Quanto a mim, nunca entenderei, nem com
meia palavra nem com profusão delas. Limito-me a transcrever o que o economista
Dr. Salles nos
transmite, com a ancestral autoridade de patrício romano.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.03.23
Nota prévia – a informação relevante respeitante às causas
da falência dos dois bancos regionais americanos e dos problemas verificados no
«Crédit Suisse» foi-me fornecida pelo meu amigo Carlos Traguelho;
os floreados e as especulações são da minha exclusiva responsabilidade.
* * *
A política de juros nulos e negativos
levou aforradores e investidores a aplicarem os seus capitais em obrigações
privadas e públicas. Com a passagem à política
de juros positivos, perfilaram-se nos mercados de capitais aplicações alternativas com melhores
perspectivas de remuneração o que provocou uma séria baixa nas cotações dos
títulos de remuneração fixa. Quem
se antecipou na mudança, salvou-se; quem se atrasou, faliu.
Para além das causas descritas e que,
para simplificação de linguagem denomino «americanas», ao caso suíço juntaram-se mais dois tipos
de causas a gerarem desconfiança: as dúvidas relativas às origens dos capitais
à guarda do Banco em causa e a fiabilidade da informação disponibilizada no
Relatório e nas Contas relativas ao exercício de 2022. Tudo visto e
ponderado, o resultado não podia ser risonho.
* * *
Seguem-se os processos de liquidação
dos dois bancos (regionais) americanos e um
empréstimo grandioso do banco central suíço ao aflito «Crédit
Suisse» para evitar que vá à glória – esperemos que com nova
gerência.
* * *
Curiosa
coincidência a declaração do maior accionista individual do «CS» )9,9% dos
direitos de voto), o Fundo Soberano Saudita, no
sentido de que não enviaria mais dinheiro para o dito Banco e a reunião de
apaziguamento bilateral Irão-Arábia Saudita por intermediação da RPChina. O
que terá o Príncipe herdeiro saudita (Rei de facto) a dizer do Petrodólar?
Sadam Hussein poderia dizer-lhe qualquer coisinha se ainda por cá andasse. É
que há «coisas» que os americanos não gostam de ver mexidas…
Desconheço o peso relativo do banco
suíço nos activos do Fundo Soberano Saudita mas, para todos os efeitos, a
tal declaração foi obviamente um «tiro no pé» mesmo que se trate de um
chumbinho de uma «Flaubert» pressão de ar num dedo mindinho. Porquê, é
relativamente fácil de especular. O problema está em saber para quê.
* * *
Como na valsa, realço três tempos:
Substituição da política de juros
negativos (Draghi) pela de juros positivos (Lagarde) e consequentes efeitos
sobre a remuneração dos capitais (frugais) e o custo de vida do cidadão comum
(mais ou menos consumista e mais ou menos perdulário);
Guerra na Ucrânia e majoração da
tensão inflacionista e especulativa;
Realinhamentos e/ou reforço de
alianças internacionais dando precaridade especulativa ao cenário mundial.
CONCLUSÃO
Os juros antecederam a guerra e esta
nada tem claramente a ver com os problemas bancários.
Salvo melhores opiniões.
