Outros mais dados surgirão, não tarda aí.
Era um país muito engraçado, não tinha governo...
...não tinha administração, não tinha nada. Quando
alguém questionar a preparação dos futuros candidatos a PM ou PR lembremo-nos
de como Costa e Marcelo fizeram de Portugal o nº zero da Rua dos Bobos.
HELENA MATOS Colunista do Observador OBSERVADOR, 19
mar. 2023, 02:10132
Segunda-feira, 13 de Março. Sabe-se que o Estado tem quatro mil prédios
devolutos. Sim, o governo que pretende fazer de ocupa das casas dos privados
não consegue sequer gerir o seu património. A estas casas devolutas do Estado
há que juntar os andares construídos para habitação mas em que por esse país
fora estão instalados serviços públicos, gabinetes estatais e municipais,
comissões e institutos. Também se fica a saber que os
sindicatos de professores anunciaram greve às avaliações finais. Ninguém
questiona o impacto destas greves nas aprendizagens. Desde o ano lectivo
2019-2020 que os alunos portugueses não conhecem um ano escolar que decorra de
forma normal. A clivagem entre o ensino público e
o privado acentua-se cada vez mais pois se durante a pandemia já foram
evidentes as fragilidades da escola pública, agora a contínua instabilidade
laboral está a fazer dela um espaço murado de ocupação dos tempos livres. Mais
grave ainda, os alunos que estão a acabar os quatro anos do que era a antiga
escola primária vão sair com lacunas de aprendizagem que não são compensadas
nos anos seguintes porque a formação dos professores e das aulas são
completamente diferentes. Escusamos de querer tapar o sol com a peneira: não
vai ficar tudo bem para estas crianças.
Estava
dado o mote para uma semana em que o absurdo gerado pela
incompetência foi tal que os versos da canção de Vinicius sobre o nº zero da
Rua dos Bobos parecia uma profecia para Portugal em 2023: “Era uma casa
muito engraçada. Não tinha tecto, não tinha nada”
Terça-feira, 14 de Março. De segunda para terça o Correio da Manhã revela que,
dois dias antes, no sábado, os marinheiros do navio patrulha Mondego não
embarcaram numa missão porque, dizem, o navio Mondego mete água. O navio russo que deviam vigiar levou uma piada
para contar. O país esse ficou a ver passar cenas saídas do PREC — “Primeiro fazem-se plenários, depois é que se cumprem
as ordens!” explicava o almirante Pinheiro de Azevedo em Novembro de 1975
para dar conta do estado anómalo da tropa portuguesa. Como não podia deixar de ser, de imediato se passou
para o passatempo preferido da Pátria: a discussão do que diz Marcelo
presidente versus o protagonista do momento que, no caso, é Gouveia e Melo,
possível candidato a PR. Nem uma palavra sobre a degradação das Forças Armadas.
O que aconteceu no navio patrulha Mondego, para lá de um problema
militar, é também o resultado da patranhologia do Ronaldo das Finanças, de seu
nome Mário Centeno. Orçamento a orçamento inscreveram-se nos OE despesas
que não se executavam mas que permitiram ao primeiro-ministro fazer de
optimista, ao PR fazer de ponto do PM e ao país mediático anunciar o virar da
página da austeridade. Entretanto, atrás dos holofotes, o país esboroava-se. Como o interior do navio patrulha
Mondego. Hoje Portugal é uma espécie de navio patrulha Mondego com uma parte da
guarnição em protesto, a outra a tentar cumprir as ordens, enquanto tudo vai
falhando por falta de manutenção: “Ninguém podia entrar nela, não. Porque na casa não
tinha chão“.
Quarta-feira 15 de Março. Sabe-se que cerca de 15 mil audiências e
diligências foram adiadas devido à greve do Sindicato dos Funcionários
Judiciais (SFJ), que já dura há um mês e se vai prolongar por mais trinta dias,
ou seja até 16 de Abril. Naquele
mesmo dia também se soube que o Ministério Público pedia
nulidade do acórdão da Relação sobre Tancos na parte dos metadados, uma anulação que vem acompanhada de outras anulações
em crimes ainda mais perturbantes: Acórdão de Metadados obrigou a
anulação de casos de pornografia infantil. Por outras palavras, a greve dos funcionários
judiciais está a atrasar a já muito atrasada justiça mas a incapacidade
revestida de arrogância de António Costa e da sua então ministra da Justiça
Francisca Van Dunem ao terem ignorado os avisos para as incongruências da
legislação sobre os metadados em Portugal gerou um problema bem maior.
