Como fiquei presa à
originalidade e riqueza imagética e sentido irónico das frases de Pat Conroy
com que Salles da Fonseca exemplifica a sua apresentação do livro
daquele, “Música de Praia”, procurei
na Internet
o resumo do livro:
MÚSICA
DE PRAIA de PAT CONROY
«Disposto a romper com o
passado e a superar o recente suicídio da mulher, Jack McCall abandona
a pequena cidade da Carolina do Sul onde sempre viveu. Na companhia da filha,
procura em Roma a paz tão desejada, mas a solidão é perturbada pelo
aparecimento da cunhada, que pretende reconciliá-lo com os sogros judeus e de
dois amigos de infância que lhe pedem ajuda para encontrar um terceiro refractário
da guerra do Vietname, desaparecido desde sempre. Para satisfazer estes
pedidos, Jack vê-se lançado numa jornada arrebatadora, através das recordações
obscuras que atormentaram várias gerações. Espirituoso e dramático, intrigante
e avassalador, Música de Praia é
um romance soberbo de um escritor que continua a ser o contador de histórias
preferidas por muitos leitores. Da placidez eterna de Roma às areias
cálidas da Carolina do Sul, o passado e o presente de um homem, que teima em
procurar na memória a verdade crua e derradeiramente libertadora. Música de Praia é uma narrativa
empolgante, sensível, profunda e poderosa, uma viagem inesquecível e reveladora
dos mais recônditos segredos do coração humano. Pat Conroy é sem dúvida um dos maiores escritores da literatura
norte-americana contemporânea. De ascendência irlandesa, nasceu em 1946 no Sul
dos Estados Unidos, Reside alternadamente em Atlanta e Roma. Publicou o seu
primeiro romance The Boo em 1971. Seguiram-se outros, entre os quais adaptados
ao cinema, tal como O Princípe das Marés.»
Eis o curioso texto de Salles da
Fonseca colhido em A BEM DA NAÇÃO:
HENRIQUE SALLES
DA FONSECA
A BEM FDA NAÇÃO, 13.01.19
Título – Música
de praia
Autor – Pat Conroy; Tradutor – José Luís Luna;
Editor – Círculo
de Leitores; Edição – Setembro de 1996
Antes do livro, refiro-me ao Autor que não conhecia de lado nenhum
até ao momento em que, vasculhando numa prateleira cá de casa, encontrei esta
obra que a família lera mas que me tinha passado ao lado. Pelos vistos, dos 14 livros que escreveu, quatro foram postos
em cinema e levaram vários actores aos Óscares. Nascido em Atlanta, filho de pai que lhe fez a juventude num
inferno, acabou por se fixar na Carolina do Sul onde morreu aos 70 anos de
cancro no pâncreas em 2016.
Para saber mais, ver o que sobre ele informa em português a
Wikipédia no endereço
* * *
Nestas 570 páginas de texto, o Autor descreve o que foi o impacto
da guerra do Vietname na sociedade americana e sobretudo na geração em idade de
então cumprir o Serviço Militar Obrigatório em que as «cunhas» choviam para o
ingresso na Guarda Nacional em vez da opção «normal»,
a da guerra. Como se por cá tivesse sido – e não foi – a alternativa entre o
Exército e a GNR. Mais descreve o que resta da perspectiva sulista em
contraste com os outros americanos, tudo num dramatismo que ficou bem sob os
holofotes de Hollywood como acima refiro.
Com estrutura literária curiosa, o narrador desempenha,
naturalmente, o papel central mas é um outro personagem que se revela, afinal,
autobiográfico do Autor. Ou seja, o tema central da obra passa por ser marginal
e o que nos é apresentado como central é, afinal, marginal. Mas isto são
perspectivas que só se revelam lá para os finais da obra e, entretanto, vamos
passando por personagens bem interessantes que revelam muita plausibilidade e
grandes tiradas de sabedoria.
E a propósito de sabedoria, foram várias as passagens que me
despertaram interesse:
«(…) havia uma história que ela
me obrigava a repetir inúmeras vezes até que adquiri uma qualidade tão maquinal
como as respostas de uma catequista.» (pág. 18);
«Quando ia buscar a filha, olhava para mim de
tal maneira que até parecia que eu era uma amostra de urina.» (pág.18);
Roma «(…) cidade cor de corça.»
(pág. 27).
«(…) um motorista italiano não
guia, faz pontaria.» (pág. 35);
«(…) letra ilegível que me fazia
pensar em sapatos de atacadores desapertados.» (pág. 48);
Na página 62, escreve sobre o
Carnaval de Veneza a que me refiro em https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/anonimando-1841100
Em Roma, «Cada passo que dei
com ela transportou-nos através de várias civilizações empilhadas como camisas
numa gaveta.» (pág. 83);
«A sua perspectiva da
humanidade era unidimensional, mas não imprecisa: os homens eram prisioneiros
dos seus genitais e as mulheres eram as guardiãs da entrada para o Paraíso.» (pág. 206);
Da página 215 à 217 refere o episódio
do General Sherman que contei em https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/general-sherman-1841486
Em Roma, «Um artista de rua
sem talento desenhava o retrato de uma japonesa que se queixava por parecer
coreana.» (pág. 227);
«(…) a caminho da Basílica de São Pedro, ia
uma congregação que se movia lenta e pensativamente como uma manada de
herbívoros que se alimentava de orações, incenso e pão ázimo.» (pág. 232);
«O excesso exuberante da
Basílica de São Pedro levou-me sempre a pensar que a simplicidade dos
protestantes nasceu naturalmente da exorbitância de igrejas como esta.» (pág. 232);
«A fantasia é uma das porcelanas mais
brilhantes da alma.» (pág. 289);
«(…) num século que me parecia cada vez mais
ridículo, achava que a solidão, a oração e a pobreza eram, talvez, cada vez
mais eloquentes e justificáveis nesta época absurda em que a alienação era
tanto atitude como filosofia.» (pág. 326 e seg.);
«(…) na memória do passado utilizável, a
tradução inexacta, os erros de ênfase e a inevitabilidade da interpretação
defeituosa de uma experiência, podia conduzir a uma perspectiva imperfeita das
coisas.» (pág. 366);
Dizia a chatíssima professora de História no Liceu que «Nota-se, pela forma do queixo, que estes
dois jovens descendem de pessoas que colocavam a rectidão acima do mero
esplendor, a justiça acima da mera retribuição e a elegância acima do
espalhafato do meretrício.» (pág. 397);
Sobre a mesma professora, afirma que «A voz dela era tão monótona como a água de um autoclismo a correr»
e continua «Ela conseguia fazer com que
a Carga da Brigada
Ligeira parecessem instruções para dobrar um guardanapo.» (pág. 398);
«Ao longo dos séculos, o calor e o ensino medíocre
fizeram muito para baixar o quociente de inteligência do Sul.» (pág. 399);
«Pairava no ar o cheiro a
festa que fazia mal às artérias e bem à alma.» (pág. 449).
Conclusão: gostei e vou procurar mais obras de PAT CONROY.
COMENTÁRIO: Carlos Fino: : Muito
obrigado por este excelente naco de prosa de um autor que também não conhecia.
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