Temos nós culpa,
pascácios que somos, habituados à canga da subalternidade… Há sempre quem se
aproveite e saiba gerir o seu sustento, a partir das côdeas do nosso. Hábitos antigos
das nossas luzes baças.
As figuras do Estado
A primeira figura do Estado não sabe o
que diz. A segunda figura do Estado manobra para vir a ser a primeira. Já a
terceira figura do Estado faz de conta que não percebe o estado a que levou o
Estado
HELENA MATOS,
COLUNISTA DO OBSERVADOR
OBSERVADOR, 30 out
2022, 00:23103
Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos
Silva e António Costa. Ou dito de outra forma: as três principais figuras do
Estado. O primeiro é Chefe de Estado e o mais alto magistrado da Nação (seja
isso o que for). O segundo é Presidente da Assembleia da República de Portugal.
O terceiro é o Primeiro-Ministro. Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira figura do
Estado, não sabe o que diz. Augusto
Santos Silva, a segunda figura do Estado, manobra para vir a ser a primeira ao
mesmo tempo que recupera o silêncio do PS sobre José Sócrates. António Costa, a
terceira figura do Estado, faz de conta que não percebe o estado a que levou o
Estado.
Augusto Santos Silva, o desaludido. Porque um texto não tem de se arrumar
como as cerimónias oficiais, comecemos pela segunda figura do Estado.
Este atropelo no protocolo está mais que justificado com a frase proferida pela
segunda figura do Estado a trabalhar para vir a ser primeira durante a
entrevista à CNN: “E quanto às questões a que quer
aludir, elas estão em justiça. Deixemos a justiça tratar. Porque eu também sou
uma das pessoas que gostará de saber o que é que realmente se passou.”
Esta
frase faz parte da resposta de Santos Silva à pergunta: “Foi, de facto, um defensor muito
forte de José Sócrates. E há quem diga que não fez autocrítica suficiente. Não
se apercebeu de algumas das coisas de que depois José Sócrates foi acusado e
que estariam a acontecer?” e é um condensado sobre a arte da
desresponsabilização.
Santos Silva começa
por não nomear o assunto por que estava a ser interrogado, são apenas
as “questões a que quer aludir”. Em seguida
recorre ao mantra desculpabilizante do “Deixemos
a justiça tratar.” Por fim, rematou o assunto com uma afirmação que diz
tudo sobre o que realmente pensa: “eu também sou uma das pessoas que gostará de saber o
que é que realmente se passou.” Realmente? Porquê
realmente? Aquilo que a investigação policial revelou e as palavras de Sócrates
em sua defesa nos mostraram sobre a desrazoada vida do ex-primeiro-ministro não
chegam para que Santos Silva saiba que, independentemente daquilo que a justiça
vier a decidir, estamos realmente perante um escândalo político?
Na entrevista à CNN ficámos a saber
também que a segunda figura do Estado faz sandes e lava louça (eu prefiro
fazer máquinas com roupa seleccionada por cores mas aceito sugestões para
sandes que resistam a umas horas de calor na praia). Mas a segunda figura
do Estado, que para mais quer ser primeira, tem perceber que das sandes e da louça só fala se quiser. Já sobre a
actuação de José Sócrates a opção não se coloca: deve-nos explicações não sobre
Sócrates mas sobre si mesmo. Não viu? Não percebeu? Ou acha que não existe nada
de criticável? E também temos de saber porque recusou que fosse mostrada no
parlamento a exposição “Totalitarismos na Europa”, dedicada aos crimes
cometidos por regimes fascistas e comunistas em diversos países europeus. Ou
porque bloqueia a atribuição de uma vice-presidência ao Chega…
Marcelo Rebelo de Sousa, o
estrafegado: “Aumentar juros a este ritmo não é para curar o doente, é estrafegá-lo“.
Marcelo, a primeira figura do Estado, foi à Gulbenkian. Ouviu Vítor Constâncio
e pouco depois aconteceu o momento “Marcelo Rebelo de Sousa a falar aos
jornalistas”, sucessor do momento “Marcelo a descrispar”. Os momentos “Marcelo Rebelo de Sousa a
falar aos jornalistas” sucedem-se a um ritmo avassalador. Em queda nas
sondagens, o presidente reage perante os microfones como uma fada diante de uma
varinha de condão partida: repete os gestos e os truques, interiormente
esperando que o feitiço aconteça de novo e que a magia da popularidade
regresse. Cada falhanço acentua o dramatismo da tentativa seguinte.
