Dois textos com muita pinta:
O do maligno à solta, de Salles da Fonseca, análise despachada e certeira
sobre a ascensão e queda possível da China no mundo ocidental, que é uma
síntese, apesar de tudo, animadora, no optimismo da possível queda, embrulhados
que nos vemos, por agora, nas evidências da sua ascensão, de enxurrada silenciosamente
avassaladora.
O da degradação, de cachoeira marulhadora e palpitante de palhaçada, deste nosso país em bolandas pouco
interessantes e sem fim à vista, no descritivo de clareza irónica e igualmente
certeira, de Helena Matos.
Resta-nos, pois, a diversão espiritual,
proveniente destas informações de quem sabe. Não para prevenção, todavia, pois o
que tem de ser tem muita força e a esquerda é que está a dar, pedinchões que
somos.
I -ANDA O MALIGNO À SOLTA – 4
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 28.01.19
Recapitulando, os temas que mais
chocalham o meu equilíbrio são
a ascensão da China,
a invasão muçulmana da Europa e o
correspondente «revivalismo» sunita,
a tensão totalitária na Turquia e na
Venezuela,
o bitcoin e o narcodólar
* * *
A China tem crescido porque o
Ocidente assim o tem determinado.
Xangai.jpg
Na ânsia dos custos baixos, as
empresas americanas (foi com
os americanos que tudo praticamente começou depois de Nixon ter lá ido
encontrar-se com Chu En Lai) pensaram – e
conseguiram – inundar
os mercados mundiais com produtos baratos. Se a deslocalização
empresarial levava Detroit e outros centros industriais americanos à falência,
isso era questão que não lhes dizia respeito, os políticos que pensassem numa
solução. Elas, empresas deslocadas, riam-se dos sindicatos que assim se
especializavam no desemprego absoluto.
Comércio livre, sim, bem como livre circulação de capitais mas
quanto à livre circulação da mão de obra é que, pelo contrário, nem à mão de
Deus Pai: sindicalistas americanos
na América; «sindicalistas» chineses na China. E nada de misturas nem
trocas de poiso. E os sindicatos concordam com isso pois que, entretanto, se
transformaram em forças radicalmente conservadoras e não querem a concorrência
barata.
A China propriamente dita ia invadindo o resto do mundo com toda a
espécie de quinquilharia vendida nas prolíficas «lojas dos chineses».
Mas a China (a verdadeira, não
a minúscula Taiwan) é politicamente comunista e, por paradoxal que isso seja,
assenta actualmente numa economia capitalista. Conjugação dos antagónicos ou
farsa política?
Como pode um regime ferozmente
totalitário conviver com uma economia liberal?
Que perspectivas de
desenvolvimento endógeno existem num regime de Partido único?
O que acontecerá quando o proletariado perceber que o crescimento está
a abrandar radicalmente, que as diversas «bolhas» estão a rebentar (por exemplo, as cidades fantasma
plantadas no meio de nenhures só para que os dirigentes cumpram o plano ditado
a partir do centro decisório), que as
«grandes» investidoras estatais estão a falir (e a cair
no controle directo de Pequim com sérios problemas pessoais para os dirigentes
afastados dos cargos que vinham desempenhando) e que ele, proletariado, continua com 5
dias anuais de férias e está a ser silenciado para fingir que tudo continua uma
serena maravilha apesar de o desemprego por aquelas bandas corresponder a
abandono com 3 meses de subsídio não renováveis?
Quanto custa o funcionamento do Partido único e o das gigantescas
Forças Armadas (segredos de Estado) e que política orçamental e monetária
financia tudo isso?
A China está certamente muito próxima
de perceber que se pode mentir durante algum tempo e enganar algumas pessoas
mas que é impossível mentir sempre e tentar enganar toda a gente.
Os castelos de cartas não são
eternos nem a diáspora chinesa é estanque em relação aos que lá permanecem e
cada vez se saberá mais que cá fora se vive em condições incomparáveis com o
que por lá conseguem.
A China vai implodir e não tardará
muito.
E depois?
Não
tenho uma bola de cristal mas «cheira-me» que ficarão na China as empresas
ocidentais cujas produções se destinem ao abastecimento do mercado interno, se
esse ainda existir com algum significado depois de uma livre discussão política
pluripartidária, depois de a moeda chinesa passar a valer o que deve valer e
não o que os decretos determinarem, depois de existir liberdade sindical,
depois de haver uma política monetária credível suportada por uma política
orçamental transparente e não mais secreta como hoje acontece.
Resta por saber como ficaria tudo a partir do momento em que o
Ocidente desistisse da China que, entretanto, se revelara o seu próprio algoz.
A pergunta que se impõe é: o que será a China quando o comunismo cair?
Eventualmente, uma «molhada de brócolos».
Só que, entretanto, as costas não
folgam enquanto o pau não nos sai das costas.
É que tudo isto, sim, merece
ser corrigido condicionando seriamente o maligno que por aí continua à solta.
(continua)
COMENTÁRIOS
1 - Caro Henrique, Comungo da análise sobre a China. Obrigado Um abraço Bartolomeu Costa Cabral
1 - Caro Henrique, Comungo da análise sobre a China. Obrigado Um abraço Bartolomeu Costa Cabral
2 - Muito obrigado! Tenho meditado sobre este cenário e, infelizmente,
chego sempre às mesmas conclusões, e digo infelizmente porque vão ser os nossos
netos e bisnetos que serão as vitimas desta loucura que o Ocidente consentiu e
até ajudou a preparar. Grande abraço
do Francisco Atayde.
II - ANTÓNIO COSTA
Como se degrada um país /premium
OBSERVADOR 27/1/2019
Junte-se um PM disposto politicamente a
tudo a um PR frívolo. Acrescente-se a subordinação à agenda ditada por radicais
institucionais na AR e subversivos nas ruas. No final temos um país degradado.
“Está a olhar para mim… Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se
condeno ou não condeno” –
à nossa frente, diante dos nossos olhos, a coisa estava a acontecer: o
primeiro-ministro, aquele que foi clareado nos cartazes do seu próprio partido,
recorria sem escrúpulos ao argumento racial.
Não
é novidade que Costa se porta como um rufia perante a líder do CDS. Novidade ou
aviso é que além da compra do eleitorado da função pública, António Costa vai
jogar a carta da cor da pele na luta política se tal lhe parecer vantajoso.
Na
mesma semana em que Jerónimo de Sousa deixava de ser o “operário metalúrgico”
para se tornar “no sogro”, António Costa reivindicou a cor da sua pele para
responder a Assunção Cristas. A luta de classes deu lugar à luta das que já
foram raças, depois etnias e agora serão aquilo que os donos das palavras
determinarem. E António Costa se lhe for útil vai entrar nesse terreno.
“Vários carros e caixotes do lixo
arderam nos últimos dias em Setúbal.” A revolta
dos objectos ganhou novos protagonistas: agora são os caixotes do lixo que
ardem. E os automóveis. E os ecopontos, coitadinhos, apesar de tanta aula de
educação ambiental são os primeiros a marchar nessa espécie de autocombustão
indignada. Não
deixa de ser irónico que, naquilo que nos é apresentado como protesto pelas más
condições de vida, a fúria dos indignados se vire contra um dos serviços que
lhes é prestado – a recolha de lixo – serviço esse que contribui para que a sua
vida tenha mais condições. Entretanto,
os últimos desenvolvimentos da guerra dos objectos diz-nos que os caixotes do lixo
desenvolveram uma nova valência pois além de arderam lançam pedras aos
bombeiros e aos polícias: “Uma equipa dos bombeiros de Sacavém foi apedrejada com violência quando
tentava apagar as chamas de dois ecopontos incendiados à entrada do Bairro da
Quinta da Fonte, na Apelação. Tiveram de pedir ajuda à PSP, sendo que a
patrulha que acorreu ao local também foi apedrejada.” Tudo indica que a guerra dos objectos se vai
prolongar. Quem tiver curiosidade sobre os próximos episódios pode recorrer aos
canais franceses pois aí esta série já passa há largos anos.
A “bosta da bófia”: na mesma
semana em que escreveu “bosta da bófia” a propósito da polícia, Mamadou Ba
solicitou protecção à “bosta da bófia” por ter sido “abordado esta sexta-feira
quando se dirigia para um debate sobre a crise da democracia, em Lisboa, pelo
cabeça de lista do Partido Nacional Renovador (PNR), João Patrocínio, que o
confrontou com as suas declarações no Facebook sobre a PSP, enquanto um outro
militante gravava a situação para, posteriormente, a partilhar nas redes
sociais.” Digamos que
Mamadou Ba foi alvo de uma grandolada ao contrário. Só que se os alvos dos
arruaceiros forem aqueles que antes grandolavam, então os grandoleiros de ontem
de imediato sentem as suas vidas risco e chamam pela mesma polícia que minutos
antes insultavam.
Mas
deixemos as idiossincrasias do dirigente da SOS Racismo e alarguemos a questão:
quais foram os programas de inclusão criados para a comunidade chinesa? Eram
ricos os imigrantes ucranianos quando chegaram a Portugal? Não. E os resultados
escolares dos seus filhos quais foram?… Felizmente para eles ficaram livres do
paternalismo libertador dos activistas. Os seus filhos empenharam-se mais na
Matemática que nas dramatizações sobre os abusos de que os seus avós foram
vítimas. Mais cedo ou mais tarde teremos de nos interrogar sobre os resultados
da actividade dessas associações que ninguém escrutina, dos colectivos de um
elemento e dos activistas-empresários da indignação. As políticas do
ressentimento engrossam-lhes os curricula, garantem-lhes um modo de vida (em
geral confortável) mas pouco ou nada de positivo parecem ter para apresentar como
saldo da sua actividade.
PS. O Bloco de Esquerda quer renacionalizar os CTT. E como
sempre acontece quando o Bloco quer alguma coisa todos sabemos à partida que
mais cedo ou mais tarde o querer do Bloco se há-de impor. Catarina Martins pretende agora que nacionalizar os
correios “é defender os serviços públicos, é defender também o Interior” coisa
que não quer dizer nada mas faz títulos. No Interior tal como Litoral não se escrevem cartas e aquilo que Catarina Martins defende é sim o crescimento
do poder do BE através do crescimento tentacular do Estado. Desde que um serviço
seja estatal ele pode degradar-se como está a acontecer ao SNS ou encerrar
balcões como faz a CGD que o BE olha para o lado. Enquanto os CTT não são
renacionalizados Catarina Martins pode começar a preparar-se para essa
grande hora. Como? Proibindo o BE de usar o mail e os SMS, mesmo o fax só em
campanha eleitoral. Messenger nem vê-lo. Comunicar só através de carta quiçá
manuscrita com caneta de aparo. Vai ser um sucesso.
2 de 233 COMENTÁRIOS
ProtoTypical: Um País degrada-se rigorosamente do mesmo modo que um Sujeito:
relativizando a moralidade, postergando a sustentabilidade, minando a
credibilidade, rebolando na recompensa imediata; o presente Executivo é, em bom
rigor, em tudo semelhante a um psicopata - e um bem perverso!
manel buiça: Como se degrada um país? Constrói-se numa
golpada uma oportunista e parasita Geringonça, mete-se um poucochinho ao leme e
um Catavento no topo do Mastro. Rega-se de mentira, manipulação e Socialismos.
Convida-se a paralítica e meretriz comunicação social. Junte uma boa dose de
anémica e sonolenta oposição. Serve-se a palha a gosto e dá-se a música do
costume às crianças cidadãos e aos restantes clientes, crentes e demais
rebanhos, e pronto. Simples pá !
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