O desprezo que tudo isso merece num estado geral de catalepsia… que
também é digno de desprezo. Não basta parecer. É preciso ser. Todos somos
responsáveis. País votado à desgraça, por não ter gente capaz de contrapor a
não ser com a lógica da gozação, que é uma coragem puramente retórica e exibicionista, embora necessária…
Um país sem comentários
Vale a pena comentar a falta de
vergonha necessária para o PS erguer a ex-ministra da Saúde a putativa
candidata a Lisboa? Não há razão para a senhora da DGS não ser um nome forte
para Belém.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 18 mar. 2023, 00:246
Vale a pena comentar as declarações
do prof. Marcelo, que acha “a coisa mais natural” o sr. Lula abrilhantar a
cerimónia do 25 de Abril e falar sobre “liberdade e democracia”? Em primeiro lugar, não faz sentido um estrangeiro
ser protagonista de uma efeméride local. Em segundo lugar, é tão esquisito um
trambiqueiro condenado discorrer acerca de liberdade e democracia quanto a
conferência de um cego sobre Rembrandt. Em terceiro lugar, o sr. Lula não sabe
falar, pelo menos português. Devíamos ter ajudado o prof. Marcelo a começar os
seus mandatos com dignidade: agora é tarde. E não,
não vale a pena comentar.
Vale a pena comentar o apetite do
governo em fixar o preço dos alimentos, popularíssima receita para a escassez
garantida? O governo,
que não toca nos impostos excepto para aumentá-los, não quer saber se os
portugueses conseguem comer: quer que os portugueses culpem os supermercados
pela fome, como quis que culpassem a pandemia, a guerra, o clima, os senhorios
e quem calha pela desgraçada situação em que se encontram. Não vale
a pena comentar.
Vale a pena comentar as esmolas
lançadas às rendas e ao crédito para habitação? Ao melhor
estilo latino-americano – não admira a veneração pelo sr. Lula –, o governo
confisca tudo a todos para depois distribuir migalhas por alguns, que
certamente terão oportunidade de louvar a generosidade do dr. Costa por
contraponto à avareza do Passos. Não vale a pena comentar.
Vale a pena comentar a situação do
SNS, que continua a desfazer-se em farelo a cada hora? Dali, as únicas notícias que chegam são as que
informam qual a urgência que vai fechar, a direcção que se demitiu em bloco
(não operatório), o serviço de especialidade médica que sumiu. Ou seja, não são
notícias, mas a rotina da saúde pública quando cai nas mãos de socialistas
incompetentes, expressão que eu sei ser a redundância do ano. Não vale a
pena comentar.
Vale
a pena comentar a falta de vergonha (ou de desavergonhados disponíveis)
necessária para o PS erguer a ex-ministra da Saúde a putativa candidata a
Lisboa? Se bem me lembro, a dra. Temido foi capaz de aliar a destruição do SNS
por via do fanatismo ideológico à aniquilação do bocadinho que restava por via
do fanatismo pandémico. Sob a leviandade dela, muitos morreram, muitos morrem e
muitos morrerão. Consequências? A autarquia da capital. Não há razão para a
senhora da DGS não ser um nome forte para Belém. Não vale
a pena comentar.
Vale a pena comentar o desvario no
ensino estatal, que há três anos não funciona com sombra de normalidade? Independentemente dos argumentos pertinentes ou
absurdos, das manipulações e dos sindicatos, a verdade é que o governo tem
os professores no lugar desejado, o de bode expiatório, e as criancinhas
também: o caminho da ignorância terminal, afinal o alimento do socialismo.
Vale a pena comentar a compra, por
uma empresa pública, de nove barcos eléctricos sem baterias? O ministro do Ambiente já disse que a decisão “foi a
melhor”, precedente que levará a Carris à ponderada aquisição de trinta e
sete motores sem autocarro. Não vale a pena comentar.
Vale a pena comentar os
desenvolvimentos da novela da TAP, de facto um roubo com demissões à procura de
causa, causas à procura de indemnizações, ministros que nada sabem e
ex-ministros que sabiam de tudo? Não vale
a pena comentar.