As declarações de Marcelo a propósito
da subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) não são
sobre a subida das taxas de juro nem sobre o BCE e muito menos sobre os
impactos desta subida. O estrafegado que estrebucha nas palavras de Marcelo
afinal é ele mesmo, pois é ele quem se sente a estrafegar. Durante anos
as intervenções do BCE garantiram juros baixos e permitiram a Portugal manter a
ilusão de que o crescimento resultava da conjugação entre o optimismo da
primeira figura do Estado e o optimismo irritante da terceira figura do Estado:
devidamentos adicionados e agitados em noticiários festivos, os dois óptimos geravam um país positivo, até o melhor do
mundo… A inflação
veio pôr fim a esta auto-ilusão. E Marcelo estrafega porque não vislumbra
saída. Ou melhor dizendo começou logo a vislumbrar quando teve aquele momento
“falar aos jornalistas”: vai atacar a subida dos juros e também o BCE. A
primeira figura do Estado entrou em auto-estrafegamento e não se vê como se
libertará do nó que colocou à volta do seu próprio pescoço. Quanto a nós
devemos dar graças por estarmos no euro pois alguém tem dúvidas sobre o que nos
teria acontecido caso tivéssemos moeda própria? Venezuela da Europa seria a
definição mais apropriada.
António Costa. O
contrariado. A terceira
figura do Estado procura uma forma de deixar de ser a terceira figura do
Estado. A maioria absoluta tornou-se uma armadilha para António Costa. Em primeiro
lugar, a maioria absoluta privou-o daquilo que gosta e sabe fazer: gerir
equilíbrios até atingir aquele zénite que se basta a si mesmo ou, na mais
excêntrica das situações, em que se faz alguma coisa para que tudo permaneça na
mesma. Em
segundo, a
existência de uma maioria absoluta veio lembrar, sobretudo àqueles que não são
figuras do Estado, que as figuras do Estado têm agora condições para fazer
reformas. Ora a terceira figura do Estado não quer reformar nada. Que lhe
lembrem que tem condições para o fazer causa-lhe uma irritação nevrálgica. Em
terceiro, o fim da maioria absoluta deixou os seus antigos parceiros livres
para serem oposição. E a terceira figura do Estado sem paciência para os ouvir.
Em resumo, a terceira figura do Estado quer continuar a ser figura
mas de preferência fora deste Estado. A segunda quer ser primeira a vários
custos e a primeira esquece-se do Estado.
MARCELO
REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA POLÍTICA AUGUSTO
SANTOS SILVA PAÍS ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS:
bento guerra O censor foi ver se havia "respeitinho"... António Lamas: Três Tristes que para mal dos portugueses coincidiram no tempo. Dá vontade
de pedir um Filipe II. Se Marcelo sofre de infantilidade e vaidade, Costa de má
educação e sonha com a aplicação do Princípio de Peter, o pior é o cerebral SS.
Cínico, maldoso, intriguista, podia ser um ideólogo de uma qualquer ditadura. Está
quase Vitor
Batista Fenomenal! já li grandes crónicas da Helena Matos mas
esta é sublime, deveria ser mostrada nas escolas, e ser lida em voz alta
perante todos os portugueses, sejam eles analfabetos, analfabrutos ou com outra
"qualidade" qualquer . Esta trupe ter cometido tropelias no passado
até se desculpa, agora o que não tem perdão é um povo que é chamado a gerir o
seu próprio destino, não aceitar a verdade que lhe gritam de que o Rei vai nu, condenaram
o país à indigência e à miséria, como se pode constatar com o aumento
avassalador dos números de pobres, de indigentes e subsidio dependentes. Continuem
a dar-lhes corda que eles agradecem.
