Possibilitando as muitas imagens da sua contemplação
pessoal, nenhuma a mostrar nudismo.
Marcelo é ele apesar da sua circunstância
Sete anos é muito para separar uma
circunstancial p
erformance televisiva, por muito
encenada que estivesse, dos sete anos que a precederam. Nós lembramo-nos.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista,
colunista do Observador OBSERVADOR. 15/3/23
1Há uns tempos, na apresentação do último livro de Eduardo Marçal Grilo*, ao cumprimentar o Presidente da República, após tê-lo ouvido intervir, disse-lhe em voz baixa e muito discretamente “devias fazer só isto”. Foi um impulso. A minha costela institucional nunca me permitiria dirigir-me deste modo ao Chefe de Estado não fora a inteira certeza de que ninguém, no ápice de um cumprimento de circunstância, se iria aperceber do que levava dentro o impulso. Levava a comparação inescapável entre o cidadão sóbrio – e contido e quase senhorial – Marcelo Rebelo de Sousa que brilhara na sessão, e um Presidente permanentemente irrequieto e metediço – às vezes desnorteante, às vezes desnorteado, muitas vezes cansado, quase sempre cansativo e sempre dono de um critério político intrigante – que calhou presidir-nos. O fulgor intelectual, o saber, o interesse histórico, o conhecimento íntimo dos personagens com que, em cima de um palco, um notabilíssimo Marcelo Rebelo de Sousa “viajou” pelos ministros da Educação de Salazar e de Caetano – tema do livro de Marçal Grilo – tinham pura e simplesmente encantado a lotadíssima plateia. Um grande momento.
Uma
hora depois surgiam, rotineiramente, os pequenos e médios momentos: o
inexorável ecrã da televisão havia de deixar a imagem de um saltitante Chefe
de Estado, demasiado voraz no verbo e sempre veloz na passada, a discorrer
sobre tudo e nada, sem sombra de necessidade aparente: tudo o que naquele
dia, e mais o que sobrara da véspera, viera à sua rede, era peixe para o
Presidente da República. O cargo dispensá-lo-ia do equívoco da omni presença, a
própria política ainda mais, a sua interpretação de si próprio, não.
E no entanto… quão culturalmente
magnífica fora a sessão do intelectual naquela tarde, quão enorme era o
contraste com o Presidente num ecrã nocturno.
Os historiadores darão conta desta sobreposição de “encarnações”, a mim cabe-me
apenas a conta do contar. Para melhor desenvolver o resto.
2 Antecipando intuitivamente o agrado mediático com que
o último número televisivo do Presidente da República iria ser acolhido, nada
me surpreendeu no aplauso generalizado. A media deve-lhe muito (e ele, tudo
a ela). Também previsivelmente, a necessidade de os portugueses ouvirem
algo de parecido com a autoridade de Estado, levá-los-ia a tomar a nuvem por
Juno – como levou – e a irem dormir confiantes que estão entregues. E, last
but not the least, as confrangedoras últimas semanas de inadmissíveis ou
incompreensíveis atitudes do Chefe de Estado necessitavam de intervenção
pública com carácter de urgência: dando aparência de “ocupação” da política,
serenidade institucional, controle nacional do estado das coisas. Toda a
gente “acha” que foi isto que viu. Tenho dúvidas. Sete anos é muito ano para se
poder separar uma circunstancial performance televisiva, por muito encenada que
estivesse – e estava, ao milímetro –, dos sete anos que a precederam. Nós lembramo-nos: de ano para a ano, escasseia a
assinatura presidencial no país: uma simpática selfie nunca se
confundirá com a indispensabilidade de uma impressão digital. O Presidente, desde sempre preso no casulo da sua invulgar
lógica de actuação presidencial, nunca ousou outra. Se a tentasse,
perdia o pé. Age só, pensa só, escreve só, vive só. Comenta só.
Dispensa conselheiros e afins, é avaro com o discurso dos outros, o que eles
dizem interessa-lhe pouquíssimo. Mal
os ouve. Está demasiado ocupado consigo próprio. É o full-time-job dele mesmo.
