segunda-feira, 13 de março de 2023

OUR WAR


Ou antes, as nossas guerras. Menos perfumadas do que as de «Alecrim e da Mangerona», do nosso Judeu, mas servindo também para a gozação, que é o que gostamos de fazer, em termos de armas.

A Guerra da Cebola

Perdido no caos da TAP, incapaz de repor a normalidade no SNS, na CP e nas escolas públicas, o Governo declarou a Guerra da Cebola. É dos livros: quando os governos falham a culpa é dos merceeiros.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 12 mar. 2023, 00:22146

Menos de um mês depois de ter denunciado a infame conspiração dos senhorios que aumentam as rendas e dos proprietários das casas devolutas, o Governo enfrenta agora a terrível conspiração dos merceeiros. A 9 de Março de 2023, o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e o dirigente da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, deram conta ao país da descoberta da conspiração dos merceeiros: “Foram inspecionados 960 operadores económicos […] e instauramos 51 processos-crime por especulação — explicaram. Não fosse alguém começar a fazer contas de cabeça e concluir que 51 processos-crime por especulação em 960 operadores económicos é uma proporção que não justifica o insólito daquela comunicação ao país, vem de lá aquele facto que só o Ultimatum inglês ultrapassou em afronta à quietude da Nação, para o efeito da indignação devidamente maiúsculada: foram detectadas margens de lucro superiores a 50% na cebola!

Que dizer, senhores?! Margens de lucro superiores a 50% na cebola? (Já agora será em todas as variedades de cebola? E em quantos supermercados?) Como se pode viver num país em que dez ou vinte supermercados têm uma margem de lucro superior a 50% na cebola? Nem que fosse uma só mercearia! Uma margem de lucro superior a 50% na cebola é como a Pátria: não se discute. E assim a 9 de Março de 2023 começou a Guerra da Cebola.

A Guerra da Cebola, como qualquer cebolada, que se preze inclui outros produtos: óleo, dourada, conservas de atum, açúcar, azeite, couve coração (porquê senhores couve coração e não repolho?), ovos, laranjas, cenouras e febras de porco. Em todos estes produtos foi detectada a pressão dos especuladores. (No caso dos ovos e da carne de porco a pressão deve vir mais da decisão de alguns países de abaterem galinhas e porcos aos milhares para dessa forma serem contidas  a gripe aviária e a peste suína africana.) Contudo foram as margens superiores a 50% nas cebolas que nos fizeram perceber a dimensão da terrível conspiração dos merceeiros. Note-se que o senhor ministro e o senhor inspector-geral não têm a certeza que os preços cobrados sejam injustificados mas por via das dúvidas 38 brigadas da ASAE vão pelo país fora verificar o que está a acontecer e, com galhardia, garantiu o senhor ministro da Economia: “Vamos ser inflexíveis para com todas as situações anómalas que possam ocorrer”.

Oh senhor ministro da Economia, e ao que parece também do Mar, não se fique pelas situações anómalas no que respeita às cebolas, óleo, dourada, conservas de atum, açúcar, azeite, couve coração mais os ovos, as laranjas, cenouras e as febras de porco. Vossa Excelência merece mais que ser Condestável da Guerra da Cebola. Pelas almas atire-se ao país. Vá Vossa Excelência ser inflexível com as situações anómalas nas escolas públicas. Não as situações anómalas que possam ocorrer mas sim as que estão a ocorrer agora mesmo. Não há um dia, senhor ministro, em que centenas de situações anómalas não aconteçam nas escolas. Aliás o anómalo tornou-se de tal forma regra que anómalo é as aulas acontecerem sem interrupções. E para que os alunos não se desabituem do anómalo já foram anunciadas mais greves até ao fim do ano lectivo. Portanto, no intervalo da Guerra da Cebola, vá Vossa Excelência tratar das anomalias nas escolas públicas. E claro também no SNS. Quer o senhor ministro melhor lugar para ser inflexível com a anomalia que as urgências hospitalares de funcionamento intermitente ou os centros de saúde com fila à porta desde as seis da manhã? Se não for muito pedir, também temos a CP onde anómalos são os dias em que os comboios andam,  mais a TAP, onde a cada caso queremos acreditar que tudo o que de anómalo podia ocorrer já ocorreu até que um novo caso nos prova que pode ser pior, ou seja ainda mais anómalo…

Incapaz de administrar o país e cercado pelas corporações da máquina estatal que fez crescer para comprar o poder, o Governo inventa inimigos. A Guerra da Cebola tal como a Guerra dos Senhorios não são episódios ridículos. São sim o reflexo de um Governo a lutar pela sua sobrevivência.

