segunda-feira, 6 de março de 2023

PPC


Por José Manuel Fernandes. Enviado por email. Só desejo que não fique cortado o texto.

Um texto excelente, sobre uma personagem excelente que tem a obrigação de se sacrificar

pelo país, a que em tempos deu dignidade.

Quem tem medo do fantasma de Pedro Passos Coelho?

José Manuel Fernandes, Observador Newsletters@observador.pto

 

domingo, 5/03, 08:52 (há 15 horas)

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Pedro Passos Coelho não está na vida política, mas não desapareceu. Basta verificarmos o burburinho que se levanta e as especulações que se multiplicam sempre que reaparece, mesmo quando isso acontece num jantar privado, como sucedeu esta semana. Vale a pena tentar perceber porquê e se com algum fundamento.

Na passada segunda-feira estive entre as cerca de 200 pessoas que se juntaram no Grémio Literário, em Lisboa, para o jantar número 500 de uma curiosa associação de jovens chamada Senado. Dez anos, 500 jantares, por regra todos em casa de um dos membros da associação (ou dos pais dele, como quase sempre sucedeu, pois são mesmo muito jovens), e ali estavam eles mais alguns dos convidados desses jantares (eu fora convidado num dos primeiros, ainda em 2015). Desta vez haveria mais palestras, cabendo a primeira a Pedro Passos Coelho e a de encerramento, já depois do jantar, a Marcelo Rebelo de Sousa.

Sem ser propriamente um evento aberto à comunicação social, como havia muitos jornalistas na sala o que foi dito nessa noite acabou por alimentar notícias (como estas do Expresso, primeiro sobre o evento em si, depois sobre o que Marcelo pensou do evento, a seguir sobre o destino de Passos Coelho) e não faltaram especulações e comentários.

Se querem que vos diga estas especulações e comentários são mais reveladoras do que aquilo que se passou naquela noite no Grémio Literário. Pedro Passos Coelho não deu, na intervenção que fez, nenhum sinal diferente daqueles que tem dado nos últimos anos – primeiro, que está afastado e continuará afastado da política, pelo que tem evitado comentar a actualidade; segundo, que não é dono do futuro e, por isso, não fecha nenhuma porta.

Tem sido sempre assim. Para além de algumas intervenções muito pontuais sobre temas que o sensibilizaram especialmente – recordo em especial os três artigos que escreveu no Observador, dois sobre a lei da eutanásia e um sobre a não recondução de Joana Marques Vidal como PGR –, faz aparições fugazes, como a da última Festa do Pontal, ou então também comparece em lançamentos de livros (esteve, por exemplo, no lançamento de O Governador, o livro de Luís Rosa sobre Carlos Costa, o ex-governador do Banco de Portugal), ou então participa mesmo em livros, como ao ter escrito o prefácio de Diplomacia em Tempo de Troika,do embaixador Luís de Almeida Sampaio. Por regra foge a prestar declarações e o que diz pouco vai além de notas de circunstância, sendo que o anúncio de que “não há nenhuma razão para dizer que nunca mais na vida faço coisa nenhuma” até já fora feito, mas à saída de uma sessão com estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa que decorreu, também ela, à porta fechada.

Será que desta vez foi diferente? Eu diria que só foi porque na sala estava também Marcelo Rebelo de Sousa e é conhecido o gosto que ele tem por “factos políticos”. Creio que foi mesmo essa sua sempre ágil imaginação que o levou a ver numa passagem da intervenção de Pedro Passos Coelho sobre o futuro da Europa – mais exactamente numa frase pessimista sobre a possibilidade de vir a formar-se uma união orçamental e de dívida, algo que atirou para as calendas gregas: “não a teremos nos anos mais próximos e não o antecipo no horizonte da minha vida política e pessoal” – um sinal suficiente para “marcar” aquele dia nas agendas.

Vamos lá ser directos e francos.

No dia em que Passos Coelho disse que não fechava porta nenhuma ao seu futuro fui eu que moderei o debate com os estudantes de Medicina e percebi porque é que ele quis – impôs mesmo – que fosse à porta fechada: foi porque quis falar à vontade, mostrando estar muito a par da situação do SNS e até dos pormenores da lei que acabava de criar o CEO do SNS, sendo muito crítico dessa solução. Ou seja, quis falar da actualidade sem ser citado, como sucedeu, e eu não direi mais do que aquilo que já é conhecido, que é pouco, sobre tudo o que foi dito nessa sessão.