Sucede porém que hoje – mais defensivo e mais enfraquecido – está
ainda mais só: o
governo está em decomposição mas a maioria é de aço, um e outro não são a mesma
coisa. Ter saído na rifa das últimas eleições –
despropositadamente convocadas – uma maioria absoluta socialista foi a pior das
piores rifas que poderiam ter calhado em sorte ao Chefe de Estado.
Transformou-o num prisioneiro. Talvez intuísse o que lhe competia fazer – colaborar
activamente na reconstrução de uma frente do centro-direita e da direita – mas
é capaz de já não ser capaz. Em vez disso tem-se (aparentemente) entretido a
pulverizar esse grande espaço à direita do PS. Como podia então uma mera entrevista substituir
subitamente por outra uma personalidade tão marcada e a viver hoje semelhante
momento? Ou sequer diluir um modo de agir tão exclusivo, um procedimento
presidencial tão sui generis, uns comportamentos tão antigos como ele
próprio ?
Marcelo é ele,
apesar da sua circunstância.
3 Seja como for, era parca a minha vontade televisiva e
modesta a curiosidade.
No
final da sua entrevista, nenhuma delas se alterou. Apesar de tudo estranhei – e
muito a vim a discutir depois – a solicitude enternecida com que logo “se” acolheu
a possibilidade de um “novo” Marcelo (santo Deus!); ou com que logo se tomou
por definitiva a severidade para com governo (o PR não fez mais
que os serviços mínimos face a um executivo em decomposição e um país às
arrecuas porque sabe – não o dizendo, claro – que pouco mais pode fazer). O que já fez – a convocação das últimas eleições –
não correu bem. Tudo menos um segundo problema político e agora que o seu
consulado irá começar a entrar em contagem decrescente.
Em
resumo: foi previsível e antecipável mas a natureza humana precisa de acreditar
no que quer. Na sua entrevista o Presidente da República foi o muito
activo proporcionador desse acto de fé. Parece que os portugueses acreditaram.
É com certeza melhor assim, mesmo que sirva para pouco.
PS 1 –
Estranhei o modus faciendi das alusões a Fernando Medina. Que era aquilo? Aviso
à navegação socialista? Pré aviso pessoal? A sombra, mesmo que vaga, indefinida
e sem prazo marcado, de algo parecido com uma sombra de chantagem?
PS
2 – Estranhei a persistência do diálogo –
sempre variado – do Presidente da República com a Igreja através da media.
4Admito
sem relutância que tudo isto que escrevo seja uma questão de grau e que o meu
surja como demasiado áspero. É uma mera questão de análise e observação, não é
de hoje e não se confunde com o resto, que é muito e dura há décadas. Não estou
a ser contraditória, estou a traduzir em palavras a radiografia que fiz de um
determinado momento presidencial. Outros anos e momentos virão. Não tem grande
importância. E as coisas são o que são.
*
“Salazar e a Educação no Estado Novo”, de
Eduardo Marçal Grilo, ex-ministro
da Educação do PS (Bertrand). Uma boa achega – devia haver muitas mais – para
nos conhecermos melhor. Para concordar, discordar, aprender, comparar. Perfis,
personalidades, estilos, políticas, épocas.
MARCELO
REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Anastácio Rocha: Marcelo deve ter nascido no portugal dos pequeninos .., só se vê a si
mesmo; não cabe mais ninguém . E hoje a dar a entender que provavelmente foi a
última entrevista … daqui a pouco está a molhar a língua Alberico Lopes: Maria João: excelente como
sempre! Mas, desculpe a crítica: a Maria João já há muito que se apercebeu de
que este Marcelo não passará nunca dum catavento, como muito bem o catalogou em
tempos o Dr. Passos Coelho! Na sua ânsia de estar sempre a saltitar, a comentar
tudo e mais alguma coisa, a sua ânsia de ser "amado" leva-nos a
imaginar como seria bom alguém ter a ousadia de em vez de o abraçar, lhe cuspir
na cara para que ele visse duma vez por todas como tem sido prejudicial para o
país a sua actuação e a sua colagem ao seu amigo Costa, destruindo com as suas
tiradas tudo o que possa ser entendimentos à direita que nos possibilitassem
sair deste marasmo, desta inacção que nos fará descer para o último lugar dos
países europeus na riqueza do seu povo! Alarguei-me mais do que pretendia:
desculpe, Maria João: continue a escrever para ver se este selfiesman entende
que não pode continuar assim! João Ramos: “Marcelo é ele apesar da sua
circunstância “ esta frase define o homem com todos os seus inúmeros defeitos
que lhe estão agarrados, para infelicidade deste pobre país que bem precisa de
alguém com carácter e espinha dorsal para aquele lugar… chamar presidente da
República aquele personagem, dá vergonha! Ediberto Abreu:
Acho queo
Francisco Almeida e o Carlos Chaves, sintetizaram e muito bem o sentir de quem
ainda tem a consciência dos crimes cometidos contra o país por esta dupla. Carlos Chaves:
“Admito sem relutância que tudo isto que
escrevo seja uma questão de grau e que o meu surja como demasiado áspero.” A
sério Maria João? Ainda não percebeu que este Presidente é corresponsável pelas
misérias em quase todos os aspectos das nossas vidas que nos estão a acontecer.
