De que tantos se apercebem, como o comprovam o
colunista Nuno Gonçalo Poças e os seus
muitos Comentadores. O que se deseja é que o equilíbrio retome – com a
seriedade…
Um país que precisa de ricos e não gosta deles
A pior coisa que fizeram às elites com
a chegada de tantos estrangeiros com capital foi o facto de esse movimento
demográfico lhes ter esfregado na cara a sua mediocridade e até a sua pobreza.
NUNO GONÇALO POÇAS Colunista do Observador. Advogado, autor de
"Presos Por Um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril"
OBSERVADOR, 28 fev. 2023, 00:1518
Os alunos que estão agora a terminar a
4.ª classe não tiveram um único ano lectivo passado em condições de
normalidade. Entre encerramentos de escolas, confinamentos obrigatórios por
casos de infecção de terceiros, greves e falta de professores, as crianças mais
desfavorecidas ficam mais para trás, com danos de aprendizagem provavelmente
irreparáveis. Para ajudar, com o fim dos contratos de associação, centenas de
alunos que frequentavam colégios privados foram, por falta de capacidade
económica para neles continuar, despejados na rede pública, onde faltam
professores e abundam as greves. As classes médias que ainda conseguem suportar
propinas privadas, fazem-no em detrimento de outros investimentos. As elites
passam por tudo isto como cão por vinha vindimada: é a tal história da
ex-secretária de Estado Alexandra Leitão; os pobrezinhos que vão para a escola
pública, porque os privados são para quem os pode pagar, como era o caso dos
seus filhos.
Os tempos de espera para consultas e
cirurgias no Serviço Nacional de Saúde, em especial nas áreas da cardiologia e
da oncologia, têm aumentado. No Hospital da Guarda, para a primeira consulta de
cardiologia, a espera já é de mais de 1400 dias. São mais de três anos só para
a primeira consulta. Também para ajudar, os hospitais em regime de parceria
público-privada, nomeadamente os de Loures e Braga, tidos como dos melhores do
país, são hoje verdadeiros buracos na gestão e no cuidado prestado aos doentes.
As famílias mais pobres, por falta de capacidade para suportar seguros de saúde
privados, são, mais uma vez, as mais prejudicadas. A classe média que ainda
pode, paga também esses seguros, prescindindo também assim de outros
investimentos que podia fazer com o fruto do seu trabalho. As elites,
naturalmente, já o faziam: para essas, o SNS é o último recurso, utilizável em
situações limite, com os pés a entrar para a cova, para depois o elogiarem
publicamente como o «melhor do mundo».
Os processos judiciais de natureza
administrativa demoram, em média, 31 meses, e os de natureza fiscal 50 meses,
sem contar com recursos. A média de duração de um processo judicial cível ronda
um ano. Fazer valer os seus direitos em tribunal, graças às taxas de justiça e
ao sistema de acesso ao direito, e suportar financeiramente os tempos de espera
por decisões e execuções, é algo acessível a quem pode pagar – ou a pessoas
abaixo da miséria, a quem o Estado garante o direito. Os «apenas» pobres e a
classe média têm cada vez mais dificuldade em aceder à justiça.
A lista é interminável e chega a todos
os sectores. Dos transportes públicos, de má qualidade e em greves constantes,
aos elevados custos laborais, passando pelos aumentos da tributação indirecta,
há um denominador comum nas políticas seguidas pelo PS desde 2015: com base no
princípio de que é preciso atacar a riqueza, os pobres acabam por ser os mais
prejudicados. Isso tem sido, porque a propaganda é necessária, artificialmente
colmatado com apoiozinhos, subsidiozinhos, chequezinhos e, claro, com muitos e
muitos anúncios de boas intenções atirados para gerar percepções públicas.
A mais recente «crise da habitação»
(daqui a uns tempos talvez se fale em «emergência da habitação», é aguardar) e
a fórmula que o Governo encontrou para responder a problemas que não conhece
(sobre a ministra da Habitação, por exemplo, percebe-se que ela sabe o que é
uma casa, suponho até que tenha vivido numa a vida inteira, mas mais do que
isso é possível que desconheça) é mais um episódio que segue os mesmos
trâmites: boas intenções, resultados agravados sobre os mais pobres, dinheiro
despejado para subsidiar a miséria.
