Com referentes mais inestéticos,
na sua especificação em cifras, de ataque ideológico, os do texto de ALEXANDRE
HOMEM CRISTO e alguns seus comentadores - quando temos a visão bem recuada - torpemente
lamechas de Guerra Junqueiro, apreendida na Bíblia
do nosso suporte cultural proeminente – descrição sensível, aliás, em António Nobre, de repulsa viril em Cesário Verde, a definir-nos a mossa
do nosso jeito esmoler pouco viril, angariador previdente da recompensa futura
no agasalho divino, pelo menos dantes. Não, não devemos acusar ninguém, o jeito
dador é antigo, usado sempre com ardil, é certo, e os do governo de hoje têm a
faca e o queijo na mão, que colheram com a desfaçatez também própria nossa e
sobretudo do proveito deles.
Vejamos Guerra Junqueiro:
Pobres de
pobres são pobrezinhos
Almas sem lares, aves sem ninhos.
Passam em bandos, em alcateias,
Pelas herdades, pelas aldeias.
É em Novembro, rugem porcelas.
Deus nos acuda, nos livre delas!
Vêm por desertos, por estivais,
Mantas aos ombros, grandes bornais,
Como farrapos, coisas sombrias,
Trapos levados nas ventanias.
Filhos de Cristo, filhos d' Adão
Buscam no mundo côdeas de pão!
Há-os ceguinhos, em treva densa,
D' olhos fechados desde nascença.
Há-os com f''ridas esburacadas,
Roxas de lírios, já gangrenadas.
Uns de voz rouca, grandes bordões
Quem sabe lá se serão ladrões!
Outros humildes, riso magoado,
Lembram Jesus que ande disfarçado.
Enjeitadinhos, rotos, sem pão,
Tremem maleitas d' olhos no chão
Campos e vinhas! hortas com flores!
Ai, que ditosos os lavradores!
Olha, fumegam tectos e lares
Fumo tão lindo! branco, nos ares!
Batem ás portas, erguem-se as mães,
Choram meninos, ladram os cães.
Rezam e cantam, levam a esmola,
Vinho no bucho, pão na sacola.
Fruta da horta, caldo ou toucinho
Dão sempre os pobres a um pobrezinho.
Um que tem chagas, velho, coitado,
Quer ligaduras ou mel rosado.
Outro, promessa feita a Maria,
Deitam-lhe azeite na almotolia.
Pelos alpendres, pelos currais,
Dormem deitados como animais.
Em caravanas, em alcateias,
Vão por herdades, vão por aldeias.
Sabem cantigas, oraçõezinhas,
Contos d' estrelas, reis e rainhas.
Choram cantando, penam rezando,
Ai, só a morte sabe até quando!
Mas no outro mundo Deus lhes prepara
Leito o mais alvo, ceia a mais rara.
Os pés doridos lhos lavarão
Santos e santas com devoção!
Para lavá-los, perfumaria
Em gomil d'ouro a bacia.
E embalsamados, transfigurados,
Túnicas brancas, como em noivados,
Viverão sempre na eterna luz,
Pobres benditos, amém, Jesus!
Multiplicador de pobres
Há hoje mais população dependente do
Estado para não cair na pobreza do que há cerca de 20 anos. Esta é uma
consequência lógica das escolhas políticas do país nesse período.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 30
mar. 2023, 01:2122
Antes
de qualquer transferência social, a população em risco de pobreza atinge os 43,3% (2021). Note-se bem a escala: antes do pagamento de pensões
ou de apoios do Estado, perto de metade da população portuguesa está em risco
de pobreza, com rendimentos mensais inferiores a
551 euros. Após as transferências relativas a
pensões, a percentagem desce para 21,5%. E se contabilizarmos todas as
transferências sociais, a percentagem fica nos 16,4%, que é o valor oficial do
indicador “risco de pobreza”. Ou seja, mesmo após os apoios do Estado, há um
em cada seis cidadãos nessa situação.
Em
Janeiro deste ano, na divulgação deste indicador oficial, o governo qualificou
os números de “históricos”, pois caracterizam“a maior redução de sempre, no espaço de um ano, da taxa de
risco de pobreza em Portugal”.
A preferência pela propaganda fere os olhos. Sim, esta percentagem de 16,4%
(referente a 2021) é inferior à de 2020, annus horribilis da pandemia,
que estava 2 pontos percentuais acima (18,4%). Só que a ministra Ana Mendes
Godinho não disse que, em 2020, a taxa de risco de pobreza havia tido o maior
aumento de sempre, no espaço de um ano: era 16,2% (2019), subiu para 18,4%
(2020) e desceu para 16,4% (2021). Assim, o que o governo celebrou em
loas de auto-elogio foi uma taxa de risco de pobreza em 2021 que, afinal de
contas, regressou a índices pré-pandemia e mesmo assim ficou acima da de 2019.
Enfim,
esqueçamos a estratégia de comunicação viciada do governo e olhemos para o
diagnóstico (não-referido e inquietante) que aparece nesta série de dados: a
população portuguesa está cada vez mais dependente do Estado para escapar à
pobreza.
Em
2003, antes de qualquer transferência do Estado, a percentagem da população em
risco de pobreza (41,3%) era inferior à de 2021 (43,3%) em 2 pontos percentuais
— com todas as transferências, a taxa de risco de pobreza oficial de 2003 foi
20,4% (superior à de 2021 em 4 pontos percentuais). Ou seja, entre 2003 e 2021, aumentou a população
inicialmente em risco de pobreza. Não foi só em 2003, primeiro ano com dados
comparáveis, pois a tendência confirma-se nos anos seguintes e prolonga-se até
ao período do ajustamento financeiro. Por exemplo, em 2010, antes das
transferências do Estado, havia 42,5% da população em risco de pobreza, valor
inferior ao de 2021 (43,3%) — mas, após as transferências sociais, os indicadores
oficiais foram 18% em 2010 e 16,4% em 2021.
Para
quem se baralha com os números, aqui vai a tradução na forma de duas constatações e uma conclusão. Primeira
constatação: ao longo
dos últimos 20 anos, aumentou o número de portugueses que, pelos seus próprios
meios, ficaram em risco de pobreza. Segunda constatação: foi o reforço da intervenção do Estado, através de
mais pensões e apoios, que fez baixar as taxas de risco de pobreza. Conclusão: por via desses dois movimentos (mais
pessoas em risco e reforço dos apoios), há
hoje mais portugueses directamente dependentes dos apoios do Estado para fugir
à pobreza.
O
bom-senso recomendaria que algo está errado na estratégia de combate à pobreza
quando se verifica que há hoje mais população dependente do Estado para não
cair na pobreza do que há cerca de 20 anos — afinal, o objectivo das políticas públicas é que a
percentagem da população necessitada de apoios seja menor, em vez de maior. Infelizmente, a má notícia não surge como uma
surpresa. Portugal está a empobrecer comparativamente aos
restantes países europeus, tem uma economia estagnada e uma cultura dominante
que é avessa às empresas e ao lucro. Por isso, não vale a pena ter ilusões:
haver mais gente em risco de pobreza é uma consequência lógica das escolhas
políticas do país nos últimos 20 anos.
Portugal
enfiou-se num círculo vicioso onde as opções políticas geram empobrecimento e,
por sua vez, o combate à pobreza gera maior dependência da população nos apoios
do Estado. As últimas semanas mostraram como esse círculo vicioso
permanece imparável: por
um lado, o governo perseguiu empresas e denunciou os seus lucros;
por outro lado, as medidas do governo na Habitação ou na Alimentação (IVA Zero)
apenas reforçam a dependência da população mais frágil nos apoios do Estado. Tem tudo para correr mal, sobretudo agora: num
contexto em que os preços sobem, as necessidades crescem, os bancos implodem e
o Estado não consegue dar resposta a todos, Portugal
será cada vez mais um multiplicador de pobres.
POBREZA SOCIEDADE APOIO SOCIAL GOVERNO POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Madalena Sa: O PS só serve para destruir Portugal! Grande texto! Ana Torres: Sem dúvida que o PS empobrece o
país, é um multiplicador de pobres e mais grave é que destrói a classe média. E
com esta política de subsídios dependentes e apesar de haver quase 7%
desempregados (inscritos) as empresas deparam-se com falta de mão de obra e
na maior parte das vezes só aparecem candidatos brasileiros. Filipe Brandao: E no entanto as empresas lutam
contra a falta de mão de obra. Ana Maia: Não é Portugal que empobrece, é
o PS que empobrece Portugal. Censurado
sem razão: É o socialismo estúpido. Porque acham que o PS e a esquerda
continuam a ser maioritários em Portugal? Na campanha eleitoral, uma vendedora
do bulhão disse tudo e é a razão porque nós tornamos nesta estrumeira
miserável. Disse ela: - o PS dá é o psd tira. É preciso um desenho? Lúcia
Henriques: Resultado mais que medíocre
depois de 120 mil milhões de euros de fundos Luis Oliveira > Miguel Ramos: Bem visto 😁 Por8175 É o que resulta do SOCIALISMO, que não é só propriedade do
PS: o PSD tem também um programa de socialismo, e o resultado não é diferente. É o SOCIALISMO que temos tido
nos últimos quase 50 anos, e enquanto não nos convencermos disto, os resultados
serão sempre piores do que até aqui. O SOCIALISMO não existe sem pobres, pelo
que resolver o problema da pobreza vai contra os seus interesses. Martins Jorge: excelente texto
Rui Lima: Paul Laforgue, genro de Marx escreveu
o “direito à pre-guiça” esses valores
estão a ser recuperados para desconstruir a própria ideia de trabalho
lutar pelo direito à preguiça. Porque direito ao trabalho em vez de exigir
a sua abolição, dirão muitos, já vi cartazes com esta tese será o próximo
combate Woke . O anticapitalismo radical hoje é mais uma crítica violenta
não às condições de trabalho., mas ao trabalho . TIM DO Á:
Com as esquerdas
no poder isto está a tornar-se uma autêntica Venezuela. Américo Silva: Um muçulmano matou à facada
duas muçulmanas que traziam mais muçulmanos para Portugal. Será xenófobo?