Março de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Tags: economia
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca 18.03.2023 12:09: Meu caro Henrique, muito boa esta tua crónica sobre
a crise bancária. Um abraço (e também para o Traguelho, de quem não tinha
notícias há muito tempo).👍👍.Manuel Gurdes Vieirra
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca 18.03.2023 12:09: Meu caro Henrique, muito boa esta tua crónica sobre
a crise bancária. Um abraço (e também para o Traguelho, de quem não tinha
notícias há muito tempo).👍👍.Manuel Gurdes Vieirra
Anónimo
18.03.2023 13:20: O
Silicon Valley Bank, segundo informação obtida, tinha uma Departamento de Risco
algo deficiente e depósitos muito significativos de grandes investidores, de
pouca fidelização e que buscavam permanentemente as melhores remunerações
(“shopping around”). Tendo o Banco uma política de investimento em obrigações
de taxa de juro inferior às que vieram a prevalecer no mercado, com a
consequente desvalorização daquelas, viram-se na necessidade de as vender com
prejuízo para fazer face aos levantamentos de importantes depósitos, com a
consequente falta de liquidez. O tema que preocupa é a eventual repercussão
dos casos americano e suíço na restante Banca. Nestas matérias, sem criar
alarido e alarme injustificáveis, deve ser-se prudente e deixar falar quem tem
autoridade e legitimidade para tal. Desde há 2500 anos que sabemos, por
Heráclito, que nenhum homem pode banhar-se duas vezes nas mesmas águas do rio,
pelo que será conveniente que não se repita o cenário de afirmações de há
apenas uma dezena de anos.
Fazes bem em te referires aos
petrodólares. O Iraque, de Hussein, o Irão, dos aiatolas, a Venezuela, de
Chaves, a Líbia de Kadhafi foram Países que ameaçaram abandonar o dólar dos EUA
como moeda de pagamento do petróleo.
Sabemos o resultado das medidas para manter o status quo. Quanto ao
1º tempo da valsa, o normal é que os juros sejam positivos, e não próximos de
zero ou mesmo negativos. Recordo-me
de haver contratos de crédito firmados antes da crise da década passada, em que
taxa de juro para o cliente (soma da Euribor e do spread) passou a negativa,
pela descida acentuada da Euribor, o que significava que o cliente em vez de
pagar juros recebia-os!...
Estamos atualmente perante uma realidade penalizadora: inflação
relevante, em termos europeus, e taxas de juro a crescerem significativamente. Nós, Henrique, que atravessámos cenários confrangedores,
nas décadas 70 e 80, sabemos dar o devido valor à situação actual. Infelizmente,
não prevejo que a situação melhore substancialmente nos próximos tempos, pois
as Autoridades competentes subestimaram a situação e não actuaram com a
prontidão e profundidade necessárias. Recordas-te de ouvir dizer que a inflação
era ligeira e passageira, para depois passar a ser não tão ligeira nem tão
passageira, para, finalmente, ser problema? Não
querendo entrar em coisas concretas nem fazer qualquer apreciação suscetível de
controversa, mas não resisto a acrescentar o seguinte sobre taxa de juro fixa. Quando
os Bancos oferecem este tipo de taxa são conduzidos, eles próprios, a obter
cobertura para esse risco, pois sendo o seu passivo (depósitos) de taxa de juro
variável, se não o fizerem correm o chamado risco de taxa de juro. Então,
ao fazerem essa cobertura (“swap”)
suportam um custo adicional que passam para os clientes, obviamente. A
experiência mostra que a adesão por parte destes existe quando a taxa fixa está
abaixo da taxa variável. Logo que há inversão da situação, procuram passar
para a taxa variável. Mas aí surge o problema, pois os contratos de taxa
fixa são acompanhados por um período em que essa alteração não é possível ou,
então, é-o com o pagamento de uma penalização significativa. Daí, ser
discutível a utilidade deste tipo de empréstimos. Sobre a tua conclusão, eu
matizaria mais as afirmações: Sem dúvida, e isso já por diversas vezes o
dissemos nos teus posts e nos meus comentários, que o início da inflação
precedeu a guerra, mas foi agravada por esta. A subida das taxas de juro tenta
combater a inflação e concorreu, a par com outros problemas, para que os Bancos
em causa quebrassem ou entrassem em crise. Porém, é preciso ter em atenção que
é mais arriscado gerir a Banca em cenário de taxas de juro mínimas ou negativas
do que em cenário de taxa de juro com o nível actual. Grande abraço. Carlos
Traguelho P.S. Agradeço e retribuo o abraço do Manuel Guedes Vieira.
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