Sobre hipotética
liderança de Pedro Passos Coelho. Para uma restauração a
sério do país. Sonhos!
▲"Pelo
menos as pessoas sabem o que Pedro Passos Coelho representa e o que quer para o
país", defende Vasco Rato
JORGE
AMARAL
Vasco Rato: "Seria vantajoso para o
PSD ter alguém como Passos como líder"
Texto de INÊS ANDRÉ
FIGUEIREDO, MIGUEL SANTOS CARRAPATOSO, MIGUEL
VITERBO DIAS E RITA TAVARES
Em entrevista ao Observador, Vasco
Rato, antigo dirigente do PSD, defende legado de Passos, lamenta mau arranque
de Montenegro, desvaloriza Moedas e critica Marcelo, que acusa de enfraquecer o
partido
OBSERVADOR, 10
mar. 2023, 16:563
Luís Montenegro “não tem sido bem
sucedido” até ao momento, Marcelo Rebelo de Sousa é o grande responsável pelo
facto de o país não “ter particular interesse naquilo que o PSD tem para dizer
à sociedade” e Pedro Passos Coelho continua a ser a grande referência à direita
porque, ao contrário de outros líderes, “as pessoas sabem o que representa e o
que quer para o país”. “Mas o PSD não pode estar constantemente a olhar para
Passos. Não tem o direito de pedir esse tipo de sacrifício”, sublinha Vasco
Rato.
Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, o antigo dirigente do PSD, apoiante de sempre de Pedro Passos Coelho e ex-presidente da FLAD, não esconde o desânimo com o rumo que o país vai seguindo e com a ausência de alternativa oferecida pelos sociais-democratas. “O PSD e Luís Montenegro têm uma coisa a fazer: preparar uma alternativa para apresentar ao país. Já deveriam ter começado a fazê-lo. O PSD tem de estar pronto a ir a eleições a qualquer momento”, antecipa.
Falando sobre Pedro
Passos Coelho, que começou a ser apontado como possível cabeça de
lista do PSD às europeias, Vasco Rato diz preferir não acreditar que alguém na
direção do partido esteja a tentar tirar o antigo primeiro-ministro do caminho
de Luís Montenegro. “Espero que não estejam a fazer isso. Acho que Passos
Coelho traz apoio e prestígio ao PSD. Soma, não diminui. Não vejo necessidade
de afastar seja quem for”, diz.
Muito
crítico da actuação de Marcelo Rebelo de Sousa, sugerindo que “o Presidente da
República tem contribuído para enfraquecer todas as lideranças do PSD” desde
que assumiu o cargo, VASCO RATO não deixa também de se referir com alguma acidez a Carlos Moedas,
presidente da Câmara Municipal de Lisboa e apontando com insistência à
liderança do partido. “Não tenho dado muito pelo trabalho [de Carlos Moedas].
Avaliação? Nem boa, nem má, não tenho ligado a esse assunto. Tenho andado
ocupado com outros assuntos”, corta.
Ainda sobre futuro, no caso o futuro do
próprio PSD, o antigo dirigente social-democrata deixa um aviso à navegação: “Por este caminho, nem sei se o partido
tem futuro. Os partidos têm futuro quando vão ao encontro dos problemas dos
portugueses. Ou o PSD vai a esse encontro e dá aos portugueses uma alternativa
e soluções ou deixa de ter futuro”.
“Montenegro não tem sido bem sucedido até ao
momento”
É inevitável começar pela
entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa. Não lhe vamos pedir que comente as
críticas ao Governo, presumindo que concorde com elas, mas antes que avalie as
observações do Presidente da República sobre a inexistência de um PSD suficientemente
forte para liderar uma maioria de direita. Concorda? Luís Montenegro está a
desiludi-lo? Não sei a qual entrevista se refere. O Presidente
Marcelo Rebelo de Sousa dá uma entrevista praticamente todos os dias. Portanto,
li uma hoje [sexta-feira] no Público, não sei se é essa. No essencial, volta a
dizer aquilo que tem vindo a afirmar nos últimos anos. O Professor Marcelo
Rebelo de Sousa não vê de facto o PSD como alternativa. Se calhar, a menos que
fosse ele a liderar o partido, não vê ninguém capaz de o fazer.
