Para reler e reter, não só o de Rui
Ramos como as adendas dos comentadores.
Mas a clássica mudança vai trazendo novas excrescências, provavelmente
melhores, provavelmente piores, aguardemos enquanto ensinamos… Pode ser que
passe a moda. E o "modus". Rezemos o Pai Nosso.
Donde vem a força do wokismo?
O wokismo tem a força que lhe dão as
elites do poder. A comparação entre o actual “wokismo” e a “contra-cultura” dos
anos 1960 é, a esse respeito, reveladora.
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 31 mar. 2023, 01:222
Da última vez que vi as notícias, era Agatha
Christie. Antes, tinha sido Enid Blyton. Não sei qual será o próximo
autor a ter os seus livros reescritos, de modo a evitar ofensas e melindres.
Quando é que decidimos passar a ser estas florinhas frágeis, a quem a menor
brisa de outros tempos e outras mentalidades causa calafrios e desfalecimentos?
Ainda me lembro do tempo em que nos ríamos dos pudores e puritanismos do
passado. Não foi há muitos anos. Sorríamos então com as parras de vinha que os
antigos cautelosamente usavam para atenuar a nudez em estátuas, ou com as
edições expurgadas para “uso do Delfim”. Somos agora todos delfins, e
mais do que isso: somos também inquisidores vigilantes, e caçadores de bruxas
implacáveis, a impor “cancelamentos” por simples desacordo, e a exigir
condenações por mera denúncia. A cultura woke mostrou-nos como
em 2023 podemos ser tão obscurantistas como em qualquer das idades de maiores
trevas do passado. Se fosse preciso desmontar o mito do progresso, não
precisaríamos de mais.
Donde vem a força do carnaval de “fluidez de género”, “racismo
estrutural”, e “pós-colonialismo”, a que chamamos wokismo? É verdade que recupera muitos ângulos
do esquerdismo dos anos 1960, e que tem as suas vanguardas no activismo
anti-capitalista. Mas o wokismo retira força de outras fontes. Por exemplo: supomos já não ser
cristãos, mas a ideia de redenção, através de uma purificação extrema, continua
a ser muito forte na nossa cultura. Podemos já não acreditar em Deus, mas
acreditamos na humanidade para, sem limites, se fazer e refazer a si própria e
ao mundo que a rodeia. Também sabemos que o predomínio que a Europa e os EUA
tiveram no planeta nos séculos XIX e XX foi apenas um breve momento da
história. Mas continuamos a querer acreditar que a salvação do mundo depende de
nós. Estamos assim susceptíveis a uma espécie
de imperialismo virado do avesso, que agora atribui ao Ocidente todas as
culpas, como outrora lhe atribuía todas as virtudes. Convencemo-nos assim que
ainda cabe ao Ocidente, expiando as suas culpas, conduzir o mundo até à luz. O
wokismo explora tudo isto, e por isso funciona, mesmo na sua insensatez.
Mas acima de tudo, o wokismo tem a
força que lhe dão as elites do poder. A
comparação entre o actual “wokismo” e a “contra-cultura” dos anos 1960 é
reveladora. Ambos pretendiam refazer comportamentos e linguagens. Mas a “contra-cultura”
contestava, a partir de baixo, os poderes estabelecidos; o wokismo vem de cima,
dos professores, das grandes empresas, dos governos. As elites instaladas
foram, nos últimos anos, inquietadas pelo descontentamento de uma população que
se sentiu vítima da globalização, e que foi de facto prejudicada pela falta de
reformas. Como seria de esperar, não faltaram demagogos para a mobilizar.
Chamou-se a isso “populismo”. O
wokismo serviu às elites instaladas para estigmatizar moralmente, como “racistas”
e portadores de várias fobias, quem assim as desafiou, e também para prevenir a
discussão de assuntos incómodos. Mais especificamente, serviu ainda às
esquerdas sociais democratas no governo para limitar as direitas conservadoras
e liberais. Foi
o interesse das elites do poder, e não o simples afã dos activistas da
extrema-esquerda, que deu ao wokismo as dimensões que tem hoje. A deriva,
porém, era inevitável, e o wokismo redundou na caricatura e na contradição que,
por sua vez, alimentou uma indústria de cansaço e indignação com a intolerância
e a polarização wokista. Dizem-nos
agora, como lembrou aqui João Pedro Marques, que afinal a cultura woke nunca
existiu. Entendamo-nos: está a deixar de servir aos poderes instalados.
POLITICAMENTE CORRECTO SOCIEDADE HISTÓRIA CULTURA POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Fernando
CE: Estamos nas mãos de uma esquerda caviar, de uma
ditadura das redes sociais e um falso vanguardismo social e político. Acho “graça” a países super
modernos que acham que andar de bicicleta em Lisboa em horas de grande tráfico,
perigosamente com um filho de 3-4 anos à boleia atrás é um avanço
civilizacional e ecológico. Pobre Portugal: Mas a História ensina-nos que
esses “poderes instalados” (comunicação social, etc.), que tanto o incentivaram
ainda vão ser vítimas do wokismo. Vai ser lindo de se ver. Rosa Lourenço: O que é natural é considerado incorrecto. Tudo o que é
anti-natura como o casamento entre uma pessoa e um boneco ou a mudança de sexo
antes da adolescência que, tantas vezes, mais tarde provoca revolta e, em caso
extremo, origina o suicídio. O
homem está num processo acelerado de auto-extinção. O ser mais arrogante da
Natureza que desrespeita desde sempre. Infelizmente a excessiva
tolerância ao que é diferente chegou ao cúmulo de fundamentalismos
inexplicáveis!!! Maria Paula Silva: Quote "está a deixar de servir aos poderes
instalados." Deus o oiça! Porque já cansa tanta estupidez, ignorância e
mediocridade.
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