sábado, 11 de março de 2023

Tudo bem explicadinho


Por Alexandre Homem Cristo, que assim retrata as maquinações e os mecanismos de um Governo que vai protelando “sine die” um problema que, aliás, perdera a acuidade no tempo da governação apoiada pela esquerda bipartida a qual a retoma agora, quando já não ora mas que por isso perora com mais afinco, capitaneada pelo mesmo Mário Nogueira das requisições de outrora, que, do que se não importa nunca, é com os meninos da escola. Um estudo bem feito de AHC, que põe os pontos nos ii.

Uma estratégia falhada

O governo travou uma guerra orçamental contra os professores. Perdeu-a. Agora só sobra disfarçar: após abandonar reformas e acumular cedências, o PS chama “aproximações quase históricas” às derrotas.

ALEXANDRE HOMEM CRISTO  Colunista do Observador

OBSERVADOR, 09 mar. 2023, 00:2126

Afinal, qual é o impacto orçamental de cada cenário para o descongelamento das carreiras dos professores? Eis um facto extraordinário sobre a negociação entre sindicatos de professores e governo, que hoje conhece mais um capítulo: o governo não tem uma resposta objectiva para esta pergunta-chave. Esta desafinação é extraordinária por dois motivos, nenhum deles abonatório para a competência do governo. Primeiro, o Ministério da Educação lida activamente com esta reivindicação dos sindicatos de professores desde 2018, e nessa altura os cenários foram feitos e o seu impacto orçamental foi detalhado pelo ministério de Mário Centeno — bastaria actualizar e construir a partir daí. Segundo, sendo esta a reivindicação mais ruidosa dos sindicatos nos protestos dos últimos meses, soa incompreensível que o governo se tenha sentado sucessivamente à mesa de reunião sem ter os seus limites orçamentais devidamente definidos.

Há cerca de 10 dias, o ministro João Costa informava que o governo estava (finalmente) a fazer estudos comparativos, nomeadamente para avaliar cenários e propostas possíveis (e respectivos impactos noutras carreiras da administração pública). É realmente impressionante ouvir tal anúncio após meses de protestos, greves e negociações. Mais caricato é que, 10 dias antes deste anúncio do ministro da Educação, o primeiro-ministro já tinha um valor na ponta da língua para essa questão: descongelar a carreira dos professores implicaria 1300 milhões de euros de despesa anual e permanente — na medida em que, por razões de equidade, o descongelamento teria de ser alargado a todas as carreiras da Administração Pública.

Mistério: se o primeiro-ministro já tinha um número taxativo, porquê continuar a fazer contas? Talvez por isto: o número avançado por António Costa está errado — não surgiu na calculadora, mas sim nos gabinetes de estratégia política, que insuflaram os valores para defender a inviabilidade das pretensões sindicais. Mais do que rigor orçamental, o governo apostou numa guerra política e mediática de números contra os sindicatos, sob o mote da responsabilidade orçamental. Em 2019, António Costa ameaçou demitir-se se, no parlamento, fosse aprovado o descongelamento da carreira dos professores — e a chantagem saiu-lhe bem. Em 2023, com maioria absoluta e sem bodes expiatórios, a estratégia saiu-lhe mal e forçou vários recuos.

Duas razões explicam o falhanço. Em primeiro lugar, o governo recusou trabalhar no dossier do descongelamento das carreiras e por isso apresentou números contraditórios. Em 2019, o então ministro das Finanças Mário Centeno expôs as suas contas e publicou um comunicado detalhado: a recuperação integral do período congelado “teria um impacto na despesa permanente com salários de docentes de 635 milhões de euros, um custo total de 800 milhões de euros, se incluídas as outras carreiras”. Ainda em 2019, esse valor havia sido revisto pela UTAO para 567 milhões de euros, se retirados os descontos (IRS e Segurança Social).

Agora, em 2023, os valores foram revistos em baixa. De acordo com o Ministério das Finanças, o período descongelado (2 anos, 9 meses e 18 dias) já implica um investimento permanente e anual de 244 milhões de euros, aos quais se acresceriam 331 milhões de euros pelo período remanescente (6 anos, 6 meses e 23 dias), somando um impacto total na despesa estrutural de 575 milhões de euros anuais. A estes valores teriam ainda de ser adicionados o descongelamento integral das restantes carreiras da Administração Pública (cerca de 200 milhões de euros) e implicações orçamentais suplementares de outras medidas em negociação, se aplicadas à carreira docente. Ou seja, com tudo somado, o resultado leva-nos a um valor anual de, pelo menos, 800 milhões de euros —muito longe dos 1300 milhões de euros a que o primeiro-ministro aludiu. Pode ser mais, consoante as medidas negociadas. Mas também pode ser menos, se o descongelamento for parcial. Ou seja, não se sabe ao certo, por que só agora o ministro João Costa pediu “estudos de comparabilidade” para averiguar cenários mistos.

