segunda-feira, 13 de março de 2023

O saber não ocupa lugar


Nós temos uma sabedoria estrutural, proveniente não do estudo das ciências e das normas, mas de um modus vivendi impregnado da tal esperteza saloia – ou “de Olhão” feita de ambição pessoal e de intrujice natural que nos colocam no centro das próprias ambições, apesar de uma tal de fraternidade especulativa de pura comédia para inglês ver. Mas sim, primeiro eu, e segundo e terceiro também… para dono imediato das quintas… quintarolas que sejam, pois tudo o que vem à rede é peixe…

«QUINTAS & QUINTAROLAS», Ld

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 12.03.23

Qual é a essência do nosso subdesenvolvimento em relação aos povos além-Pirenéus?

Sem querer plagiar Antero de Quental (nem sequer me inspirando no ensaio intitulado «Causas da decadência dos povos ibéricos» por ele apresentado nas «Conferências do Casino» que nunca li com interesse suficiente para reter algo de relevante), tenho por causadoras desse atraso relativo à opacidade dos mercados e à iliteracia generalizada da nossa população.

* * *

E não vou repisar o que já afirmei várias vezes em textos anteriores pelo que me fico pelas respectivas conclusões:

Num mercado oligopsónio não será fácil provar a concertação de preços de compra, mas será bem mais difícil negá-la;

No reino da iliteracia, quem soletra é rei.

* * * *

Preços feitos por quem compra e vendedores desorganizados são terreno fértil para os neo marquesatos que entre si repartem o feudo e dividem os servos da sua gleba.

Os Marqueses republicanos são merceeiros, os que encaixam as mercês de quem lhes bate à porta.

O feudo adopta a denominação comercial de «Quintas & Quintarolas», Ldª e a culpa da inflação é do outro que ninguém identifica.

…quem tem olho…

Como seria bom que na governação houvesse alguém que soubesse alguma coisa sobre transparência de mercados e sobre a lógica do método de formação dos preços. Bastaria um trimestre para pôr ordem no «feudo». Mas…

Março de 2023

Henrique Salles da Fonseca

Tags: economia

COMENTÁRIOS:

Anónimo 12.03.2023 19:04: Ao nosso crescimento do PIB acima da média europeia (descurando a comparação com os países que interessam) acresce a infelicidade de a nossa inflação também ser superior àquela média. Culpados? Tu, Henrique, apontas seriamente algumas pistas. Eu vou fazê-lo ironicamente, pois pode ser que seja aproveitado pela propaganda de quem esteja carente de encontrar explicação e “bodes expiatórios”. Creio que já aqui contei que no tempo da Ditadura Militar do Brasil, talvez por 1965 ou 66, o legume chuchu, que fazia parte do cabaz de compras que media a inflação, e no qual tinha, evidentemente, um peso mínimo, registou um incremento percentual substancial. Logo a Ditadura veio explicar que o aumento da inflação naquele período tinha sido culpa do chuchu. Claro que isso não escapou à ironia do cantor Juca Chaves que nos deliciou em Económicas com a respetiva balada. Nunca mais me esqueci do chuchu e da inflação. Mas a Ditadura Militar foi uma fonte de inspiração de propaganda. Basta ir ao Google e escrever “inflação na ditadura brasileira” e aparecem vários vídeos governamentais, um dos quais culpa os consumidores pela inflação, já que estes não se abstêm de comprar produtos enquanto estes estão caros. Aconselha o locutor a substituí-los por outros, até que os primeiros baixem de preço. O exemplo escolhido foi o tomate, o qual poderia ser substituído por calda ou… por pepino. Terminando com um ar sério e “colando-me” ao teu post: Num mercado retalhista de produtos alimentares e de primeira necessidade controlado por meia dúzia de cadeias de supermercados (algumas marcas até pertencem ao mesmo proprietário, o que restringe ainda mais esse número) será difícil perceber o que se está a passar e actuar correspondentemente? Ainda ontem, alguém me dizia que era gritante a diferença de preços para certos produtos nas grandes superfícies e nos produtores que os vendiam em “mercados” aos consumidores finais (alguma diferença tem de existir, obviamente, mas que não seja “gritante”). Abraço. Carlos Traguelho


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