segunda-feira, 3 de outubro de 2022

E um povo assim assado


É o que se colhe deste texto bem revelador da consciência crítica de Helena Matos.

O álbum dos dias assim-assim

Como se tem visto os eleitores premeiam quem anuncia a alta velocidade. Não apenas nos comboios mas sobretudo na fuga à realidade.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 2/10/22

Cavaco Silva escreveu sobre o Governo e não só.

Cavaco escreveu sobre o Governo? Sim, mas não só. Este texto é também sobre poder. O antigo primeiro-ministro retrata um António Costa que se deixou paralisar quer no comando do governo quer na capacidade de reformar o país. O político que Cavaco foi e nunca deixou de ser nota também o poder crescente de Pedro Nuno Santos. Mas o principal alvo deste texto é o actual Presidente e a forma como Marcelo tem desempenhado o cargo de presidente da República.

Obviamente Cavaco Silva, antigo Presidente, não refere Marcelo mas linha a linha, neste texto agora saído no PÚBLICO, cresce por antítese o vazio institucional a que o populismo de Marcelo reduziu o cargo.

Marcelo conseguiu banalizar-se a tal ponto que as palavras de Cavaco têm um peso político muito superior às suas. Quando foi a última vez que uma intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa teve uma repercussão similar à dos artigos que o antigo presidente publica?

2. Teremos sempre o TGV.

6 de Julho de 1999. 22 de Outubro de 2020. 29 de Setembro de 2022. Três capas. Três anúncios.

Três primeiros-ministros socialistas – Guterres, Sócrates e António Costa. E sempre o mesmo TGV. O tal que vai ligar Lisboa ao Porto em 1h e 15m. O tal que nunca foi construído mas que, dado o foguetório que envolve os seus anúncios e o entusiasmo imperativo dos títulos, seríamos levados a acreditar já estar em funcionamento: “TGV vai ligar Lisboa ao Porto em 1h 15m” (1999); “Linha de alta velocidade entre Porto e Lisboa vai reduzir viagem para 1h 15” (2020); “Lisboa-Porto. Alta velocidade sai finalmente do papel” (2022).

Houve uma geração de políticos que foram criticados por fazer inaugurações. Agora o nível de exigência baixou e portanto debatemos os anúncios de obras como se estivéssemos a discutir as obras propriamente ditas. Esta política de anúncios de obras não concretizadas até já desenvolveu um sector de negócio não despiciendo: as indemnizações às empresas que ganham os concursos para fazer o TGV. Em 2016, o Estado português foi “condenado a pagar quase 150 milhões ao consórcio do TGV” de que entretanto tínhamos desistido porque o país falira. Assim como assim pode-se alimentar a ficção política da alta velocidade mas é melhor não se avançar para a abertura do concurso. Como se tem visto, os eleitores premeiam quem anuncia a alta velocidade. Não apenas nos comboios mas sobretudo na fuga à realidade.

3. A ditadura progressista.

Um problema semelhante une estas três imagens: quem disser o que elas de facto representam arrisca perder boa parte do seu sossego pois acabará a ser acusado de “ismos” vários.

Na primeira imagem uma mulher, para o caso a celebridade norte-americana Khloe Kardashian, deitada no que parece ser uma cama hospitalar com o filho recém-nascido ao colo. Na segunda temos a britânica Sally Ann Dixon acusada de ter agredido sexualmente várias crianças e na terceira um político socialista francês, Boris Venon eleito em Mureaux, a apresentar a sua demissão após agressões e ameaças quer a ele quer ao homem com quem vive.

Passemos então à informação que falta em todas estas imagens. Para começar Khloe Kardashian não teve filho algum. Recorreu a uma barriga de aluguer, designação que em si mesma reduz a mãe biológica da criança à condição de barriga.  Ao posar como se ela mesma tivesse acabado de dar à luz Khloe Kardashian tornou ainda mais evidente o grotesco desta prática que num dos paradoxos mais aberrantes do nosso tempo é apresentada como avanço e libertação.

