Dados fundamentais
para o nosso esclarecimento. Já tínhamos esquecido o tempo das barracas, ainda
bem que vieram à baila pela referência de José Manuel Fernandes, que me chegou por email. Tantas
são as barracas de hoje que as outras se perderam nas brumas da memória. Um
texto para reler (se não sair truncado).
OBSERVADOR, 20/3/23
Há 30 anos um programa de habitação
pública lançado por um governo “de direita” resolveu o problema das barracas.
30 anos depois um governo “de esquerda” nem casas do Estado consegue construir. |
Se dúvidas
houvesse elas foram ontem de novo desfeitas: sempre que Cavaco Silva fala,
o Governo treme. Desta vez falou sobre habitação e com o
conforto de celebrar 30 anos de um programa que um seu governo lançou e foi
um sucesso – o PER, que permitiu erradicar as barracas dos grandes centros
urbanos, em colaboração com câmaras municipais de todos os partidos (as
barracas estão a regressar de novo, mas essa é outra história que também nos
diz muito sobre os dias que vivemos). |
Cavaco falou, e falou bem, de “preconceitos
ideológicos”, concretizando: “Os marxistas ignorantes das
regras de economia de mercado dirão que se proceda à coletivização da
propriedade privada. Deixemo-los em paz com a sua ignorância”. Mas não se
ficou pela ideologia, foi concreto e pragmático, lamentando que o
Governo “não tenha tido discernimento para perceber que a máquina
burocrática do Estado não tem capacidade para executá-lo”. |
É
precisamente por aqui que quero começar hoje, até porque já dediquei uma destas
newsletters ao tema da habitação. E não quero começar pela ideologia,
quero começar pela ignorância, pela incompetência e pela arrogância, pecados
que nesta maioria andam de braço dado ao ponto de não sabermos qual o mais
grave. |
Neste tema da habitação, por exemplo, chega a
arrepiar olhar para a incapacidade destes socialistas fazerem seja o que for. Como a Margarida Bentes Penedo recordou – ou revelou, porque até para mim
foi uma revelação – na década
de 1970 o Estado construiu em Lisboa 1.055 casas por ano; na década de 1980,
a média foi de 982 casas por ano; na década de 1990, construiu 1.151 casas
por ano e de 2000 a 2010 a média foi de 991 casas por ano. Depois, entre 2010
e 2020, na Lisboa governada primeiro por António Costa e depois por Fernando
Medina, o Estado (administração central, administração local, empresas e
institutos públicos) só construíram uma média de 17 casas por ano. Sendo
que esta mesma dupla Costa-Medina parece não ter emenda, já que até aquilo
que parecia fácil (transformar o antigo edifício do Ministério da Educação em
apartamentos de renda acessível) se tornou um verdadeiro nó cego. |
Isto não acontecia em Lisboa desde a
década de 1930, pois só
recuando aos anos da I República – que também tinha um discurso gongórico
sobre o direito à habitação – encontramos paralelo para este falhanço na
promoção pública de casas para os mais necessitados (recomendo a este
propósito que leiam Sérgio Barreto Costa, pois ele recordou no Observador,
num ensaio muito interessante, a história de 100 anos de políticas da
habitação: Entregar casas ao povo, mas
meter as mãos na massa e não na argamassa dos outros). |
Por outras
palavras: aquilo que o Estado Novo fez, aquilo que fizeram governos de
esquerda e de direita no pós 25 de Abril, que foi terem uma política
consistente de promoção de habitação pública, é algo que este governo (e a
Câmara de Lisboa de Costa e de Medina), mesmo podendo parecer de acordo com
os seus preconceitos ideológicos, não consegue concretizar. |
É por
isso que eu digo que nesta maioria, além da tal ignorância marxista, há
também uma enorme incapacidade de realizar seja o que for a par com a
arrogância típica de quem acha que tudo lhes é permitido. |
A
Transtejo compra barcos eléctricos sem baterias? Eu até admito que pudesse
haver racionalidade económica em separar no tempo a ordem de construção dos
barcos (que levam três anos a ser construídos) da compra das baterias (que
todos os meses baixam de preço), mas isso não pode ser feito enganando o
Tribunal de Contas. |
Alexandra Reis coloca o seu lugar à disposição
depois da nomeação de Christine Ourmières-Widener? Vamos supor que Pedro Nuno
Santos até confiava na ex-administradora e queria que ela continuasse, mas
como é que depois aceita o seu afastamento pela nova presidente da TAP e dá o
seu acordo à indemnização de 500 mil euros?