Nós devíamos estar a fazer perguntas e a
tentar perceber o que não estamos a fazer ou o que estamos a fazer de forma
errada; para perceber que tipo de problemas existe em concreto, em vez de
andarmos feitos tontinhos a falar da «crise da habitação» como se se tratasse
de um problema uniforme e generalizado, era mesmo útil discutir-se primeiro o
problema, até para perceber se existe mesmo um problema, vários ou nenhum. Mas
como nós não fazemos perguntas, até porque quem ocupa espaço público sabe
perfeitamente que respostas quer e o resto vai andando, sim senhor, o Governo
fez o que sabe fazer melhor e é apreciado pela generalidade dos portugueses:
acolheu uma narrativa, diabolizou os inimigos que toda a gente neste país
detesta (os ricos, os estrangeiros, os senhorios, os proprietários, os fundos imobiliários,
os investidores, o alojamento local, enfim, qualquer espécie de vida dinâmica e
independente), inventou um panfleto, fez um anúncio com pompa, teve o
reconhecimento generalizado de que «recuperou iniciativa política», o
beneplácito presidencial acerca dos «melões», fará algumas alterações
legislativas para inglês ver, a maioria ficará na gaveta por manifesta
impraticabilidade, as aprovadas revelar-se-ão novo fiasco para todos os
interessados e, por fim, conseguiu cavar novas trincheiras na tribalização
política e social.
Nos últimos anos, Lisboa e Porto
encheram-se de estrangeiros que ali investiram o seu dinheiro e pagaram os
impostos devidos. Instalaram-se em cidades onde o número de casas disponíveis
não aumentou, fazendo aumentar a procura. Fizeram com as cidades o que o
Estado, a miséria generalizada e uma política de congelamento de rendas secular
não conseguiram: reabilitaram os centros históricos. Fizeram-no, naturalmente,
à medida de quem o procurava e tinha dinheiro para o pagar. Mas também criaram
riqueza e asseguraram empregos: empreiteiros, mediadores, canalizadores,
electricistas, ladrilhadores, pedreiros, pintores, carpinteiros, advogados,
contabilistas, notários, empregados de mesa, cozinheiros, gestores de
condomínios, engenheiros, arquitectos, enfim, a lista dos beneficiados é
imensa. Os preços das casas subiram, claro. Mesmo assim, para eles Portugal
continuou e continua a ser barato. Por algum motivo, os rendimentos dos
portugueses não acompanharam esta subida de preços. Num contexto de livre
circulação de pessoas e capitais que o país vive, por alguma razão nós não
acompanhamos o mesmo nível de rendimentos que muitos dos que aqui chegam
possuem. Em vez de estarmos a fazer perguntas sobre as razões que nos levam a
permanecer neste estado de estagnação salarial e crescimentos anémicos,
resolvemos aceitá-los como naturais e rejeitar qualquer mudança que permita
sair do marasmo e da podridão.
O segredo não está, pois, em querer um
país que consiga competir com os mais ricos, mas antes em garantir a sua
miséria relativa estabilizada e inquestionada. Um país, como o nosso, que
aquilo de que mais precisa é de ricos, fica, afinal, afectadíssimo quando os vê
chegar. É que a pior coisa que fizeram
às elites da capital nos últimos anos, com a chegada de tantos estrangeiros com
capital e rendimentos, foi o facto de esse movimento demográfico lhes ter
esfregado na cara a sua mediocridade e até a sua pobreza, só disfarçada num
país onde a maioria das pessoas circula entre o remediado e o sofrido. Como
sempre, não é a ambição de melhorar a vida dos nossos mais pobres que está em
causa. Esses continuarão a viver, como sempre viveram, fora dos grandes
centros, dos subúrbios ao interior, sem transportes, sem rendimentos dignos,
sem qualidade de vida, sem perspectivas. O que está de facto em causa é
assegurar que a sofrível elite portuguesa possa continuar sem gente ao lado que
lhe destape as misérias. Desde que não tenham de ir viver para o Lavradio ou
para Mem Martins, que é de onde mandam vir as empregadas e o discurso sobre os
pobrezinhos, tanto se lhes dá.
P.S.: Eventualmente, com a subida dos
juros e com as novas regras de acesso ao crédito à habitação, é possível que a
procura de imóveis reduza e os preços sejam forçados a descer qualquer coisa.
Ao primeiro anúncio de descida de preços das casas, por mais pequeno que seja,
o Governo fará questão de vir mandar dizer que essa descida se deveu às medidas
que implementou ou que, se não implementou, quis implementar.