Marcelo não consegue admitir
outro cenário que não ser o próprio a conduzir o partido nos bastidores? Não sei o
que consegue admitir ou não. Sei que tem contribuído para enfraquecer todas as
lideranças do PSD desde que assumiu a Presidência da República. Parece-me
evidente.
Mas centrando em Luís
Montenegro. Está a desiludir enquanto líder do PSD? A mim não
me desilude. Acho que está a tentar construir um caminho, uma alternativa, mas
parece-me evidente que não tem sido bem sucedido até ao momento.
Em que sentido? O país
não está a demonstrar interesse particular naquilo que o PSD tem para dizer à
sociedade portuguesa. Isso é notório. E não digo isto como crítica a Luís
Montenegro — isto verificou-se também durante a liderança de Rui Rio. Acho que
há aqui um problema que já começa a ser demasiado frequente, independentemente
das lideranças, que é uma descolagem do país em relação ao PSD. Não
atribuo culpas específicas a Luís Montenegro. Aliás, atribuo uma maior parte da
culpa a Marcelo Rebelo de Sousa.
De todo modo, acredita que Luís
Montenegro vai conseguir aguentar-se na liderança do PSD até às próximas
legislativas? Não sabemos quando são as próximas legislativas.
Vamos centrar no cenário mais
provável: se a legislatura for até ao fim, Luís Montenegro, que tem umas
eleições europeias muito difíceis pelo caminho, conseguirá manter-se líder do
PSD? Não sei se o prazo normal é esse. Com a desagregação
do Governo, e perante algumas declarações do Presidente da República, não
excluiria daqui a um ano e pouco estarmos em eleições. Independentemente do timing concreto das eleições, parece-me muito claro que o
PSD e Luís Montenegro têm uma coisa a fazer: preparar uma alternativa para
apresentar ao país. Já deveriam ter começado a fazê-lo. O PSD tem de estar
pronto a ir a eleições a qualquer momento, tem de ter um conjunto de ideias,
linhas-mestras sobre o futuro do país capazes de mobilizar a sociedade
portuguesa. "Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído para
enfraquecer todas as lideranças do PSD desde que assumiu a Presidência da
República. Parece-me evidente" “Passos Coelho é o líder político mais bem
colocado à direita”
Tem-se falado com muita
insistência de um eventual regresso de Pedro Passos Coelho. Seria vantajoso
para o PSD voltar a ter Passos como líder do partido? Seria
vantajoso para o PSD ter alguém como Passos Coelho como líder, com tudo o que
já fez pelo país, pelo partido e pela direita. Agora, o PSD não pode estar
constantemente e permanentemente a olhar para Passos Coelho. Sobretudo, não tem
o direito de pedir esse tipo de sacrifício.
Conhece bem Pedro Passos
Coelho. Acredita genuinamente que o antigo primeiro-ministro tem condições para
voltar e vencer umas eleições legislativas? Apesar de ter vencido por duas vezes,
Passos deixou o partido já com um enorme desgaste e com um resultado desastroso
em autárquicas; os eleitores já ultrapassaram essa imagem? Acho que
é um pouco excessivo atribuir o resultado de eleições autárquicas a um líder.
Olhemos então para o quadro
mais geral. Pedro Passos Coelho teria condições em termos de imagem para voltar
a disputar uma candidatura a São Bento? As sondagens parecem indicar isso
mesmo. À direita, Pedro Passos Coelho é o líder político mais bem colocado.
Reúne o maior consenso à direita. Se há uma pessoa capaz de federar a direita,
é Passos Coelho. Se quer fazê-lo ou não, terá de lhe perguntar. Agora, que
Passos Coelho é pessoa mais bem situada e a referência da direita. Se não
fosse, não haveria este interesse todo.
Mas isso também não é um
sintoma evidente de que o PSD está numa crise profunda? Não há mais ninguém
capaz além de Passos? Também não acho isso desejável. Por isso é que acho
que o PSD tem de começar a definir rapidamente o que quer para o país. Penso
genuinamente que esse é o problema: os partidos, de uma forma geral, não estão
a analisar o país, as complexidades do país e desenvolver respostas. Andamos
todos aqui a fazer de conta.