Em segundo lugar, a negociação com os professores corre mal ao governo porque o PS esgotou a margem de manobra na gestão de expectativas. Sim, 800 milhões de euros de impacto permanente e anual é um duro golpe nas contas públicas e junta vários ingredientes de irrazoabilidade. Mas como pode o PS argumentar nesse sentido quando, desde os anos de geringonça, elevou as expectativas de dar tudo a todos? Quando, nos erros da governação, se comporta sucessivamente como se existisse dinheiro para desperdiçar — seja no dossier da TAP, onde enterrou mais de 3 mil milhões de euros, seja na Saúde, onde escolheu romper com uma PPP no Hospital Beatriz Ângelo e assim gastar mais dinheiro para servir pior a população. Ou ainda quando, com os actuais níveis de inflação, a receita fiscal do Estado aumenta e o poder de compra dos cidadãos diminui. Com mais de 7 anos de governo e um anunciado “virar de página da austeridade”, a falta de dinheiro tornou-se um argumento coxo para o PS convencer os professores ou mesmo a população em geral, que apoia as reivindicações sindicais.

Eis, portanto, o culminar de uma estratégia falhada. O governo tentou travar uma guerra orçamental contra os professores mas, por culpa própria, perdeu-a. E agora? Agora só sobra disfarçar: depois de abandonar medidas reformistas e acumular cedências, o governo chama de “aproximações quase históricas” às suas derrotas.

PROFESSORES   EDUCAÇÃO   MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO   PAÍS

COMENTÁRIOS:

mjoao pgomes: A antiguidade não é um posto. Como é que pessoas destas se propõem preparar e avaliar pessoas para os desafios do futuro, quando lutam para manter uma progressão na carreira, completamente alheia aos resultados dos seus alunos? A escola pública tem que ser reformada. Deitar mais dinheiro para cima dos problemas só vai agravá-los. Os professores estão-se nas tintas para os alunos. É o vale tudo. Lamento que o colunista dê sinais de ceder a este egoísmo implacável.             Sorte Vicente: Só sei que quem se vai lixar são os doentes de alzeimer, os cuidadores informais, etc... os que não têm voz, vão inevitavelmente ficar para trás, pois para esses nunca há dinheiro. Já agora, digam aqui, preto no branco, quantas horas trabalham os profs a uns 10 anos antes do final da carreira? É que os que conheço trabalham mas é no café da esquina....            Joaquim Dias > Sorte Vicente: Trabalham 35 horas semanais como os demais. Esqueceste-te de falar dos 3 meses de férias, de só trabalharem 22 horas por semana ou menos, das folgas à segunda e/ou à sexta, de só serem professores porque não conseguem fazer mais nada, que só pensam no fim do mês e não querem saber dos alunos para nada, da qualidade do ensino estar no fundo da tabela nos rankings (Portugal está acima da média no ranking da OCDE no último PISA publicado), etc., tudo isto para referires o ramalhate completo da tugalhada. A tugalhada é que gosta de se colocar em bicos de pés e inventar coisas sobre professores... Eu estou a ano e meio da aposentação, portanto devo ser desses que tu dizes que estão no café de esquina, né? Engraçado, há dias estava num desses cafés a fazer horas para a escola e vi um tipo na taberna do lado a olhar fixamente para mim, como quem pretendia saber se eu já estava nesses últimos 10 anos... quem seria?               Luis Freitas > Joaquim Dias: Seu grande mentiroso, 3 meses de férias e 22 horas de trabalho? Não passas de grande um analfabeto mesmo que tenha um doutoramento, e já agora eu estou a meses de me reformar e a minha esposa professora a poucos anos de se reformar e a minha filha começou a trabalhar há 5 meses ainda sem sequer ter acabado o mestrado e logo no primeiro dia no seu primeiro emprego tem um salário muito superior à da minha esposa que é professora e minha filha não precisa de ir ao escritório da empresa, até pode trabalhar remotamente em Portugal ou em qualquer parte do mundo. A classe média que era constituída por classes sociais como professores, médicos, engenheiros, enfermeiros etc está completamente assassinada com salários de miséria em Portugal, agora mais de 50% dos jovens com habilitações universitárias emigram o que contribuem para o empobrecimento acelerado de Portugal só cá ficam os mendigos e os escravos. Para sua informação já que é um analfabeto funcional , os professores além das 22 horas semanais de componente lectiva nas salas de aulas , têm de preparar as aulas em casa, fazer os testes e corrigir os testes em casa, carradas de reuniões nas escolas para avaliações , são eles que fazem as matriculas dos alunos, são eles que fazem a organização dos horários e turmas e atribuição dos horários aos professores são eles que fazem avaliação obrigatória aos professores mais novos para poderem subir de carreira e são os professores que têm de pagar do seu próprio bolso a formação para poder subir na carreira docente e por fim têm cargos que lhes exigem carradas de horas para resolverem problemas disciplinares ou de aprendizagem com os encarregados de educação dos alunos das suas direcções de turma, tudo fora das tais 22 horas. Por fim os professores têm sido enterrados em processos burocráticos kakfiano paridos pelo Ministério da Educação que lhes fazem perder carrradas de horas como por exemplo preenchimento de carradas de folhas de excel sobre as actividades e avaliações e pior que isso por cada aluno que chumbar um plano de recuperação,  um processo kakfiano tipo de um regime de quer assassinar a educação com passagens administrativas e fingir que Portugal é um país que progrediu na escolarização.