HABITAÇÃO E URBANISMO PAÍS GOVERNO POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Nuno Oliveira: Infelizmente este é um retrato fidedigno da nossa realidade, para quem o
quiser ler com honestidade intelectual e livre de "palas"
ideológicas. Fico triste e com vergonha do que se tornou o meu país. O
resultado das políticas socialistas aqui retratadas com exactidão, que têm o
expoente máximo neste (des) governo do Sr. Costa desde 2015, e que tem como
base o governo do Sócrates, de quem ele era número 2, mas vêm já de trás. Desde
1974. A escola pública deixou de ser
o elevador social. O mérito não é premiado e para não deixar para trás, quem
não se esforça, quem não estuda, quem não trabalha passam todos, até e também
para não deixar mal na fotografia todo o sistema de ensino. " Encheram a
cabeça" dos portugueses, desde tenra idade que tudo está ao seu alcance,
que podem ter tudo, que todos " podem viver na Lapa" como diz a
ministra da habitação. Depois esta narrativa esbarra com a cabeça na
parede da realidade, a toda a velocidade e causa traumas. Traumas esses
igualmente muito bem retratado no artigo. E vem ao de cima a inveja, o desporto
nacional favorito das esquerdas. Como não conseguem fazer melhor, procuram
culpados. E isso é perigoso. Como por exemplo a narrativa do direito à
habitação sobrepor-se ao direito à propriedade... Procura legitimar os
"OKupas". Que em Espanha foram os responsáveis por mais de 700 mil
habitações, muitas delas que pertenciam a profissionais de saúde que durante a
pandemia dormiam nos hospitais... Repito, estou
muito triste e com vergonha do que se tornou o meu país e as perspectivas de
futuro, que não tem. A miséria moral domina e gera a cada dia que passa mais fome e miséria. Nivelar
por baixo é a única medida que permite ao governo e a esta pseudo-elite com
cartão cor de rosa sobressair. E é tão facilmente fazê-lo. A maioria dos
portugueses sabe ler, mas não percebe o que leu. E por isso o PS, este PS
perpetua-se no poder. Sem uma ideia, um projecto racional para o país. José Sequeira: Democratização da
pobreza num País em que a mentalidade dominante é “eu não faço nada para ter
mas não quero que o meu vizinho tenha”. voto em branco: O pôr a maioria a votar para
roubar os bens a uma minoria para que cada desgraçado receba um pouco do seu
espólio da minoria roubada, é algo que a democracia permite mas nenhuma
constituição democrática deveria permitir. e quanto mais desgraçados houver,
quanto mais gente houver que não tem nada a perder, mais possível será fazer
esse roubo de forma democrática. O Hitler fê-lo democraticamente com os judeus, o Hugo
Chavez fê-lo democraticamente coma classe média e alta venezuelana, e os
governos já o fazem com impostos que sobem exponencialmente consoante os
rendimentos, com impostos sobre o património (isto é como que nacionalizar o
património e o dono do mesmo ser arrendatário do Estado) e agora querem fazê-lo
totalmente à descarada. O povo não pode votar em quem
quer, porque escolhe quem vai a votos são os partidos, em processos totalmente
corrompidos, e metade do território não se pode expressar democraticamente
porque está num círculo eleitoral que elege tão pouca gente que (aliado ao
método de hondt) o seu voto só faz sentido se for voto útil. e só os eleitores
do Porto e Lisboa é que podem votar no seu partido favorito, mesmo que sendo um
partido minúsculo, porque só nesses locais elege-se gente suficiente para que
um voto num partido pequeno seja útil. Fernando Cascais: Não é só o governo, o povo
também está estragado. Cada vez existe mais gente a não querer vergar a mola e
a preferir viver de subsídios. Isto já está perdido. A esquerda ganhou o país e
já não há nada a fazer. Vaser sempre descer. JP: O segredo não está, pois, em querer um país que consiga competir com os
mais ricos, mas antes em garantir a sua miséria relativa estabilizada e
inquestionada. Um país, como o nosso, que aquilo de que mais precisa é de ricos,
fica, afinal, afectadíssimo quando os vê chegar. É que a pior coisa que fizeram
às elites da capital nos últimos anos, com a chegada de tantos estrangeiros com
capital e rendimentos, foi o facto de esse movimento demográfico lhes ter
esfregado na cara a sua mediocridade e até a sua pobreza, só disfarçada num
país onde a maioria das pessoas circula entre o remediado e o sofrido. Como
sempre, não é a ambição de melhorar a vida dos nossos mais pobres que está em
causa. Esses continuarão a viver, como sempre viveram, fora dos grandes
centros, dos subúrbios ao interior, sem transportes, sem rendimentos dignos,
sem qualidade de vida, sem perspectivas. O que está de facto em causa é
assegurar que a sofrível elite portuguesa possa continuar sem gente ao lado que
lhe destape as misérias. Desde que não tenham de ir viver para o Lavradio ou
para Mem Martins, que é de onde mandam vir as empregadas e o discurso sobre os
pobrezinhos, tanto se lhes dá. Tudo se resume
a este parágrafo. Obrigado. José Manuel Pereira: Mais um excelente artigo de
opinião. Infelizmente a nossa miséria material tem origem na imensa miséria
intelectual e moral que obnubila qualquer simples resquício de ideias, eleva a
chico espertice a dom sublime, faz da inveja negativa e destruidora de valor um
imenso valor emocional e até intelectual, cria uma total satisfação com a
mediocridade, fazendo-a parecer sofrível e por vezes sublime até... Tudo
isto, e não é pouco, traz a morte anunciada a um país que assim se foi tornando
iníquo. A actual elite não é elite, é um grupo de assalto enquanto os
deixarem lambuzar-se naquilo que é dos outros em benefício próprio. Não
estão lá com sentido de Estado e governar o país e o povo que o habita, estão
lá para se governarem a si mesmos, traindo o povo onde for necessário trair
para que eles próprios fiquem bem. Tudo isto só foi possível manter
porque os Alemães e outros do Norte Europeu nos foram pagando as contas...
