Na SIC: A Nuno Rogeiro
e José Milhazes: Momento de
distensão. Assim o é igualmente a leitura do texto de Diogo
Quintela. Só que o cavalo russo não é de madeira, directo ao assunto
que foi e continua, sem bojos de esconderijo, apoiado pelos da esquerda unida daqui,
que jamais será vencida nos seus sentimentos de adoração, na distância física da
respectiva conveniência.
Entretanto, a Guerra continua, a Finlândia a precaver-se já, segundo a leitura do directo...
I -Em direto/ EUA ameaçam
China com sanções por apoio à Rússia
22:32 Rússia conta com mais
combatentes em Bakhmut mas sofre mais baixas, diz Kiev
21:45 Finlândia inicia reforço da
fronteira com a Rússia com barreira de 200 quilómetros
21:26 Agência de energia da ONU
preocupada com a situação na central de Zaporíjia
20:21 Rússia conta com mais
combatentes em Bakhmut mas sofre mais baixas, diz Kiev
17:54 Rússia cria brigadas de
agitação e propaganda para elevar moral das tropas
II - Eu tive um cavalo de Tróia russo
Não é uma invasão, é uma vaga
migratória. Os russos entram na Ucrânia em busca de melhores condições para as
suas famílias, apenas com a farda que trazem no corpo e uma
AK47 a tiracolo.
JOSÉ DIOGO QUINTELA Colunista do
Observador
OBSERVADOR,28
fev. 2023, 00:1937
O
aniversário da guerra da Ucrânia e o anúncio de que Marcelo Rebelo de Sousa vai
condecorar Zelensky foram pretexto para novos comunicados do PCP. “Novos”
que é como quem diz “o mesmo que os comunistas andam a reemitir desde o
primeiro dia da invasão russa”, com ligeiras mudanças daquelas que os
alunos calões fazem quando copiam trabalhos dos colegas. Ler uma dessas
declarações é como começar um romance pelo 2º capítulo. Temos a
impressão que nos falta qualquer coisa para perceber a história toda. O PCP
critica sempre a resposta belicista dos ucranianos, mas nunca refere a pergunta
que lhes foi colocada. A única pergunta que interessa ao PCP é a posta por
Paula Santos, na AR: “Para onde nos querem empurrar com mais confrontação e guerra, com o
alimentar do conflito com armas com cada vez maior capacidade de destruição?
Sabendo que o prolongamento da guerra causará ainda mais perda de vidas
humanas, mais sofrimento, maior destruição”. Que é forma
tribunícia do típico discurso de violador: “Se não
resistires isto dói menos e acaba mais depressa”. Quem diz que os agressores não pensam no bem-estar
das vítimas? Ouvir Paula Santos no púlpito faz-me recordar aquele fado que
começa: “Eu sou um cavalo de Tróia russo”. Santos seria muito convincente a
cantá-lo, se bem que estou curioso para ver como venderia a parte “que se
chamava Gingão”. A robótica ainda não evolui ao ponto de autómatos comunistas
terem ginga.
Para
o PCP, a responsabilidade da guerra reparte-se entre ucranianos e russos. Parece aquele pai que separa dois irmãos à luta e
que, perante os protestos de ambos de que “a culpa foi dele”, assenta um sopapo
em cada um. Só que, neste caso, um irmão tem mais 30 cm e 50 kg do que o outro,
além do hábito maçador de agredir toda a gente.
Ao
contrário da opinião geral, não considero que a posição do PCP, de condenar o
agredido e desculpar o agressor, seja totalmente descabelada. Baseia-se é numa
percepção diferente da realidade, a que toda a gente tem direito. Vejamos, uma
das acusações do PCP é que Zelensky e os ucranianos são xenófobos. Daí a
relutância dos comunistas em admitir que se trata de uma invasão da Rússia à
Ucrânia. Para eles, aquilo não é uma invasão, é uma vaga
migratória. Os russos entram na Ucrânia em busca
de melhores condições para as suas famílias, apenas com a farda que trazem no
corpo e uma AK47 a tiracolo, e são repelidos pelos egoístas ucranianos, que se
recusam partilhar o seu espectacular nível de vida.
Tenho
de reconhecer que é um argumento válido. Embora não isento de incoerências. Por
exemplo, o PCP critica os ucranianos que querem expulsar russos do seu país
ao mesmo tempo que apoia a posição de quem acha que há turistas a mais em
Lisboa e no Porto. Mas é uma incoerência pequenina. É perfeitamente razoável
considerar que o barulho de malas com rodinhas arrastadas em calçada portuguesa
incomoda mais a vizinhança do que o som de mísseis a rebentar um quarteirão
inteiro. Até porque nesses bairros lisboetas vive gente que é afectada
pelo ruído, enquanto nas cidades ucranianas já não sobra ninguém para se
queixar do estrondo. Além de que um fim-de-semana de turismo intensivo deixa a
cidade de pantanas. Os mísseis ao menos pulverizam tudo. Depois, basta aspirar.
Lá está, é uma incoerência que não belisca o inabalável edifício
ideológico dos comunistas. Como se
comprova, por exemplo, quando o PCP vocifera contra a escalada. Só no
comunicado de dia 23 critica
cinco escaladas: a escalada de confrontação, a escalada armamentista, a
escalada contra a Rússia, a escalada belicista e a escalada de agravamento do
conflito. Ora, se há coisa que os comunistas
sempre censuraram foi a escalada. Eu lembro-me bem do tempo em o PCP
aplaudia quando a Stasi abatia quem tentava escalar o muro de Berlim. A
escalada mal chegava ao metro e meio e pumba!, tiro no alpinista. Para
escaladas não contem com o PCP.
(Curiosamente, nessa época, o problema não era tanto a xenofobia,
era a xenofilia de quem, no Ocidente, queria receber os estrangeiros que fugiam
do Bloco de Leste).
Como sempre, o PCP é alvo fácil de
ataques. Ainda agora, criticou-se o partido por ter faltado ao minuto de
silêncio pela Ucrânia. É mera vontade de embirrar. Querem ainda mais silêncio
dos comunistas? O que é que interessa mais minuto, menos minuto, se há meses
que andam caladinhos que nem ratos a compactuar com Putin?
Outro
recente caso de anti-comunismo deu-se quando, a propósito do pacote de habitação
do Governo, Luís Montenegro chamou “comunista” a António Costa. É uma tremenda
injustiça. Eu, se fosse comunista, sentir-me-ia profundamente injuriado. Costa
comunista? Não podia estar mais longe.
Apontem
um líder de governo comunista que alguma vez tenha ido à televisão, perante uma
jornalista de um órgão não estatal, explicar medidas que ainda irão entrar em
fase de discussão antes de serem aplicadas, expondo-se a ser publicamente
gozado por toda a gente, da oposição à sociedade civil, e arriscando a não
reeleição nas próximas legislativas. Não conseguem, pois não?
PCP POLÍTICA GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA
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