisão preventiva. O
ciclista que me perdoe mas, sem o contributo da sua clavícula partida, Vítor
Macedo teria prosseguido na actividade que fez dele o “Rei dos Catalisadores” e
a provocar acidentes como este de Outubro, não muito diferente do ocorrido em
Maio, quando Vítor Macedo circulou em marcha-atrás na VCI, no Porto, para fugir
à PSP, que o surpreendera em flagrante delito de roubo de catalisadores. Também
aí houve um acidente, também aí a viatura era furtada, também aí aconteceu a
condução em sentido contrário… só não houve clavículas partidas.
Vítor Macedo merece por isso o título
de rei, não tanto pelo valor do que rouba, ou sequer pelo número de assaltos de
que é suspeito ou por estar envolvido em mais de 140 processos, mas sim porque
prova como o legislador não atende à realidade sobre a qual legisla: os crimes
praticados por Vítor Macedo têm uma moldura penal até três anos, logo não se
lhes aplica a prisão preventiva ou domiciliária. Que se trate
de um crime ou de 100 é indiferente, explicam os especialistas. Nada
disto faz sentido mas a indiferença e o preconceito face às consequências da
chamada pequena criminalidade são um dos traços identitários dos reizinhos do
poder. O Rei dos Catalisadores é um dos
vários monarcas em que o país é pródigo. Temo-los para o mal mas também para o
bem. Afinal temos o Rei dos Frangos. Das bifanas. Da sucata e dos pneus. Das
fardas a das samarras. E, claro, do bacalhau e dos leitões.
Em boa verdade aqueles a quem, no Portugal republicano, chamamos
reis representam não a nação mas sim o modo de vida da nação. O que surpreendia
no modo de vida do Rei dos Catalisadores não era o que ele fazia de ilegal mas
sim o que nos revelava da justiça e da legalidade.
Os Reis do Desconcerto. Os
portugueses. Aceitaram placidamente que Pedro Nuno Santos gastasse
na TAP mais de 5 mil milhões de euros numa nacionalização que nada, a não ser o
capricho ministerial, justificava. Ergueram as sobrancelhas quando o ministro,
num dos momentos mais insólitos de um governo em qualquer sítio do mundo,
anunciou um novo aeroporto à revelia de toda a gente. Mas acham agora que estão
perante um caso grave quando são informados de que uma empresa do pai do
ministro fez um contrato público por ajuste directo no valor de 19.110 euros. Os
portugueses, porque são eles o sujeito destas constatações, são assim: perdoam e
até premeiam políticas que os empobrecem; desculpam opções que nada, a não ser
a corrupção, explicam, mas sacam dos princípios quando vislumbram um caso,
sobretudo se o caso meter maridos, mulheres, filhos e sobretudo se os montantes
envolvidos forem numa escala que entendam, logo, baixos. Os casos, já se sabe,
são a ferrugem dos governos, sobretudo daqueles a que nada mais parece afectar.
Mas os casos são também a espuma que distrai do maior caso de todos: o mau
Governo.
O Rei do Descaramento. Eduardo Cabrita. O homem não se enxerga, mesmo.
Quando se pensava, ou pensava eu, que o ex-ministro da Administração Interna
estava a procurar alguma serenidade e recato, eis que se sabe que se candidatou
ao cargo de director executivo da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e
Costeira (Frontex). Sim, o ministro que se manteve num insuportável
silêncio no caso da morte de um trabalhador atropelado pela viatura em que
seguia, o titular de um cargo político que teve membros do seu gabinete
envolvidos no caso das golas anti-fumo, o homem que era ministro da
Administração Interna quando morreu Ihor Homeniuk nas instalações do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no aeroporto de Lisboa, achou adequado candidatar-se
ao cargo de director da agência que tem a responsabilidade do controlo das
fronteiras europeias. Existem
mais 77 candidatos ao lugar, o que me dá 77 razões para acreditar que não
passaremos pela vergonha de ver Eduardo Cabrita ser escolhido. Por fim, quando
se ficará a saber se o Governo está a apoiar esta candidatura?
GOVERNO POLÍTICA CRIME SOCIEDADE DIREITO JUSTIÇA
COMENTÁRIOS:
Américo Silva: Não será o rei
dos catalisadores que vai catalisar a mudança. Os alemães, devidamente
alertados a seu tempo por de Gaulle, agora que o preço do gaz atingiu níveis
demenciais, descobriram que os USA desfrutam da asfixia energética da Alemanha
para enriquecerem. No caso concreto abordado pela cronista, não meta o governo
nisso, é assunto de juristas que fazem as leis, vivem das leis, e usam as leis
como porta de acesso, sua e da família, às classes superiores
Antonio Marques Mendes: É normal que o povo só ligue a casos de
10000, porque é um número que percebe. Para a maioria das pessoas 10 milhões ou
mil milhões são números imaginários que não lhe dizem nada. O que já não é
normal é os jornalistas não saberem valorizar estes números na importância que
dão aos mesmos porque vivem obcecados com as politiquices.
Rui Lima: Helena o
caso de impunidade do rei dos catalisadores é nada vendo o que se passa em
alguns países na Europa em especial França 90% dos crimes não tem castigo
. Há países com dezenas de milhares jovens isolados que beneficiam
de uma quase impunidade aqui nem precisam da ajuda do juiz. é a lei . Hoje
os juízes são gente sem vida cá fora, a Bélgica pensou solucionar o problema
“prendendo” num fim de semana umas dezenas de juízes para verem como sofrem os
criminosos presos, falta agora a outra parte da experiência fazerem de vítima
serem roubados, espancados, violados para verem quem sofre mais se a vítima se
o criminoso. Porque hoje a ideia vendida na sociedade é que as grandes vítimas
são os criminosos que os juizes na Europa compram.
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