“Jardim
da Europa à beira-mar plantado…” Disse-o Tomás Ribeiro e tinha razão.
Inocentes somos, que nos distraímos facilmente. Na aceitação do opróbrio. O que
descreve PAULO TUNHAS e outros mais corroboram. Ficamo-nos pelo jardim, a
contemplar as flores.
O irresponsável
Se António Costa é assim, que sentido
faz exigir-lhe responsabilização pelas suas acções? Pedir-lhe que deixe de ser
irresponsável é pedir-lhe que deixe de ser quem é, o que costuma ser impossível.
PAULO TUNHAS,
Colunista do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 09
mar. 2023, 00:195
Lê-se
e ouve-se muitas vezes gente que pede a António Costa e aos seus ministros que
assumam, como se diz, responsabilidade política pelas consequências danosas de
algumas das suas acções ou das acções daqueles que directamente deles dependem.
Admito que o pedido faça sentido em geral e que constitua parte integrante dos
costumes democráticos. Mais: é o que se vê nas democracias com que nos gostamos
de comparar, onde essa exigência tem, na maior parte dos casos, consequências
manifestas, como demissões e coisas do género. E, indiscutivelmente, seria bom
que assim também fosse em Portugal. No entanto, algo por
cá se passa, desde que António Costa chegou ao poder, que, dia após dia, torna
o pedido um bom bocado gratuito e, de qualquer maneira, destinado, desde o
princípio, a não ser satisfeito. E o que se passa tem a ver com a própria
natureza política de António Costa tal como os portugueses a conhecem desde
que, apesar de ter perdido as eleições para Passos Coelho, formou o seu
primeiro Governo.
Qual
é, então, a particular característica do seu génio que torna o pedido de
assunção de responsabilidades algo de fatalmente condenado ao fracasso?
Para o averiguar, nada melhor do que lembrar alguns exemplos de decisões
políticas que tomou livremente, em nada coagido por necessidades impostas por
qualquer conjuntura particular. A lista poderia ser enorme, mas vou-me limitar
a quatro casos bem conhecidos de todos: a
decisão de reduzir o horário semanal da função pública de 40 para 35 horas; a
opção de reverter a privatização da TAP levada a cabo por Passos Coelho; a
eliminação das PPP na saúde; as medidas recentes sobre a habitação, que incluem
restrições severas ao alojamento local, com a ameaça subreptícia de uma sua
futura interdição, e o arrendamento forçado de casas devolutas.
Não
é inútil lembrar as principais consequências destas quatro medidas. Por ordem: uma
perda brutal de eficácia dos serviços públicos, com consequências
particularmente gravosas no SNS, que a contratação de novo pessoal conseguiu
apenas mitigar, acompanhada de muito maiores gastos pelo Estado (isto é, por
maiores impostos); aumento
exponencial de problemas na companhia aérea, com resultados danosos para os
cidadãos, entre as quais a perda de 3, 2 mil milhões de euros gastos na TAP
“nossa”, a decisão nunca explicada
aos portugueses de reverter a reversão e, entre outras coisas, as presentes
trapalhadas que todos conhecem; o
estado calamitoso em que caíram os hospitais que funcionavam sob o modelo de
PPP, com o inevitável aumento de gastos do Estado (mais uma vez: aumento dos
impostos que pagamos) e, sobretudo, a degradação da saúde dos portugueses, que
têm de recorrer a hospitais que não conseguem atrair os profissionais de saúde
de que necessitam; a
mais do que provável – praticamente certa – destruição da fonte de rendimento
de muita gente, que não só ajudava outra a ganhar algum dinheiro como
contribuía para a melhoria do estado do centro das cidades, completada pelo
desrespeito ostensivo pela propriedade privada dos cidadão.
Ora bem, como designar um homem – António
Costa – que toma alegremente decisões deletérias que lesam profundamente a vida
dos portugueses e que se recusa terminantemente a admitir que erra em quase
tudo o que apresenta interesse substantivo para Portugal? Um tipo cheio de azar, a quem o mundo, por
sistema, finta as melhores e mais nobres intenções? Um génio incompreendido, um
visionário, a quem só o futuro longínquo prestará um dia a devida homenagem?
Ou, pura e simplesmente, um irresponsável
que, à custa de asneira sobre asneira, se tornou irrespeitável?
Por
mim, inclino-me, é claro, para a terceira
hipótese,
acrescentando uma outra particularidade: uma personagem de comédia. Com efeito, como notou uma autoridade
indisputável nestas matérias, as personagens das comédias, ao contrário das das
tragédias, que, num determinado momento, reconhecem a falha trágica que
cometeram, são naturalmente incapazes do acto de reconhecimento dos seus erros.
