Alberto Gonçalves reforça-a,
como característica própria de alguns nomes próprios nossos, chamados a dar
parecer, neste caso sobre o caso venezuelano. Discursos inúteis e vazios, no
fundo indiferentes às tragédias alheias, como bastamente o demonstraram também outrora,
no alarido das descolonizações que a tantos afectaram, como hoje aos venezuelanos
e a tantos outros povos que ditadores expulsam, já não em holocaustos de
extermínio, mas profundamente envilecedores, que o desprezo de uns sustenta e a
falsa comiseração de outros acompanha em vibratilidade convencional, natural
conquanto inócua, e que a verve de Alberto Gonçalves denuncia, em troça
consciente dos “nossos”, obrigados a depor…
O que esperamos é que as
coisas se recomponham, no caso da Venezuela, de preferência com mudança de chefe,
mas a animalidade de muitos desses chefes é ponto assente, tal como o é a
apetência desses e doutros pelas chefias. De toda a maneira, para nada servem os
meus leigos augúrios, de participante segundo o lema do “homo sum”, embora não obrigatório, como o é para as chefias do
convencionalismo e do politicamente correcto.
As reacções portuguesas à reacção dos venezuelanos, de
A a J /premium
OBSERVADOR
Como todos os estadistas minúsculos, o
dr. Costa é um enigma. Nunca conseguimos apurar se é mais deficitário na língua
ou no carácter.
A de António Guterres. De modo a evitar “um conflito que será um desastre
para a população do país”, o eng. Guterres apela ao “diálogo”. Há muito que a
população vive entre a opressão e a miséria, disputa comida com cães e, quando
ganha, acaba a comer os cães, mas estas ligeirezas ainda não configuram um
desastre no curioso entendimento do eng. Guterres. A tragédia só virá
se, por cima da violência e da fome, escassear o “diálogo”. Relembro aos
jovens, que abençoadamente desconhecem a figura, que antes de dialogar na ONU e
até antes de dialogar com refugiados sortidos, o eng. Guterres passou uns
anos a promover o “diálogo” em Portugal, exercício que terminou no famoso
“pântano” e na famosa “retirada”. O homem é o equivalente político daquelas
bonecas que sopravam bolhas de sabão e pediam: “Anda brincar comigo…” Em 1995
ou em 2019, não se pode dizer que o eng. Guterres não tem ideias firmes.
Infelizmente, tem apenas uma. E não chega a ser ideia.
B de Belo Governo que nos
apascenta. Pela voz do dr. Santos Silva, o governo acha que o
tempo do sr. Maduro acabou. Pelos vistos, e por sorte, só acabou agorinha
mesmo, o que permitiu que durante longos anos, sob o sr. Maduro ou sob o sr.
Chavéz, os diversos governos que o dr. Santos Silva integrou pudessem anunciar
sucessivas negociatas com o criminoso, perdão, irmão regime venezuelano, com
benefícios óbvios para alguns cidadãos de lá e de cá. Cá, pelo menos, ninguém
será julgado, figurativa ou literalmente.
C de Caramba que o dr. Rio
possui imensa iniciativa. Questionado
sobre a Venezuela, o dr. Rio, que detesta ser questionado sobre qualquer
assunto, fez o que costuma fazer: imitar o governo e decretar que “o tempo
de Maduro acabou”. Não satisfeito, acrescentou ser prematuro reconhecer
Juan Guaidó como presidente interino. Aparentemente, o que o dr. Rio propõe
para a Venezuela é o vazio. Bate certo.
D de Diacho que a dra. Ana Gomes
é mulher de convicções. Para a
eurodeputada (é isso, não é?), o socialismo não falhou na Venezuela porque o
regime do sr. Maduro – e, presume-se, do orangotango anterior – nunca foi
socialista. É um “argumento” recorrente. Sempre que a aplicação prática
do socialismo resvala para a ignomínia, o que acontece em cerca de 100% dos
casos, deixa de ser socialismo e transforma-se na ideologia antipática mais à
mão. Quando o socialismo funciona, o que acontece em cerca de 0% das situações,
constata-se que o socialismo não falha.
