Na avaliação do status, e uma tristeza
generalizada daí recorrente, cujas causas são apontadas com mestria por André Abrantes Amaral e alguns dos
seus comentadores.
Um primeiro-ministro que acenava aos comboios
Não temos um primeiro-ministro, mas há
um senhor de cabelos brancos que anda pelo país do qual pouco sabe, não é
responsável por nada e se limita a ver comboios que passam num estado
impecável.
ANDRÉ ABRANTES AMARAL
Advogado e colunista do Observador
OBSERVADOR, 05
mar. 2023, 00:2144
Para
quem já reparou no estado caótico do trânsito em Lisboa sugiro a leitura desta nota no portal do governo. Data de 2019 e, nessa altura,
o trânsito fluía tão bem que os problemas eram outros: faltava um mês para as
eleições europeias e seis para as legislativas, de modo que era preciso criar
uma dinâmica ainda mais optimista. Uma das soluções encontradas foi a
redução do preço dos passes sociais na Área Metropolitana de Lisboa para 40
euros por mês, comboios incluídos. Claro que se mencionaram outras
razões, como “aumentar o uso do transporte público, reduzir as emissões de CO2,
descarbonizar a economia e enfrentarmos as alterações climáticas”. Eram todas
óptimas e louváveis. Pena foi que se pensou em tudo menos nas pessoas que
utilizam esses transportes públicos. Foi decretada a redução dos preços e isso
bastou, a par com a travagem da privatização da Carris, do Metro de Lisboa e
dos transportes colectivos do Porto.
É
sintomático da leitura da dita nota que a única referência aos passageiros, ao
seu conforto ou ao cumprimento dos horários seja para, perante a ineficiência,
percebermos “do que estamos a falar para não deitarmos fora o bebé com a água
do banho”. O bebé deviam ser as orientações governamentais para o sector, um
valor mais alto que se levanta e que se impõe ao bem-estar dos passageiros. É
curioso como a abstracção de boas intenções permite que os privilegiados vejam
os outros como um grupo de gente, povo, e não como pessoas concretas que são. É
curioso, mas verdade seja dita que o fenómeno não é de agora. Esse foi até um
dos vícios a que a democracia liberal quis pôr termo. Nem sempre com sucesso,
como se vê.
Era fácil perceber que a redução do
custo dos passes sociais ia correr mal.
Bastava colocar as perguntas certas e suspeitar um bocadinho da boa-fé
socialista. Até eu, que não percebo nada de transportes públicos, me questionei
sobre o barrete da redução dos preços dos passes sociais.
E nem deu assim tanto trabalho. Na verdade, não havia estudos que levassem a
crer que os portugueses iam trocar o automóvel pelos transportes públicos; tão
pouco haveria investimento dos operadores, pois o Estado já lhes tinha
garantido o pagamento devido, independentemente do aumento da procura. Pelo
contrário, tudo indicava que a forma como seria implementada a
redução do preço dos passes sociais ia levar a um desinvestimento no sector e a
uma deterioração dos serviços prestados. Houve
quem avisasse que os autocarros e os comboios iam ficar sobrelotados, mas
praticamente ninguém fez caso disso. As europeias eram daí a um mês e as
legislativas daí a 6. Havia muita coisa em jogo.
Entretanto,
chegámos a 2023 e o mês de Março começou com uma notícia estranha. No final
da tarde do primeiro dia, os passageiros de um comboio da linha de Sintra
tiveram de ser retirados das carruagens porque se sentiram mal e accionaram o
alarme. A PSP compareceu no local e afirmou que as carruagens estavam
sobrelotadas. A CP, diga-se que prontamente, corrigiu essa observação para
‘lotação completa’. Como seria de esperar o dedo foi de imediato apontado
às greves convocadas. Não vou discutir se bem, se mal, se de acordo ou em
violação das regras. A questão é outra: o investimento nas infra-estruturas
não estava garantido?
Há um ano o governo extinguiu a
parceria público-privada do hospital Beatriz Ângelo, em Loures. Bem ou mal, o
hospital funcionava. O governo decidiu não renovar a parceria
mesmo sabendo que essa decisão era mais cara e de eficiência duvidosa. Um ano depois o
resultado é estarrecedor. Os utentes, as tais pessoas que as boas intenções
abstractas não têm em conta, estão estupefactas com o fecho da urgência de
pediatria. O desnorte socialista é tal que até o autarca do PS quer o regresso da parceria
público-privada. Uma
reviravolta semelhante à de Pedro Nuno
Santos que, em
Novembro de 2021, ofendia quem era a favor da privatização da TAP para, em
Novembro de 2022, propor a privatização da mesma companhia aérea. No meio
disto temos os truques a que nos habituámos: que o comboio de Sintra não
estava sobrelotado, mas “circulava com lotação completa”; que o fecho da
urgência pediátrica em Loures não se deve a falhas na gestão do hospital
decorrentes do fim da PPP, mas “porque não há disponibilidade de
profissionais”; que não há austeridade, mas “exigência”. De
certa forma nem há um governo, mas uma semântica. Não temos um
primeiro-ministro, mas um senhor de cabelos brancos que anda pelo país do qual
pouco sabe, não é responsável por nada e se limita a ser quem é. São pequenos grandes sinais que demonstram que no PS
e no governo não se faz ideia do que se quer e do que se está por ali a fazer. Pedro
Nuno Santos saiu
quando percebeu que as tais pessoas concretas começavam a dar conta disso; Fernando Medina é menos afoito para tomadas de decisão desse tipo. Já
António Costa, enfim, o
tal senhor que anda por aí a acenar aos comboios não passa de António Costa.
