sexta-feira, 24 de março de 2023

Uma imagem bem positiva


De um Cavaco Silva que em tempos modernizou Portugal. Rui Ramos recolhe os dados que Cavaco Silva, amante do seu país, destacou, recentemente, em confronto com o Portugal de hoje, a extinguir-se numa inércia de oportunismo governamental, de pura esperteza assaloiada e grotesca que escorrega em torno de nós, povinho malandro e acomodado à esmolinha, de preferência a uma seriedade e inteligência de visão e esforço laborioso. Não resisto a colocar, no final do texto de Rui Ramos, como homenagem a CAVACO SILVA, um texto que escrevi em tempos sobre este, entrevistado por dois profissionais da RTP de então, entre os quais, Margarida Marante, bela e pretensiosa, se bem me lembro, que houve sempre entre nós, pessoas de pretensão arrebatadora, sobretudo se acompanhada de beleza física ou intelectual, nem sempre educada, de resto em concomitância com os promotores de uma certa CS em Portugal, ontem como hoje, brincalhona e fútil, a condizer com a comunicação em geral, com as excepções da regra que já não consertam um país na modorra…

 

O que recorda o professor Cavaco Silva (a nós e aos socialistas)

Se em 1987 a primeira geringonça tivesse prevalecido, não teria havido cavaquismo e os anos de 1987-1995 teriam sido tão medíocres como foram os de 2015-2023. Em 1987, tivemos sorte. Em 2015, não.

RUI RAMOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 24 mar. 2023, 00:213

Nem precisaram de o ouvir. Afinal, os autarcas zangados do PS levantaram-se e saíram quando o professor Cavaco Silva ia começar a falar. Não esperaram pelos reparos ao governo. Adivinharam-nos? Ou só a presença do antigo independentemente do que diga, basta para melindrar a oligarquia socialista? Esta curiosa fobia pôs vários comentadores a especular sobre as suas razões. Ninguém se esqueceu das mais óbvias. Cavaco Silva venceu três eleições legislativas e duas eleições presidenciais. Foi, enquanto presidente, um dos poucos travões que o Partido Socialista encontrou entre 2006 e 2011, no tempo de José Sócrates, para o seu projecto de domínio do Estado, da economia e da comunicação social. Não são boas recordações para os socialistas.

Acima de tudo, Cavaco Silva foi o chefe do governo que, nos quase 50 anos deste regime, identificamos com a época de maior prosperidade e mais animadas expectativas. Pode parecer inacreditável, mas chegámos a ser optimistas entre 1985 e 1995. A economia cresceu como só tinha crescido na década de 1960. O país mudou e convergiu com a UE. Durante uns anos, todas as aspirações pareceram possíveis. Os preços das casas também subiram então: ninguém se queixou, porque o rendimento e o crédito dos portugueses subiram mais. Sim, nada disto é agradável para os dirigentes socialistas que nos governam desde 1995. O tempo deles é o de uma economia que estagnou, do mais longo período de divergência da Europa ocidental desde a II Guerra Mundial, e de expectativas que diminuíram, até nos convencermos de que melhor era impossível. E no entanto, eis o cavaquismo a lembrar que a história já foi diferente, e que por isso a história destes últimos 28 anos poderia também ter sido diferente.

Para se defender, a oligarquia socialista invoca as condições favoráveis do fim da década de 1980: o país entrara na CEE, chegavam os fundos europeus. Não é uma boa defesa. Porque nos recorda que no tempo dos governos socialistas as condições foram frequentemente ainda mais propícias. Há cerca de vinte anos, tínhamos adoptado a moeda única, os juros baixavam, e a economia mundial crescia. As primeiras décadas deste século, apesar da crise de 2008 ou da epidemia de 2020, deveriam ter sido muito diferentes para Portugal, como foram para outros países. O leste europeu, saído da miséria do comunismo, convergiu com a UE. Portugal divergiu. No entanto, tínhamos as infra-estruturas que nos faltavam em 1985, a população mais qualificada de sempre, e os fundos europeus atingiriam picos superiores ao de 1992. Não tivemos outro cavaquismo porque os socialistas no poder impuseram aos portugueses, por ideologia e expediente, os custos de um Estado cada vez mais endividado, intrusivo e limitador. Por isso, nem os milhões do PRR acendem esperanças.