Foi ele que decidiu colar-se às políticas de esquerda do partido socialista, é
ele que detesta Pedro Passos Coelho e o que ele representa! Acha mesmo que uma
criatura destas merece algum respeito, além do respeito devido a qualquer a ser
humano? Eu por mim, se o vir na rua e se me deixarem abeira-lo, perguntar-lhe-ei,
porquê que tem feito tanto mal a Portugal e aos Portugueses, porquê?
Francisco Almeida: De pequenino ensinaram-me que o mal educado não pensa
em tudo o que diz e o bem educado não diz tudo o que pensa. Não sei se o último
é o caso da autora Eu encontro uma outra constante em Marcelo, e não é bonita.
A frustração das eleições perdidas e a consequente necessidade de prejudicar os
que conseguiram o que ele falhou. É evidente e chocante o ataque permanente
a Passos Coelho mas o desapoio a Montenegro e, na recente questão do
altar, a miserável tentativa de atacar Moedas, são a expressão pública do que
lhe vai na alma.
Antonio Bentes > Francisco Almeida:
Grande
comentário. 100% de acordo. Sem tirar nem pôr. Marcelo é uma pessoa indigna e
que só tem a popularidade que tem porque fez um pacto do diabo com o Kosta e a
miserável comunicação social deste país. Marcelo, se tivesse de lidar com
uma CS adulta seria destruído em dois tempos. Aliás, como o próprio Kosta. Não
duraria um mês se tivesse que responder pelos seus actos. Mas agora o que
interessa é a "Guerra das Cebolas", a Igreja (que tem mesmo muitas
culpas no cartório) e a novela da TAP. Tudo serve para distrair a populaça da
tragédia que se abateu no nosso país, como a saúde, educação, justiça, falta de
crescimento económico e o ridículo e confrangedor caso do navio Mondego. Meus
Deus somos um país da NATO.. se o ridículo matasse, este país estaria morto
desde 2015. Pensando melhor está mesmo morto... Alberico Lopes
> Antonio Bentes: Brilhante comentário! Antonio Sennfelt Esta senhora, apesar da sua
circunstância, nunca deixa de ser uma tia de Cascais! Francisco Almeida
> Antonio Sennfelt: A Senhora tem família em
Cascais mas é do Campo Grande, em Lisboa. E se ser "tia" significa
escrever bem e demonstrar boa educação, devia haver mais "tias". Carlos Quartel > Antonio Sennfelt: Importante saber de quem
estamos a falar. O assunto não tem a ver com o Campo Grande ou com Cascais, tem
a ver com a elite e o grupo em que se movimentam. Claro que estamos no mesmo
grupo de Marcelo, Espirito Santo, Balsemão e outros pequenos barões. gente da
alta burguesia, uma auto-intitulada aristocracia que muito tem a ver com o
regime anterior. A adoração da senhora por Sá Carneiro, um aprendiz de
ditador, é significativa. Antonio Sennfelt > Francisco Almeida: Escrever escorreitamente, não
comer de boca aberta e viver na capital não entra forçosamente em contradição
com o estatuto de tia. Antonio Sennfelt > Carlos Quartel: Em total discordância consigo
no que se refere aos alegados desígnios totalitários de Sá-Carneiro - um
democrata dos quatro costados! - mas em perfeita concordância consigo no
atinente aos tiques sociais que caracterizam a articulista em questão. Alberico LopesAntonio Sennfelt: Escusava pelo menos de ser
mal-educado! Ou será que você é afilhado do tipo das selfies? bento guerra: Já não há pachorra. Já não
chega a prenda que nos caiu na rifa? Domingas Coutinho: MJA por favor não perca tempo
nem nos faça perder tempo a analisar o que toda a gente já viu e que vai de mal
a pior, com pequenas nuances de lucidez. JCBP: Compreendo a benevolência.