De qualquer modo, dizer a verdade sobre a imagem de Khloe Kardashian a simular um pós-parto não gera tanto receios quanto completar a informação que falta sobre Sally Ann Dixon, a mulher que neste mês de Setembro foi condenada por agressões sexuais. Acontece que Sally Ann Dixon só existe desde 2004. Até lá chamava-se John Stephen Dixon. E foi o homem John Stephen Dixon quem entre 1989 e 1996 atacou sexualmente sete crianças. Ora a polícia de Sussex, ao ser questionada sobre o sexo do agressor, entendeu que essa questão podia comportar um crime de ódio e uma afronta ao direito dos transgéneros, pois Dixon é agora mulher. Dizer que Sally Ann Dixon era um homem à data dos crimes transformou-se num problema. (Questionar o seu comportamento na prisão para mulheres onde cumpre pena também não é de bom tom). Para reforço da sua tese alegavam as autoridades policiais que o sexo do autor do crime era irrelevante, afirmação que em si mesma é um disparate: em Inglaterra por cada mulher condenada por crimes sexuais existem 150 homens condenados por actos da mesma natureza.

Por fim temos Boris Venon, francês, homossexual, felizmente de esquerda para efeitos deste texto. Boris Venon, eleito em Mureaux, apresentou a sua demissão do cargo. Porquê? Por discriminação racial. Sim, Boris Venon é branco e foi isso precisamente que ele disse na conferência em que apresentou a sua demissão: “Sim, os cidadãos de origem europeia podem ser alvos de racismo”. Farto de ser ameaçado e insultado por ser homossexual e branco, sentiu que tinha atingido o limite quando se viu cercado por um grupo que lhe dizia “Branco, vai-te embora”.

Na verdade, o problema destas imagens não é tanto o que elas mostram mas sim o que o silêncio em torno delas confirma e que se escreve com quatro letras: medo.

PRESIDENTE MARCELO   POLÍTICA   IDENTIDADE DE GÉNERO   SOCIEDADE   TGV   COMBOIOS 

TRANSPORTE FERROVIÁRIO   TRANSPORTES   PAÍS

COMENTÁRIOS:

Cisca Impllit: Marcelo, um venial num mundo pouco banal mas muito venal!               António Lamas: A excelência dos articulistas do Observador, mais uma vez plasmado neste brilhante texto de MHM.  Portugal parece cada vez mais um país de faz-de-conta, uma ficção, uma Disneylândia.  Temos um Marcelo Peter Pan, um Costa Pinocchio, e um Santos Silva o Tullius Vennenus como personagens principais, enquadrados, por anões, irmãos Metralha e fiéis caninos  Temos tudo pronto para, mais uma vez, acabar mal               Fernando Cascais: Um erro: o TGV de Sócrates, como é óbvio, não foi em 2020, não obstante, é sempre um prazer ler os artigos de opinião de HM. Em 2016, o candidato presidencial que mais gostava de ouvir na campanha eleitoral era Henrique Neto. Problema: era socialista. Votei na inteligência de Marcelo. Também tenho culpa. Para o 2⁰ mandato já não votei. A inteligência de Marcelo na presidência da república é comparável a um servente das obras filósofo. Na altura de fazer "massa" na betoneira para os pedreiros, o servente filósofo começa a dissertar sobre o sentido da vida, os grãos de areia e a refletir sobre o que aconteceu à Cimpor, uma empresa de bandeira portuguesa. Tudo muito interessante, só que os pedreiros estão parados à espera da argamassa. Qual o interesse de ter um servente filósofo numa obra quando o importante é ter alguém prático, objectivo e que responda às necessidades do trabalho? No 1⁰ mandato, a inteligência de Marcelo embriagou-o para a festa. Abraçou-se a Costa, e de gravata desapertada começou a cantar odes aos feitos dos portugueses. Portugal era o maior. A culpa foi do Passos que lhe chamou despistado lançando Marcelo para os braços de Costa. Terminada a festa do 1⁰ mandato, na ressaca de já não sermos os melhores do mundo, a inteligência de Marcelo levou-o para o Falcon e, qual Júlio Verne, já deu 180 voltas ao mundo batendo largamente o recorde de Soares. Ultimamente fico com a ideia que Portugal é uma grande maçada para Marcelo, sempre que vê uma oportunidade pisga-se daqui para fora, ainda por cima, agora que Cavaco se lembrou de chatear o governo destapando ainda mais a inabilidade de Marcelo para o cargo. Uma coisa é certa, para quem gosta de viajar, a presidência da república deve ser o melhor que pode acontecer a alguém.               Paulo Cardoso:  “Marcelo conseguiu banalizar-se a tal ponto…”. O homem - a quem eu seguia religiosamente na sua homilia semanal de comentários, sempre fascinado com a sua eloquência e sagacidade, mas sempre consciente da agenda própria que ele ia desenvolvendo - nunca me enganou. Sempre foi banal. Por isso, nem um só voto meu teve.               Maria Nunes: Muitos portugueses ficaram deslumbrados com o comentário  dominical de MRS. Não foi  o  meu caso, pois  votei  Henrique  Neto. Mas confesso que nunca imaginei que o nosso PR fosse  uma pessoa tão ávida de protagonismo. Cavaco Silva fez muito bem em chamar a atenção sobre a nossa governação. Tem autoridade para isso. Quanto  ao TGV,  será que o governo pensa que os portugueses são tolinhos, e ainda acreditam nestas patranhas? Em relação  ao  último item, pelos 3 exemplos que  HM refere, só tenho um comentário :  a civilização ocidental está profundamente decadente.           Maria Tubucci: Muito bom, HM, vivemos os dias em que as crianças socialistas se divertem.