Já no dia do Grémio calhou-me ficar, ao jantar, na mesa de Pedro Passos Coelho, e garanto-vos que a conversa andou por muitos sítios, mas não por cenários de regresso à vida política activa. Falou-se do PSD, é verdade, mas falou-se porque Passos esteve a recordar alguns dos primeiros conselhos nacionais em que participou, tinha na altura 16 anos, nomeadamente o conselho nacional onde foi decidido que seria Francisco Balsemão a suceder a Francisco Sá Carneiro. Contou episódios curiosos, foi divertido, mas só isso, mais nada.

Sobre o seu possível regresso à vida política activa aquilo que vou sabendo, até por falar com pessoas que mantêm com ele grande proximidade, é que se tem alguma coisa planeada, o que planeou guarda para si. E mesmo aquilo que recentemente a Sábado revelou – que leva uma vida nova e pacata, que o que ganha pelas aulas que dá na universidade não é nada de especial e que dedica muita atenção à educação da filha – não é novidade para quem, como eu, foi tratando de saber por onde ele andava, nomeadamente depois da morte de Laura, a mulher. “Nem faz planos nem diz nunca”, escrevia-se na Sábado, e penso que certeiramente.

Sendo assim, porque regressa ciclicamente o tema do seu regresso à vida política? Porque é que uns o tratam depreciativamente como uma espécie de “dom sebastião da direita” e outros não escondem que o olham como “o desejado”?

A meu ver a explicação é simples e já evidente em algumas sondagens, nomeadamente as que o colocam como o preferido dos portugueses para Belém: Passos Coelho não só mantém um enorme capital político, como o tempo tem feito crescer esse capital político, até pelo evidente contraste entre aquilo que fez e aquilo que a actual maioria não fez.

Recentemente, numa rede social, encontrei uma frase que de alguma forma traduz o estado de espírito de um número crescente de portugueses: “O PS veio requalificar a ferrovia e agora não há comboios. Veio salvar o SNS e os directores das urgências demitem-se em bloco. Veio apaixonar-se pela educação e há alunos sem aulas. Veio apostar na habitação e há cada vez mais pessoas sem casa! Se o PS se lembra de querer salvar o País isto afunda de vez!”Bem sei que agora Costa já uma equipa de 15 pessoas a espalhar “boas notícias” nas redes, bem sei que agora vamos a assistir a cada vez mais reuniões “descentralizadas” do Conselho de Ministros para “mostrar as obras do PRR”, mas tudo isso não chega para afastar a sensação de que esta governação não resolveu os problemas, antes os agravou, sensação a que se acrescenta a percepção de que até Pedro Passos Coelho teve uma vitória póstuma ao ver o executivo celebrar uma descida do peso da dívida pública – a mesma dívida que muitos no PS achavam que não era para pagar.

É tudo isto que vai fazendo com que Pedro Passos Coelho vá cumprindo o velho ditado “depois de mim virá quem de bom mim fará”. Até adversários encarniçados, como um Daniel Oliveira que ainda está preocupado com não querer “debater pela enésima vez se foi o PS que trouxe a troika” (quem foi afinal, se era o PS que governava?), admitem que com este Governo, o seu discurso e os seus falhanços, o “ogre” pode ter espaço para regressar.

Não creio contudo que isso esteja para acontecer no curto ou mesmo no médio prazo, seja para tentar voltar a São Bento, seja para tentar chegar a Belém. É certo que Passos continua atento, muito atento mesmo, à actualidade, é certo que das poucas vezes que interveio o fez de forma muito assertiva, é certo também que assusta a esquerda e cria arrepios em Belém, onde um dia se lança a ideia do seu regresso e no dia seguinte se espeta uma farpa por causa do seu alegado pessimismo – mas nada disto transforma Passos num D. Sebastião do PSD, no bom ou no mau sentido, e julgo que ele é o primeiro a sabê-lo.

Isto apesar de às vezes mesmo quem se julga informado sobre o que esta maioria não faz – é o meu caso – acabar surpreendido com a dimensão real dessa ineficiência. Foi o que me aconteceu ao ler o último texto de Margarida Bentes Penedo onde ela recorda que, na última década, o Estado construiu em Lisboa, por ano, apenas 17 casas de promoção pública, quando na década de 1970 construiu 1.055 casas, na década de 1980, 982 casas por ano, na década de 1190, 1.151 casas, e de 2000 a 2010, uma média de 991 casas por ano. Estas 17 casas/ano em Lisboa são responsabilidade directa de António Costa presidente da câmara e de António Costa primeiro-ministro. É capaz de ser difícil encontrar números mais eloquentes sobre a distância que vai entre as promessas de Costa e as realizações de Costa, mas já não digo nada, pois com estes socialistas  pior é sempre possível.

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