Não é, de resto, a única diferença entre umas e outras. Ao contrário das personagens
trágicas, pessoas de mérito que possuem caracteres belos e nobres, melhores do
que os nossos (por isso o reconhecimento do erro comove os espectadores, que
imaginam que o mesmo lhes poderia acontecer), as personagens da
comédia, medíocres, possuem um carácter risível, pior do que o nosso, que
participa da fealdade pura e simples.
Se
António Costa é assim como disse (e penso que é), que sentido faz,
verdadeiramente, exigir-lhe responsabilização pelas suas acções? O seu
carácter político (é dele que falei) é radicalmente incompatível com a assunção
de responsabilidades. Pedir-lhe que deixe de ser irresponsável é pedir-lhe que
deixe de ser quem é – que deixe de ser medíocre –, o que, tristemente,
costuma ser impossível. Resta que a oposição faça o que deve fazer,
esperando que os portugueses se abstenham, por algum tempo, de cultivar o seu
tradicional gosto pela comédia, do Pátio das Cantigas e congéneres até ao
teatro de revista. Ou que, pelo menos, se dêem conta que na política ela não
convém excessivamente.
PS1. É raríssimo falar da Igreja, até porque, sendo ateu,
não quero meter-me à força na casa dos outros. Mais: não quero que a Igreja
pense como eu penso, embora faça um sincero esforço para perceber o seu ponto
de vista sobre as coisas do mundo, mesmo quando esse ponto de vista é
rebarbativo para muitos. Neste caso da pedofilia, no entanto – e até porque ele
diz respeito à sociedade como um todo –, não posso deixar de ficar
estupefacto com o que ouvi da boca de D. Manuel Clemente e D. José Ornelas,
entre outros. Até consigo concordar com – e levar a sério – D. Januário Torgal
Ferreira, o que, apesar dos meus pobres pecados, não merecia. É-me
particularmente surpreendente o argumento auto-congratulatório de que a Igreja
fez mais do que o resto da sociedade para combater a pedofilia. Não
fez e, pelos vistos, não pretende fazer, embora haja obviamente dentro dela
muitos que o fazem e farão. Além de
que a comparação entre a Igreja e a sociedade parece colocar as exigências
morais de uma e outra no mesmo plano. E eu que sempre pensei que a Igreja não
tinha exactamente essa ideia de si… Para voltar ao tema do fim do corpo do
artigo, a reticência face a um reconhecimento pleno e
consequente indica que a Igreja parece querer confundir, com um mau gosto dificilmente
qualificável, uma tragédia pura e dura com uma comédia. Saberá o que está a
fazer? E, se não souber, espera que alguém lhe perdoe?
PS2.
Continuando no trágico e no cómico. Há grandes obras literárias que os fazem
correr paralelamente, permitindo-nos experimentá-los simultaneamente, o que é
uma lição útil para lidarmos com as nossas tragédias pessoais. O Diário de um Louco, de Gogol, é um excelente exemplo (Kafka também vem facilmente
à cabeça). Mas é uma experiência que, em certos casos, podemos igualmente ter
na vida quotidiana. Eu, por acaso, tenho-a sempre que vejo o
major-general Agostinho Branco, na CNN, a falar sobre a invasão russa da
Ucrânia. Por um lado, a sua defesa sistemática
da posição de Putin, a custo velada pela pretensão a uma análise puramente
militar, pode provocar horror; por outro, tudo aquilo, pela tensão permanente
que existe entre o que ele quer dizer e o modo como o pretende dizer – uma
espécie de amor que não ousa dizer o seu nome –, é extraordinariamente cómico. É um dos motivos mais tradicionais do riso:
vermos alguém que, enquanto fala, faz um esforço perfeitamente óbvio para não
poder ser acusado de pensar o que pensa, sem, no entanto, resistir a revelá-lo.
Peço encarecidamente à CNN que não o abandone nunca. Até porque basta ouvi-lo
duas vezes para ter vontade de gritar: Slava Ukraini! E para, ao mesmo tempo
que padecemos com a nobreza do sofrimento dos ucranianos, nos rirmos da
mediocridade caricatural dos seus inimigos.