Mas este cavaquismo que não houve deve lembrar-nos também do cavaquismo que poderia não ter havido. A primeira “geringonça” não foi a de 2015. Foi a de 1987, quando o Partido Socialista se propôs substituir o governo de Cavaco Silva, então em minoria, por uma maioria com o PCP e o PRD. O presidente Mário Soares podia dissolver o parlamento, e preferiu essa opção. Como teria sido a história se em 1987, tal como em 2015, a geringonça tivesse prevalecido? Não teríamos tido a revisão constitucional de 1989 e a abertura da economia, e talvez a opressão fiscal tivesse começado mais cedo. Os anos de 1987-1995, mesmo com todos os fundos europeus, teriam sido tão medíocres como foram os anos de 2015-2023. Em 1987, tivemos sorte. Em 2015, não. A história dos países faz-se nessas encruzilhadas.

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COMENTÁRIOS:

F. Mendes: Artigo interessante, pelo que nos recorda. Só que, omite este facto crucial: Cavaco Silva legitimou a geringonça, ao lavar as mãos, solicitando e aceitando uns papéis assinados por Costa, alegadamente para dar algumas "garantias" de que se não ultrapassariam todos os limites da canalhice e do disparate. Aconteceu o que sabemos, alegremente validado pelo seu sucessor no "cargo". Cavaco Silva foi um bom primeiro-ministro. Como PR passou do sofrível (nos tempos de namoro com Sócrates), ao mau (após 2009) e acabou pessimamente o mandato, empossando um governo apoiado pela extrema-esquerda. Omitir isto, Rui Ramos que me desculpe, é dourar a realidade e apagar os erros graves de Cavaco (os quais, penso que ele lamenta) que pagamos e continuaremos a pagar.                      Eduardo Cunha: mais um excelente artigo. este ps vai deixar marcas profundas nas futuras gerações. mas como escreveu bernard shaw há 100 ano "a democracia é o mecanismo que nos impede de ter um governo melhor do que merecemos". e shaw era de esquerda.                    Maria Paula Silva: Muito bom! Obrigada RR por toda a sua sabedoria e análises sempre tão assertivas. É lamentável dizer, mas vivemos tempos muito conturbados em que reina a incompetência e a mediocridade. Até Mário Soares (de quem eu nunca gostei especialmente) e José Sócrates (que apesar de aldrabão sempre fez algumas coisas) eram melhores que estes socialistas governantes de agora. Conheço várias pessoas de bem que sempre foram socialistas e que agora afirmam "que já não são socialistas, que têm vergonha do PS actual".

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UM TEXTO extraído de «ANUÁRIO; MEMÓRIAS SOLTAS», publicado em 1999:

«FIGURAS DE PAPELÃO»

«Três protagonistas. Uma entrevista pouco cívica. Um cenário macabro, de figuras de cartão envolvendo-os circularmente, símbolos hílares e grotescos de sardónicas intenções desfeiteadoras.

Um gigante enfrentando dois anões: bem-falantes, escudados nos seus textos, o rosto severo tentando afanosamente denunciar as irregularidades de um comportamento aparentemente ambíguo. Truque de uma sagacidade antiga, bem presente nas velhas fábulas clássicas: o leão escouceado à beira da morte pelo próprio burro, o kleão impotente ante o mosquito astuto, a rã inchando a rivalizar com o boi…

Em gigante. Defendendo-se sem impaciência das críticas perversas e estouvadas, imagem de segurança e honestidade, cônscio do seu papel de vários anos de trabalho empenhado, de irrefutável intenção patriótica: erguer o país do atoleiro, criar estruturas para uma continuidade possível, fazer obra necessária, embora sempre atropelado pelos defensores das ideologias fáceis, quando manipuladas na sombra das oposições palreiras ed velhacamente destrutivas.

Um gigante. Num país de muitos anões, protagonizados no cerco das figuras de cartão de um cenário agressivo, enxovalhante e lorpa e nos entrevistadores soturnos, de ataque pouco educado e ingrato, às reais qualidades do entrevistado preferindo sobrepor o sensionalismo das acusações ligeiras, em propósito exibicionista de pseudo-agudeza crítica.~

Sem efeito, contudo.

Porque em breve se impunha o magnetismo do gigante, na sua personalidade sóbria, consciente do seu valor e do trabalho feito.

Um gigante, Cavaco Silva.

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