segunda-feira, 27 de março de 2023

E a selva humana progride


Os lobos arreganhando os dentes entre si, desprezando o resto da bicharada, submissa e quantas vezes bem mais digna, numa valentia colidindo com o sofisma de uma falsa intenção reconciliatória, apenas perversa, como essa da visita chinesa de cortesia afectuosa à Rússia, olho posto em si própria e visando outras paragens…

China

Relações entre a China e os EUA em desgaste acelerado

Desde o início do ano, uma sucessão de episódios tem degradado ainda mais o relacionamento entre as duas potências. Taiwan é o ponto fundamental onde a tensão se acumula.

JOÃO RUELA RIBEIRO

PÚBLICO, 3 de Março de 2023, 21:00

Foto: Joe Biden encontrou-se com Xi Jinping em Novembro, na Indonésia Reuters/KEVIN LAMARQUE

Ao fim de um ano de invasão russa na Ucrânia, o papel da China no conflito europeu passou a estar subitamente no centro de um escrutínio maior. Para já, o resultado é uma degradação acelerada das relações entre Washington e Pequim, de que a guerra parece ser apenas mais um capítulo.

A reunião anual do Congresso Nacional do Povo, uma data marcante no calendário político do Partido Comunista Chinês, acontece numa altura em que a rivalidade estratégica entre a China e os EUA parece estar a intensificar-se a vários níveis. Desde o início do ano, foram várias as arenas de desentendimento entre as duas potências.

O episódio mais recente é também a repetição de um dos mais comuns. Na quinta-feira, o Ministério da Defesa de Taiwan disse ter detectado 29 aeronaves e quatro navios chineses em violação do seu espaço aéreo e das suas águas territoriais, respectivamente, em apenas 24 horas.

Ao todo, durante a semana inteira, o Exército do Povo chinês enviou 68 aviões e dez navios para as proximidades da ilha reivindicada por Pequim em resposta ao sobrevoo de um avião de reconhecimento norte-americano pelo Estreito de Taiwan, segundo o South China Morning Post.

A ilha que o regime de Xi Jinping ambiciona fazer regressar à China, e que os EUA prometeram defender em caso de ataque, é o grande foco de tensão entre Washington e Pequim, mas a rivalidade das duas potências estende-se praticamente a todo o globo.

Guerra e balões

A apresentação da posição oficial da China para a resolução da “crise ucraniana” – expressão utilizada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês para enquadrar a invasão – na semana passada foi recebida com fortes críticas em Washington. Ao longo do primeiro ano da ofensiva russa sobre a Ucrânia, a China tentou manter-se afastada das discussões, trilhando um equilíbrio complexo.

Se, por um lado, teve de regular um nível de apoio suficiente para que a Rússia não ficasse totalmente isolada internacionalmente, por outro, esse suporte não poderia interferir com a ambição de Pequim em apresentar-se como uma das poucas potências mundiais não comprometidas com um dos lados em confronto.

O plano chinês simboliza essa difícil tarefa de fazer uma quadratura do círculo. Talvez por isso o documento seja tão parco em oferecer soluções concretas para que seja alcançada uma solução para o conflito, como o que fazer em relação aos territórios anexados, ao estatuto geopolítico da Ucrânia ou à presença de forças militares russas no país vizinho.

“A guerra na Ucrânia teve um papel crucial na deterioração das relações entre a China e a Europa”, disse ao Financial Times o professor da Universidade Tecnológica de Nanyang em Singapura Li Mingjiang. “Agora eles querem fazer alguma coisa para contrariar isso”, acrescentou.

Sem condenar abertamente a invasão, a China defende a integridade territorial e a soberania das partes envolvidas, mas não deixa de criticar o “fortalecimento” e a “expansão dos blocos militares”. A publicação da posição chinesa, dias depois de o chefe da diplomacia da China, Wang Yi, ter visitado Moscovo, onde foi reafirmada a “amizade sem limites” entre os dois países, foi recebida friamente em Washington e nas capitais europeias.

A Administração de Joe Biden tem vindo a aumentar a pressão sobre a China, não deixando passar um dia sem recordar que o fornecimento de armamento letal à Rússia será encarado com gravidade.

Antes, a destruição de um balão que sobrevoava os EUA suspeito de estar a espiar para a China, a que se sucederam outros episódios idênticos nos dias seguintes, já tinha contribuído para aumentar o mal-estar entre Washington e Pequim. O resultado mais patente foi o adiamento da visita do secretário de Estado, Antony Blinken, à China.

Em Washington, a percepção do risco representado pela ascensão da China parece ser um dos poucos temas que une democratas e republicanos. Esta semana, reuniu-se pela primeira vez uma comissão do Congresso que ao longo dos próximos meses se vai debruçar em exclusivo sobre os desafios que a competição com Pequim traz aos EUA.

“Não se trata de um jogo amigável de ténis – isto é um combate existencial sobre como será a vida no século XXI, e as liberdades mais fundamentais estão em jogo”, disse o presidente da comissão, o republicano Mike Gallagher, citado pela Reuters, na abertura dos trabalhos. No mesmo dia, uma outra comissão aprovou um pacote de sanções económicas que visam dirigentes e entidades ligadas ao PCC.

