sábado, 4 de março de 2023

Revivendo


Já 3 anos! A guerra na Ucrânia fez esquecer, mas A.G. é de ideias fixas. E a guerra vai durar mais que a vacina. E após esta, ainda se falará em máscaras?

Três anos depois

Três anos depois, económica ou clinicamente, todos, “negacionistas” e iluminados, estão a pagar a factura. Os responsáveis, que não sofreram as restrições a que forçaram a ralé, não pagam nada.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 04 mar. 2023, 00:2210

E aqueles sujeitos que atribuíam a origem da epidemia a uma “fuga” do SARS-CoV-2 a partir do tal laboratório em Wuhan, China? Que grandes chalupas! Três anos depois, o Departamento de Energia dos EUA e o FBI consideram, com razoável convicção, que a epidemia começou com uma “fuga” a partir do tal laboratório em Wuhan, China.

E aqueles sujeitos que duvidavam da utilidade das máscaras na prevenção do contágio, quer dos próprios quer dos outros? Que negacionistas ridículos! Três anos depois, os estudos mais recentes, rigorosos e escrutinados (pela Cochrane, a incensada plataforma de “reviews” – e parceira da OMS, vejam lá) sugerem que as máscaras não tiveram nem têm qualquer utilidade na prevenção do contágio, quer dos próprios quer dos outros.

E aqueles sujeitos que protestavam os confinamentos, sob o argumento de que os mesmos implicavam prejuízos evidentes e benefícios discutíveis? Que terraplanistas sem vergonha! Três anos depois, são abundantes as análises que, com meras diferenças de grau, constatam que os confinamentos implicam prejuízos evidentes e benefícios discutíveis.

E aqueles sujeitos que desvalorizavam o efeito das vacinas para a Covid na propagação da doença e questionavam a imposição dos respectivos certificados? Que bando de trogloditas! Três anos depois, é praticamente consensual que as vacinas não impedem o contágio e que, portanto, a imposição dos respectivos certificados nunca foi menos que um insulto à inteligência e à liberdade.

E aqueles sujeitos que lembravam o papel da imunidade natural na protecção contra infecção e doença grave? Cambada de selvagens! Três anos depois, é genericamente aceite que a imunidade natural desempenha um papel na protecção contra infecção e doença grave, um papel que, por acaso e segundo artigo publicado em Novembro passado na The Lancet, é mais determinante que o das vacinas.

E já nem falo nos sujeitos, sempre os mesmos, que se riam ou se irritavam ou se afligiam perante os “quinze dias para achatar a curva”, o encerramento de praias e jardins públicos, a vedação de prateleiras com livros ou brinquedos, a eficácia das aulas on-line, a proibição de atravessar concelhos ou de vender álcool após as oito da noite, a derrocada da economia, a impressão de dinheiro barato para financiar o ragabofe, a suspensão ou a supressão de consultas, diagnósticos, tratamentos e cirurgias a propósito de maleitas fora de moda. Raio de conspiracionistas! Três anos depois, sabe-se que as proezas acima descritas oscilaram entre o paródico e o homicida, sem esquecer o apenas sórdido.

É extraordinário que seres primitivos tenham acertado à primeira e multidões de esclarecidos que “seguiam a ciência” tenham falhado sempre – e alguns persistam em falhar até hoje. Talvez tenha sido porque não seguiam “ciência” nenhuma, e sim as entidades oficiais e oficiosas que afinavam com os políticos as medidas a aplicar de acordo com o que fosse mais vantajoso para elas, entidades, e para eles, políticos. No caldo cabiam ainda “especialistas” sortidos, na verdade indivíduos pouco escrupulosos encarregues de pregar o evangelho em vigor. O evangelho, conforme lhe compete, difunde dogmas e exige fé, que não costumam ser os ingredientes do avanço científico.

Não é exactamente uma surpresa, mas a recente revelação, a cargo do Telegraph londrino, de milhares de mensagens trocadas entre governantes, peritos e “peritos” exibe com brutal franqueza o desnorte e a prepotência envolvidos. Pelos vistos ao contrário da engenharia social, raramente a ciência se manifesta através do WhatsApp. Dito de maneira diferente, as multidões de esclarecidos caíram num logro.

