Um pobre homem esse homem rico, sentado à sua estrondosa (no caso de se estilhaçar) mesa solitária, entretido a urdir, como sempre fez …
1 - Mal que parecia derrotado em 1945
"renasceu das cinzas", diz Zelensky
Na véspera do dia em que a Ucrânia
recorda a saída das tropas nazis do país, Zelensky diz que o "mal"
entrou na casa dos ucranianos há oito anos e oito meses, altura em que a Rússia
anexou a Crimeia.
OBSERVADOR, 28
out 2022, 00:55
▲Zelensky
diz que este ano a data se celebra de forma diferente, “não segurando flores,
mas armas"
Com o aproximar do dia em que se celebra
a libertação do território ucraniano dos nazis, o Presidente Volodymyr Zelensky
traçou uma comparação entre o actual conflito na Ucrânia e a Segunda Guerra
Mundial. “O mal, que parecia ter
sido finalmente derrotado e queimado em 1945, renasceu das cinzas 80 anos
depois”, afirmou.
No habitual discurso, o líder
ucraniano disse que este cenário se tornou possível de forma rápida, mas
impercetível, num momento em que o mundo não estava atento. “Alguns estão sonolentos, outros a dormir.
Alguns não estão a prestar atenção, outros não querem saber. E no geral, todos
estão em silêncio e pensam o mesmo: não serei afetado. A guerra é algo distante”.
Comparando as duas épocas,
Zelensky afirma que, apesar de surgir com uma nova forma, o nazismo surge com o mesmo objetivo. “Mais
tarde ou mais cedo, as memorias de uma guerra terrível transformam-se numa
realidade terrível. O vizinho torna-se o agressor. O agressor torna-se um
terrorista. E o nazismo torna-se um exemplo a seguir. Pode surgir com um novo
disfarce, novos slogans, mas com o mesmo objetivo. Infelizmente, não é dos
livros que sabemos isto”. Segundo Zelensky, o “mal” entrou na casa dos
ucranianos há oito anos e oito meses atrás, ano em que a Rússia anexou a
península da Crimeia.
Hoje, preservar a memória da vitória dos
nossos antecessores significa proteger as suas conquistas. Lembramos a expulsão
dos nazis, aproximando-nos da expulsão dos Rashists [ndr: termo usado pelos
ucranianos para definir militares russos ou apoiantes da invasão].”
No dia 28 de outubro, na Ucrânia recorda-se a saída das tropas nazis e
para o líder ucraniano este ano a data tem um significado diferente.
Celebrando-se “não segurando flores, mas armas”, torna-se um “símbolo”. “O
resultado da nossa luta torna-se definitivamente a libertação da nossa Ucrânia.
O território capturado tornar-se livre. Este sempre foi o caso no passado e
será certamente o caso no futuro”, garantiu.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
2 - "O inferno que atravessamos é resultado da impunidade total da
Rússia", diz Oleksandra Matviichuk
A organização
que Oleksandra Matviichuk dirige já documentou mais de 21 mil alegados crimes
de guerra desde 2014. Com o sistema nacional sobrecarregado, o receio é que os
responsáveis fiquem impunes.
OBSERVADOR, 27 out
2022, 22:59
Enquanto diretora do Centro pelas
Liberdades Civis, organização ucraniana que este ano venceu o Nobel da Paz, Oleksandra Matviichuk já
ouviu todo o tipo de casos. Em 2014, ano em que a Rússia anexou a península
da Crimeia, chegava o relato de uma mulher grávida que tinha sido severamente
agredida durante o cativeiro russo. “Ela implorou que parassem porque estava à
espera de um bebé. Mas disseram-lhe: ‘tens simpatias pró-ucranianas e por isso
a tua criança não tem o direito de nascer’”. Desde esse ano, a organização já
recolheu depoimentos sobre mais de 21.000 alegados crimes de guerra cometidos
pelas forças russas.
A invasão russa da Ucrânia, a
24 de fevereiro, trouxe à porta da organização uma onda diária de novos casos:
desde bombardeamentos intencionais a edifícios residenciais, hospitais e
escolas, a relatos de raptos, tortura, violência sexual ou execuções
extrajudiciais. No entanto, segundo Matviichuk, não há uma
forma legal de o impedir. “Não tenho
nenhum instrumento legal para parar as atrocidades russas. Nenhuma forma
imediata de trazer os perpetradores ao tribunal”, admitiu em entrevista
ao The Guardian.
Para Matviichuk, trata-se de um padrão comportamental que a Rússia
tem seguido há várias décadas. “Este
inferno que atravessamos é o resultado da impunidade total da Rússia, da qual
usufruiu ao longo de décadas. Cometeram crimes horríveis na Chechénia, na Moldávia,
na Geórgia, no Mali, na Líbia e Síria e nunca foram punidos por isso”.
A directora da organização lembra
que, tendo em conta a situação atual, há o risco dos crimes de guerra não serem
examinados e ficarem impunes. Considera
que, mesmo com toda a atenção internacional que a Ucrânia está a receber, há
uma “lacuna na
responsabilização”, uma vez
que o sistema nacional está sobrecarregado com uma quantidade elevada de
crimes, pelo que é preciso “arranjar coragem” e estabelecer um tribunal
internacional para “responsabilizar Putin, Lukashenko e outros criminosos”.
A [justiça] tem de ser independente do poder de Putin. Não podemos
esperar.”
A organização de que Matviichuk é diretora ganhou o Nobel da Paz de
2022 juntamente com o activista bielorrusso Ales Bialiatski e a Memorial, uma
organização de direitos humanos russa.
As
equipas do Centro pelas Liberdades Civis têm estado muito activas e viajaram
por cidades como Bucha, onde foram encontrados dezenas de civis mortos após a
saída das forças russas. A organização recolheu uma grande quantidade de
material e para Matviichuk, é “muito claro” que a Rússia usou crimes de guerra
como um método de guerra, sujeitando a Ucrânia a um “experimento psicológico”
através da “imensa dor da população civil”.
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA
EUROPA MUNDO
Nenhum comentário:
Postar um comentário