Ou antes, as nossas guerras. Menos perfumadas
do que as de «Alecrim e da Mangerona», do
nosso Judeu, mas servindo também para a gozação, que é o que gostamos de
fazer, em termos de armas.
A Guerra da Cebola
Perdido no caos da TAP, incapaz de
repor a normalidade no SNS, na CP e nas escolas públicas, o Governo declarou a
Guerra da Cebola. É dos livros: quando os governos falham a culpa é dos
merceeiros.
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 12
mar. 2023, 00:22146
Menos
de um mês depois de ter denunciado a infame
conspiração dos senhorios que aumentam
as rendas e dos proprietários das casas devolutas, o Governo enfrenta agora a
terrível conspiração
dos merceeiros. A 9 de
Março de 2023, o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e o
dirigente da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, deram
conta ao país da descoberta da conspiração dos merceeiros: “Foram inspecionados 960
operadores económicos […] e instauramos 51 processos-crime por especulação” — explicaram. Não fosse alguém começar a fazer contas
de cabeça e concluir que 51 processos-crime por especulação em 960 operadores
económicos é uma proporção que não justifica o insólito daquela comunicação ao
país, vem de lá aquele facto que só o Ultimatum inglês
ultrapassou em afronta à quietude da Nação, para o efeito da indignação
devidamente maiúsculada: foram detectadas margens de lucro superiores a 50% na
cebola!
Que dizer, senhores?! Margens de
lucro superiores a 50% na cebola? (Já agora será em todas as variedades de
cebola? E em quantos supermercados?)
Como se pode viver num país em que dez ou vinte supermercados têm uma margem de
lucro superior a 50% na cebola? Nem que fosse uma só mercearia! Uma
margem de lucro superior a 50% na cebola é como a Pátria: não se discute. E
assim a 9 de Março de 2023 começou a Guerra da Cebola.
A
Guerra da Cebola, como qualquer cebolada, que se preze inclui outros produtos:
óleo, dourada, conservas de atum, açúcar, azeite, couve coração (porquê
senhores couve coração e não repolho?), ovos, laranjas, cenouras e febras de
porco. Em todos estes produtos foi detectada a pressão dos especuladores. (No
caso dos ovos e da carne de porco a pressão deve vir mais da decisão de alguns
países de abaterem galinhas e porcos aos milhares para dessa forma serem
contidas a gripe aviária e
a peste suína africana.) Contudo
foram as margens superiores a 50% nas cebolas que nos fizeram perceber a
dimensão da terrível conspiração dos merceeiros. Note-se que o senhor ministro e o senhor
inspector-geral não têm a certeza que os preços cobrados sejam injustificados
mas por via das dúvidas 38 brigadas da ASAE vão pelo país fora verificar o que
está a acontecer e, com galhardia,
garantiu o senhor ministro da Economia: “Vamos ser inflexíveis para com
todas as situações anómalas que possam ocorrer”.
Oh
senhor ministro da Economia, e ao que parece também do Mar, não se fique pelas
situações anómalas no que respeita às cebolas, óleo, dourada, conservas de
atum, açúcar, azeite, couve coração mais os ovos, as laranjas, cenouras e as
febras de porco. Vossa Excelência merece mais que ser Condestável da Guerra da
Cebola. Pelas almas atire-se ao país. Vá Vossa Excelência ser inflexível com as
situações anómalas nas escolas públicas. Não as situações anómalas que possam
ocorrer mas sim as que estão a ocorrer agora mesmo. Não há um dia, senhor ministro,
em que centenas de situações anómalas não aconteçam nas escolas. Aliás o
anómalo tornou-se de tal forma regra que anómalo é as aulas acontecerem sem
interrupções. E para que os alunos não se desabituem do anómalo já foram
anunciadas mais greves até ao fim do ano lectivo. Portanto, no intervalo da
Guerra da Cebola, vá Vossa Excelência tratar das anomalias nas escolas
públicas. E claro também no SNS. Quer o senhor ministro melhor lugar para ser
inflexível com a anomalia que as urgências hospitalares de funcionamento
intermitente ou os centros de saúde com fila à porta desde as seis da manhã? Se
não for muito pedir, também temos a CP onde anómalos são os dias em que os
comboios andam, mais a TAP, onde a cada caso queremos acreditar que tudo
o que de anómalo podia ocorrer já ocorreu até que um novo caso nos prova que
pode ser pior, ou seja ainda mais anómalo…
Incapaz
de administrar o país e cercado pelas corporações da máquina estatal que fez
crescer para comprar o poder, o Governo inventa inimigos. A Guerra da Cebola
tal como a Guerra dos Senhorios não são episódios ridículos. São sim o reflexo
de um Governo a lutar pela sua sobrevivência.