E de É preciso ter lata. Para os senhores e as senhoras do BE,
o “chavismo” do sr. Maduro já não presta, embora não fique claro quando é que,
após anos de veneração, deixou de prestar. Se certamente não foi quando o regime começou a
censurar, prender e matar opositores, talvez tenha sido quando interrompeu (?)
o financiamento de agremiações similares ao BE. Mesmo assim, e em homenagem
aos louvores de antigamente, o BE mantém ressalvas, lembrando a “pressão
política instrumentalizada de fora” (leia-se Trump e Bolsonaro), e explicando
que “nem Maduro, nem Guaidó” possuem “legitimidade para estar à frente da
Venezuela”. Defender o primeiro, nestes dias em que o BE decidiu fingir-se
moderado e democrático, pareceria mal. Defender o segundo, de facto legitimado
pelo voto e pela perseguição de assassinos, seria uma moderação exagerada.
F de
Felizmente o PCP não desilude.
Em pleno século XXI (linda expressão), os ingénuos ainda julgam apanhar os
comunistas em falso, ao notar que estes, apesar disto e daquilo, apoiam
ditaduras sanguinárias. Esqueçam o advérbio, meus caros: não há “apesar”
nenhum. O PCP apoia ditaduras sanguinárias porque isso está na sua
essência e, não sei se repararam, no seu nome. “O PCP condena com
veemência a nova operação golpista orquestrada e comandada pelos EUA contra a
Venezuela e o povo venezuelano”, reza um comunicado, sendo que “Venezuela” e
“povo venezuelano”, em português, significam o conjunto de oligarcas e
respectivos jagunços encarregues de ambientar os teimosos nas virtudes do
leninismo. É método velho: à medida que a pedagogia vai eliminando os teimosos
pela bala ou pela larica, o PCP exalta as conquistas revolucionárias e critica
a América por perturbar o idílio.
G de
Graças a Deus pelo jornalismo de referência. Na Sic Notícias, enquanto se exibe um “twit” do
imperador da Bolívia (“Nuestra solidaridad con el pueblo venezolano y el
hermano @NicolasMaduro, en estas horas decisivas en que las garras del
imperialismo buscan nuevamente herir de muerte la democracia y autodeterminación
de los pueblos de Sudamérica.”), um jornalista descobre, sem estranhar, que
até o sr. Morales está contra o sr. Maduro. Pouco depois, um
especialista em temas, Nuno Rogeiro, repete, também sem manifestar qualquer
surpresa, que até o sr. Morales está contra o sr. Maduro. Eis a utilidade da informação televisiva nacional resumida
em minutos. Não admira que os canais ocupem a maior parte do tempo a debater
foras-de-jogo e penáltis.
H de
Hossanas ao serviço público. A
RTP, que como as demais televisões ignorou, anos a fio, a triunfante marcha
bolivariana para a radical penúria, informa que as ruas venezuelanas estão
cheias de multidões “contra o governo e a favor do governo”, sem especificar
que a proporção será a dos adeptos de um Benfica-Riopele no estádio da Luz.
Garanto que preferia dissolver notas em ácido clorídrico a pagar semelhante
esgoto. Misteriosamente, porém, o Orçamento de Estado não permite a opção.
I de
I o que disse o prof. Marcelo?
Provavelmente, que espera que tudo corra pelo melhor e que é preciso apurar
responsabilidades, doa a quem doer. Falando a sério, não sei, nem quero saber,
o que disse o prof. Marcelo, personalidade que enfeita “selfies” e que um
dia voou para Cuba a fim de conhecer Fidel. Há limites para a paciência.