ANTÓNIO COSTA POLÍTICA ABUSOS NA
IGREJA IGREJA
CATÓLICA RELIGIÃO SOCIEDADE GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS (54)
Jorge Tavares: irrespeitável
e inimputável - tal como 2 quintos do eleitorado votante. Helder Machado O meu ponto de vista é diferente. Há
"costas" noutras paragens, a fazer o mesmo. Parecem irresponsáveis,
opinião muito diferente tem quem os controla. Protegem-nos e incentivam-nos. O
que se pode fazer com triliões de dólares? Quantos lhes resistem? Cansa ver actores
a representar peças sórdidas registadas com selfies. Esqueçam as árvores, olhem
para a floresta onde brincam os credores. Os bonecos somos nós. Cisca Impllit Bem sintetizada esta triste realidade Andrade QB: A sorte de Costa passa também muito por Marcelo ser
igualmente irresponsável. Desde logo, quando aprovou a redução das 40 para as
35 horas afirmou fazer alguma coisa no dia em que tal resultasse em aumento de
despesa pública. Já ficou a saber, até já lhe escreveram isso com desenhos a
acompanhar, que todo o aumento de pessoal no SNS ainda nem sequer chegou
para compensar essa redução. Se ele não fosse tão irresponsável como
Costa já teria feito alguma coisa.
Por
manifesta impossibilidade de poderem pagar tanto, já não digo indemnizarem o
país pelo que o estão a empobrecer, mas pelo menos obrigá-los a pagar a
indemnização à CEO da TAP (ex ou talvez ex) quando o tribunal a isso obrigar,
seria educativo. Ana
Torres O artigo está SOBERBO! António Costa
pior do que um irresponsável está a conseguir a proeza de ser pior PM ou
igualar o Sócrates, tal é a miséria que está a conduzir o país e a que todos os
dias assistimos na tv, Tap, hospitais, escolas, comboios, demissões, habitação,
casos e casinhos e o MRS segue feliz e contente! Já o disse várias vezes e efectivamente,
recuso-me a ver mas sinto-me revoltada pela CNN continuar a convidar aquele
ser repugnante do major general Agostinho Branco sempre com aquele sorrisinho cínico a apoiar o Putin,
pergunto como é possivel aquele fulano chegar a major general ter os cargos que
teve num país da UE quando é claramente a favor das ditaduras!
Ediberto Abreu: Excelente,
como sempre. Sobre o primeiro tópico, tenho pena que Montenegro não o leia,
porque parece não ter conhecimento das matérias apresentadas, ou não sabe quais
as armas a usar para fazer uma oposição digna desse nome. Quanto ao segundo, a
presença desse personagem vulgo Agostinho Cunhal, impede-me em sã consciência
de assistir ao tema desta guerra na CNN, pois parece que a mesma sente um gozo
doentio em mantê-lo no programa. antonyo antonyo: Um artigo de antologia ! Talvez o melhor escrito sobre
António Costa, o PS , e a situação actual . Fantástico também a descrição
daquele general , melhor é impossível.
José Manuel Pereira: O
Professor Paulo Tunhas que me habituei a respeitar, através da leitura destas
suas crónicas, com frequência é inspirador. É aqui o caso. Seguramente que há
muito que as pessoas menos distraídas, ou providas de um pouco mais do que os
mínimos essenciais a não ser intelectual e emocionalmente apoucado, já
perceberam que de Habilidoso o Costa nada tem (bom, no sentido depreciativo do
termo, talvez tenha). Agora, figurão de tal calibre necessita de apodo. Pois
são indispensáveis dois neste caso porque lhe assentam como uma luva: ...
"o Boçal Deletério"... O primeiro (Boçal) pela manifesta grosseria
que trouxe a este nosso regime - testemunha disso mesmo é o sorriso que
caracteriza o personagem. O segundo (Deletério) porque efectivamente
destruiu toda a esperança que ainda restava neste nosso regime para o futuro
dos nossos infantes, jovens, menos jovens e velhos. Não deixa pedra sobre
pedra, consegue o pleno, destrói tudo. Admito que seja propositado, não percebo
porquê. O manhoso tem um qualquer ódio visceral a Portugal e aos Portugueses,
ou às democracias liberais. Quando o "Boçal Deletério" mandar
prender o Professor Paulo Tunhas porque pode e o deixam, pois que me leve a mim
também que prefiro a sua companhia à dos "amigos do costa". Alberico Lopes:
Que artigo soberbo! Que nunca lhe falte o engenho para
verter no papel o que todos gostaríamos de escrever! Não há dúvida que o nosso
país se transformou numa casa de opereta, em que os dois maiores actores são
mesmo os "bufos" da corte! Quando se imagina que somos
"governados" por um irresponsável acalentado por um cata-vento
beijoqueiro, também ele um sem carácter, temos de ficar desejando que este
pesadelo acabe o mais rapidamente possível! Infelizmente já não temos Forças
Armadas que ponham cobro a esta tragicomédia! Nem homens como Sá Carneiro, que
nos retirem deste manicómio a que alguém já chamou "choldra"!
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