Aviso para assustar. Mas já vivemos no tsunami, e os exemplos que aponta Raquel Abecasis o provam, com as greves e as resistências a travarem um governo que abocanha lá de fora, enquanto vai podendo. E nós idem, esperando, lutando pelo que esperamos, que a nossa produção é parca, para uma auto-suficiência económica, como sabemos…
Pode estar a chegar um tsunami
O país político tem que gerar uma
alternativa que ao menos garanta que fazemos o trabalho de casa. Só assim
podemos estar preparados para os abanões que nos chegam de fora.
RAQUEL ABECASIS Jornalista
e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas
OBSERCADOR, 14
mar. 2023, 00:17
Este fim-de-semana, faliram dois bancos
nos Estados Unidos. O que temos
a ver com isso? Tudo, infelizmente. Como diz a teoria do caos: “um bater de
asas no Brasil pode gerar um furacão no Texas”. E um tsunami
em Portugal, acrescento eu.
Em
2007, uma crise imobiliária nos Estados Unidos causou o colapso de um grande
banco no país e esse foi o início de uma longa e triste história de que aqui em
Portugal ainda não fomos capazes de virar a página. A crise
financeira mundial apanhou o país estagnado e daí à bancarrota em 2011 foi um
saltinho.
Não
querendo ser pessimista, a verdade é que as notícias que nos chegam do outro
lado do Atlântico deixam-me alarmada. E se uma nova crise
financeira se abate sobre o mundo em pleno cenário de guerra na Europa, com a
inflação em alta e uma crise de abastecimento mundial?
Corremos o risco de ser apanhados por um tsunami, entregues a um
governo “requentado”, cansado e sem projecto. Como
disse o Presidente da República “dança quem está na roda” e a roda não parece
estar bem frequentada. Se em 2011 as condições do país eram
más, agora tudo piorou um pouco: mais um ano letivo perdido (o terceiro),
Serviço Nacional de Saúde a implodir sem solução à vista, cada vez mais
portugueses sem dinheiro para comer, incapacidade de criar condições para pôr o
país a produzir e a crescer.
O
ministro das Finanças já veio apressar-se a dizer que Portugal e a Europa estão
a salvo das falências americanas. Por favor, assustem-se, a
última vez que ouvimos isto sabemos o que aconteceu.
A “roda” precisa urgentemente de quem possa reinventar a dança e
esteja pronto para o fazer o mais rápido possível. O Primeiro-ministro e o
Governo desistiram de pedalar a bicicleta e o risco de cairmos e nos magoarmos
muito aumenta a cada dia que passa.
Se
a tempestade se adensar, temo que não tenhamos tempo para acertar as
aritméticas presidenciais. O país político tem que gerar uma alternativa que ao
menos garanta que fazemos o trabalho de casa. Só assim podemos estar preparados
para os abanões que nos chegam de fora.
Os
amanhãs que cantam que nos foram anunciados no pós-Troika estão a mostrar os
resultados. E o país está hoje muito pior do que estava em 2007. Esta é a
triste realidade nacional depois de mais dezasseis anos perdidos.
PS:
As notícias que nos chegam de lares espalhados pelo
país levantam o véu de uma realidade que está muito mais disseminada do que
julgamos. Pior do que nos termos deixado transformar num país de velhos é nem
sequer sermos capazes de assegurar aos nossos pais um final de vida digno. Face
aos tristes relatos que nos chegam ocasionalmente sobre a realidade nos lares
espalhados por esse país fora, é urgente criar uma brigada específica para
fiscalizar as instituições que acolhem idosos. Não podemos ficar à espera de
denúncias que, para muitos, não chegam a tempo de lhes salvar a vida.
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