J de
Juro que não imagino o que sucederá na Venezuela. Gostava que as pessoas recuperassem a exacta
liberdade que o socialismo suprimiu. E, por muito que desconfie de heróis,
tendo a acreditar que Juan Guaidó será o homem adequado ao processo, não
tanto pela decência dos que o apoiam, mas pela indecência dos que o contestam,
assumida ou, pior, disfarçadamente.
Nota
de rodapé
Sobre
a “Quadratura do Círculo”, disse o dr. Costa em depoimento gravado: “a
democracia exige um debate plural, inteligente e culto e foi isso que o
programa tem sido [sic] ao longo destes anos”. Sobre os incidentes no Bairro da
Jamaica, disse o dr. Costa em resposta à dra. Cristas: “deve ser pela cor da
minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno.” Como todos os estadistas
minúsculos, o dr. Costa é um enigma. Nunca conseguimos apurar se é mais
deficitário na língua ou no carácter.ís
COMENTÁRIOS:
Ahfan Neca: De A a J
apenas? E as restantes letras? Gostava de as ler para a semana. A sexta à noite
prolonga-se sempre um pouco pelo Sábado para ler a crónica do AG. Sempre boa,
bem escrita, inovadora, criativa. Um soco no estômago de uma sociedade
mal-cheirosa. Fizeram de Portugal um país a caminho de ser uma bolivariana
Venezuela. A coisa é ainda mais absurda quando vemos que o que nos segura de
cairmos na bolivariana valeta é a UE e as suas regras que até mentirosos
cumpulsivos acabam por ter de cumprir por não terem dinheiro para não
cumprirem. Ainda acabamos por ter de agradecer ao Soares o ter-nos metido na UE.
Estranha forma de vida, dizia a fadista..
ProtoTypical > Cipião Numantino (…): Não chega a ser tanga, uma vez que o sentido de humor
pressupõe argúcia e clarividência - e todos sabemos o quão falta de arcaboiço
intelectual é essa chusma. No limite, entrincheiram-se na certeza de que, reconhecendo
o colapso do projecto Marxista, seriam obrigados a dissolver os seus partidos
e, consequentemente, a arranjar emprego como qualquer outro cidadão. Ora,
acredita que, de tão trapaceiros e parasitários, esses seres se encontram
dispostos a abdicar de tão lautos pecúlios e tão diversas regalias? O meu caro
o reconhece, a princípio, acerca da sinistra e racista personagem: «enfarda
mensalmente cerca de 3.500 mocas à pala dos desgraçados mártires dos
contribuintes sempre de calças na mão (...).» O resto explica-se pela inoperância
- ou indiferença - do comum cidadão, que teima em não chamar a si a
responsabilidade pelo seu destino (julgo que seja esse o motivo que, no seio da
sociedade Portuguesa, mais continua a contribuir para sustentar o ideário da Esquerda).
A
reacção de Santos Silva é sintomática do baixo nível da casta que nos
(des)governa: não apenas pelo timing, mas ainda mais pelo oportunismo
que lhe subjaz. Pronuncia-se agora e não antes, pois agora e não antes a queda
de Maduro parece inevitável; como tal, o Governo Português procura lavar as
mãos e ostentar uma face pró-Democracia (apesar de, no fundo, não a possuir). E
pronuncia-se agora sem algum dia se ter pronunciado sobre o regime de Eduardo
dos Santos, o que demonstra o quão cúmplice Santos Silva tem sido, ao longo dos
anos, de alguns dos mais sanguinários modelos políticos em existência: como
Eduardo dos Santos nunca tombou, o seu tempo nunca se esgotou verdadeiramente.
Constata-se, assim, que Costa, Centeno e Santos Silva são criaturas
intermutáveis e não mais do que várias faces de uma mesma moeda.
José Carlos Lourenço: Crónica
imperdível, pela ironia ácida, forma e substância. E o enigma dirigido a Costa do "nunca conseguimos
apurar se é mais deficitário na língua ou no carácter", a propósito da cor
da pele do sujeito, é a cereja no cimo do bolo. Talvez a cor da pele mais
apropriada do estadista seja "cor de burro a fugir" !!
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