Não podendo alegar desconhecimento, será que alega distração? Ou
esquecimento? Ou, o que é mais certo, admite que fez o que fez por achar que
tudo lhe é permitido? |
(E como
tudo lhe será sempre permitido porque “é muito de esquerda”, Pedro Nuno não
desiste, ao que parece, de liderar o PS e de um dia tentar ser
primeiro-ministro, sendo significativo que Ascenso Simões tenha assumido, em entrevista ao Observador, que tudo o que é
preciso é tempo para polir de novo a sua imagem em termos de opinião
pública…) |
A ministra da Agricultura não sabe o que dizer sobre
a inflação? Inventa-se
mais um observatório, desta vez para eventualmente colocar uma etiqueta de
“custo justo” nas cinco mil referências que existem em cada supermercado e
que podem estar a mudar de preço todos os dias, sendo que, como lembrou certeiramente
Carlos Guimarães Pinto esta semana na Assembleia, até o mesmo produto (deu o
exemplo das ervilhas) pode ter preços muito diferentes conforme a forma como
é vendido. |
Esta maioria acha que, com um sacudir
de culpas, um conveniente bode expiatório e um hábil controle da agenda
informativa, mandando o cão abanar a cauda é
sempre possível salvar a pele a eternizar-se no poder. O que tendo acontecido
até agora tem um custo cada vez mais elevado para nós todos, os que vivem
neste desgraçado país (ou muito engraçado país,
depende do nosso humor), e um bom exemplo disso é como uma medida populista
assumida sem qualquer estudo sério das suas consequências (a reversão para as
35 horas) fez com que, no Serviço Nacional de Saúde, fosse necessário
contratar milhares de profissionais (que já nem existem), fosse necessário
contratar ainda mais horas extraordinárias, e se acabasse a gastar mais 1,5
mil milhões de euros para ter resultados mais medíocres (este estudo da Nova SBE mostra
como o aumento do número de profissionais foi anulado pela incapacidade
de organização e como de 74 milhões de horas trabalhadas no
SNS em 2015 passámos a 73 milhões em 2019, o que significou que “as novas
contratações realizadas neste período não se traduziram num aumento global do
volume de trabalho, não contribuindo assim para o aumento da prestação de
cuidados de saúde”). |
Isto é o PS
e o Estado às ordens do PS, um “Estado que nunca empregou tanta gente,
cobrou tantos impostos, recebeu tantos subsídios estrangeiros, e gastou tanto
dinheiro, mas onde nada parece suficiente para vigiar os mares e ensinar os
jovens”, como notou o Rui Ramos. |
Porque é que isto sucede, e sucede, e
sucede, e nada acontece, nem mesmo um pequeno sobressalto? Essa é a questão a
que estamos sempre a regressar, e a que eu naturalmente também regressarei. |
Um sentido
e imenso adeus |
A
newsletter desta semana é um pouco mais curta e menos variada do que o
habitual porque nesta semana também me aconteceu despedir-me da minha mãe.
Depois de hesitar um pouco sobre que fotografia partilhar convosco, acabei
por escolher aquela que partilhei nas redes sociais – e com ela também o
texto que na altura escrevi. Aqui fica essa imagem e esse testemunho, escrito
na passada segunda-feira: |
Partiste hoje serenamente, minha mãe. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário