terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Tragédias em mar de lodo



Dois textos com muita pinta:
O do maligno à solta, de Salles da Fonseca, análise despachada e certeira sobre a ascensão e queda possível da China no mundo ocidental, que é uma síntese, apesar de tudo, animadora, no optimismo da possível queda, embrulhados que nos vemos, por agora, nas evidências da sua ascensão, de enxurrada silenciosamente avassaladora.
O da degradação, de cachoeira marulhadora e palpitante de palhaçada, deste nosso país em bolandas pouco interessantes e sem fim à vista, no descritivo de clareza irónica e igualmente certeira, de Helena Matos.
Resta-nos, pois, a diversão espiritual, proveniente destas informações de quem sabe. Não para prevenção, todavia, pois o que tem de ser tem muita força e a esquerda é que está a dar, pedinchões que somos.

I -ANDA O MALIGNO À SOLTA – 4
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 28.01.19

Recapitulando, os temas que mais chocalham o meu equilíbrio são
a ascensão da China,
a invasão muçulmana da Europa e o correspondente «revivalismo» sunita,
a tensão totalitária na Turquia e na Venezuela,
o bitcoin e o narcodólar

* * *
A China tem crescido porque o Ocidente assim o tem determinado.
Xangai.jpg
Na ânsia dos custos baixos, as empresas americanas (foi com os americanos que tudo praticamente começou depois de Nixon ter lá ido encontrar-se com Chu En Lai) pensaram – e conseguiram inundar os mercados mundiais com produtos baratos. Se a deslocalização empresarial levava Detroit e outros centros industriais americanos à falência, isso era questão que não lhes dizia respeito, os políticos que pensassem numa solução. Elas, empresas deslocadas, riam-se dos sindicatos que assim se especializavam no desemprego absoluto.
Comércio livre, sim, bem como livre circulação de capitais mas quanto à livre circulação da mão de obra é que, pelo contrário, nem à mão de Deus Pai: sindicalistas americanos na América; «sindicalistas» chineses na China. E nada de misturas nem trocas de poiso. E os sindicatos concordam com isso pois que, entretanto, se transformaram em forças radicalmente conservadoras e não querem a concorrência barata.
A China propriamente dita ia invadindo o resto do mundo com toda a espécie de quinquilharia vendida nas prolíficas «lojas dos chineses».
Mas a China (a verdadeira, não a minúscula Taiwan) é politicamente comunista e, por paradoxal que isso seja, assenta actualmente numa economia capitalista. Conjugação dos antagónicos ou farsa política?
Como pode um regime ferozmente totalitário conviver com uma economia liberal?
Que perspectivas de desenvolvimento endógeno existem num regime de Partido único?
O que acontecerá quando o proletariado perceber que o crescimento está a abrandar radicalmente, que as diversas «bolhas» estão a rebentar (por exemplo, as cidades fantasma plantadas no meio de nenhures só para que os dirigentes cumpram o plano ditado a partir do centro decisório), que as «grandes» investidoras estatais estão a falir (e a cair no controle directo de Pequim com sérios problemas pessoais para os dirigentes afastados dos cargos que vinham desempenhando) e que ele, proletariado, continua com 5 dias anuais de férias e está a ser silenciado para fingir que tudo continua uma serena maravilha apesar de o desemprego por aquelas bandas corresponder a abandono com 3 meses de subsídio não renováveis?
Quanto custa o funcionamento do Partido único e o das gigantescas Forças Armadas (segredos de Estado) e que política orçamental e monetária financia tudo isso?
A China está certamente muito próxima de perceber que se pode mentir durante algum tempo e enganar algumas pessoas mas que é impossível mentir sempre e tentar enganar toda a gente.
Os castelos de cartas não são eternos nem a diáspora chinesa é estanque em relação aos que lá permanecem e cada vez se saberá mais que cá fora se vive em condições incomparáveis com o que por lá conseguem.
A China vai implodir e não tardará muito.
E depois?
Não tenho uma bola de cristal mas «cheira-me» que ficarão na China as empresas ocidentais cujas produções se destinem ao abastecimento do mercado interno, se esse ainda existir com algum significado depois de uma livre discussão política pluripartidária, depois de a moeda chinesa passar a valer o que deve valer e não o que os decretos determinarem, depois de existir liberdade sindical, depois de haver uma política monetária credível suportada por uma política orçamental transparente e não mais secreta como hoje acontece.
Resta por saber como ficaria tudo a partir do momento em que o Ocidente desistisse da China que, entretanto, se revelara o seu próprio algoz. A pergunta que se impõe é: o que será a China quando o comunismo cair? Eventualmente, uma «molhada de brócolos».
Só que, entretanto, as costas não folgam enquanto o pau não nos sai das costas.
 É que tudo isto, sim, merece ser corrigido condicionando seriamente o maligno que por aí continua à solta.
 (continua)

COMENTÁRIOS
1 - Caro Henrique,  Comungo da análise sobre a China. Obrigado  Um abraço Bartolomeu Costa Cabral
2 - Muito obrigado!  Tenho meditado sobre este cenário e, infelizmente, chego sempre às mesmas conclusões, e digo infelizmente porque vão ser os nossos netos e bisnetos que serão as vitimas desta loucura que o Ocidente consentiu e até ajudou a preparar. Grande abraço do Francisco Atayde