Muitos gostaram de cair. O estado de sítio e a subversão dos valores bateram certinho com a aptidão humana para, mediante a denúncia do semelhante, ascender à virtude própria. Incontáveis criaturas, dotadas da erudição da lampreia média, sentiam-se de repente inundadas de sapiência só por chamarem ignorante a um transeunte com rosto descoberto. A História ensina: nenhum gozo supera o da humilhação do próximo, sobretudo se o exercício se amparar no poder do número e no poder, ponto.

Mas muitos ficaram de facto apavorados com a súbita ideia da mortalidade, que aparentemente jamais lhes ocorrera antes de Março de 2020. E muitos foram propensos à noção de obediência cega e opressão paternal. E muitos limitaram-se a apreciar a perspectiva de ficar em casa a receber o salário por troca com o consumo de séries em “streaming”. E muitos calaram-se para não arranjar chatices.

Três anos depois, económica ou clinicamente, todos, “negacionistas” e iluminados, estão a pagar a factura. Ou quase todos. Os principais responsáveis, que não sofreram as restrições e os vexames a que forçaram a ralé, não pagam nada. Em Portugal e lá fora, essa casta de intrujões avessos à democracia e à vergonha continua em lugares de mando e de influência. E, por definição, continua à solta. Dessa repulsiva gente não veio e não virá um pedido de desculpas, uma confissão de erro, a garantia de que a loucura destes três anos não se repetirá sob qualquer pretexto. Pior: agora, essa gente aprendeu que a loucura é fácil de instalar e que será facílima de repetir.

Pode-se olhar o “vírus chinês” no sentido estrito ou lato, como uma ameaça ou como um teste. Três anos depois, a ameaça passou. No teste reprovámos.

CORONAVÍRUS   SAÚDE PÚBLICA   SAÚDE   PANDEMIAleitor@observador.pt

COMENTÁRIOS

Fernando Cascais: A pandemia serviu para ensaiar políticas anti-democráticas em democracia. A reacção da população ao teste foi surpreendentemente positiva. Milhões de seres humanos inteligentes aceitaram de bom grado a proibição de jogar raquetes na praia e de usar máscara no percurso até à toalha. Outros milhões mais prosaicos perceberam sem contestar a medida de colocar a máscara quando passavam a porta do café para logo de seguida a retirar quando se sentavam numa mesa ou se encostavam ao balcão. Em Cascais, os cascaenses ou cascalenses (prefiro dizer os cascaenses apesar do correcto ser chamar cascalenses) foram impedidos de fazerem jogging no Guincho (andar, correr e treinar bicicleta) pelo presidente Carlos Carreiras que colocou barreiras com policiamento junto à Guia para impedir qualquer passagem. Os portugueses em geral aplaudiram as habilidades de Graça Freitas, a Directora Geral de Saúde, em abrir em directo uma garrafa de água com um lenço para não tocar na garrafa. Por último as crianças, sim as pobres crianças, sempre vítimas dos mais escabrosos abusos, quer pela sociedade civil (Casa Pia), quer pela Igreja, quer pelos governantes que as impediram de ir à escola. Eu não me esqueci, e fico assustado com a possibilidade de Ricardo Batista Leite vir a ser um dia ministro da saúde. A IL foi, sem nenhuma dúvida, a força política com mais discernimento e coragem para enfrentar tanto maluco adepto da pandemia. Nota: não esquecer que a Suécia fez diferente e todos os resultados pandémicos são melhores que os nossos, na economia já estavam a anos luz, mas agora, depois da pandemia estão noutra galáxia e na educação das crianças, nós em Portugal, comparativamente com os suecos ficámos na pré-história com crianças cada vez mais analfabetas que, mais ano menos ano, chegam à antiga 4ª Classe sem saber ler nem escrever.                  Alexandre Barreira: Pois. Caro AG. Analisando "profundamente". O seu "relambório". Cheguei à real conclusão. Que andou a levar. As vacinas erradas....!                Maria Paula Silva: Prefiro nem me alongar porque isto é um assunto que ainda me irrita e muito. Pagámos e estamos ainda a pagar a factura, literal e metaforicamente. Os psicólogos e psiquiatras estão cheios. Ainda bem que tudo isto veio ao de cima pois o que se passou foi um teste e dentro de 2 ou 3 anos uma coisa idêntica seria (ou será) repetida. Não é por acaso que a iluminada Marta Temido está a modificar a Constituição para que a "prisão domiciliária" = vulgo confinamento seja legal. Os únicos que não se chatearam ou foram negativamente afectados foram os que ganharam dinheiro com o assunto. O que é engraçado é que o "assunto" parou, por obra e graça do Espírito Santo, no dia em que começou a guerra da Ucrânia. A década entre 2020 e 2022 foi a experiência mais louca e inacreditável da minha já considerável e rica vida. Nunca pensei em assistir à maior encenação mundial jamais vista. Não sei se foi privilégio ou tortura. Sei que ainda não esqueci e que ainda padeço de algumas alterações à minha rotina diária que não foram recuperadas. E por onde andam aquelas almas iluminadas e sapientes que tanto alertavam para o disparate total? nomeadamente o Gustavo Carona (hilariante o nome, hem?) e pior do que esse, o iluminado Joâo Julio Cerqueira que se intitula detentor da verdade universal? Disse várias vezes e repito que depois do covid, e da guerra, e das alterações climáticas (primeiro íamos morrer todos de sede com a seca e calor mas acabámos por morrer todos afogados com as cheias...) só há uma solução: suicídio colectivo e resolvem-se todos os problemas do mundo. Irra... (e digo só irra para não dizer o resto) Nunca um vírus foi tão politizado e mediatizado, nem o HIV que é mortal (os coronas não são) e a gestão da pandemia foi criminosa.     F. Mendes: Contrariamente ao habitual, hoje discordo de boa parte do que aqui escreve o AG. Resumidamente:

