De Luís Rosa. De
facto, ao parecer defender a pertinência da escolha, pelo Presidente da República, de João Miguel Tavares para apresentador
do 10 de Junho, com argumentos de
relevância, que ora atacam o snobismo dos contestatários de esquerda ao
rejeitar essa escolha, ora defendem a pertinência da eleição de Tavares –
embora com argumentos enviesados, de aparência fútil - a naturalidade portalegrense
de Tavares, a sua profissão de jornalista, e finalmente a defesa do pluralismo –
concorda, Luís Rosa, que «Tavares não presta» e «Marcelo também não», permitindo-se ainda
fazer ironia acerca do saber falar francês de Marcelo. É, no mínimo,
desconcertante, para não dizer pouco educado, num jogo finório “a dois
carrinhos”, de bem com Deus e o Diabo. Não lhe gabo o jeito, no mínimo, de subserviência
à esquerda, pretendendo demonstrar isenção.
João Miguel Tavares e os snobes do 10 de
junho /premium
LUÍS ROSA OBSERVADOR, 28/1/2019
Escolhido por ser natural do local das
comemorações, JMT foi criticado por falta de "densidade"- uma
acusação delirante vinda de quem andou a lamber as botas do provinciano José
Sócrates durante anos.
1. Parece
que a esquerda bem-pensante, a dos salões e do champagne, e a extrema-esquerda,
a soviética do Gulag e a do caviar do Lux, ficou muito incomodada com o convite
que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu ao jornalista João Miguel
Tavares (JMT) para liderar as próximas comemorações do 10 de junho. A acreditar no musicólogo Rui Vieira Nery, no
embaixador Seixas da Costa, na pianista Gabriela Canavilhas, no comunista Vítor
Dias e no bloquista José Manuel Pureza, Marcelo
praticou vários ‘crimes’ de gosto e de bom tom. A saber:
Tavares não é académico nem
tem uma profissão de bem: médico, advogado, engenheiro, arquitecto ou qualquer
profissão que deixe orgulhosa qualquer família educada durante o Estado Novo;
Tavares é uma espécie de
iletrado sem “obra” — deduzo que seja académica mas também pode ser musical,
literária, teatral ou cinematográfica. Tavares ‘só’ é um colunista e, cúmulo
dos cúmulos, aparece na televisão como a Cristina Ferreira;
Tavares não tem “trajecto
intelectual”. Ou seja, não pensa por aí além e não escreve de forma hermética,
fechada e codificada para que os amigos de Nery, Seixas da Costa e
Canavilhas se deliciem com os signos semióticos que só eles sabem
interpretar.
Confesso-vos que concordo com aqueles
camaradas: Tavares não presta! E Marcelo, que até sabe falar
francês quando condecora um político europeu, também não!
Mas há só dois problemas na argumentação que tão nobres figuras da
sociedade portuguesa apresentaram nesta peça do Público:
JMT
foi convidado por ser natural de Portalegre — terra onde uma parte das
comemorações do 10 de Junho decorrerão por decisão de Marcelo Rebelo de Sousa;
JMT
foi igualmente convidado por ser jornalista. Ou seja, Marcelo quer dar destaque
institucional à comunicação social por entender, como já disse várias vezes,
que é fundamental para o sistema democrático que os media vençam a crise
económica e financeira em que estão mergulhados desde há mais de 10 anos.
Apesar de serem estas as razões que
levaram o Presidente a convidar o malandro do JMT, não foram nelas que a nossa
esquerda bem-pensante se concentrou. Teria sido difícil, aliás, a não ser
que Portalegre fosse uma espécie de Silicon Valley do jornalismo que tivesse
criado a Monocle, alimentado o New York Times e revolucionado o The Guardian
— publicações suficientemente progressistas para os nossos ‘camarados’.
Assim, tiveram de atacar a
suposta falta de curriculum, de obra e, imagine-se, de “densidade” — uma
acusação delirante vinda de quem andou a lamber as botas ao provinciano José
Sócrates durante muitos e longos anos.
2. Na
realidade, o que estes ataques estapafúrdios demonstram são características
compreensivelmente humanas mas igualmente básicas:
O snobismo puro e duro. Uma
espécie de sentimento de casta que entende que a representação do Estado (e
respectivas cerimónias, como as do 10 de junho) não está aberta a
“qualquer um”. É um sentimento antigo que já se tinha manifestado quando um
determinado cidadão de Boliqueime chegou a primeiro-ministro e a
Chefe de Estado ou um político com direito a morar na residência oficial de São
Bento não desistiu do seu apartamento em Massamá;
A arrogância social e cultural.