GOVERNO POLÍTICA PREÇOS ECONOMIA CONSUMO ASAE PAÍS
COMENTÁRIOS (de 146)
Luís Abrantes: Para um povo
de gente mansa… qualquer guerra serve… o Kostas bate o putine aos pontos… Laurentino
Cerdeira: Excelente!
Maria Odete Coutinho: Simplesmente sublime!! José Fernandes: Já toda a gente percebeu, que a partir do momento em
que o PSD descolar de forma sustentada do PS, este governo tem a sentença de
morte anunciada. Até lá, está ligado ás máquinas pelo dr Celito. E enquanto não
desligam a ficha, sonha com "cenas bué de esquerda", qual Berloque,
qual pzp. Filipe
Costa: A 50% de margem abatam logo 23% para o
estado. Ou mais, há impostos para tudo. Liberales Semper
Erexitque > Filipe Costa: Não
vá por aí, pois as cebolas estão sujeitas a IVA de 6%. A margem bruta é
100*(valor de venda ao público - valor de compra ao fornecedor)/valor de venda
ao público, valores esses líquidos de IVA. Liberales Semper
Erexitque: A grande chatice disto tudo é que eu
gosto de cebolas. Se o Kostas fizer uma Guerra das Cebolas, ainda fico a ver
nabos. Peste de sujeito! Rui
António: Magnífico artigo, parabéns. Mas olhe
que resulta. Ainda na sexta feira estive a almoçar com 3 amigos (2 empresários
e 1 licenciado ) e todos eles estavam indignados com margens brutas de 50% nas
cebolas e 45% nas febras. Mesmo depois de eu lhes explicar que nestas margens
ter-se-ão que deduzir todas as despesas inerentes (ordenados, maquinarias,
impostos, etc… ) não os consegui demover a esta “ Socialidaridade “ com este
Governo que está a punir estes aproveitadores da desgraça dos outros… Enfim…
temos o que merecemos, não todos mas temos… Filipe Costa: A 50% de margem abatam logo 23% para o estado. Ou
mais, há impostos para tudo.Manuel Manuel
Fernandes: o governo (?) é ridicularizado na Cebola da Helena Matos e o PR é
gozado na TV Marcelo do Miguel Pinheiro o regime está a afogar-se no pântano de
Guterres onde o Kosta se afunda sem perceber. O ruído da agonia está nas ruas
cheias de profs aos gritos (com os alunos em casa) e nas sirenes das
ambulâncias que passeiam os doentes 200 km à procura de um hospital aberto
antes de eles morrerem. O estertor da morte do regime está nos casos e casinhos
de corrupção, clientelismo, nepotismo e vigarice que emporcalham ministros,
secretários e por aí a fora, até aos presidentes das juntas de freguesias,
quase sempre do partido que manda. Se é esta a "estabilidade" que o
Marcelo aprecia e tanto defende é porque dela faz parte integrante. Ou por
vontade própria ou por obediência forçada. pedro dragone: Quando se comenta numa lógica tribal
(uma voz do radical Passismo a atacar o radical Costismo), umas vezes
acerta-se, noutras, como é o caso, sai asneira. A inflação nos produtos
alimentares na Europa anda entre os 16 e 19%, mas em Portugal está 5 a 6 pontos
acima disso, porquê? Os custos de produção em Portugal são maiores que no resto
da Europa? São?!!! Ou os produtores e distribuidores (vulgo merceeiros) andam a
"encher a mula" com margens acima do que é razoável à custa das
carteiras dos consumidores? É preciso apurar. E que tem de apurar? O Governo,
este ou outro que fosse, e as autoridades competentes, quem havia de ser? Eu,
como consumidor, quero saber se "ando a ser comido" quando compro
bens alimentares. Tenho maior inflação nos preços destes bens que os restantes
cidadãos Europeus porquê? Quero saber e quero que haja "mocada
valente" em cima de quem anda abusar, se for o caso. É isso que é feito
noutros países, não se faz aqui porquê? Bom, mas parece que há quem goste de "ser
comido" por merceeiros de charuto e cartola (antiganente usavam boina e
lápis na orelha) só para arranjarem munições contra a tribo política
adversária. Mas enfim, há gostos para tudo... PS: a Dra Cláudia Azevedo vai
presentear a cronista com uma boa palete de cebolas, produção nacional,
qualidade super plus, daquels que não faz chorar nem deixa cheiro...
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