Nós temos uma sabedoria estrutural, proveniente não do estudo das ciências
e das normas, mas de um modus vivendi impregnado da tal esperteza saloia – ou “de
Olhão” feita de ambição pessoal e de intrujice natural que nos colocam no
centro das próprias ambições, apesar de uma tal de fraternidade especulativa de
pura comédia para inglês ver. Mas sim, primeiro eu, e segundo e terceiro também…
para dono imediato das quintas… quintarolas que sejam, pois tudo o que vem à
rede é peixe…
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 12.03.23
Qual é a essência do nosso
subdesenvolvimento em relação aos povos além-Pirenéus?
Sem querer plagiar Antero de
Quental (nem sequer me inspirando no ensaio intitulado «Causas da decadência
dos povos ibéricos» por ele apresentado nas «Conferências do Casino» que nunca
li com interesse suficiente para reter algo de relevante), tenho por causadoras
desse atraso relativo à opacidade dos mercados e à iliteracia generalizada
da nossa população.
* * *
E não vou repisar o que já
afirmei várias vezes em textos anteriores pelo que me fico pelas respectivas
conclusões:
Num mercado oligopsónio não
será fácil provar a concertação de preços de compra, mas será bem mais difícil
negá-la;
No reino da iliteracia, quem
soletra é rei.
* * * *
Preços feitos por quem compra
e vendedores desorganizados são terreno fértil para os neo marquesatos que
entre si repartem o feudo e dividem os servos da sua gleba.
Os Marqueses republicanos são
merceeiros, os que encaixam as mercês de quem lhes bate à porta.
O feudo adopta a denominação
comercial de «Quintas & Quintarolas», Ldª e a culpa da inflação é do outro
que ninguém identifica.
…quem tem olho…
Como seria bom que na
governação houvesse alguém que soubesse alguma coisa sobre transparência de
mercados e sobre a lógica do método de formação dos preços. Bastaria um
trimestre para pôr ordem no «feudo». Mas…
Março de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Tags: economia
COMENTÁRIOS:
Anónimo 12.03.2023 19:04: Ao nosso crescimento do PIB acima da média europeia (descurando
a comparação com os países que interessam) acresce a infelicidade de a nossa
inflação também ser superior àquela média. Culpados? Tu, Henrique, apontas
seriamente algumas pistas. Eu vou fazê-lo ironicamente, pois pode ser que seja
aproveitado pela propaganda de quem esteja carente de encontrar explicação e
“bodes expiatórios”. Creio que já aqui contei que no tempo da Ditadura Militar
do Brasil, talvez por 1965 ou 66, o legume chuchu, que fazia parte do cabaz
de compras que media a inflação, e no qual tinha, evidentemente, um peso
mínimo, registou um incremento percentual substancial. Logo a Ditadura
veio explicar que o aumento da inflação naquele período tinha sido culpa do
chuchu. Claro que isso não escapou à ironia do cantor Juca Chaves
que nos deliciou em Económicas com a respetiva balada. Nunca mais me esqueci do
chuchu e da inflação. Mas a Ditadura Militar foi uma fonte de inspiração de
propaganda. Basta ir ao Google e escrever “inflação
na ditadura brasileira” e aparecem vários vídeos governamentais, um dos
quais culpa os consumidores pela inflação, já que estes não se abstêm de
comprar produtos enquanto estes estão caros. Aconselha o locutor a substituí-los
por outros, até que os primeiros baixem de preço. O exemplo escolhido foi o
tomate, o qual poderia ser substituído por calda ou… por pepino. Terminando
com um ar sério e “colando-me” ao teu post: Num mercado retalhista de
produtos alimentares e de primeira necessidade controlado por meia dúzia de
cadeias de supermercados (algumas marcas até pertencem ao mesmo proprietário, o
que restringe ainda mais esse número) será difícil perceber o que se está a
passar e actuar correspondentemente? Ainda
ontem, alguém me dizia que era gritante a diferença de preços para certos
produtos nas grandes superfícies e nos produtores que os vendiam em “mercados”
aos consumidores finais (alguma diferença tem de existir, obviamente, mas que
não seja “gritante”). Abraço. Carlos Traguelho
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