Por Rui Ramos. Não tardam
aí, as trancas na porta.
Precisamos de falar do PS
Nunca o Estado empregou tanta gente,
cobrou tantos impostos, recebeu tantos subsídios estrangeiros, e gastou tanto
dinheiro. Mas nada parece suficiente para vigiar os mares e ensinar os jovens.
RUI RAMOS OBSERVADOR,
17 mar. 2023, 00:2158
Desta vez, foi um barco da marinha de guerra. Mandaram-no seguir um
navio russo perto da Madeira. Não seguiu. Metia água. Sargentos e praças
recusaram-se a navegar nessas condições. A hierarquia ameaça-os agora com a
fúria dos regulamentos. Sem perceber, dá-lhes razão, porque alguma coisa
deveria estar muito avariada no barco para os seus tripulantes preferirem o
risco das penas disciplinares. Isto passou-se no mar. Em terra, é a “escola pública” que vai à
vela, como se dizia antigamente. Entre os confinamentos do Covid e as greves
dos professores, estamos a descobrir que algumas gerações dependentes das
escolas do Estado não tiveram, em anos cruciais para o seu aproveitamento
escolar, a preparação que deveriam ter tido. Pior: a crise do sistema faz temer
que essas faltas nunca venham a ser recuperadas. Podíamos
falar ainda das demoras dos tribunais, agora aumentadas pela greve dos oficiais
de justiça, ou das épicas listas de espera do SNS e da mortalidade excessiva
que permitiu. A conclusão seria a mesma: temos em Portugal um
Estado em que não podemos confiar para exercer as funções de soberania, ou para
garantir serviços públicos.
E no entanto, este Estado é o maior
de sempre. Nunca, na história de Portugal, o Estado empregou
tanta gente, cobrou tantos impostos, recebeu tantos subsídios estrangeiros, e
gastou tanto dinheiro. Acontece que nada disso parece suficiente para vigiar
os mares, ensinar os jovens, ou prevenir mortes evitáveis. Nestas circunstâncias, qual deveria ser a
prioridade de um governo? Talvez reformar e mudar o que fosse necessário para o
Estado cumprir as suas missões de soberania e assegurar, sozinho ou em parceria,
os serviços públicos. Por exemplo, tirar a água dos barcos e meter os alunos
nas escolas. É isso que os governantes socialistas estão a fazer? Não.
Para os socialistas no poder, a
prioridade é outra: perseguir os portugueses que se dedicam às poucas
actividades que prosperaram nas últimas décadas, como o alojamento turístico ou
o retalho alimentar. O método é sempre o mesmo. Agarra-se num problema, e
atira-se as culpas para cima dos empreendedores. Não há casas baratas no centro de Lisboa? A responsabilidade é do
“alojamento local”. É preciso sufocá-lo com impostos e regulamentos. Os preços dos alimentos sobem? São os
supermercados que fazem “especulação”. É preciso inundá-los de agentes da
ASAE. Alguém acredita nisto? Alguém acredita que com polícia nos
supermercados tudo ficará mais barato? Alguém acredita que o Estado, que não
consegue tirar a água dos seus barcos nem manter as suas escolas abertas, vai
arranjar casas para todos e baixar o preço do leite? Mas a
oligarquia socialista precisa da agitação. É um velho truque dos poderes em
decadência: encontrarem uma razão de ser na resistência a inimigos imaginários,
com que metem medo à população.
Eu bem
gostaria de escrever sobre outra coisa, mas precisamos de falar do PS. O
dinheiro barato e fácil foi a maneira dos regimes ocidentais adiarem reformas e
mudanças. Isso tem permitido até agora, em Portugal, a sobrevivência de um
Estado inviável, desestabilizador e oneroso, de que o PS fez o seu instrumento
de domínio da sociedade. Estamos a ser surpreendidos pelas distorções que esse
dinheiro fácil criou: a inflação e os novos problemas bancários são alguns dos
seus resultados. Portugal é dos países menos preparados para enfrentar esta
viragem. A oligarquia socialista sabe isso. Daí, este frenesim de exibicionismo
radical. O país precisa urgentemente de uma estabilidade e de uma segurança que
este governo nunca lhe poderá dar.
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