GOVERNO    POLÍTICA    PREÇOS    ECONOMIA    CONSUMO    ASAE    PAÍS

COMENTÁRIOS (de 146)

Luís Abrantes: Para um povo de gente mansa… qualquer guerra serve… o Kostas bate o putine aos pontos… Laurentino Cerdeira: Excelente!                    Maria Odete Coutinho: Simplesmente sublime!!                José Fernandes: Já toda a gente percebeu, que a partir do momento em que o PSD descolar de forma sustentada do PS, este governo tem a sentença de morte anunciada. Até lá, está ligado ás máquinas pelo dr Celito. E enquanto não desligam a ficha, sonha com "cenas bué de esquerda", qual Berloque, qual pzp.          Filipe Costa: A 50% de margem abatam logo 23% para o estado. Ou mais, há impostos para tudo.           Liberales Semper Erexitque > Filipe Costa: Não vá por aí, pois as cebolas estão sujeitas a IVA de 6%. A margem bruta é 100*(valor de venda ao público - valor de compra ao fornecedor)/valor de venda ao público, valores esses líquidos de IVA.              Liberales Semper Erexitque: A grande chatice disto tudo é que eu gosto de cebolas. Se o Kostas fizer uma Guerra das Cebolas, ainda fico a ver nabos. Peste de sujeito!            Rui António: Magnífico artigo, parabéns. Mas olhe que resulta. Ainda na sexta feira estive a almoçar com 3 amigos (2 empresários e 1 licenciado ) e todos eles estavam indignados com margens brutas de 50% nas cebolas e 45% nas febras. Mesmo depois de eu lhes explicar que nestas margens ter-se-ão que deduzir todas as despesas inerentes (ordenados, maquinarias, impostos, etc… ) não os consegui demover a esta “ Socialidaridade “ com este Governo que está a punir estes aproveitadores da desgraça dos outros… Enfim… temos o que merecemos, não todos mas temos                Filipe Costa: A 50% de margem abatam logo 23% para o estado. Ou mais, há impostos para tudo. Manuel Manuel Fernandes: o governo (?) é ridicularizado na Cebola da Helena Matos e o PR é gozado na TV Marcelo do Miguel Pinheiro o regime está a afogar-se no pântano de Guterres onde o Kosta se afunda sem perceber. O ruído da agonia está nas ruas cheias de profs aos gritos (com os alunos em casa) e nas sirenes das ambulâncias que passeiam os doentes 200 km à procura de um hospital aberto antes de eles morrerem. O estertor da morte do regime está nos casos e casinhos de corrupção, clientelismo, nepotismo e vigarice que emporcalham ministros, secretários e por aí a fora, até aos presidentes das juntas de freguesias, quase sempre do partido que manda. Se é esta a "estabilidade" que o Marcelo aprecia e tanto defende é porque dela faz parte integrante. Ou por vontade própria ou por obediência forçada.                          pedro dragone: Quando se comenta numa lógica tribal (uma voz do radical Passismo a atacar o radical Costismo), umas vezes acerta-se, noutras, como é o caso, sai asneira. A inflação nos produtos alimentares na Europa anda entre os 16 e 19%, mas em Portugal está 5 a 6 pontos acima disso, porquê? Os custos de produção em Portugal são maiores que no resto da Europa? São?!!! Ou os produtores e distribuidores (vulgo merceeiros) andam a "encher a mula" com margens acima do que é razoável à custa das carteiras dos consumidores? É preciso apurar. E que tem de apurar? O Governo, este ou outro que fosse, e as autoridades competentes, quem havia de ser? Eu, como consumidor, quero saber se "ando a ser comido" quando compro bens alimentares. Tenho maior inflação nos preços destes bens que os restantes cidadãos Europeus porquê? Quero saber e quero que haja "mocada valente" em cima de quem anda abusar, se for o caso. É isso que é feito noutros países, não se faz aqui porquê? Bom, mas parece que há quem goste de "ser comido" por merceeiros de charuto e cartola (antiganente usavam boina e lápis na orelha) só para arranjarem munições contra a tribo política adversária. Mas enfim, há gostos para tudo... PS: a Dra Cláudia Azevedo vai presentear a cronista com uma boa palete de cebolas, produção nacional, qualidade super plus, daquels que não faz chorar nem deixa cheiro...              

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