quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Temos um provérbio


“Pobrete mas alegrete”com o qual estamos em sintonia.

10 milhões de portugueses, 4,5 milhões de pobres

Os tempos duros de austeridade que vivemos no tempo da Troika deixaram o país pronto para retomar um caminho mais auspicioso, com capacidade de crescimento. A oportunidade foi desperdiçada.

RAQUEL ABECASIS Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 18 out 2022, 00:1735

O país político e mediático tem-se entretido nos últimos dias a discutir as declarações infelizes do Presidente da República, as incompatibilidades no Governo, se o que lá vem é austeridade ou crescimento moderado e, nas últimas horas, se Passos Coelho vai ou não candidatar-se a Presidente daqui a 4 anos.

Enquanto isso, num país que por acaso é o nosso, a frieza dos números diz tudo. À porta de um ano ainda mais difícil do que os anteriores, a realidade dos portugueses é trágica.

Em 2020, quatro milhões e meio de portugueses tinham rendimentos abaixo dos 554 euros mensais, vivendo, portanto, em situação de pobreza. Portugal é agora o 13.º país mais pobre da União Europeia.

As ajudas do Estado fazem este número diminuir para um milhão e novecentos mil. Todos os outros precisam de subsídios para subirem do patamar de muito pobres para aquilo a que tecnicamente se chama limiar da pobreza.

Olhar para os dados publicados pela Pordata dá-nos um triste retrato da nossa realidade: a maior parte destas pessoas são famílias com filhos, Portugal é o segundo país da Europa com piores condições de habitação e, com a subida da inflação, prevê-se que tudo isto vá piorar.

À luz destes números, percebe-se o ridículo da discussão dos últimos dias e a irresponsabilidade de todos os que exercem funções políticas. Será que com quatro milhões e meio de pobres num país de dez milhões é possível ou aceitável que os responsáveis políticos tenham tempo a perder com politiquices ou comentários infelizes? Não será este o tema mais importante e urgente a ser abordado pelo Presidente da República nas inúmeras intervenções que faz ao longo de cada dia? Face a estes números, não é dever do Chefe de Estado pedir contas ao Governo sobre o que tenciona fazer para alterar este estado de coisas? Acho que estaria aqui um bom espaço de intervenção para Marcelo Rebelo de Sousa neste seu segundo mandato.

Os trágicos números divulgados pela Pordata obrigam-nos a um choque com a realidade. A discussão sobre se estamos ou não a regressar à austeridade é uma discussão ao lado. No país como na vida de cada um de nós, os sacrifícios podem justificar-se se são para alcançar objectivos que melhorem a nossa vida. A verdade é que os tempos duros de austeridade que vivemos no tempo da Troika deixaram o país pronto para retomar um caminho mais auspicioso, com capacidade de crescimento e de eliminar bloqueios que impedem o nosso desenvolvimento. A oportunidade, mostram-no estes números, foi desperdiçada.

Agora, vêm lá novos sacrifícios para todos, mas qual é o horizonte? Alguém vislumbra neste orçamento ou nos discursos do Governo algum objetivo dinamizador? O PS pôs na rua um novo cartaz com a mensagem: “Juntos seguimos e cumprimos”. Seguimos para onde e cumprimos o quê?

Infelizmente, o que vemos, ano após ano, é que estamos a seguir para o abismo e que o Governo não faz a menor ideia de como vai contrariar esta situação. A alergia de António Costa à palavra reforma já tem como resultado o número estratosférico de quatro milhões e meio de pobres.

A pobreza é inimiga da democracia. As democracias são supostamente a melhor forma de trazer prosperidade aos povos, e quando assim não é, é o próprio regime que fica em causa.

POBREZA   SOCIEDADE   GOVERNO   POLÍTICA    AUSTERIDADE   PAÍS

COMENTÁRIOS: 8 de 35

Liberales Semper Erexitque: Fiquei surpreendido por Portugal ser o 13º mais pobre da UE! Como é possível haver 12 ainda mais pobres do que nós?!             Fernando Cascais: Cara RA, a pobreza é como um vírus que se propaga não apenas na carteira mas também na mentalidade. Falemos da Venezuela que tantas vezes serviu de chacota para as políticas da geringonça. Maduro, mesmo com algumas aldrabices pelo meio é um líder legitimado. A pobreza do povo é a sua legitimação. Maduro nunca poderia ser eleito num do país nórdico, mas, em Portugal poderia ter algumas hipóteses. Obviamente que nos tempos do cavaquismo Maduro poderia ter no máximo dos máximos 5%, hoje, com tanta pobreza poderia chegar perto dos 50%.  Continuando na América do Sul; Lula, poderia ganhar em Portugal? Sim, sem dúvida. E o discurso de Lula (e a retórica do último debate com Bolsonaro) poderia vencer na Alemanha ou na Suécia? Não, obviamente que não. Pobreza gera pobreza, é como um vírus.                TIM DO Ó: Foi para isto que fizeram o 25 de Abril?!? Só para votar? Mais valia que não. Portugal era o país que mais crescia na Europa na década de 60 e 70 até 1973, processo que foi interrompido com a abrilada.. Se não fosse o 25 de Abril, Portugal seria hoje um país rico e os portugueses viveriam bem, embora não votassem.            Df: Metade da população já vive no socialismo.  Só falta a outra  metade.  Na Venezuela vão mais à frente. Já são 95 %.             Tristão: Só prova que ainda há muito trabalho a fazer… ainda resistem 5,5 milhões de ricos, temos que acabar com essa desigualdade urgentemente 😁              João Eduardo Gata: Quiseram ser governados pelo PS durante décadas? Aguentem !! Carinha Alegre e nada de Choraminguices.               bento guerra: Pior do que a pobreza material, é a pobreza mental, onde tudo começa e onde a política tem ajuda das televisões. Democracia socialista é nivelar por baixo .Um salazarismo do século XXI             Fernando CE: Muito bem. Costa gosta de exercer o poder pelo poder. Fazer reformas e criar condições para gerar riqueza no país nem vê-las. O país está mais pobre e assim vai continuar. Forma governos com ministros politicamente incompetentes,  à sua semelhança. Porque com manobras politiqueiras e habilidades nunca se construiu um país a sério. A sua perspectiva é aguentar o “barco” à custa de Bruxelas, com a pedinchice sem fim à vista. E o PR veio a revelar-se um fiasco, depois de umas quantas atitudes simpáticas que agradaram ao mundo das redes sociais e mediático mas serviram apenas para anestesiar o país que pensou que estava tudo a correr no melhor dos mundos. Para azar de todos, o tão falado Diabo, chegou.

 

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