ANTÓNIO COSTA POLÍTICA GOVERNO
COMENTÁRIOS (de 44)
Nuno Cunha Silva: Não concordo com a opinião. O que sucedeu naquele dia foi a convergência de
vários factores, sobretudo a greve. Outros factores, são a grave crise e
inflação. As pessoas possuem menos poder de compra, o que acaba por travar
o recurso a outras soluções, como o táxi. Mas para mim, o verdadeiro problema
dos transportes não está nem em Lisboa, nem no Porto. Está no resto do país
que não tem transportes públicos condignos desse nome e os que existem não
cobrem toda as áreas nem horários. A título de exemplo, eu resido em
Guimarães e trabalho como vigilante num hospital privado, mas com acordos com o
SNS, por ser uma Misericórdia. O serviço de atendimento permanente, cuja
frequência está coberta pelo SNS (uma consulta entre as 20h e as 00h e ao fim
de semana das 8h ás 00h, custa 4,5€), não é servida por transportes públicos em
todo o tempo útil do Serviço em causa. O hospital já pertence ao concelho de
Famalicão, mas a melhor ligação por autocarro é servida por Guimarães. Dista a
uns 15km da central de autocarros de Guimarães. No entanto o último autocarro é
por volta das 21h30. Ou seja: para ir àquele serviço de atendimento permanente,
tem que ser de veículo próprio ou táxi. E convém dizer que aquele serviço de
atendimento permanente é um escape aos sobrecarregados serviços de urgência de
Guimarães e Famalicão. Enquanto no hospital de Guimarães temos 5, 6 horas de
espera, na Misericórdia de Riba d'Ave, reduz para 2,3 horas e deixa os serviços
centrais para casos mais graves. E eu, que vivi até aos 28 anos na Amadora,
nunca antes tinha ido trabalhar em viatura própria e agora, se não usar o meu
carro, não consigo ir trabalhar. Tenho um turno que acaba ás 00h e outro
que começa precisamente às 00h. Não vou tirar um passe para 1 dos turnos
(8h-16h). Não compensa. E no entanto não tenho qualquer apoio para as minhas
deslocações, nem da entidade empregadora nem do estado. Nem redução nos impostos.
E sabem o porquê disto? É que tirando Lisboa e Porto, em que as empresas de
transporte público são pagas com os meus (nossos) impostos, no resto do país
são privadas. Portanto não me venham com lágrimas de crocodilo. Em
Lisboa e Porto vive-se sem qualidade, uns em cima dos outros. No resto do país,
temos mais qualidade de vida, mas somos ignorados pelo estado. Maria Emília Ranhada Santos:
Todos os do governo andam a ver
passar comboios, porque o trabalho chega-lhes feito por outros que dão as
ordens! Eles são verbos de encher! Convém mudá-los todos antes que seja tarde
demais! Jorge
Barbosa: Só posso desejar
boa saúde ao AAA, pessoa q não conheço pessoalmente, para q nos continue a
brindar com os seus excelentes artigos, sempre em prol da boa democracia que
infelizmente não temos neste Portugal socialista Luís Abrantes: A escumalha de esquerda só se preocupa com os votos
dos portugueses… nunca com os portugueses…!!! Francisco Almeida:
De certa forma nem há um governo, mas uma semântica.
A melhor síntese
que li até hoje.
bento guerra: Nuno Santos deixou "bombas de profundidade" nos departamentos
onde passou. Aquele que a ligeireza e irresponsabilidade da nossa imprensa qualifica
como sucessor de Costa, é um total incompetente João Floriano: Para cada problema que surge há
duas versões: a imposta pela realidade e a do governo de António Costa. Relembro
a loucura com os passes em 2019. Serviram para reformados , sem nada que os ocupasse,
passassem a circular de cá para lá. Ainda bem que aproveitaram esses escassos
meses antes de serem confinados devido ao covid ou morrerem em hospitais, lares
ou na solidão do sofá em frente à televisão. As parcerias público-privadas que
permitiam boa gestão e bom atendimento em alguns centros hospitalares foram
canceladas com os efeitos que conhecemos, mas Marta Temido, a nova coqueluche
do PS, dá uma entrevista em que se autoelogia e autopromove para cargos mais
exigentes, já que a sua saída do Ministério da Saúde permitiu um renovar de
energias e dinamismo no sector tal como quando a Cristina Ferreira muda de
penteado, de cor do cabelo de coloca extensões. Marta Temido é também a
coqueluche dos seguros de saúde, vá-se lá perceber porquê! (!!!!). PNS é
apresentado como um jovem turco dinâmico, inteligente, atrevido. A verdade é
que fez desaparecer uma quantia astronómica na TAP, não sabe trabalhar com o
whatsapp, demitiu-se porque foi apanhado em flagrante contradição e não por hombridade
e com ele podemos ter a certeza que iremos mais fundo no abismo: mais fundo e
mais rápido. Em 2010 faleceu este senhor: «João Manuel Serra era um personagem típico da cidade,
tendo ficado conhecido por, sempre com um sorriso estampado na cara e
impecavelmente vestido, acenar todas as noites aos carros e às pessoas que
passavam perto da zona do Saldanha.» António Costa parece-se com este simpático personagem
mas não pelos melhores motivos. Também ele acena aos portugueses mas com um
sorriso hipócrita e de profundo escárnio.