O PNS brinca com aviões e aeroportos de papel, o Costa brinca com TGV de papel, os portugueses suportam as brincadeiras. E não passamos disto, no tempo do Cavaco compravam-se carruagem Pendulares, no tempo Costa, o PNS vai ao ferro-velho espanhol comprar carruagem revestidas de amianto, servem para os portugueses, uma brincadeira cara, como se fosse nova. Com MRS, em 2 mandatos temos várias voltas ao Mundo, há grandes Falcon comprados por Cavaco, o recreio saiu de Portugal, a brincadeira com a carteira dos portugueses continua para MRS não se incomodar com a realidade pura e dura, do país. Um homem será sempre um homem, os negacionistas da biologia humana, mais tarde ou mais cedo, serão derrotados pela realidade. A insanidade Woke irá aniquilar-se a ela mesma, basta que as pessoas de bom-senso lhe façam frente e não tenham medo. Os trogloditas importados para a Europa, foram deixados à rédea solta, saíram das cavernas, mas trouxeram as cavernas consigo. A cultura, a língua e a religião europeias, não lhes interessa para nada, os europeus acordarão, eventualmente, quando forem escorraçados das suas próprias casas e dos seus países, até lá o cancro irá metastizar-se.            Paulo Cardoso > Fernando Cascais: Pois eu, que me situo algures entre o centro-direita e a extrema-direita (relativamente liberal na economia e relativamente conservador nos valores), não tive qualquer pejo em votar Henrique Neto, sem dúvida o melhor candidato de 2016. Nas últimas presidenciais, também sem complexo nenhum, consciente que não tem de todo o perfil certo para presidente da república, votei André Ventura. Isto porque, apesar da falta de perfil que anteriormente referi, tem, sem dúvida alguma, melhor perfil que o Pateta que repetiu o lugar e que os outros que se apresentavam. Podia ter optado pelo voto branco/nulo, mas acredito que o voto A.V., foi o voto mais útil ao complicado momento político.               Carlos Quartel: Não é por acaso que crescem melões (Meloni) na Suécia, na Itália, na Dinamarca, na Holanda e que, em Portugal, o Chega já vá nos 11%. Há um abastardamento das sociedades ocidentais, de que até o carniceiro do Kremlin se serve. Penso que ainda não chegámos ao ponto que a autora refere, mas já sentimos o acosso e a intimidação. Quanto a Costa e Marcelo, nada de novo na frente Ocidental. O TGV Lisboa-Porto é outro abcesso, que se pode juntar ao novo aeroporto e aos 3,5 mil milhões metidos na TAP.  O único TGV a considerar seria um Lisboa-Madrid, mas, mesmo esse, é desnecessário. Uma boa rede, com comboios modernos de média velocidade chega e sobra para a nossa dimensão. Mas há que os aturar, foram eleitos e somos democratas .....            Meio Vazio: Um "Ocidente" cada vez mais refém dos suas próprias insanidades.                 