sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Ducentésimo septuagésimo dia


Um pobre homem esse homem rico, sentado à sua estrondosa (no caso de se estilhaçar) mesa solitária, entretido a urdir, como sempre fez …

GUERRA NA UCRÂNIA

1 - Mal que parecia derrotado em 1945 "renasceu das cinzas", diz Zelensky

Na véspera do dia em que a Ucrânia recorda a saída das tropas nazis do país, Zelensky diz que o "mal" entrou na casa dos ucranianos há oito anos e oito meses, altura em que a Rússia anexou a Crimeia.

ADRIANA ALVES: Texto

OBSERVADOR, 28 out 2022, 00:55  

Zelensky diz que este ano a data se celebra de forma diferente, “não segurando flores, mas armas"

Com o aproximar do dia em que se celebra a libertação do território ucraniano dos nazis, o Presidente Volodymyr Zelensky traçou uma comparação entre o actual conflito na Ucrânia e a Segunda Guerra Mundial. “O mal, que parecia ter sido finalmente derrotado e queimado em 1945, renasceu das cinzas 80 anos depois”, afirmou.

No habitual discurso, o líder ucraniano disse que este cenário se tornou possível de forma rápida, mas impercetível, num momento em que o mundo não estava atento. “Alguns estão sonolentos, outros a dormir. Alguns não estão a prestar atenção, outros não querem saber. E no geral, todos estão em silêncio e pensam o mesmo: não serei afetado. A guerra é algo distante”.

Comparando as duas épocas, Zelensky afirma que, apesar de surgir com uma nova forma, o nazismo surge com o mesmo objetivo. “Mais tarde ou mais cedo, as memorias de uma guerra terrível transformam-se numa realidade terrível. O vizinho torna-se o agressor. O agressor torna-se um terrorista. E o nazismo torna-se um exemplo a seguir. Pode surgir com um novo disfarce, novos slogans, mas com o mesmo objetivo. Infelizmente, não é dos livros que sabemos isto”. Segundo Zelensky, o “mal” entrou na casa dos ucranianos há oito anos e oito meses atrás, ano em que a Rússia anexou a península da Crimeia.

Hoje, preservar a memória da vitória dos nossos antecessores significa proteger as suas conquistas. Lembramos a expulsão dos nazis, aproximando-nos da expulsão dos Rashists [ndr: termo usado pelos ucranianos para definir militares russos ou apoiantes da invasão].”

No dia 28 de outubro, na Ucrânia recorda-se a saída das tropas nazis e para o líder ucraniano este ano a data tem um significado diferente. Celebrando-se “não segurando flores, mas armas”, torna-se um “símbolo”. “O resultado da nossa luta torna-se definitivamente a libertação da nossa Ucrânia. O território capturado tornar-se livre. Este sempre foi o caso no passado e será certamente o caso no futuro”, garantiu.

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2 - "O inferno que atravessamos é resultado da impunidade total da Rússia", diz Oleksandra Matviichuk

A organização que Oleksandra Matviichuk dirige já documentou mais de 21 mil alegados crimes de guerra desde 2014. Com o sistema nacional sobrecarregado, o receio é que os responsáveis fiquem impunes.

ADRIANA ALVES: Texto

OBSERVADOR, 27 out 2022, 22:59  

Enquanto diretora do Centro pelas Liberdades Civis, organização ucraniana que este ano venceu o Nobel da Paz, Oleksandra Matviichuk já ouviu todo o tipo de casos. Em 2014, ano em que a Rússia anexou a península da Crimeia, chegava o relato de uma mulher grávida que tinha sido severamente agredida durante o cativeiro russo. “Ela implorou que parassem porque estava à espera de um bebé. Mas disseram-lhe: ‘tens simpatias pró-ucranianas e por isso a tua criança não tem o direito de nascer’”. Desde esse ano, a organização já recolheu depoimentos sobre mais de 21.000 alegados crimes de guerra cometidos pelas forças russas.

A invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, trouxe à porta da organização uma onda diária de novos casos: desde bombardeamentos intencionais a edifícios residenciais, hospitais e escolas, a relatos de raptos, tortura, violência sexual ou execuções extrajudiciais. No entanto, segundo Matviichuk, não há uma forma legal de o impedir. “Não tenho nenhum instrumento legal para parar as atrocidades russas. Nenhuma forma imediata de trazer os perpetradores ao tribunal”, admitiu em entrevista ao The Guardian.

Para Matviichuk, trata-se de um padrão comportamental que a Rússia tem seguido há várias décadas. “Este inferno que atravessamos é o resultado da impunidade total da Rússia, da qual usufruiu ao longo de décadas. Cometeram crimes horríveis na Chechénia, na Moldávia, na Geórgia, no Mali, na Líbia e Síria e nunca foram punidos por isso”.

A directora da organização lembra que, tendo em conta a situação atual, há o risco dos crimes de guerra não serem examinados e ficarem impunes. Considera que, mesmo com toda a atenção internacional que a Ucrânia está a receber, há uma “lacuna na responsabilização”, uma vez que o sistema nacional está sobrecarregado com uma quantidade elevada de crimes, pelo que é preciso “arranjar coragem” e estabelecer um tribunal internacional para “responsabilizar Putin, Lukashenko e outros criminosos”.

A [justiça] tem de ser independente do poder de Putin. Não podemos esperar.”

A organização de que Matviichuk é diretora ganhou o Nobel da Paz de 2022 juntamente com o activista bielorrusso Ales Bialiatski e a Memorial, uma organização de direitos humanos russa.

As equipas do Centro pelas Liberdades Civis têm estado muito activas e viajaram por cidades como Bucha, onde foram encontrados dezenas de civis mortos após a saída das forças russas. A organização recolheu uma grande quantidade de material e para Matviichuk, é “muito claro” que a Rússia usou crimes de guerra como um método de guerra, sujeitando a Ucrânia a um “experimento psicológico” através da “imensa dor da população civil”.

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