quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Festivais


Tem sido, para mim, um festival de prazeres – humanos, literários, musicais, e agora de orientação cromática – esta saída do Ano Velho e entrada no Ano Novo, proporcionada pelos protagonistas da sua realização - os canais televisivos da TV5 e da RTP, a editora ”tinta da china Lda e, como complemento, o Público, no artigo que segue, sobre a importância da cor na vida humana e, especificamente, a escolhida para este ano – a cor coral.
Na TV5 segui o, aparentemente, último réveillon de Patrick Sébastien em «Le plus grand cabaret du monde”, espectáculo de arte, de humor, de riqueza, de elegância e alegria, a que temos a sorte de assistir, proporcionado por um animador-produtor de extraordinário gabarito, que - e transcrevo da Internet –“Entouré d'une pléiade d'invités, Patrick Sébastien présentera sur scène des numéros exceptionnels : la grande illusion des Ehrlich Brothers, le dressage de chiens de Wolfgang Lauenburger, la boîte magique de Shirley et Dino, l'équilibre sur têtes des Étoiles du Cirque de Pékin, la barre russe de Dandy's ou encore le lanceur de couteaux Los Alamos... . Frequentes vezes a ele assisti, “bouche béante”, mas leio que, sendo superado por um outro programa, em termo de audiências, vai acabar, e lamento, como antes tinha lamentado a saída de Julien Lepers do “Questions pour un champion”, fazendo reviver a ideia triste do efémero, mesmo quando se está no apogeu do êxito.
O livro, - «O Retorno» (editora ”tinta da china Lda) - oferta de Natal - de Dulce Maria Cardoso, ocupou-me parte da manhã, num prazer só ofuscado pelas conversas espantosamente ruidosas de frequentadores do único café aberto neste primeiro dia de ano. Mas, arrumada a cozinha, depois do almoço, refastelei-me no sofá, a ver, em flash-back, o CONCERTO DE ANO NOVO, cuja informação transponho também da Internet: «pela União Europeia de Radiotelevisão (UER)  a partir do Grande Auditório do Musikverein, em Viena, Áustria. Realização e Apresentação: André Pinto Produção: Susana Valente:
«O Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena tem pela primeira vez um maestro alemão. Christian Thielemann dirige terça-feira o concerto visto em mais de 90 países e que chega a mais de 50 milhões de pessoas. O passado do evento, nascido durante a ocupação nazi, da própria filarmónica e a política do maestro estão a ser um dos cartões de visita do concerto que a RTP exibe na manhã do dia 1.»
Um daqueles prazeres que nos dão a segurança de que, mau grado tanta penúria, destruição e fealdade que seguem o Homem, desde sempre, por conta própria ou alheia, o Requinte, a Bondade e a Beleza são igualmente componentes deste nosso mundo humano, em que a Natureza é igualmente fascinante instrumento de bem-estar e criação.
E a RTP1, pela tarde, depois do Cirque du Soleil, presenteou-nos com o seguinte programa de André Rieu:
Programação TV - André Rieu: Love in Venice - Live In Maastricht
“Love in Venice” foi gravado ao vivo em 2014, nas celebrações dos 10 anos de concertos na Vrijthof, na cidade natal de André Rieu, Maastricht. Com a praça decorada ao estilo veneziano, André Riei e a Orquestra Johann Strauss chegam ao palco da RTP1 em 2019-01-01, 16:01: Outro programa extraordinário, festival de música com vozes miraculosas, entre as quais a de uma criança de 9 anos, que a RTP apresentou. Bem-haja.
E, já agora, um estranho texto, com o seu quê de filosófico, que a minha ignorância das modas apreciou, neste Público transposto à Internet:

A cromoterapia e o Pantone de 2019: living coral
A cromoterapia é uma das armas que os designers utilizam para nos seduzir com a criação de produtos que queremos consumir — sem que saibamos o motivo.
PÚBLICO, 1 de Janeiro de 2019
«O ser humano percebeu desde cedo como as cores influenciam a sua forma de ser, percepcionar e estar no mundo. As cores apelam a sentimentos, sensações, emoções e muitas vezes a juízos de valor pintados com preconceitos. Afinal existe algo de profundamente errado naquela pessoa que se veste diariamente de preto ou com tons escuros. Estará de luto ou amargurada? Viverá numa ressaca permanente de tal forma que a sua versão nocturna nunca vislumbra a luz do dia?
Quando a chave que abre os portões do mundo da cor não funciona como deveria, a vida tem que se adaptar. Quantos não viram sonhos barrados — como, por exemplo, a entrada na força aérea — por causa de uns meros cones nas retinas humanas que, na presença de anomalias, causam aquilo que conhecemos como daltonismo?
Infelizmente, não creio que a cor — ou até um conjunto delas — seja suficiente para desviar o olho humano de uma vida digital na qual cada um se pinta ilusoriamente como gostaria de ser, ou seja, com a cor ou as cores que quer.
Melhor do que ninguém, os designers perceberam como a cor é preponderante na relação do ser humano com o meio que o rodeia. A cromoterapia é uma das armas que utilizam para nos seduzir com a criação de produtos que queremos consumir sem que saibamos o motivo.
O feitiço da cor acontece e, de um momento para o outro, não vivemos sem uma peça coral no nosso armário. A mesma peça que nos entrou pelos olhos através daquela pessoa estranha que vimos no seio da multidão e que não esquecemos. Ao mesmo tempo que isto acontece, os manequins das lojas vestem-se de peças 16-1546 living coral e percebemos, de repente, que já estamos em 2019 porque tudo se pinta da cor escolhida pela Pantone.
Mesmo que nos recusássemos a vestir esta cor, vamos vê-la na decoração dos cafés, nas ruas e teremos sempre aquele amigo mais sensível a modas e vaidades que nos falará da cor da moda.
Há 19 anos que a Pantone marca tendências com resultados magníficos na moda e na decoração, definindo uma cor actualmente. O ano 2018 foi marcado pelo ultravioleta que nos entrou pelos olhos em inúmeras manifestações que marcaram aquela que foi — e é — a "Terceira Revolução Feminista", dando-lhe força através da cor. E apesar de este não ter sido um objectivo da Pantone.
Com living coral, a Pantone procura "simbolizar a necessidade inata do ser humano de optimismo e busca de alegria", definiu a directora executiva, Leatrice Eiseman. Por outro lado, através desta vivacidade, a Pantone procura humanizar-nos, libertando-nos do buraco negro desumano em que mergulhámos com a crescente presença de tecnologia e redes sociais.
Infelizmente, não creio que a cor — ou até um conjunto delas — seja suficiente para desviar o olho humano de uma vida digital na qual cada um se pinta ilusoriamente como gostaria de ser, ou seja, com a cor ou as cores que quer.»

Acabo, nesta vibração de sensações felizes, com Cesário Verde :

….E engelhem, muito embora, os fracos, os tolhidos,
Eu tudo encontro alegremente exacto.
Lavo, refresco, limpo os meus sentidos.
E tangem-me, excitados, sacudidos,
O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto!

Pede-me o corpo inteiro esforços na friagem
De tão lavada e igual temperatura!
Os ares, o caminho, a luz reagem;
Cheira-me o fogo, a sílex, a ferragem;
Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura. ….

(«Cristalizações»):

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