José Paulo C Castro: O grupo que atacou o político Venom vai acabar com as situações das duas primeiras imagens. É uma guerra civil latente. O problema é que, pelo meio, acaba também a civilização ocidental clássica. Ou tomam partido pelos valores conservadores e identitários ou morrem a prazo, vítimas da cumplicidade com os progressistas de esquerda.              Carlos Almeida > Fernando Cascais: Boa a sua resposta à HM. Bom artigo. O adiantado mental gosta de viajar com o dinheiro dos meus/nossos impostos. Que até o salário que não merece, de todo, lhe pagamos! E para que diabo serve a tão propalada, teórica, inteligência? Inteligente? É inteligente porque assim se diz. Se o fosse, fazia algo pelo país. Eu também não votei nele no segundo mandato. Mas alguém o fez.               Francisco Correia: Os portugueses só têm de de queixar deles próprios! Só existem Costas e Marcelos porque os portugueses, por acção ou por omissão de votar, os elegem. Esta é que é a realidade! Terem dado um segundo mandato, à primeira volta, ao Marcelo e uma maioria absoluta ao Costa, depois de 6 anos de desgoverno, é do domínio do surreal. Agora, temos pena, vão pagar bem caro as escolhas que fizeram!              Hipo Tanso: A excelência a que a HM nos habituou e nos faz torcer o nariz quando ao domingo, por estar de férias, ela nos priva da sua presença. Um senão, um ínfimo senão que todavia me arranha os ouvidos quando a ouço no "contra-corrente": no plural, a palavra "acordo" não muda a característica da vogal tónica. Diz-se "acôrdos" e não "acórdos". Tal como em "açordas", por exemplo. Mas a coisa não fica por aqui, pois o seu colega JMF, e outros, também cometem sempre o mesmo erro. Ouvir JORNALISTAS DA VOSSA ENVERGADURA cometer erros de pronúncia de Português... é para mim confrangedor. Igualmente parece haver dúvidas - mas não no seu caso, HM - em relação ao verbo "haver", que na acepção de existir não se usa no plural. Mas parece que o famigerado pseudo-acordo ortográfico veio legitimar todas as anomalias.                   Amigo do Camolas: A gordura de Costa, a magreza de Marcelo e seus sorrisos falsos andam juntos, junto com seu desprezo um pelo outro e pelo País inteiro. São homens que vivem alheios aos outros homens, que ocupam uma corrente da sua própria imaginação, que estão sempre certos de que a vida não os recompensa suficientemente por tudo o que fizeram, ainda que nada tenham feito. Quanto ao álbum de anúncios de obras já anunciadas pelo PS, é como o futuro: não se vê. E aqui vai uma ajuda para futuros anúncios de obras do PS: Um novo aeroporto para Lisboa no Porto. Uma nova linha de TGV Vigo-Porto-Lisboa em sentido contrário à nova linha de TGV Lisboa-Porto-Vigo. Uma nave espacial para pousar na lua, travar o vento, fritar ovos, impedir que os prejuízos da TAP caiam do céu aos bocados... a lista é grande.            Alexandre Barreira: Não haja quaisquer dúvidas que o Prof. Marcelo com a sua retórica enganou muitos portugueses. Até acho que ele julga que está numa sala de aulas a dar lições ao povo!

 

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