Vale a pena comentar o sucedido na
Marinha, ou o que
acontece quando se planta um jarrão medalhado a comandar um ramo das Forças
Armadas? Levantar tendas para espalhar injecções e insultar os renitentes não
constitui exactamente um currículo susceptível de inspirar respeito à tropa.
Não vale a pena comentar.
É isto. Recorri apenas a assuntos falados durante a semana. Na
semana anterior, o cenário não fora melhor. Na próxima é plausível que se
agrave, visto que em Portugal não há caos que não se possa agravar. Sob o
altíssimo patrocínio do governo, do senhor presidente da República e, em doses
distintas, dos demais partidos, o país público atolou-se neste “freak show”
equidistante dos “fundos” de Bruxelas e dos fundilhos de Caracas. Se o mundo actual possui diversas semelhanças com um
manicómio, os senhores que mandam em nós são os malucos que estão na solitária,
com camisa-de-forças e parede acolchoada. Ou que deviam estar.
Quanto ao país privado, lá vai
andando, uns para longe daqui, os outros, por enquanto a maioria, para lado
nenhum. Os que
ficam fazem contas, da casa, do carro, da roupa, da electricidade, do gás, da
água, da comida – e o resultado está sempre errado. Os salários encolhem. Os
negócios, contanto que lícitos, mirram. O aquecimento improvisa-se com mantas.
As luzes, literais ou simbólicas, apagam-se. Nem a saudinha, dantes tão precisa,
escapou.
E
as pessoas resistem, principalmente a estabelecer o nexo entre a sua pobreza e
os respectivos responsáveis. As pessoas sofrem e calam. O PS discute o primeiro
lugar nas sondagens. Um dia, se por cá sobrar quem pense e escreva, alguém comentará
pasmado estes tempos de massacre e resignação. Hoje não
vale a pena comentar. O pudor não deixa.
GOVERNO POLÍTICA PRESIDENTE
MARCELO
COMENTÁRIOS:
António Lamas: Vale a pena
comentar os artigos o Alberto Gonçalves? Vale de certeza, e muito. Obrigado
Alberto. Eduardo
Cunha: muito bom... F. Mendes: Mais um belo artigo do Alberto Gonçalves, do qual só
discordo quando escreve que estamos equidistantes entre os "fundos"
de Bruxelas e os fundilhos de Caracas. Julgo, muito a sério, que estamos bem
mais perto dos fundilhos de Caracas. E, com os fundos da Europa a ajudarem a
Ucrânia (que bem os merece), chegaremos a Caracas mais depressa do que se
julga. Embora sem petróleo, pois claro. E, possivelmente, com o
"hidrogénio verde" que ninguém comprará. E com o (futuro?) TGV em
greve. Tudo isto, sem ofensa para o Maduro lá do sítio, que se deve ter
embasbacado, quando o informaram que num país há 40 anos na União Europeia, e
massivamente financiado pela Europa rica, se verifica o rol de chagas
mencionado no artigo, a que se somam outras, como o estado caótico da
Justiça, a imigração descontrolada, as mentiras e a arrogância das
"elites", a hostilidade ao sector privado, a promoção da subsídio
dependência e tantas outras. Realmente, se alguém daqui a uns anos se der
ao trabalho de analisar estes tempos, certamente coçará a cabeça. Isto claro,
se por cá ainda restar alguém com cabeça e motivação para o fazer! Maria Paula Silva: Excelente! e vou dormir muito melhor depois de ler
esta crónica. Adorei sobretudo o parágrafo relativo ao almirantezinho das
picas.... o egocêntrico narcísico mas sempre sisudo porque acha que fazer cara
séria incute respeito. Pelos vistos, não, pelo que se viu com os barquinhos :) Um
ambicioso amigo de ninguém a sonhar com o trono de Belém :) Não posso com o
homem, como já devem ter percebido LOL..., mas com nenhum dos outros também.
Entre ele em Belém e a Temida na Câmara, venha o diabo e escolha qual deles vai
ser o pesadelo maior. Obrigada AG! Tenha um bom fim de semana. S Belo >Maria Paula Silva: " gostos não se discutem", diz o ditado.
Está bem acompanhada: MRS, o PCP e o "levantado do chão" MRPP também
não gostam do almirante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário