De um Cavaco
Silva que em tempos modernizou Portugal. Rui Ramos recolhe os dados que Cavaco Silva, amante do seu país, destacou,
recentemente, em confronto com o Portugal de hoje, a extinguir-se numa inércia
de oportunismo governamental, de pura esperteza assaloiada e grotesca que escorrega
em torno de nós, povinho malandro e acomodado à esmolinha, de preferência a uma
seriedade e inteligência de visão e esforço laborioso. Não resisto a colocar,
no final do texto de Rui Ramos, como
homenagem a CAVACO SILVA, um texto que escrevi em tempos sobre este,
entrevistado por dois profissionais da RTP de então, entre os quais, Margarida Marante, bela e
pretensiosa, se bem me lembro, que houve sempre entre nós, pessoas de pretensão
arrebatadora, sobretudo se acompanhada de beleza física ou intelectual, nem
sempre educada, de resto em concomitância com os promotores de uma certa CS em Portugal, ontem como hoje, brincalhona e fútil, a
condizer com a comunicação em geral, com as excepções da regra que já não
consertam um país na modorra…
O que recorda o professor Cavaco Silva (a nós e aos
socialistas)
Se em 1987 a primeira geringonça
tivesse prevalecido, não teria havido cavaquismo e os anos de 1987-1995 teriam
sido tão medíocres como foram os de 2015-2023. Em 1987, tivemos sorte.
Em 2015, não.
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 24 mar. 2023, 00:213
Nem precisaram de o ouvir. Afinal, os autarcas zangados do PS
levantaram-se e saíram quando o professor Cavaco Silva ia começar a falar. Não esperaram pelos reparos ao governo.
Adivinharam-nos? Ou só a presença do antigo independentemente do que diga,
basta para melindrar a oligarquia socialista? Esta curiosa fobia pôs vários
comentadores a especular sobre as suas razões. Ninguém se esqueceu das mais
óbvias. Cavaco
Silva venceu três eleições legislativas e duas eleições presidenciais. Foi,
enquanto presidente, um dos poucos travões que o Partido Socialista encontrou
entre 2006 e 2011, no tempo de José Sócrates, para o seu projecto de domínio do
Estado, da economia e da comunicação social. Não são boas recordações para os
socialistas.
Acima de tudo, Cavaco Silva foi o chefe do
governo que, nos quase 50 anos deste regime, identificamos com a época de maior
prosperidade e mais animadas expectativas. Pode parecer inacreditável, mas
chegámos a ser optimistas entre 1985 e 1995.
A economia cresceu como só tinha crescido na década de 1960. O
país mudou e convergiu com a UE. Durante uns anos, todas as aspirações
pareceram possíveis. Os preços das casas também subiram então: ninguém se
queixou, porque o rendimento e o crédito dos portugueses subiram mais. Sim, nada
disto é agradável para os dirigentes socialistas que nos governam desde 1995. O tempo deles é o de uma economia que
estagnou, do mais longo período de divergência da Europa ocidental desde a II
Guerra Mundial, e de expectativas que diminuíram, até nos convencermos de que
melhor era impossível. E no entanto, eis o cavaquismo a lembrar que a
história já foi diferente, e que por isso a história destes últimos 28 anos
poderia também ter sido diferente.
Para se defender, a oligarquia
socialista invoca as condições favoráveis do fim da década de 1980: o país entrara na CEE, chegavam os fundos europeus.
Não é uma boa defesa. Porque nos recorda que no tempo dos governos socialistas
as condições foram frequentemente ainda mais propícias. Há cerca de vinte anos,
tínhamos adoptado a moeda única, os juros baixavam, e a economia mundial
crescia. As primeiras décadas deste século, apesar da crise de 2008 ou da
epidemia de 2020, deveriam ter sido muito diferentes para Portugal, como foram
para outros países. O leste europeu, saído da miséria do comunismo, convergiu
com a UE. Portugal divergiu. No entanto,
tínhamos as infra-estruturas que nos faltavam em 1985, a população mais
qualificada de sempre, e os fundos europeus atingiriam picos superiores ao de
1992. Não tivemos outro cavaquismo porque os socialistas no poder impuseram aos
portugueses, por ideologia e expediente, os custos de um Estado cada vez mais
endividado, intrusivo e limitador. Por isso, nem os milhões do PRR acendem
esperanças.