No XII Congresso dos Juízes Portugueses, que por ironia está a ter
lugar na Madeira, onde está fundeado o navio patrulha Mondego, o presidente da
Associação Sindical dos Juízes Portugueses alertava para o caso Sócrates (sem
nunca dizer o nome do antigo PM) e para os alçapões da lei: é possível interpor 20 incidentes de recusa de juiz
num mesmo tribunal, apenas porque se pode pagar as custas judiciais inerentes.
“Isto é apenas uma manobra processual para levar o processo para a prescrição
enquanto depois a pessoa que está nesse processo vai poder continuar a dar
entrevistas a dizer que foi vítima da lentidão da justiça. Isto assim parece
uma brincadeira, não é?”
A
linha que divide a brincadeira da tragédia é curta e na política ainda é menor.
Portanto é melhor que perguntemos antes que essa linha se esbata: José Sócrates vai ser julgado ou não? Responder sim ou não a esta pergunta não é apenas uma
questão de justiça mas também, e muito particularmente, de regime: “Ninguém podia dormir na rede. Porque na casa não tinha
parede.”
Quinta-feira 16 de Março. Transtejo compra barcos que não
navegam. “É como comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma
bicicleta sem pedais” argumenta o Tribunal de Contas. Quando se pensava que
depois do caso TAP não poderia haver pior, eis que temos o caso dos dez barcos
para a Transtejo, nove dos quais não podem navegar. Tudo começa torto quando num
arrebatamentos descarbonífero o Governo resolveu ter um gesto inédito e comprar
embarcações eléctricas para a travessia do Tejo. O pior é que a
compra das baterias foi tão mal negociada que a Transtejo não pode comprar as
baterias à empresa que as fabrica, tendo sim de adquiri-las ao fabricante dos
barcos que por sua vez as compra ao fabricante. Agora temos dez barcos dos
quais só um tem baterias. Ah, já me esquecia, os comboios continuam em greve: “Ninguém podia fazer pipi. Porque penico não tinha ali”
Sexta-feira 17 de Março. Dia
de greve da função pública. No estado em que a administração pública e o sector
empresarial do Estado se encontram, notícia seria se não tivessem feito greve.
Ou que fazendo greve não escolhiam fazê-la à sexta-feira.
A máquina do Estado tornou-se um
monstro descontrolado: o SNS sacou de uma caixa de lápis-de-cor e pinta os dias
da semana a azul, rosa, amarelo e verde. Cruzando a cor com a hora do dia, mais
o dia de semana, fica a saber-se qual a urgência a que se pode ir. Caso se
consiga acertar com a dita urgência e esta estiver cheia a culpa é nossa que
não temos literacia para saber usar o SNS.
Já
a TAP, que era vital ser nacionalizada para
virarmos a página (realmente
virámos mas foi para um livro de terror!) destaca-se,
não pela excelência do seu trabalho, mas sim pela forma como torra o dinheiro
dos contribuintes portugueses, e por estar a desenvolver uma nova área de
negócio: o despedimento na hora da CEO; as indemnizações aprovadas por
ministros via whatsapp e o governo que não sabe nem responde: “Mas era feita com muito esmero. Na Rua dos Bobos,
número zero”
Sábado
18 de Março. Quando
parecia que nada mais nos ia surpreender, ainda a digerir os marinheiros que
não embarcam porque o navio mete água, os barcos que não navegam porque não têm
motor, os professores que não ensinam porque estão em luta e os oficiais de
justiça que não diligenciam porque não têm carreira ou se têm não é aquela que
acreditaram ter durante os anos da geringonça, eis que ficámos a saber que por esse país fora os carros patrulha da
PSP não andam. Têm motor e pneus mas
faltam-lhes peças e manutenção, logo encostam. Por sorte que ainda
não chegaram os preços tabelados às cebolas, pois se assim fosse os agentes
teriam de ir a pé meter ordem nas filas de espera para a distribuição das
cebolas vendidas pelo preço tabelado.
Tanta incapacidade e desnorte por parte
do Governo surpreende e assusta. Quando dentro de algum tempo começarmos a
ouvir questionar a preparação dos futuros candidatos a PM ou PR, lembremo-nos
de como o preparadíssimo e experiente Costa, a par do super inteligente
Marcelo, fizeram de Portugal o nº zero da Rua dos Bobos.
PAÍS ANTÓNIO COSTA
POLÍTICA PRESIDENTE
MARCELO
COMENTÁRIO (de 132):
João Diogo: Que crónica fabulosa, o retrato impiedoso
deste país.
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