É por causa disso que nestes anos PS de total destruição da Educação que os colégios privados tiveram um grande aumento de alunos chegando ao cumulo neste ano lectivo de antes do carnaval já terem esgotado as matrículas do próximo ano lectivo . Se quiser ajudar as próximas gerações por favor vá para o cemitério mal entre na reforma pois foram portugueses como você que puseram Portugal na miséria………………………………………………………………………………………………………………………………..

Luis Freitas > Joaquim Dias: Sim se o ofendi peço desculpa, mas ninguém em Portugal sendo professor tem 3 meses de férias pois nas paragens de aulas, no natal e Páscoa e final do ano lectivo esses dias são usados para reuniões e trabalhos nas escolas, avaliações, exames e depois matriculas e fazer as turmas e horários. E se for professor sabe bem que se tiver uma componente lectiva de 11 horas tem de dar as outras 11 horas em aulas de apoio ou outras actividades na escola, por isso achei de muita má fé o seu comentário. Mas se você estiver a viver e dar aulas por exemplo na ilha da Madeira é verdade que só tem 11 horas de componente lectiva e nunca tiveram congelamento nas carreiras docentes. Em relação aos meus filhos ou mesmo sobrinhos ninguém quis ser professor e eu pertenço a uma família que há 150 anos já tínhamos professores quando 90% do povo era analfabeto e sempre tivemos professor em todas as gerações a próxima geração será a primeira que não terá professores e será a que mais emigrantes vamos ter quase 70% dos jovens da minha família (todos no mínimo com licenciatura) já emigraram, nunca tal se passou em tamanha quantidade de emigração. Para terminar, entre os anos de 1960 e 1970 anos de grande emigração na ditadura de Salazar emigraram muitos portugueses, agora nesta democracia de roubos entre 2010 e 2020 emigraram muitíssimo mais portugueses do que nos tempos do Salazar com uma grande diferença nos anos 60 eram os portugueses com muita baixa instrução e pouca especialização mas agora são os jovens com mais habilitações académicas e os portugueses mais especializados que emigram ou seja estamos a empobrecer estilo como os países africanos em que os que têm melhores habilitações académicas são os que mais emigram para a Europa e países ricos e democráticos. E de facto depois do que se passou na educação nos últimos 30 anos os meus filhos e familiares jovens aprenderam que nunca mais podem serem professores pois viram o que sucedeu aos seus pais e tios pois além de minha esposa ser professora na minha geração tenho mais 5 professores na família serão os últimos neste século XXI e provavelmente para toda a eternidade pois as novas gerações estão a sair em massa de Portugal para sempre e não serão emigrantes para sempre pois daqui a 5 a 10 anos já terão dupla nacionalidade o que já está a acontecendo com sobrinhos que estudaram na Inglaterra e agora com o brexit optaram para pedir a nacionalidade inglesa e já não são classificados como emigrantes pois sim cidadãos ingleses com dupla nacionalidade……………………………

Ana Maia: Essas "razões de equidade" foram tidas em conta quando se aumentaram os juizes 700€ por mês? Não. Mas os juízes são importantes para atrasar e anular as acusações e condenações de inúmeros socialistas e por isso valeu o investimento.

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