Tristão: Eu ainda me lembro da segunda figurinha de estado que
quer ser primeira dizer o seguinte sobre um tal figurão chamado Sócrates: "Sócrates não merece essa
nódoa no currículo". A nódoa era ser condecorado por Cavaco - coisa que este se recusou a
fazer como é evidente. Acrescentava ainda “ que Cavaco não o deve fazer -
haverá outro Presidente com essa "honra"”. Enfim, ter memória dá um certo
jeito.. Madalena
Sa: Oh Helena Matos não pode ser melhor o seu artigo! Estas 3 figuras são o
verdadeiro descalabro dum País em ruínas! não há salvação! Foi o povo que as
elegeu! Porca miséria! Carlos
Quartel: Três no podium, a
dificuldade é ordená-los. Mas faça-se um esforço e pode ser que se considere
Marcelo o menos mau. Parece ser desastre, inadequação, ausência de sentido de
Estado, mas não acinte nem ódios recalcados. Não é uma figura
sinistra (aí Santos Silva é o maior) nem um arruaceiro agressivo, onde Costa é
imbatível. Mas nem Marcelo consegue dar bom gosto à caldeirada ..... Maria Tubucci:
Extremamente
realista, HM. A divindade demoníaca tríplice, o filme, não precisa de sair de
casa, sente-se no seu sofá e aprecie, a realidade supera qualquer ficção. O
filme foi financiado por si, contribuintes, o enredo foi selecionado pelos
votantes PS e abstencionistas, a promoção ficou a cargo da
sabuja comunicação social. As personagens principais são: o mafarrico do
microfone e das banalidades que assina tudo de cruz, o mafarrico do embelezamento
da corrupção da sua famiglia, por fim, o mafarrico do riso sádico que diz tudo
e o seu contrário, ao mesmo tempo. Estes 3 juram a “pés” juntos aos
espectadores que os vão levar ao céu, mas na realidade, todas a suas ações
conduzem o espectador ao inferno. Olha, da TV vem um intenso cheiro a enxofre! Antonio Marques
Mendes: A segunda figura bloqueia como qualquer porteiro de discoteca. Agora querer
passar de porteiro a residente já parece de mais. Ou talvez não, se olharmos
para o residente actual. Pobre Portugal. João Eduardo Gata:
Ou seja, Portugal
merece os TRÊS IDIOTAS que governam este País Falhado. manuel rodrigues:
Os três da vida
airada: Cocó, Ranheta e Facada. É só escolher Rui Teixeira:
E, além de tudo o
que a H. M. bem diz, os 3 são, entre os seus pares da UE, os mais feios. São
feios como escarros! O peru, a "hiena trotskista e o sapo! Pontifex Maximus: Os três estarolas que governam
o país mais patético da Europa, que aplaude uma instituição quando actua contra
a evidência e a censura quando corrige a sua absurda conduta anterior. Ainda se
lembram dos juros baratos porque a inflação era passageira e a FED já carregava
nas tintas dos juros? É dessa gente que se trata, esquecendo que o BCE imprimiu
toneladas de notas para os governos brincarem ao tio Patinhas, pagando para as
pessoas ficarem em casa a ver a Netflix enquanto a Covid mudava as regras
centenárias da economia… e agora tem que retirar esse dinheiro da economia pois
não corresponde a riqueza criada nesse período! Joaquim Almeida: Três admiradores do Lula...
Estamos em segurança... José Miranda: Grande Helena! Descrição
perfeita destas tristes figuras.
João Floriano: Excelente crónica. A entrevista de ASS é um puro
exercício de hipocrisia destinado a endrominar os que ainda acreditam nas boas
intenções e competência dos que fingem governar-nos. E infelizmente são ainda
muitos. A metáfora de MRS brandindo a varinha de condão para sempre quebrada,
repetindo o gesto cada vez que vê um microfone e uma câmara televisiva pelo
menos a 500 metros (há aves necrófagas que detectam o repasto a longas
distâncias), é magistral. Imaginemos MRS como a Sininho voando à volta do seu
Peter Pan, António Costa. Uma Sininho grotesca a bem da verdade mas coadjuvante
de um Peter Pan que recusa reformas, tal como o Peter Pan do conto infantil se
recusa a crescer. Penso que há uma
pequena gralha no texto ou então sou eu que não consigo perceber o sentido: Em
terceiro, o fim da maioria absoluta deixou os seus antigos
parceiros livres para serem oposição. E a terceira figura do Estado sem
paciência para os ouvir. É mesmo o fim da maioria absoluta ou o seu
início? Zé das
Esquinas o Lisboeta: O professor, o aluno do professor e o amigo do aluno
do professor... A minha mãe dizia: de tanto andares com um coxo acabas a
coxear. Francisco
Marnoto: Isto, com este
regime, já não tem conserto! A verdade é que o povo não tem de se queixar, pois
elege estas figuras medonhas. Aos jovens e competentes só lhes resta partir,
pois não se faz uma revolução numa "Democracia". Alberico Lopes > ANTONIO MONTEIRO: Ainda duvida que o amigo do
Ricardo Salgado é mesmo uma nódoa? Um puro ilusionista?! Manuel Martins: Não podemos esquecer que tanto
Costa como o Augusto foram os ministros principais do Sócrates... Joaquim Almeida > ANTONIO MONTEIRO:
Para o alto nível
de responsabilidade cívica e política que lhe cabe MRS anda a dizer
demasiadas tolices há demasiado tempo — é facto tão lamentável como
inegável. Ana
Oliveira: os media na
generalidade parece q estão focados na formatação do povo com a agenda
esquerdista dominante.
