Não nos bastavam os exemplos
vários deste mundo de putinices sem tréguas, temos nova referência ao “algo vai mal no reino da Dinamarca”,
especificado com histórias papais ou puramente clericais, afinal conspurcadas
por crimes que ajudam ao desmoronar possível das crenças dogmáticas, caso se
tome consciência da sua gravidade, incompatível com a doutrina fundadora de credo. O Dr.
Salles, implacavelmente, embora delicadamente, traz o tema à baila, sempre
atento…
«...E VÓS,
TÁGIDES MINHAS...» - 9
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 26.10.22
ou
O MUNDO VISTO A PARTIR DA MINHA
VARANDA
Lembro-me de…
…um tal «Banco Ambrosiano» que
andou nas parangonas dos jornais e de um Monsenhor americano que veio a
Portugal numa comitiva papal e que acabou confinado algures sem gripe;
… o Papa João Paulo I ter sido
atabafado enquanto dormia porque alguém (que por certo não queria que ele
fizesse algo que se preparava para fazer) entrou (sorrateiramente?) nos
aposentos papais e o fez chegar prematuramente junto do Altíssimo;
…o Papa Bento XVI ter abdicado
por, segundo disse ou mandou dizer, não ser capaz de governar a Igreja com a
dinâmica necessária;
…de o Papa Francisco, nas
primeiras palavras que dirigiu aos fiéis que o aplaudiam pela eleição, que
rezassem por ele (em vez de, como é da Doutrina, ser ele a rezar por nós);
… o mesmo Papa Francisco a
recusar os aposentos papais e preferir ficar «debaixo do olho» de gente amiga
numa residência gerida por quem lhe inspira segurança física.
* * *
Dá para concluir que algo anda
muito mal por aquelas bandas e que colhe perguntar quem manda na Santa Sé.
Ao contrário do que nós, os vulgares, somos levados a imaginar, os
Papas mandam pouco ou, talvez mesmo, muito pouco.
E se não se pode confiar nos
vivos, talvez seja conveniente pedir ajuda a Agatha Christie até porque,
naquela margem do Tibre deve ser fácil encontrar quem se diga acostumado a
invocar espíritos benignos e, já agora, de vocação policial.
Outubro de 2022
Henrique Salles da Fonseca
Tags:: "política
alheia"
COMENTÁRIOS:
Anónimo 26.10.2022 14:31: Acredito que o papa Francisco terá no
Vaticano mais inimigos que amigos. Veio agitar as águas e a lama veio ao de
cima. Fez muito bem em ter recusado os aposentos papais, de contrário talvez já
estivesse a fazer companhia aos seus antecessores. É um homem corajoso, sem
dúvida, digno da minha admiração e respeito Filomena Ferro
Anónimo 26.10.2022 18:59: É
uma tristeza a Igreja permanecer na senda do crime.
Anónimo 26.10.2022 20:16: Infelizmente, Henrique, nada de novo te trago a título
de comentário, embora o que suscitas deva ser um domínio fascinante. Venho à
tua presença apenas para recordar alguns aspetos conhecidos, pois estou muito
longe de seguir a actividade da Santa Sé. Logo que o Cardeal Bergoglio foi
eleito Papa, viu-se uma extrema (para utilizar uma expressão recente tua) a
tentar associá-lo à ditadura militar argentina. A outra extrema tem feito o seu
caminho desde então, não o poupando a epítetos ofensivos. Não creio que o Papa
Francisco tenha desenvolvido um apostolado que ponha em causa o essencial da
Igreja e da sua Doutrina. O que deve estar em discussão são as alterações que
os Novos Tempos e a Sociedade presente exigem. Mas há sempre correntes
conservadoras que se opõem a qualquer mudança (o que é verdade nas empresas,
nas Sociedades e na Política, também o é na Igreja, não obstante esta ter
sabido, ao longo de dois milénios, adaptar-se à evolução dos Tempos). Há sempre,
pelo menos, um bispo, ou um arcebispo, ou um cardeal Lefebvre. Atenta bem e
verás que os Papas têm sido criticados por uma razão ou por outra. Conheci-me
com Pio XII. Esse estava oculto, quase não aparecia, mas não escapou, até hoje,
ao questionamento da sua posição perante o fascismo italiano, o nazismo alemão
e a protecção aos judeus. Ainda há dias, numa visita a uma livraria, vi um
livro sobre este tema, cujo autor, segundo o descrito na contracapa, demostrava
que o Papa fez os possíveis para proteger os judeus. Na realidade, a discussão
é sempre, atentas as circunstâncias, se fez tudo o que seria possível ou se
ficou aquém. É o caso do homem e as suas circunstâncias. Não duvides que ambas
as teses têm defensores com provas. Escusado será recordar o tsunami que foi
João XXIII e o seu Concílio II. Se me disserem que ainda hoje se nota o efeito,
não ficaria admirado. O Papa Paulo VI até pelo Regime Salazarista foi
criticado, e a avenida, para os lados do Lumiar, que ia acolher o seu nome, in
extremis, foi batizada com a designação de Padre Cruz. Por mais que se diga que
a morte de João Paulo I nada teve a ver com o Banco do Vaticano e com o Banco
Ambrosiano, nós, que somos propensos a acreditar nas teses da conspiração, não
aceitamos a versão oficial. O seu sucessor – João Paulo II – sofreu um
atentado, embora a chamada pista búlgara aponte que a razão não seja religiosa,
mas sim ideológica, uma espécie de vingança servida fria. Bento XVI era tido
como um Papa distante, teólogo, polémico (teve que justificar, pelo menos uma
vez, uma afirmação sua sobre o islamismo), com dificuldade, como recordas, em
gerir a Igreja em tempos modernos e com o peso dos abusos sexuais cometidos no
seu âmbito. Não raras vezes, e como sublinhas, ouve-se dizer que os Papas pouco
mandam. Logo se acrescenta que quem manda na Igreja é a Cúria, ou alguns dos
seus elementos. Esperemos que o Papa Francisco tenha força e condições para
mandar mesmo. Abraço. Carlos Traguelho
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