E no entretanto Pedro Passos
Coelho é apontado a vários cargos. Sabe porquê? Porque
pelo menos as pessoas sabem o que Pedro Passos Coelho representa e o que quer
para o país.
Não sabem o que Montenegro
representa? Ainda não sabem bem o que representa. Parece-me não
controverso. Tenho algum receio porque depois parece logo que estou a criticar.
Não estou a criticar; estou a constatar. Parece-me relativamente óbvio. Admito
que na cabeça da liderança do PSD existam tempos diferentes. Se calhar pensam
que daqui a seis meses, um ano, é que devem apresentar algumas dessas ideias.
Discordo. As ideias têm de ser apresentadas já. O país está desesperar por
ideias. Temos um primeiro-ministro que não as traz e nunca trouxe. O país está
à deriva. Era bom que os partidos à direita chegassem a uma convergência
programática para afastar o PS. Se não conseguem fazer isso, não sei o que
andam aqui a fazer.
Mas sobre esta sugestão de Passos
Coelho poder ser cabeça de lista às europeias. Entende que alguém da direção do
PSD está a tentar tirar Passos Coelho do caminho de Luís Montenegro? Não faço
ideia nenhuma. Estou fora da direção do partido.
É um espectador atento ao que se
vai passando no PSD Espero que não estejam a fazer isso. Acho que
Passos Coelho traz apoio e prestígio ao PSD. Soma, não diminui. Não vejo
necessidade de afastar seja quem for.
Podendo estar próxima uma mudança
de ciclo político, o fim de 10 nos de poder socialista, entende que Pedro
Passos Coelho pode ser melhor candidato a primeiro-ministro do que Luís
Montenegro? Não acho que as personalidades sejam o problema
principal. Neste momento, o Luís Montenegro é candidato a primeiro-ministro. É
isso que significa ser presidente do PSD. Um candidato a primeiro-ministro tem
que ter ideias muito claras para o país e é isso que se espera, não daqui a
dois, seis ou oito meses. O país quer saber quais são essas ideias. "As
pessoas ainda não sabem bem o que Montenegro representa. Não estou a criticar;
estou a constatar. Admito que na cabeça da liderança do PSD existam tempos
diferentes. “Tirar PS do poder é mais importante que cerca sanitária ao Chega”
Uma das posições que não está
clara por parte da direção do PSD é a questão do Chega e o que fará depois das
eleições legislativas, se juntos formarem uma maioria. Esse tabu que o PSD está
a alimentar parece-lhe um atitude inteligente? Não me
parece. Era útil que existisse alguma clareza sobre como é que o PSD vê os
outros partidos. Isto não significa que se deva ir a eleições com o Chega, a
Iniciativa Liberal ou qualquer outro partido. Cada um irá com as suas próprias
listas.
Mas há um questão essencial: qual
é o principal objetivo estratégico dos partidos à direita do PS? Se o
objetivo é tirar o PS do poder, isso é mais importante do que estes tabus e
estas cercas sanitárias. Parte do problema com este tabu é saber qual é que é a
prioridade. Se o PSD e os demais partidos à direita acham que o PS levou o país
a um beco sem saída, o objetivo primeiro é tirar o PS do Governo. Nenhum
partido à direita o vai fazer sozinho, isto é relativamente claro.
Sente-se confortável em ver o PSD
coligado com o partido liderado por André Ventura?
Mais
confortável com esse tipo de situação do que com a continuação do PS no poder
por mais cinco ou dez anos. Há uma análise partilhada por muitos de que foi
precisamente o risco percecionado de uma eventual coligação do PSD com Chega
que contribuiu de forma significativa para a maioria absoluta do PS.
Assumir essa possível aliança não seria
um tiro no pé para o PSD? Não
porque nunca se fez. Não sei por que é que as pessoas dizem isso, não há dados,
mas mesmo que fosse verdade há dois ou três anos não me parece que assim seja
no futuro. Não tenho nada essa convicção.