Cisca Impllit: Augusto Santos Silva nem para presidente. da AR quanto mais do País. Um
trio dispensável; até, no meu entendimento, desprezível. José
Paulo C Castro > jose ricardo da cruz pereira:
Os professores
ensinaram-nos assim. Frequentaram universidades de esquerda para serem
militantes na sua profissão. É a escola de jornalismo que temos: a do
jornalista militante que nem sai da redação para fazer o trabalho. Não é
informar sobre o mundo. É informar o mundo. A agenda vem logo no ponto um. Geraldo Sem Pavor: excelente artigo. O humor é sibilino e seria engraçado se o lodo em que
estamos não fosse tão deprimente. Jorge Barbosa: Helena Matos já não lhe dou parabéns porque
todos os seus artigos são excelentes. Agradeço-o, a si e ao Observador. Sobre
as tristes personagens nada de bom a esperar. O 1° e o 3° tratarão de escapar
ilesos das suas indignas magistraturas enquanto o 2°, tudo fará para em
proveito próprio, branqueando o seu passado, chegar a PR. Estes malefícios
agradeçam-se aos cidadãos paulo mariano: Reles democracia. Reles
políticos. E depois admirem-se que o CHEGA seja a terceira força politica.
CHEGA que não interessa a ninguém. Portugal adiado, com elites sem nível nenhum. Maria
Madeira: Mais um excelente
artigo de Helena Matos. Liberales Semper
Erexitque > Manuel Martins: É tudo esterco fabricado na
escola de formação a que eu chamo o gutterrismo. Esse indivíduo, o que voou
para a ONU assumindo o estatuto de vampiro global, deixou toda uma escola em
Portugal, que nunca saiu realmente do poder desde 1995. Amigo do Camolas: Os três no pascácio de Belém
: «ACosta
- Olá meus queridos! São servidos? Augusto Santos Silva - Chega sempre para
mais um! Estão reunidos na mesa do orçamento para saber para onde vamos e de onde é
que vimos? ACosta
- Não. Por acaso ainda não falamos para onde vamos a
seguir... mas eu, depois desta almoçarada, para ser sincero, ia beber uma bica
e mamar uma amêndoa amarga! Augusto Santos Silva - Por isso é que ele ( o
Marcelo) veio para podermos beber à vontade que é ele que conduz - e rápido. Marcelo- Eu é que sou o presidente da
república. ACosta - Exactamente. E que assuntos profundos é que
vocês vão tratar? ACosta - Assuntos
profundos como? Augusto
Santos Silva - Isso é nas almoçaradas na
nossa casa do povo, nas nossas não! Nós como as três figuras mais importantes
do estado discutimos outras coisas. ACosta - Mas também muito importantes, tais como, o que é o jantar amanhã! Augusto Santos Silva - Ou onde
vamos almoçar amanhã! Marcelo
- Não, não. ACosta - Não o quê? Marcelo - Eu é que sou o presidente da república! ACosta - Já sabemos Marcelo! Augusto Santos Silva - Nós ainda o trazemos connosco porque ele tem uma pontaria para feijoadas
que nem lhe digo! Mas têm outras preocupações para além do orçamento? ACosta - também nos preocupamos com a
bebida... Augusto Santos Silva - E lá está, também nos preocupamos com os pobrezinhos como toda a gente. ACosta - É um assunto que nos toca a todos, não é verdade? E se não fosse a
maldita direita eu já tinha acabado com ela. Com a pobreza? Augusto Santos Silva - Não. Com a direita. E isso
afecta-vos? ACosta - Afecta-nos por causa da esquerda. Como a esquerda vai e vem, nunca se
sabe quando é a altura deles... Marcelo - Eu... ACosta - Tu o quê? Tu sabes qual é a
altura de te calares? Marcelo - Não. Eu é que sou o presidente da república. Augusto Santos Silva - Outra vez? Já sabemos, pá! Só estão aqui os três porque se acham uma
espécie de troika? ACosta - Não. Somos só os três porque por onde passamos levamos tudo à frente. Eu,
foi o velhote, o Santos Silva é para malhar na direita, e existe o presidente
que... Augusto Santos Silva- Quem? Marcelo - Eu. ACosta - Tu? Marcelo - Sim. Eu é que sou o presidente da república. ACosta e Santos Silva - Já sabemos! Já sabemos! Chato do Car... »
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