Como se degrada um país /premium
OBSERVADOR 27/1/2019
Junte-se um PM disposto politicamente a tudo a um PR frívolo. Acrescente-se a subordinação à agenda ditada por radicais institucionais na AR e subversivos nas ruas. No final temos um país degradado.
Está a olhar para mim… Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno” – à nossa frente, diante dos nossos olhos, a coisa estava a acontecer: o primeiro-ministro, aquele que foi clareado nos cartazes do seu próprio partido, recorria sem escrúpulos ao argumento racial.
Não é novidade que Costa se porta como um rufia perante a líder do CDS. Novidade ou aviso é que além da compra do eleitorado da função pública, António Costa vai jogar a carta da cor da pele na luta política se tal lhe parecer vantajoso.
Na mesma semana em que Jerónimo de Sousa deixava de ser o “operário metalúrgico” para se tornar “no sogro”, António Costa reivindicou a cor da sua pele para responder a Assunção Cristas. A luta de classes deu lugar à luta das que já foram raças, depois etnias e agora serão aquilo que os donos das palavras determinarem. E António Costa se lhe for útil vai entrar nesse terreno.
Vários carros e caixotes do lixo arderam nos últimos dias em Setúbal. A revolta dos objectos ganhou novos protagonistas: agora são os caixotes do lixo que ardem. E os automóveis. E os ecopontos, coitadinhos, apesar de tanta aula de educação ambiental são os primeiros a marchar nessa espécie de autocombustão indignada. Não deixa de ser irónico que, naquilo que nos é apresentado como protesto pelas más condições de vida, a fúria dos indignados se vire contra um dos serviços que lhes é prestado – a recolha de lixo – serviço esse que contribui para que a sua vida tenha mais condições. Entretanto, os últimos desenvolvimentos da guerra dos objectos diz-nos que os caixotes do lixo desenvolveram uma nova valência pois além de arderam lançam pedras aos bombeiros e aos polícias: Uma equipa dos bombeiros de Sacavém foi apedrejada com violência quando tentava apagar as chamas de dois ecopontos incendiados à entrada do Bairro da Quinta da Fonte, na Apelação. Tiveram de pedir ajuda à PSP, sendo que a patrulha que acorreu ao local também foi apedrejada.” Tudo indica que a guerra dos objectos se vai prolongar. Quem tiver curiosidade sobre os próximos episódios pode recorrer aos canais franceses pois aí esta série já passa há largos anos.
A “bosta da bófia”: na mesma semana em que escreveu “bosta da bófia” a propósito da polícia, Mamadou Ba solicitou protecção à “bosta da bófia” por ter sido “abordado esta sexta-feira quando se dirigia para um debate sobre a crise da democracia, em Lisboa, pelo cabeça de lista do Partido Nacional Renovador (PNR), João Patrocínio, que o confrontou com as suas declarações no Facebook sobre a PSP, enquanto um outro militante gravava a situação para, posteriormente, a partilhar nas redes sociais.” Digamos que Mamadou Ba foi alvo de uma grandolada ao contrário. Só que se os alvos dos arruaceiros forem aqueles que antes grandolavam, então os grandoleiros de ontem de imediato sentem as suas vidas risco e chamam pela mesma polícia que minutos antes insultavam.
Mas deixemos as idiossincrasias do dirigente da SOS Racismo e alarguemos a questão: quais foram os programas de inclusão criados para a comunidade chinesa? Eram ricos os imigrantes ucranianos quando chegaram a Portugal? Não. E os resultados escolares dos seus filhos quais foram?… Felizmente para eles ficaram livres do paternalismo libertador dos activistas. Os seus filhos empenharam-se mais na Matemática que nas dramatizações sobre os abusos de que os seus avós foram vítimas. Mais cedo ou mais tarde teremos de nos interrogar sobre os resultados da actividade dessas associações que ninguém escrutina, dos colectivos de um elemento e dos activistas-empresários da indignação. As políticas do ressentimento engrossam-lhes os curricula, garantem-lhes um modo de vida (em geral confortável) mas pouco ou nada de positivo parecem ter para apresentar como saldo da sua actividade.
PS. O Bloco de Esquerda quer renacionalizar os CTT. E como sempre acontece quando o Bloco quer alguma coisa todos sabemos à partida que mais cedo ou mais tarde o querer do Bloco se há-de impor. Catarina Martins pretende agora que nacionalizar os correios “é defender os serviços públicos, é defender também o Interior” coisa que não quer dizer nada mas faz títulos. No Interior tal como Litoral não se escrevem cartas e aquilo que Catarina Martins defende é sim o crescimento do poder do BE através do crescimento tentacular do Estado. Desde que um serviço seja estatal ele pode degradar-se como está a acontecer ao SNS ou encerrar balcões como faz a CGD que o BE olha para o lado. Enquanto os CTT não são renacionalizados Catarina Martins pode começar a preparar-se para essa grande hora. Como? Proibindo o BE de usar o mail e os SMS, mesmo o fax só em campanha eleitoral. Messenger nem vê-lo. Comunicar só através de carta quiçá manuscrita com caneta de aparo. Vai ser um sucesso.

2 de 233 COMENTÁRIOS
ProtoTypical: Um País degrada-se rigorosamente do mesmo modo que um Sujeito: relativizando a moralidade, postergando a sustentabilidade, minando a credibilidade, rebolando na recompensa imediata; o presente Executivo é, em bom rigor, em tudo semelhante a um psicopata - e um bem perverso!
manel buiça: Como se degrada um país?  Constrói-se numa golpada uma oportunista e parasita Geringonça, mete-se um poucochinho ao leme e um Catavento no topo do Mastro. Rega-se de mentira, manipulação e Socialismos. Convida-se a paralítica e meretriz comunicação social. Junte uma boa dose de anémica e sonolenta oposição. Serve-se a palha a gosto e dá-se a música do costume às crianças cidadãos e aos restantes clientes, crentes e demais rebanhos, e pronto. Simples  pá ! 


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