Como se os representantes permanentes ou ocasionais do Estado fossem apenas
escolhidos a partir do grupo de amigos lá de casa, cujas famílias pertencem ao
mesmo grupo social, circulam pelos salões das recepções diplomáticas ou
pertencem à mesma facção da universidade. Estes, sim, é que têm
“densidade.” Estranhos republicanos estes.
E o espírito sectarista dos ‘democratas’. Neste
grupo trata-se mesmo de sectarismo puro e duro, próprio de comunistas e
bloquistas. Estes sempre foram os ‘democratas’ — mesmo quando prometiam
ditaduras totalitárias e sanguinárias sob a forma de “amanhãs que cantam.” Para
estes, só os seus camaradas é que são dignos representantes do povo.
Esta gente não gosta de pessoas independentes. Seja
por não pertencerem a um dos partidos políticos de referência ou por nunca
terem andado na Maçonaria ou no Opus Dei, seja até mesmo porque simplesmente
nunca se cruzaram com eles no cinema, no teatro ou na galeria de arte. É uma
espécie de medo do estranho, do desconhecido. E um grande preconceito
ideológico.
3. É que uma coisa é o povo ter direito a um elevador
social que lhe dê mais euros ao final do mês para pagar as contas via MB Way.
Outra coisa completamente diferente é um ‘rapaz de Portalegre’, e ainda por
cima um jornalista e logo de direita, liderar as cerimónias do 10 de Junho.
Calma lá! — que a democracia não foi feita para todos mas sim para “os nossos”,
os que estão do lado esquerdo, e certo!, do campo.
Para
esta gente, República que é República só existe enquanto a esquerda mandar na
mente, no coração e na cultura do país e a direita tiver juízo para ficar
caladinha perante o Portugal de Abril — e manter-se refugiada sob o manto falso
da social-democracia e do Centro Democrático Social.
Para
esta gente tão democrata, mas tão herdeira do espírito salazarento do ‘manda
quem pode, obedece quem tem juízo’, a democracia só é democracia enquanto a
direita continuar a pedir licença para dar o seu contributo ao país, ocupada
que está em lidar com o sentimento de culpa da Ditadura.
Mais
de 40 anos após o 25 de abril, a balança do sistema democrático continua desequilibrada
para a esquerda. Seja nas universidades, na comunicação social ou nas
diferentes áreas culturais, continua a existir uma grande falta de pluralismo
na sociedade portuguesa. Muito por culpa da benevolência que é concedida ao
pensamento sectário do PCP e do Bloco de Esquerda, mas também muito por culpa
da elite do PS que se julga dona do país e do regime.
Memorizem esta palavra:
pluralismo. É o que mais falta faz ao nosso
regime para ser, de facto, uma democracia em que as diferentes correntes de
ideias têm o mesmo respeito, em que as pessoas são avaliadas pelo seu mérito
independentemente do seu posicionamento ideológico e em que ninguém está ‘do
lado certo’ como se fosse portador duma superioridade moral, social e política.
É por esse pluralismo que devemos
continuar a lutar.
COMENTÁRIOS
William Smith > maria costa: Esta gente é a personificação típica do snobismo. A rainha de
Inglaterra, p ex, não é snobe. Tem a sua elevada posição mais do que garantida
e não despreza ninguém. Mas estas figurinhas, não. Têm a presunção de que são
os mais cultos, os únicos com bom gosto e, principalmente, desprezam todos
aqueles que, segundo eles, não têm uma elevada posição social. Mas
esgatanham-se para se chegarem aos que consideram ter uma posição social
superior.
Resumindo:
são alpinistas sociais.
Carlos Luz: Não
entendo uma coisa por parte do autor do artigo: se passa o artigo a celebrar a pluralidade e
defendendo o convite a um jornalista fora das tais classes, e sendo que esse
convite foi feito precisamente por Marcelo (que assim neste caso foi
praticamente pioneiro nesta atitude), ler depois que Marcelo "não
presta" torna toda a sua argumentação a favor da acção incoerente. Ou
seja, parece que a atitude é boa e queremos mais, mas apesar de a ter
praticado, o Marcelo não presta. Nada abona a favor do artigo. (e não, não sou
nenhum defensor acérrimo do Marcelo, gosto é de coerência)
Joaquim Moreira: Mais do que
lutarmos pelo pluralismo, devemos lutar contra esta nova forma de snobismo, de
uma esquerda que se formou na luta contra o fascismo. E não na defesa do
pluralismo”. Mas também devemos dizer, com toda a clareza, que foi o actual
Presidente da República que lhes deu todo este protagonismo. De tal maneira o
fez que, agora, teve que pedir ajuda a João Miguel Tavares para “à sua
maneira”, demonstrar que foi uma grande asneira. Quem nasceu para fazer
oposição à direita, nunca pode admitir que esta se confunda com a sua seita.
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