Não lhe causa qualquer urticária
que o PSD se junte a um partido que diz o que diz sobre determinadas
comunidades, que tem as propostas que tem em matéria de imigração, que defenda
abertamente a castração química… Uma aliança com um partido destes não
beliscaria o património do PSD? Não é disso que estamos a falar. Estamos a falar de um
programa comum, eventualmente. O cenário é o de um eventual programa de governo
onde as coisas são negociadas. Há umas que são aceitáveis e outras que não. A
premissa de que um programa de governo teria a castração química é falsa. Um
programa de governo é negociado pelas partes.
Mas André Ventura já disse que
não abdica de muitas das bandeiras do Chega. Estas bandeiras não beliscam o
património do PSD? De
algumas terá de abdicar porque há bandeiras que são simplesmente inaceitáveis
para o PSD. Como imagino que haverá bandeiras da IL e do PSD que são
inaceitáveis para o Chega. É esse trabalho que terá de ser feito.
O Chega não é uma linha vermelha,
mas algumas das ideias do Chega são? Por que é
que há de ser uma linha vermelha? É evidente que o Chega tem posições nas quais
não me revejo, mas essas posições têm de ser concertadas e terão de ser
abandonadas antes de um qualquer programa de governo, outras não, naturalmente.
O Chega não irá para o governo com todas as suas propostas a menos que tenha
uma maioria absoluta, que não me parece provável. "Se
o objetivo é tirar o PS do poder, isso é mais importante do que estes tabus e
estas cercas sanitárias. Parte do problema com este tabu é saber qual é que é a
prioridade. Se o PSD e os demais partidos à direita acham que o PS levou o país
a um beco sem saída, o objetivo primeiro é tirar o PS do Governo. Nenhum
partido à direita o vai fazer sozinho, isto é relativamente claro".
“Trabalho de Moedas? Não
tenho dado muito por isso”
Vê alguém em condições de vir
a lutar pela liderança do PSD no futuro? Fala-se muito de Carlos Moedas.
Faz uma boa avaliação do mandato
do presidente da Câmara Municipal de Lisboa? Nem boa
nem má, não tenho ligado a esse assunto.
Não tem ligado ao assunto Carlos
Moedas na Câmara Municipal de Lisboa? Não,
tenho andado ocupado com outras coisas.
Noto um tom crítico em relação ao
antigo comissário europeu. Não, não
é. É uma constatação. Não tenho dado muito por isso.
Acha que o futuro do partido não
passará por Carlos Moedas? Não sei. Por este caminho, nem sei se
o partido tem futuro. Os partidos têm futuro quando vão ao encontro dos
problemas dos portugueses. Ou o PSD vai a esse encontro e dá aos portugueses
uma alternativa e soluções ou deixa de ter futuro, como outros partidos
deixaram de ter futuro.
Acha que existe o risco real de o
PSD se transformar num partido médio? Acho e
acho que em larga medida já o é porque Rui Rio levou o PSD a ser um
partido médio com a sua estratégia dos últimos anos. Não quero que se entenda o
que estou a dizer como críticas a Montenegro, talvez sejam mais críticas à
forma como o partido foi conduzido nos últimos anos. Acho que essa situação tem
de ser invertida, caso contrário o PSD deixa de ser relevante. Começa a haver
um problema com a marca.
“Melo? Preferia
comer um hamburguer com Ventura”
Vamos ao nosso segmento carne ou
peixe, onde só pode escolher uma de duas opções. Preferia descer o Chiado ao
lado do candidato presidencial Luís Marques Mendes ou Paulo Portas? Ao lado
de Winston Churchill, mas como isso não é possível… Marques Mendes.
Com quem voltaria a viajar até à
Geórgia: Luís Montenegro ou Carlos Moedas? Luís
Montenegro.
Quem levaria a comer um
hambúrguer no Five Guys: André Ventura ou Nuno Melo?
André Ventura porque não conheço pessoalmente.
Quem levaria a Alvalade: Joe
Biden ou Donald Trump? Nem um nem outro. Acho que não compreendem bem as
regras do jogo.
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