1. Máscaras: a ser verdade que não impediram contágios (algo objectivamente impossível de provar), mandou a prudência que se recomendasse o seu uso. Um contágio evitado, só um, justificaria a máscara. E não duvido que a máscara protegeu, directa e indirectamente, milhões. Claro que, 3 anos depois, é fácil criticar. Tal como acertar na lotaria depois do sorteio. 2. Vacinas: é falso que se tenha argumentado, dando certezas, e/ou generalizadamente, que os contágios fossem, por este meio, evitados. Qualquer virologista sabe que a vacinação mitiga ou anula os efeitos do contágio, o que é uma coisa diferente. De resto, isto é sabido desde Koch e Pasteur, não é de agora. No caso concreto da COVID, há provas abundantes da redução da mortalidade, nomeada e visivelmente a partir dos 70 anos. 3. Sobre a imunidade natural: isso é muito bonito para pessoas abaixo dos 40 anos. Para os mais velhos, ou doentes, seria um risco enormíssimo. Mesmo com a vacina, o número de mortes conta-se, oficialmente, por muitas dezenas de milhões em todo o mundo. O número real só Deus sabe. E, para mim, uma morte evitável é uma morte a mais. 4. Como em artigos anteriores, o AG confunde a gravidade objectiva da pandemia e do vírus, com a gestão, frequentemente mentecapta, da dita. Aqui estou de acordo. Houve muitas medidas inúteis sob um ponto de vista sanitário; para a economia, houve muitos danos evitáveis. Mas, não se pode confundir a forma de uso dos meios com a validade dos objectivos. E pôr em causa lições aprendidas com esta e outras pandemias. Esclareço que não sou médico. Mas fartei-me de ler sobre o assunto e de me informar com amigos que são craques em medicina. Daí me ter arriscado a escrever este comentário.          F. MendesF. Mendes: Acrescento que, a pandemia serviu, também, de pretexto para impor restrições à liberdade, essas perfeitamente abusivas. Isto que fique claríssimo.               Alexandre Barreira > F. Mendes: Pois. Caro F. Mendes, Concordo. Porque "chover-no-molhado". É complicado....!              Glorioso SLB: Da minha memória, só a IL se manteve smp duvidosa sobre confinamentos e afins.              Maria Paula Silva > Glorioso SLB: hum........ nem tanto, nem tanto..... abstiveram-se em muitas alturas críticas. Lembro-me, por exemplo, em abril 2020, (acho que o PAN, mas pouco importa) apresentou uma proposta para os produtos (luvas, máscaras, álcool, álcool gel e etc) serem tabelados e foi totalmente recusada por todos com a abstenção do Chega e da IL. Por isso....  se acha que manter-se duvidosa é abster-se... vou ali e já volto. E isto é apenas uma ervilha, tenho uma pasta recheada de pérolas para além de uma memória de elefante.       Elia P.Glorioso SLB > Glorioso SLB: Hehe pois, a minha memória é mais curta.            Alfredo Vieira: Reprovámos, e como não aprendemos nada, voltaremos a reprovar no próximo...                   Ark Nabul: Próximo teste, suicídio colectivo para salvar o planeta.

 

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