Não tem a ver com a Maravilhosa viagem de Nils Holgerson através da Suécia, a “cavalo” num ganso e
atrás dum bando de patos bravos, viagem inesquecível da minha adolescência,
livro que o meu pai nos comprou, mau grado as dificuldades económicas, mas a
conselho de um professor de português, Duarte
Marques, e que ele, escrupulosamente achou por bem adquirir para nós, feito
que nunca esqueci, pois o livro devia ter sido caro, enorme que era, compra a
que juntou outros dois maravilhosos livros também de acção engraçada e viagens
e histórias da Suíça, da Virgínia de
Castro e Almeida - “Céu aberto” e
“Em pleno azul”.
Aparentemente nada destas
referências saudosas tem a ver com o texto de Salles da Fonseca,
exposição breve mas densa e real das suas viagens numa gélida Suécia, que para
sempre ficou para mim apenas no encantamento transmitido por Selma Lagerlof e a curiosidade acerca de
um povo alto e louro, discreto e superior, dessas regiões tão distantes que nos
deram os ABBA e o prémio Nobel, e a estranha Greta Garbo com a sedutora Ingrid Bergman, mais a Pippi das meias altas…
O certo é que o descritivo
directo e desinibido da Salles da Fonseca, apoiado em
magníficas fotos exemplificativas, e a constante preocupação formativa, pelo
confronto com os nossos hábitos do sul, tornam a sua leitura fascinante, a
lembrar hábitos culturais que nos poderiam estimular a práticas de semelhante
dimensão. Texto apoiado por Adriano Lima e desmistificado por um Anónimo rezingão, que, sem complexos, envereda pelo campo político, sabedor das transformações na panorâmica social sueca.
Mas ontem, uma vez mais, vi o “Portugal em Directo” da nossa Dina
Aguiar, figura sóbria da RTP, que tão bom programa nos transmite
diariamente, e mais uma vez admirei a equipa que nos presenteia com os nossos
hábitos e artes, desta vez distinguindo o Aqueduto
das Águas Livres e uma visita a novo troço das galerias subterrâneas em
excelente estado, com entrevista ao historiador que descreveu tais trabalhos de
recuperação, em magnífico livro ilustrado, além da visita ao Museu do Azeite em Bobadela – Oliveira do Hospital – onde se expõem enormes cilindros de moagem da azeitona, movidos electricamente, e tantas outras referências de
interesse, sobre as coisas do nosso país. E fiquei feliz porque por cá também
vamos fazendo coisas, e desenterrando o passado da nossa curiosidade, embora, é
certo, sem quiosque de troca de livros que preste.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM FDA
NAÇÃO, 08.01.19
IMAGENS:
Ex-igreja de Santo Olo; Igreja de Santa Maria
«Pelos vistos, os suecos concordam comigo quando digo que as
ruínas são monumentos ao desleixo das gerações anteriores. Em Sigtuna as ruínas estão consolidadas e
em sua substituição existem construções relativamente modernas (do séc. XVIII
para cá) que desempenham funções equivalentes. Refiro-me às igrejas, sobretudo.
Como já referi em texto anterior, a cidade foi fundada há mais de
mil anos, é uma relíquia da História sueca e também um aprazível local onde
a estrutura hoteleira entretanto instalada ao longo do município (mais de 4000
camas) lhe permite ser um importante centro de conferências. Não é, pois, um amontoado de ruínas, é,
sim, uma localidade viva e, fundamental, com vida própria. Nada a ver com
Pompeia, Herculano ou Conímbriga e muito menos a ver com Balsa que continua
miseravelmente debaixo do chão. »
IMAGENS:
«Duas
curiosidades que esta simpática localidade me revelou:
Teve durante muitos anos o mais
pequeno edifício servindo de Câmara Municipal em toda a Suécia.
O último posto de telefone
na via pública em toda a Suécia foi transformado em quiosque de troca de
livros.»
«É claro que o actual município tem sede num edifício maior (o
primitivo está dedicado aos tempos escolares livres das crianças mais pequenas)
e o quiosque de troca de livros fez-me pensar numa questão para que não tive
«lata» de pedir informação: - Há quantas
gerações já não há adultos analfabetos na Suécia?
A propósito de Câmaras municipais, amanhã vamos à de Estocolmo e
fechamos a «loja» sueca.»
IMAGENS:
Vista panorâmica de Sigtuna;
Igreja sueca de Santa Maria
(continua)
COMENTÁRIOS:
Adriano Lima 08.01.2019 :
Gostei muito de ler. A Igreja sueca de
Santa Maria é, espantosamente, muito parecida com a Igreja de Santa Maria do Olival,
em Tomar. A única diferença que salta à vista prende-se com o revestimento
exterior.
Anónimo 08.01.2019 :
Têm muito que nos ensinar, mas já
esqueceram muita coisa. E não tarda começam a ver as sua igrejas transformadas em
mesquitas.
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