Têm a ver com os respectivos tamanhos - territoriais,
está visto, mas no complexo das origens, no caso presente, as anedotas que o
Dr. Salles conta o provam, com graça. O desprezo, contudo, do brasileiro pela
origem portuguesa, que se sentia nas telenovelas brasileiras, nas referências
ao chapéu e bigode do homem português e ao lenço da cabeça na mulher portuguesa
eram uma constante desse complexo pelas suas origens, que não me parece existir
nos povos da origem castelhana que o cercam (e muito menos nos de origem inglesa) e bem prova isso a altivez da resposta
do rei espanhol Juán Carlos, ao palavroso presidente venezuelano, Chavez, o seu
“Por qué no te calas?” de definitiva consciência de superioridade do nosso país
vizinho, contrariamente ao nosso caso titubeante, que tem a ver também com precariedade
educacional, ponto de partida para a maneira de ser desprendida e alegre do
povo brasileiro, de orgulho pelo seu tamanho, é certo, mas sem a avidez de
outros povos do mundo, tanto mais ambiciosos quanto mais amplos, como se vê por
aí.
... E VÓS,
TÁGIDES MINHAS...» - 7
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.10.22
ou
O MUNDO VISTO A PARTIR DE LISBOA
Como se a época por que passamos
puxasse ao humor, recordo a história daquele estrangeiro que, na época de Jânio
Quadros, se lastimava de o Brasil estar a aproximar-se perigosamente de um
buraco ao que um brasileiro descontraído lhe respondeu que não havia perigo
pois o Brasil é muito grande e não cabe no buraco.
Recordo também aquela reunião de
militares que preparavam um golpe de Estado com um rigoroso plano de operações
na então capital federal, o Rio de Janeiro, em que no final da grande exposição
pelos Oficiais do Estado Maior, um soldado fazer a pergunta «e se chover?»
E se chover, vão todos para
baixo do alpendre e pedem à Senhora da Aparecida que não deixe o Brasil caber
no buraco.
E quando o João da Política
apregoava que nos bolsos daquelas suas calças nunca entrara dinheiro ilegal,
logo teve que ouvir a plateia cantar «Joãozinho tem calça nova».
Naqueles tempos já algo distantes
em que o carioca da cidade podia subir ao morro e regressar são e salvo, um jornalista
pediu para entrar num barraco onde estava um fulano a dedilhar um violão:
- Bom dia| Posso entrar?
-Pois não, “mermão”, entra.
- Então você mora aqui sozinho?
- Moro com meu irmão.
- E onde está ele?
- Está lá na cidade a trabalhar.
- E você também trabalha?
- Não, eu vivo.
* * * *
Assim se compreende o Brasil terceiro-mundista que domina a política
do país e afoga o Brasil, que mereceria lugar de destaque no primeiro mundo.
Outubro de 2022
Henrique Salles da Fonseca
Tags: "política
alheia"
Anónimo 17.10.2022 17:36: Desde miúdo que ouço dizer que o Brasil
é um País adiado, é um País do futuro e, infelizmente, esse futuro nunca mais
chega. Ouve-se, ainda hoje, que a estagnação, a corrupção e mais umas
tantas maleitas seriam imputáveis à colonização portuguesa. Sabemos que
alguns brasileiros desejariam ter a colonização anglo-saxónica (os EUA são a
sua referência), mas também não consta que se tenham dado bem com a holandesa,
pese embora o curto período. Há um Youtube de uma entrevista do Jô Soares a Saramago, em que aquele pergunta (“só por
perguntar”, dizia ele) se a génese da corrupção não estaria na colonização
portuguesa, ao que o escritor responde que de forma alguma isso seria possível,
uma vez que já haviam decorrido cerca de 200 anos desde que o Brasil é
independente, para além de ter recebido tantos imigrantes das mais diversas
origens… Ainda com D. João VI no Rio de Janeiro, esta cidade cresceu,
como uma “Roma Subtropical”, no dizer de Patrick Wilcken, em “Império à Deriva”
(página 201), com franceses, ingleses, alemães, irlandeses, espanhóis,
norte-americanos (a vez dos japoneses foi mais tardia…), para além, claro, dos
portugueses e de escravos angolanos. Já escrevi aqui que em S. Paulo há um museu de
imigração no lugar da estalagem/estação onde os imigrantes eram recebidos, após
apanharem o comboio no porto de Santos. As fotos, pela sua crueza, esmagam.
Henrique, já não anteciparei o Brasil do futuro. Grande abraço.
Carlos Traguelho
Antonio 18.10.2022 13:30:
"Brasil, País de Futuro. SEMPRE no
Futuro! " - ouvi isto de um amigo brasileiro.
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