Que farão os impossíveis para resolver
os seus problemas. Nós apenas podemos agarrar-nos aos exemplos de cá de baixo,
de canções de advertência fatalista, o costume. Os exemplos dos outros
passam-nos à margem:
O vento mudou
Música: Nuno Nazareth
Fernandes
Letra: João
Magalhães Pereira
Intérprete: Eduardo
Nascimento
Ouçam
Ouçam
E o vento mudou
Ela não voltou
As aves partiram
As folhas caíram
Ela quis viver
E o mundo correr
Prometeu voltar
Se o vento mudar
E o vento
mudou
E ela não voltou
Sei que ela mentiu
P'ra sempre fugiu
Vento por favor
Traz-me o seu amor
Vê que eu vou morrer
Sem não mais a ter
Nuvens tenham
dó
Que eu estou tão só
Batam-lhe à janela
Chorem sobre ela
E as nuvens choraram
E quando voltaram
Soube que mentira
P'ra sempre fugira
Nuvens por favor
Cubram minha dor
Já que eu vou morrer
Sem não mais a ter
Ouçam Ouçam
ouçam Ouçam ouçam
www.songcontest.nl (vencedora do festival da
canção de 1967)
O que se passa na Inglaterra?
Na Inglaterra, não morreu o liberalismo económico, mas
o dinheiro barato que durante anos deixou os governos, à direita e à esquerda,
ignorarem problemas e adiarem reformas.
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 21 out
2022, 00:222
No
mundo, quase tudo acontece. Por isso, era de esperar que algum dia víssemos os
socialistas mais retintos a aplaudir os “mercados financeiros”. Foi agora. A 23 de
Setembro, o governo conservador do Reino Unido propôs-se baixar impostos, e os
mercados reagiram brutalmente. A libra desvalorizou e a cotação da dívida
britânica caiu, para grande aflição dos fundos de pensões. Liz Truss teve de engavetar os seus
planos, a seguir dispensou o ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, e ontem,
finalmente, demitiu-se. Para a
esquerda, a começar pelo inevitável Paul Krugman, foi um dia de Natal. Os
mercados são um dos seus grandes papões. Mas agora, que parecem ter enterrado o
liberalismo económico, ei-los tratados quase que como uma das “forças da
história” em que outrora a esquerda confiava para chegar ao socialismo.
É
isto assim? Os mercados condenaram mesmo o liberalismo económico, isto é, a
ideia de que a melhor forma de estimular o crescimento de uma economia é
aliviá-la do peso do Estado? O
socialismo está de regresso e perdoado? Não, de maneira nenhuma. Contemos a
história como deve ser. Os mercados não reagiram ao facto de Liz Truss
pretender ser a Margaret Thatcher do século XXI. Os mercados reagiram ao facto
de Truss pretender ser a Thatcher do século XXI no pressuposto de que o
dinheiro, numa época de inflação e subida de juros, ia permanecer tão barato
como antes. O
problema não foram os cortes de impostos, nem os apoios ao consumo de energia.
O problema foi Truss e Kwarteng terem dado a entender que iam financiar o
défice que daí resultasse recorrendo ao endividamento, isto é, tomando por
adquirido que os mercados financeiros estariam dispostos a pagar a
liberalização, dispensando-os de cortes de despesa, até a economia crescer. O que os mercados, isto é, os investidores
fizeram foi esclarecer que não contassem com eles, sobretudo com o nível de
endividamento britânico actual. Ficou assim
confirmado que, como os liberais sempre disseram, “não há almoços grátis” – nem
mesmo para os liberais.
A dívida foi, nos últimos vinte anos, a grande solução para todos os
problemas das economias e sociedades ocidentais, da crise de 2008 à pandemia de
Covid. Hoje, as dívidas públicas fazem
lembrar o endividamento dos Estados no tempo das duas guerras mundiais do
século XX. De facto, reflectem também uma guerra: desta vez, uma guerra contra
a realidade, contra a necessidade de fazer reformas e de deixar as economias
desenvolverem-se. Tudo isso foi possível graças à inflação e aos juros
historicamente baixos. Ora, essa época acabou. Liz Truss quis acreditar que
ainda poderia durar para ela. Enganou-se.
Talvez se
tenha enganado mais por desespero do que por ingenuidade. Parte desse desespero
terá tido a ver com a sua imensa fragilidade política. Para se fortalecer,
precisava de uma iniciativa espectacular, e que demonstrasse, também, que
valera a pena ter saído da UE. Tentou mesmo ser a Thatcher do século XXI? Sim, mas
sem correr o risco dos debates e confrontos com que Thatcher teve de lidar. Para isso, esperou que os mercados lhe passassem a ela
o cheque em branco que geralmente não passam a ninguém. Portanto, o que acabou
em Inglaterra não foi o liberalismo económico. O que
acabou em Inglaterra foi o endividamento a baixo custo e, com esse
endividamento, a capacidade dos governos e das sociedades ignorarem problemas,
evitarem debates e adiarem reformas. À
esquerda socialista, e até ao “centro esquerda” de Paul Krugman, é preciso
ensinar: não, os sinos
não dobram por Margaret Thatcher, dobram por vocês e por todos os que, fossem
quais fossem as suas ideologias, se habituaram a viver do dinheiro barato. Esse
dinheiro acabou: foi isso que se passou em Inglaterra.
REINO
UNIDO EUROPA MUNDO LIBERALISMO ECONOMIA
COMENTÁRIOS:
Luis Oliveira: Para aqueles
que os mercados são para ignorar, ouviram o seu rugido quando o governo
britânico fez uma tentativa de orçamento. Os mercados rugem quando tentam
mexer no seu dinheiro. Fica a lição: os mercados não querem saber de
ideologias, querem é saber quem vai pagar a festa. Os socialistas aqui do pedaço, brevemente irão
aperceber-se que a época dos brilharetes à custa dos outros está prestes a
acabar. Com
o custo de financiamento do estado cada vez mais alto, uma economia anémica, e
uma asfixia fiscal, este será (ainda mais) um governo de serviços mínimos. A
despesa fixa com os funcionários públicos não vai dar margem de manobra nem
para comprar papel higiénico para os tribunais e hospitais. Os portugueses que
não se iludam quanto a novos hospitais, aeroportos, ou sequer novos apeadeiros
de comboio. Novos investimentos só quando emagrecerem de novo a administração
pública.
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