Carlos Chaves: Obrigado Alexandre, por quantificar a desgraça a que
os socialistas nos condenam! Ao terem a comunicação social e o Presidente da
República solidários com a “estratégia de comunicação viciada do <governo”,
faz com que ainda mantenham o pódio nas intenções de voto dos Portugueses que
vão às urnas, e assim o ciclo de pobreza e do desgraçado socialismo não se
quebre. Sem dúvida que se este ciclo não for interrompido, “Portugal será cada
vez mais um multiplicador de pobres.” F.
Mendes: Muito embora concorde que o número de dependentes do Estado é excessivo,
que o país está a empobrecer (pelo menos, em termos relativos), e que existe
uma enorme propaganda governamental nestas matérias, tenho que deixar aqui uma
clarificação: os 43,3% de pessoas ditas em risco de pobreza, antes das chamadas
transferências sociais, incluem também beneficiários de pensões. Ora, essas
pensões são maioritariamente pagas pela Segurança Social a pensionistas
oriundos do sector privado. Logo, tal como as pensões da CGA, não estamos a
falar aqui de subsídios familiares ou de desemprego, RSI, pensões de
sobrevivência, complementos solidários, etc. Muitos pagamentos são
contrapartidas por descontos efectuados ao longo de uma vida de trabalho. A
situação é má, mas não tanto como se concluiria de uma leitura apressada deste
artigo. Luis
Oliveira > F. Mendes: Não percebi o seu comentário. Em
momento algum o autor da crónica se refere aos pensionistas, mas sim aqueles
que, não obstante trabalharem, se tornaram novos pobres. O artigo
refere-se a população ativa. Os pensionistas, recebem o que
tem direito, de acordo com as actuais regras de atribuição de pensões. Mas a
verdade é que, numa sociedade empobrecida, cada vez mais a aumenta a carência
entre os pensionistas. As atualizações de pensões não chegam para cobrir o
progressivo aumento do custo de vida, o que faz com que estes entrem na fila
dos novos pobres. O empobrecimento de uma
sociedade leva a que todos fiquem mais pobres. A situação não é má, é péssima.
Se a legislatura chegar ao fim, pode crer que teremos mais de 60% da
população na miséria. O governo, para além de não se preocupar em criar
riqueza, está a destruir a pouca que ainda existe. diogo camoes
> Luis Oliveira: O artigo refere toda a
população incluindo pensionistas, isso está logo escrito no primeiro parágrafo.
E sim, há um grande problema no sistema de pensões que são os pensionistas que
nunca declararam o ordenado por inteiro e que recebem apoios do estado que na
realidade não deveriam receber (isto numa lógica de reciprocidade). Posto isto
claro que devemos ter um patamar mínimo subvenção, idealmente o valor do
ordenado mínimo. Para lá chegarmos temos de ter outra estratégia de crescimento Luis Oliveira
> diogo camoes:O autor, quando falou de pensionistas, desenvolveu
melhor a sua ideia a meio do texto: “Segunda constatação: foi o reforço da
intervenção do Estado, através de mais pensões e apoios, que fez baixar as
taxas de risco de pobreza”, ou seja, se não houvessem mais complementos de
reforma e apoios do género “mínimos de existência”, as parcas reformas não
chegariam para sair do patamar considerado pobreza antes de prestações sociais.
Foi isso que o cronista quis dizer. F. Mendes
> Luis Oliveira Agradeço a sua resposta. O meu comentário tem toda a
razão de ser. Veja, por favor, a informação contida nos links indicados no
início do artigo. Os pensionistas (ou um largo número, para ser exacto) estão
contemplados nestes 44,3%, e não apenas parte da população activa. A leitura
destes números não é evidente. Daí a tentativa, para já parcialmente falhada,
de clarificação. Maria
Clotilde Osório: Confesso que tenho muita dificuldade em aceitar estes
indicadores sem ser apresentada a percentagem estimada de economia
"informal" vulgo "sem recibo". Não tenho dúvida nenhuma que
o número de dependentes do Estado está a aumentar em linha com a dependência do
nosso Estado em relação à Europa.
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