quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Pelas ruas da amargura

 

Não nos bastavam os exemplos vários deste mundo de putinices sem tréguas, temos nova referência ao “algo vai mal no reino da Dinamarca”, especificado com histórias papais ou puramente clericais, afinal conspurcadas por crimes que ajudam ao desmoronar possível das crenças dogmáticas, caso se tome consciência da sua gravidade, incompatível com a doutrina fundadora de credo. O Dr. Salles, implacavelmente, embora delicadamente, traz o tema à baila, sempre atento…

 

«...E VÓS, TÁGIDES MINHAS...» - 9

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 26.10.22

ou

 O MUNDO VISTO A PARTIR DA MINHA VARANDA

 Lembro-me de…

…um tal «Banco Ambrosiano» que andou nas parangonas dos jornais e de um Monsenhor americano que veio a Portugal numa comitiva papal e que acabou confinado algures sem gripe;

… o Papa João Paulo I ter sido atabafado enquanto dormia porque alguém (que por certo não queria que ele fizesse algo que se preparava para fazer) entrou (sorrateiramente?) nos aposentos papais e o fez chegar prematuramente junto do Altíssimo;

…o Papa Bento XVI ter abdicado por, segundo disse ou mandou dizer, não ser capaz de governar a Igreja com a dinâmica necessária;

…de o Papa Francisco, nas primeiras palavras que dirigiu aos fiéis que o aplaudiam pela eleição, que rezassem por ele (em vez de, como é da Doutrina, ser ele a rezar por nós);

… o mesmo Papa Francisco a recusar os aposentos papais e preferir ficar «debaixo do olho» de gente amiga numa residência gerida por quem lhe inspira segurança física.

* * *

Dá para concluir que algo anda muito mal por aquelas bandas e que colhe perguntar quem manda na Santa Sé.

Ao contrário do que nós, os vulgares, somos levados a imaginar, os Papas mandam pouco ou, talvez mesmo, muito pouco.

E se não se pode confiar nos vivos, talvez seja conveniente pedir ajuda a Agatha Christie até porque, naquela margem do Tibre deve ser fácil encontrar quem se diga acostumado a invocar espíritos benignos e, já agora, de vocação policial.

 Outubro de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags:: "política alheia"

COMENTÁRIOS:

 Anónimo  26.10.2022  14:31: Acredito que o papa Francisco terá no Vaticano mais inimigos que amigos. Veio agitar as águas e a lama veio ao de cima. Fez muito bem em ter recusado os aposentos papais, de contrário talvez já estivesse a fazer companhia aos seus antecessores. É um homem corajoso, sem dúvida, digno da minha admiração e respeito Filomena Ferro

 Anónimo  26.10.2022  18:59: É uma tristeza a Igreja permanecer na senda do crime.

 Anónimo  26.10.2022  20:16: Infelizmente, Henrique, nada de novo te trago a título de comentário, embora o que suscitas deva ser um domínio fascinante. Venho à tua presença apenas para recordar alguns aspetos conhecidos, pois estou muito longe de seguir a actividade da Santa Sé. Logo que o Cardeal Bergoglio foi eleito Papa, viu-se uma extrema (para utilizar uma expressão recente tua) a tentar associá-lo à ditadura militar argentina. A outra extrema tem feito o seu caminho desde então, não o poupando a epítetos ofensivos. Não creio que o Papa Francisco tenha desenvolvido um apostolado que ponha em causa o essencial da Igreja e da sua Doutrina. O que deve estar em discussão são as alterações que os Novos Tempos e a Sociedade presente exigem. Mas há sempre correntes conservadoras que se opõem a qualquer mudança (o que é verdade nas empresas, nas Sociedades e na Política, também o é na Igreja, não obstante esta ter sabido, ao longo de dois milénios, adaptar-se à evolução dos Tempos). Há sempre, pelo menos, um bispo, ou um arcebispo, ou um cardeal Lefebvre. Atenta bem e verás que os Papas têm sido criticados por uma razão ou por outra. Conheci-me com Pio XII. Esse estava oculto, quase não aparecia, mas não escapou, até hoje, ao questionamento da sua posição perante o fascismo italiano, o nazismo alemão e a protecção aos judeus. Ainda há dias, numa visita a uma livraria, vi um livro sobre este tema, cujo autor, segundo o descrito na contracapa, demostrava que o Papa fez os possíveis para proteger os judeus. Na realidade, a discussão é sempre, atentas as circunstâncias, se fez tudo o que seria possível ou se ficou aquém. É o caso do homem e as suas circunstâncias. Não duvides que ambas as teses têm defensores com provas. Escusado será recordar o tsunami que foi João XXIII e o seu Concílio II. Se me disserem que ainda hoje se nota o efeito, não ficaria admirado. O Papa Paulo VI até pelo Regime Salazarista foi criticado, e a avenida, para os lados do Lumiar, que ia acolher o seu nome, in extremis, foi batizada com a designação de Padre Cruz. Por mais que se diga que a morte de João Paulo I nada teve a ver com o Banco do Vaticano e com o Banco Ambrosiano, nós, que somos propensos a acreditar nas teses da conspiração, não aceitamos a versão oficial. O seu sucessor – João Paulo II – sofreu um atentado, embora a chamada pista búlgara aponte que a razão não seja religiosa, mas sim ideológica, uma espécie de vingança servida fria. Bento XVI era tido como um Papa distante, teólogo, polémico (teve que justificar, pelo menos uma vez, uma afirmação sua sobre o islamismo), com dificuldade, como recordas, em gerir a Igreja em tempos modernos e com o peso dos abusos sexuais cometidos no seu âmbito. Não raras vezes, e como sublinhas, ouve-se dizer que os Papas pouco mandam. Logo se acrescenta que quem manda na Igreja é a Cúria, ou alguns dos seus elementos. Esperemos que o Papa Francisco tenha força e condições para mandar mesmo. Abraço. Carlos Traguelho

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