segunda-feira, 27 de março de 2023

Reflexões de Luís Soares de Oliveira

 

Lidas sempre com prazer e admiração, por vezes corroboradas pelos seus companheiros de apreço e humor. Mas o problema da disjuntiva “OR” (NOT TO BE), não perde nunca a acuidade, ai de nós outros, definitivamente condenados, por muitas copulativas que acrescentemos ao nosso subjectivo e ansiado bolar para a frente na vida!

27/3/55

I TEXTO: De Luis Soares de Oliveira 10 h

O ERRO DE SHAKESPEARE

Caro William

To be or not to be, não está certo. To be and not to be, seria correcto.

Gostaria de concordar, mas não consigo. O que somos tem muito mais a ver com sentimentos do que com pensamento. Diria mesmo que o essencial de nós já lá está à nascença. O que o mundo nos dá - valores, ideias, princípios - são complementos. Assimilar o estranho não nos destrói; fortalece-nos.

O que nos define serão mais os nossos sonhos, o que gostaríamos de ser e menos as ideias que perfilhamos ou aceitamos. As ideias são do mundo; os desejos são nossos. As ideias são produtos do tempo e do lugar; os sonhos são inatos, não têm relação com a experiência vivida. To be é o nosso desejo; not to be é o reconhecimento de que cada um pouco ou nada pode fazer isolado.

Não se trata de um dilema. Não temos escolha. Cabe-nos, quando muito, combinar. "We are all prisioners of geography" . Soren Kierkegaard, mais profundo do que qualquer de nós, disse que "o eu é a síntese possível dos dois opostos: a liberdade e a necessidade". E porque para viver temos que abdicar da nossa liberdade, nasce em nós - todos nós - a angústia companheira infalível do nosso trânsito terreno. O desespero, em maior ou menor quantidade, vem do reconhecimento de que somos prisioneiros de circunstâncias e factores que não controlamos. Os que mais tiveram que renunciar mais desesperados ficam. O desespero é nosso, as ideias não o são. O que nos caracteriza é o desespero que carregamos. As ideia apenas definem- e decidem - os companheiros de estrada que aceitemos .

As ideias variam. Tudo vai do tempo, do modo e do lugar. Dois professos da mesma fé divergiram radicalmente no espaço de três séculos. Cristo propôs a inclusão, a abrangência; Santo Agostinho favoreceu o elitismo discriminatório. "Vive la diference". E porquê? Jesus via na abrangência a forma de fortalecer a resistência a uma ordem injusta - a de Roma; Agostinho propôs o elitismo para refazer a ordem onde ordem nenhuma existia como resultado do colapso de Roma.

Tudo vai da circunstância

II TEXTO - Luis Soares de Oliveira 5 d

PERIGO À VISTA

Alguém me pediu que identificasse os culpados da inflação e dos erros cometidos para a corrigir. Se governos, se bancos centrais? Não encontro mais o registo do inquiridor pelo que aqui a deixo a resposta. Não está nos meus hábitos procurar culpas e culpados; prefiro procurar falhas do sistema e formas de as emendar. A inflação é produto da insuficiência do actual sistema financeiro. Este ficou viciado desde a conferência de BRETTON WOODS, 1945. Bom seria se houvesse acordo quanto às emendas a introduzir no mesmo mas, como se constata todos os dias cada cabeça sua sentença. Julgo que o problema só se resolveria fora do quadro político. Seria bom se a academia do Nobel (ou mesmo o Papa) convocasse uma Conferência dos 10 mais respeitados economistas do mundo para proporem emendas a Bretton Woods à luz da experiência de quase 80 anos.

Nota: É urgente. Estamos mais perto do precipício do que parece.

COMENTÁRIOS:

António Gonçalves: Obrigado!

José Correia Guedes: O Papa??? Um jesuíta a tratar dos dinheiros do mundo?

Luis Soares de Oliveira: Não me lembrei de que ele era jesuíta.

III TEXTO: - Luis Soares de Oliveira 17 de Março às 19:12

Estou em crer que com a alta dos juros Christine assustou mais do que sossegou.

Comentários

António Gonçalves: Estimado Embaixador, será que a culpa é da senhora ou dos governantes que não sabem nada de economia. Outra questão é saber se os juros negativos durante tanto tempo não criaram uma ilusão de perca de valor da moeda ou mesmo uma situação de quebra de “moeda”? Gostava de ouvir a sua sempre lúcida opinião. Um abraço.

Francisco Henriques da Silva: Isto de imprimir moeda ou multiplicá-la digitalmente dá o resultado que sabe. A inflação não é de hoje, nem tem que ver com a guerra e os preços da energia, de há muito que sabia que ela vinha a caminho. O pior é que ninguém sabe travá-la com medidas adequadas… Mas creio que tudo isto são verdades de Lá Palice. Aturem-nos!

Luis Soares de Oliveira: Meu caro Henriques da Silva. Finalmente consegui alongar a marcha até à Bertrand e já tenho as suas Memórias. Já vi que não ficou com boas recordações do Rilvas. Voltarei. Abraço LSO

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