F. Mendes > João Floriano: Bom comentário. Já agora o título do artigo até podia
ser "o homem que acenava aos comboios que deviam passar, mas não passam,
porque estão em greve; e aos amanhãs que cantam, para todos nós
camaradas". Mas, ficava mais longo que as carruagens do metro depois de
canibalizadas por falta de peças! LOL João Floriano > Vitor Batista: 16,6
mil milhões de euros do PRR somados aos fundos da Política Agrícola Comum dão
no total, até 2030, cerca de 50 mil milhões de euros que vão chegar a Portugal
vindos de Bruxelas. Até 2030 há muito para desbaratar e para distribuir pelas clientelas
políticas incluindo os vendidos da CS. Talvez o socialismo até pudesse ser interessante para
o país se fosse reformista e vanguardista. Se o Estado enquanto tutor fosse
responsável e eficiente. Mas não, este socialismo de Costa tem a mesma visão de
um cego num labirinto; caminha de cabeçada em cabeçada. Costa é também um
péssimo governante socialista. Sócrates, não fosse o lado corrupto foi muito
melhor governante do que Costa, se Sócrates tivesse sido um governante honesto,
mesmo com a bancarrota, teria deixado Costa a léguas de distância. João Floriano > Fernando Cascais: Caro Fernando Não conheço nenhum governo
socialista que tenha conseguido sucesso económico a sério. O problema está na
repartição da riqueza. Utopias de igualdade na mesma repartição por todos são
muito bonitas mas em breve quem tem mais capacidades desmotiva-se e deixa de se
esforçar, de constituir um factor positivo de avanço. E a sociedade perde. Em
Ben-hur, antes da corrida épica contra Messala, o judeu estuda a quadriga do
sheik árabe porque todos os cavalos são diferentes: um representa a âncora,
outro a velocidade, outro a paciência, outro a força; todos diferentes, todos a
trabalhar para a vitória. No socialismo trabalha-se para a igualdade, nivela-se
por baixo. Assim não se avança porque muitas das grandes descobertas são fruto
de perseverança e génio individual F. Mendes: Muito bom artigo! Os meus
parabéns ao autor. Este artigo vem muito na linha do publicado pelo Miguel Pinheiro, esta
semana. Foca, também aqui, a questão da saúde e do fim das PPP, com os
resultados que se sabem. Aponta o problema dos transportes públicos, e trata-o
com mais competência do que o afirmado pelo autor. E, certamente, revela o bom
senso tão alheio aos nossos decisores políticos e "especialistas"
avulsos. O drama é que, além dos transportes, da justiça e da saúde, a situação do
país é também grave noutros sectores: A educação, está como se sabe;
A habitação,
já de si um problema, ameaça agravar-se ainda mais, devido aos sucessivos
desvarios socialistas; No combate à corrupção, continuamos a ter um certo Ivo
Rosa, cada vez mais o "Juíz" do regime, a branquear quase tudo o que pode,
tomando decisões ilegais e desrespeitando prazos e competências alheias;
No domínio
fiscal, continua o massacre; No domínio social, vão-se descobrindo imigrantes a
viver em condições sub-humanas e crianças a caminhar 5 horas para poderem comer
(nem faço ideia do que seria a gritaria da esquerda, se a décima parte disto
acontecesse nos tempos de PPC); Na Defesa, lá vai havendo mais mortes estúpidas, a
somar aos casos de corrupção, ao tráfico de diamantes africanos, a Tancos, à
perda de capacidade operacional das FA, a gestões políticas desastrosas, etc;
Poderia
continuar com exemplos como: a perda de qualidade da democracia, o desprezo a
que a população em concreto é votada, ao desprestígio de instituições como a AR
e a PR, e por aí adiante. Em boa parte de todas estas chagas e desgraças, existe
um tronco comum: a incompetência, nepotismo, irresponsabilidade, soberba,
enviesamento ideológico e esquizofrenia socialistas. Até quando, não sei. Mas,
será certamente por tempo demais. Maria Paula Silva: Muito bom..... e muito triste.
Obrigada.
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