Mas
este cavaquismo que não houve deve lembrar-nos também do cavaquismo que poderia
não ter havido. A primeira “geringonça” não foi a de 2015. Foi a de 1987,
quando o Partido Socialista se propôs substituir o governo de Cavaco Silva,
então em minoria, por uma maioria com o PCP e o PRD. O presidente Mário Soares
podia dissolver o parlamento, e preferiu essa opção. Como teria sido a história
se em 1987, tal como em 2015, a geringonça tivesse prevalecido? Não teríamos
tido a revisão constitucional de 1989 e a abertura da economia, e talvez a
opressão fiscal tivesse começado mais cedo. Os anos de 1987-1995, mesmo com
todos os fundos europeus, teriam sido tão medíocres como foram os anos de
2015-2023. Em 1987,
tivemos sorte. Em 2015, não. A história dos países faz-se nessas encruzilhadas.
COMENTÁRIOS:
F. Mendes: Artigo interessante, pelo que nos recorda. Só que,
omite este facto crucial: Cavaco Silva legitimou a geringonça, ao lavar as
mãos, solicitando e aceitando uns papéis assinados por
Costa, alegadamente para dar algumas "garantias" de que se não
ultrapassariam todos os limites da canalhice e do disparate. Aconteceu o que
sabemos, alegremente validado pelo seu sucessor no "cargo". Cavaco Silva foi um bom primeiro-ministro.
Como PR passou do sofrível (nos tempos de namoro com Sócrates), ao mau (após
2009) e acabou pessimamente o mandato, empossando um governo apoiado pela
extrema-esquerda. Omitir isto, Rui Ramos que me desculpe, é dourar a realidade
e apagar os erros graves de Cavaco (os quais, penso que ele lamenta) que
pagamos e continuaremos a pagar. Eduardo
Cunha: mais um
excelente artigo. este ps vai deixar marcas profundas nas futuras gerações. mas
como escreveu bernard shaw há 100 ano "a democracia é o mecanismo que nos
impede de ter um governo melhor do que merecemos". e shaw era de esquerda.
Maria Paula Silva: Muito bom!
Obrigada RR por toda a sua sabedoria e análises sempre tão assertivas.
É lamentável dizer, mas vivemos
tempos muito conturbados em que reina a incompetência e a mediocridade. Até
Mário Soares (de quem eu nunca gostei especialmente) e José Sócrates (que
apesar de aldrabão sempre fez algumas coisas) eram melhores que estes
socialistas governantes de agora. Conheço várias pessoas de bem que sempre foram socialistas e que agora
afirmam "que já não são socialistas, que têm vergonha do PS actual".
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UM TEXTO extraído
de «ANUÁRIO; MEMÓRIAS SOLTAS», publicado
em 1999:
«FIGURAS DE PAPELÃO»
«Três protagonistas. Uma
entrevista pouco cívica. Um cenário macabro, de figuras de cartão envolvendo-os
circularmente, símbolos hílares e grotescos de sardónicas intenções
desfeiteadoras.
Um gigante enfrentando dois
anões: bem-falantes, escudados nos seus textos, o rosto severo tentando
afanosamente denunciar as irregularidades de um comportamento aparentemente
ambíguo. Truque de uma sagacidade antiga, bem presente nas velhas fábulas clássicas:
o leão escouceado à beira da morte pelo próprio burro, o kleão impotente ante o
mosquito astuto, a rã inchando a rivalizar com o boi…
Em gigante. Defendendo-se sem
impaciência das críticas perversas e estouvadas, imagem de segurança e honestidade,
cônscio do seu papel de vários anos de trabalho empenhado, de irrefutável
intenção patriótica: erguer o país do atoleiro, criar estruturas para uma
continuidade possível, fazer obra necessária, embora sempre atropelado pelos
defensores das ideologias fáceis, quando manipuladas na sombra das oposições
palreiras ed velhacamente destrutivas.
Um gigante. Num país de muitos
anões, protagonizados no cerco das figuras de cartão de um cenário agressivo,
enxovalhante e lorpa e nos entrevistadores soturnos, de ataque pouco educado e
ingrato, às reais qualidades do entrevistado preferindo sobrepor o
sensionalismo das acusações ligeiras, em propósito exibicionista de
pseudo-agudeza crítica.~
Sem efeito, contudo.
Porque em breve se impunha o
magnetismo do gigante, na sua personalidade sóbria, consciente do seu valor e
do trabalho feito.
Um gigante, Cavaco Silva.
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