Acabará, e vamos todos pagar por gerações o desmando destes boçais auto
intitulados "animais políticos". Que enorme tristeza que isto tem
sido... E parecia tão fácil fazer diferente... Agora já não sei se ainda vamos
a tempo. Lily Lx: É isto. Só discordo da parte que diz
que os estrangeiros vêm e pagam os seus impostos. Pagam muito menos de impostos
do que eu ou o autor. Jorge Almeida > Lily Lx: Limitam-se a cumprir o que está na lei. Se a lei
estabelecesse que você deveria pagar apenas 50% do que paga actualmente, iria
contestá-la? Apresentava um requerimento para ser excluído desse benefício?
Entregava a diferença ao Medina? Oferecia aos mendigos de Lisboa? Paulo Botica: lúcido como sempre Rita Salgado: Parabéns! Retrato fiel da miséria de país que temos. Carlos Real: A degradação dos serviços públicos
é por demais evidente. Simplesmente não devemos tirar a conclusão de que os
mais pobres foram totalmente mal tratados pela desgovernação chuchialista. O
facto de o salário mínimo ter subido substancialmente na era Costa faz com que
o PS tenha mais de 30% dos votos. Quem vive do turismo e da agricultura nunca
esteve tão bem na vida. Eu que vivo numa aldeia alentejana, com os vizinhos das
reformas mínimas, vejo a facilidade com que recorrem aos exames médicos, a
medicação, a cervejola e no final ainda esgotam os bolinhos na padaria. A
estagnação da nação é evidente nestas duas últimas décadas, mas as estatísticas
dos 4 milhões de pobres, escondem e muito a economia subterrânea. Não é por
acaso que eu chamo carros do povo aos Mercedes, BMW, e Audis. É o que se vê
mais, mesmo no interior dito da pobreza Manuel Chagas: Diagnóstico perfeito, parabéns!
Já encontrar a cura será mais difícil que encontrar o Santo Graal,
infelizmente. Tristão:
Portugal não
precisa de estrangeiros, todos eles: - Os ricos causam o aumento do custo de vida dos
portugueses e esfregam-nos na cara o quanto pobres somos, uma lástima. - Os pobres, para além de tirarem
o emprego aos portugueses e baixarem os salários pela concorrência que lhes
fazem, ainda criam caldos de cultura para gangs e afins aumentando a
criminalidade e insegurança. - Quantos aos turistas, pois é, são uma praga,
provocam a gentrificação urbana para além de transformarem o país numa
Disneylândia. Conclusão: fechem-se as fronteiras e voltemos ao orgulhosamente
sós … e pobres como quase sempre 😅 TIM DO Ó: É o socialismo. Nivela sempre por baixo. Os mesmos procedimentos dão sempre
os mesmos resultados. Porque o povo português gosta de copiar a Venezuela? Se
votassem por copiar a Irlanda, éramos todos ricos e não todos pobres. Manuel Cardozo: Infelizmente é isso mesmo:
incapaz de fazer com que os nossos ordenados subam o governo inventa leis para
tentar assegurar a sua sobrevivência política com o apoio do melão que de tão
maduro já está podre. O problema é que sem eleições não vamos ser capazes de
correr com eles...a menos que o mercado estoure nas suas mãos enquanto deitam
foguetes. F.
Mendes: Parabéns ao Gonçalo Poças, por
este excelente artigo! Estou totalmente de acordo com o que escreve, e da forma
como escreve. Infelizmente, o artigo resume-se assim: a nossa falta de
ambição, combinada com a tão portuguesinha inveja e o pavor das
"elites" a verem exposta a sua mediocridade e comprometidos os seus
privilégios, está a contribuir para lamentáveis resultados, crescentemente
visíveis. Não queremos acabar com os pobres, queremos acabar com os ricos. E
toca a nivelar por baixo, tendo cada vez mais gente a depender do estado.
Gostei da descrição feita sobre o circuito económico gerado a partir do
investimento imobiliário. Devia ser lido pelas nossas "elites", que
parecem ignorar princípios básicos de Economia.
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