COMENTÁRIOS:

  vinha2100 Troll-chaser Experiente: O Ocidente acordou tarde mas acordou para a ameaça global da ditadura chinesa à paz no mundo. Provavelmente na sua estratégia de longo prazo, a China tinha-se esquecido que poderia enfrentar um adversário à altura. Sendo que a maioria de países à volta da China desconfia desta de forma visceral, e por boas razões com fundamento histórico.                     Jorge Fernandes.904027 Iniciante : "29 aeronaves e quatro navios chineses em violação do seu espaço aéreo e das suas águas territoriais"-O autor do artigo desconhece claramente que Taiwan não tem espaço aéreo nem águas territoriais, porque para começar nem sequer é um país independente e soberano. Como a ONU já reconheceu, desde 1971, através da sua resolução 2758, a única entidade soberana na região é a PRC(People's Republic of China). E a ONU não mudou a sua posição desde então. Até os EUA oficialmente reconhecem apenas "uma China". Assim, toda essa retórica sobre "Taiwan independente ou soberano" é só propaganda enganosa para induzir em erro os cidadãos incautos. E todo esse apoio militar e político mais não é do que ingerência na política interna da China e uma provocação descarada. Com que fim? Criar mais uma Ucrânia ?                    José Manuel Martins Moderador: as liberdades fundamentais em jogo é acabarem com o pio aos fascistas trumpianos que tomaram conta do partido republicano.                   Dois Palmos a Frente  Experiente: Fique bem assente. Os EUA não defendem a independência de Taiwan, mas os EUA e os seus aliados, actualmente também a NATO, não irão deixar a China invadir ou tomar Taiwan à força. Também os EUA e os seus aliados, também a NATO, não deixarão a China fechar o acesso marítimo de todo um mar. Por mais ilhas artificiais que a China construa ou, como militarmente são conhecidas estas ilhas, Porta Aviões estatísticos. Portanto, não são os EUA que se estão a afastar da China. São todos os países do Mundo Livre que se estão a afastar.                 VivaViriato Experiente: E a Europa tem estado sempre a nanar e a prejudicar-se, quer com as interferências da China quer dos EUA , potências de que está muito dependente e a quem entrega os lucros das actividades económicas e muitos poderes. A China no nosso País tem participações em todos os sectores estruturais da economia e as gigantes digitais dos EUA estão dominar todos os sectores e dados da economia e dos serviços públicos do País e da Europa. Lembram-se do caso das vacinas em que a Europa se viu negra para as obter, mesmo pagando antecipadamente?                Carlos Diogo Moderador: A Europa continua acima de tudo refém de si própria. É necessário prosseguir na integração económica, criando empresas europeias , bancos europeus , empresas de telecomunicações europeias e não só empresas nacionais que no mundo de hoje são cada vez mais pequenas . A economia europeia tem de ser forte no seu todo , não apenas seguir a economia alemã ou francesa. Só assim poderá ser influente no panorama mundial      Margarida Gomes  Moderador: Concordo com a visão do Carlos para a UE.                   ALRB Influente: Quando uma superpotência hegemónica se sente ameaçada por outra potência desafiante há, historicamente, uma grande probabilidade de haver guerra. Por exemplo, foi assim no caso da primeira guerra mundial quando a Alemanha estava a ultrapassar em toda a linha a potência hegemónica da altura (a Inglaterra). E eram ambas europeias e com a mesma matriz civilizacional. Neste caso estão em causa não só duas potências como duas civilizações. Como não há vazios de poder e o ser humano é um primata...                    Carlos Diogo Moderador: Não se trata apenas de um confronto de potências, trata-se de um confronto de valores. Há muita diferença entre poder escrever a sua opinião livremente no jornal, manifestar na rua um possível descontentamento ou ser preso ou morto por o fazer.                          ALRB Influente: Se quiser pode considerar aquilo que refere no que eu chamaria âmbito civilizacional. No entanto, pode ter a certeza que, quer o Xi, quer o Biden se estão olimpicamente borrifando para se no outro país se pode escrever a opinião ou não. Esse, e outros temas (religião, por exemplo), são usados simplesmente para arregimentar as populações para o confronto, eventualmente para a guerra. Mas o que está em causa é a disputa hegemónica e respetivas mais valias.                     ALRB Influente: Carlos Diogo, transcrevo a teoria sobre como ser um bom faraó: a missão do faraó é zelar pela manutenção da ordem perfeita do mundo, estabelecida no momento da sua criação. Para tanto, o soberano deve combater as forças da desordem, procurando, em particular, ampliar ou consolidar as fronteiras do país contra as ambições dos povos vizinhos. O controlo dos territórios adjacentes assegura o influxo de riquezas que permitem ao faraó alimentar o seu povo e construir templos bem providos de oferendas, estátuas e mobiliário precioso. Entre os faraós, aqueles que se destacaram como guerreiros e construtores foram também os que gozaram de uma mais longa posteridade, como Senuseret I, Senuseret III, Tutmés III e Ramsés II. Dantes era à mocada, agora é com bombas nucleares. O resto é poesia.                        Maria-Ceratioidei Moderador: Aqui estão dois a decidir o futuro de 8 mil milhões. É perverso.                  José Manuel Martins Moderador: é, é perverso que não sejam esses oito milhões a decidir o seu futuro. Eu, que não sou americano nem chinês, estou. O erro do artigo é dramatizar o jogo mundial em 'duas superpotências', o que é falso: estamos todos a jogar esse jogo. E pouco importa se 'estamos com os eua' ou se são os eua que estão connosco. Sabemos onde estamos. E onde estão os outros, quem eles são, e sempre foram: comunas, fachos e ditadores. 04.03.2023

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