Aceito o raciocínio. Dificilmente aceitaria, porque mal fundamentada ( no
mínimo) a passividade dormente na análise crítica aos "7 anos". Um
narciso é sempre muito vistoso "ao longe"; contudo, se nos aproximarmos
a "coisa" cheira mesmo mal. Fernando CE:
Desculpe-me MJA,
mas nós precisamos é de um “verdadeiro” PR e não algo parecido, como Marcelo
tem sido. Homens brilhantes há muitos em Portugal, felizmente, mas isso não
faria deles bons Presidentes da República, uma vez eleitos.MRS tem sido um
muito sofrível PR.
F. Mendes > Fernando CE: Vai desculpar-me, mas na minha
opinião, Marcelo nem PR é. Alexandre
Barreira: Pois. Caríssima MJA, Pode crer. O
Marcelo sabe mais a dormir.
Do que V.Exa. acordada....! observador
censurado : MRS é
irrelevante. Como os últimos dois meses mostraram, a estabilidade política
dependerá do Correio da Manhã e das suas fontes. F. Mendes: Artigo muito longo. Tendo em
conta o ponto 1, a descrição feita de Marcelo (mas qual?!) assentaria, quase
como uma luva, a um doente bipolar, ou algo de comparável. Parte do resto do
artigo, sugere alguma forma de esquizofrenia. Não exagero muito. E penso não
andar longe da verdade, se escrever que MJA vai tão longe, neste artigo, quanto
o permite a sua amizade com este "personagem que nos calhou". Não sou mais ácido neste comentário, por o
julgar desnecessário. E só por isso. Mas, ainda assim, acho grave, que tenhamos
que suportar estes comportamentos erráticos por mais 3 longuíssimos anos. Fernando Cascais
> F. Mendes: Calma, não se pode perder a
esperança. Se Costa, pode ser convidado para Presidente da Comissão Europeia em
2024 e "dar à sola" deste pântano, também Marcelo Rebelo de Sousa
pide receber um convite irrecusável do Papa Francisco para gerir a comunicação
da Igreja sobre as acusações da pedofilia, ou da CNN Internacional para
correspondente de guerra. Portanto, caríssimo Mendes, não desanime que o dia de
amanhã pode trazer boas surpresas. F. Mendes
> Fernando Cascais:
Não me tinha
lembrado dessas possibilidades. Tenho que me esforçar mais a escrever estes
comentários! Essas saídas que refere, são verosímeis, muito embora me incline
mais para a hipótese dos casos de pedofilia. Só que, não acredito que ele saia
de "pr" antes do termo do cargo. Porque o faria, se já é comentador?
Se lhe oferecessem um posto na CMTV a comentar bola, ou um lugar no BIg
Brother, ainda vá. Na última hipótese, continuaríamos a vê-lo de cuecas; por aí
nada de novo. Enfim, vamos rindo e esperar que estes 3 anos de espalhafato à
nossa frente, terminem depressa. Fernando Cascais
> F. Mendes: Sabe caro Mendes, pressinto que ele irá tentar um
terceiro mandato. Gouveia e Melo ou Ana Gomes seriam excelentes candidatos para
serem derrotados em 2030 pelo velhote Marcelo. Não costumo falhar muito nestas
previsões. Alberico
Lopes > Fernando Cascais: Numa palavra, caro Fernando:
era mesmo bom que nos víssemos livres destes dois! Ainda gostava de ver o das
selfies vestido de cardeal e o Costa a segurar-lhe na barretina encarnada, como
já o vi fazer em Fátima a ele e à dignissima D. Tadeia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário