quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A arte de viajar



Não tem a ver com a Maravilhosa viagem de Nils Holgerson através da Suécia, a “cavalo” num ganso e atrás dum bando de patos bravos, viagem inesquecível da minha adolescência, livro que o meu pai nos comprou, mau grado as dificuldades económicas, mas a conselho de um professor de português, Duarte Marques, e que ele, escrupulosamente achou por bem adquirir para nós, feito que nunca esqueci, pois o livro devia ter sido caro, enorme que era, compra a que juntou outros dois maravilhosos livros também de acção engraçada e viagens e histórias da Suíça, da Virgínia de Castro e Almeida - “Céu aberto” e “Em pleno azul”.
Aparentemente nada destas referências saudosas tem a ver com o texto de Salles da Fonseca, exposição breve mas densa e real das suas viagens numa gélida Suécia, que para sempre ficou para mim apenas no encantamento transmitido por Selma Lagerlof e a curiosidade acerca de um povo alto e louro, discreto e superior, dessas regiões tão distantes que nos deram os ABBA e o prémio Nobel, e a estranha Greta Garbo com a sedutora Ingrid Bergman, mais a Pippi das meias altas
O certo é que o descritivo directo e desinibido da Salles da Fonseca, apoiado em magníficas fotos exemplificativas, e a constante preocupação formativa, pelo confronto com os nossos hábitos do sul, tornam a sua leitura fascinante, a lembrar hábitos culturais que nos poderiam estimular a práticas de semelhante dimensão. Texto apoiado por Adriano Lima e desmistificado por um Anónimo rezingão, que, sem complexos, envereda pelo campo político, sabedor das transformações na panorâmica social sueca.
Mas ontem, uma vez mais, vi o “Portugal em Directo” da nossa Dina Aguiar, figura sóbria da RTP, que tão bom programa nos transmite diariamente, e mais uma vez admirei a equipa que nos presenteia com os nossos hábitos e artes, desta vez distinguindo o Aqueduto das Águas Livres e uma visita a novo troço das galerias subterrâneas em excelente estado, com entrevista ao historiador que descreveu tais trabalhos de recuperação, em magnífico livro ilustrado, além da visita ao Museu do Azeite em Bobadela – Oliveira do Hospital – onde se expõem enormes cilindros de moagem da azeitona, movidos electricamente, e tantas outras referências de interesse, sobre as coisas do nosso país. E fiquei feliz porque por cá também vamos fazendo coisas, e desenterrando o passado da nossa curiosidade, embora, é certo, sem quiosque de troca de livros que preste.

HENRIQUE SALLES DA FONSECA
 A BEM FDA NAÇÃO, 08.01.19
IMAGENS:
Ex-igreja de Santo Olo;  Igreja de Santa Maria

«Pelos vistos, os suecos concordam comigo quando digo que as ruínas são monumentos ao desleixo das gerações anteriores. Em Sigtuna as ruínas estão consolidadas e em sua substituição existem construções relativamente modernas (do séc. XVIII para cá) que desempenham funções equivalentes. Refiro-me às igrejas, sobretudo.
Como já referi em texto anterior, a cidade foi fundada há mais de mil anos, é uma relíquia da História sueca e também um aprazível local onde a estrutura hoteleira entretanto instalada ao longo do município (mais de 4000 camas) lhe permite ser um importante centro de conferências. Não é, pois, um amontoado de ruínas, é, sim, uma localidade viva e, fundamental, com vida própria. Nada a ver com Pompeia, Herculano ou Conímbriga e muito menos a ver com Balsa que continua miseravelmente debaixo do chão. »

IMAGENS:
«Duas curiosidades que esta simpática localidade me revelou:
Teve durante muitos anos o mais pequeno edifício servindo de Câmara Municipal em toda a Suécia.
O último posto de telefone na via pública em toda a Suécia foi transformado em quiosque de troca de livros.» 

«É claro que o actual município tem sede num edifício maior (o primitivo está dedicado aos tempos escolares livres das crianças mais pequenas) e o quiosque de troca de livros fez-me pensar numa questão para que não tive «lata» de pedir informação: - Há quantas gerações já não há adultos analfabetos na Suécia?
A propósito de Câmaras municipais, amanhã vamos à de Estocolmo e fechamos a «loja» sueca.»

IMAGENS:
Vista panorâmica de Sigtuna;   
 Igreja sueca de Santa Maria
(continua)

COMENTÁRIOS:
 Adriano Lima  08.01.2019 : Gostei muito de ler. A Igreja sueca de Santa Maria é, espantosamente, muito parecida com a Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar. A única diferença que salta à vista prende-se com o revestimento exterior.
 Anónimo  08.01.2019 : Têm muito que nos ensinar, mas já esqueceram muita coisa. E não tarda  começam a ver as sua igrejas transformadas em mesquitas.



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