Somos mesmo bons. A comprová-lo, o prémio atribuído a Mário
Centeno de melhor ministro das Finanças na Europa, que desfaz o
negativismo de Luís Rosa e alguns dos seus comentadores,
relativamente às nossas Finanças e à lisura do nosso PM.
A notícia:
Mário Centeno eleito o ministro das Finanças do ano na Europa pela The
Banker: Mário Centeno foi o escolhido para o prémio de melhor
ministro das Finanças na Europa, pela revista do Financial Times The Banker.
De facto, somos muito
pessimistas, temos o apreço da Europa e não nos chega isso. Eu também gosto
do Mário Centeno. Mas há muitos outros nomes de portugueses ilustres
que deram o seu contributo lá fora, não nos devemos queixar, antes pelo
contrário: Durão Barroso, António Guterres, Freitas do Amaral… E
agora Centeno… E Ronaldo, o maior. É muito
importante sermos assim bem vistos, sobretudo lá fora. Cá dentro não é
relevante. Até porque já pusemos de parte os heróis de antigamente, Gamas, Cabrais, Magalhães, é sempre
bom trazermos outros à baila.
A ilusão que continuará em 2019 /premium
LUÍS ROSA
OBSERVADOR, 31/12/2018
Seguindo o legado dos ilusionistas
Guterres e Sócrates, Costa transformou-se no Grande Elias do séc. XXI,
prometendo o caminho da felicidade eterna com pouco esforço em troca da maioria
absoluta.
1. Apelidar
António Costa de habilidoso é, cada vez mais, um eufemismo político — é mesmo
uma forma suave de não lhe chamar aldrabão. Costa engana, omite, esconde e até
mente com uma regularidade que já impressiona. É verdade que a habilidade
(leia-se eficácia) com que o faz diferencia-o dos restantes políticos mas, ‘no
final do dia’, a realidade económica dos portugueses não melhorou, nem vai
melhorar, com as fantasias ou ilusões de António Costa. Pelo contrário.
Portugal não só continua a perder poder de compra para a média da União
Europeia (UE) como foi no mandato de António Costa que este indicador inverteu
uma tendência de recuperação depois do mínimo de 75,2% da média da UE atingidos
em 2012: descemos de
77,2% da média da para 76,6% em 2017 — ligeiramente abaixo dos 76,8% atingidos
em 2016. Ou seja, estamos ainda mais longe do nosso melhor resultado: 84% em
1999.
O nosso crescimento económico de 2,8% em
2017, apesar de ter sido comemorado com fogo de artifício pelo Governo como o
mais elevado elevado do séc. XXI português, não só foi apenas o 20.º mais
elevado do ranking da UE, como países do ‘nosso campeonato’ estão a crescer
muito mais do que Portugal: Irlanda (7,2%) República Checa (4,3%), Estónia
(4,9%), Letónia (4,5%), Lituânia (3,8%), Eslováquia (3,4%), Eslovénia (5%) e
Hungria (4%). Isto já para não falar da Espanha que cresce há três anos
consecutivos acima dos 3%, cavando um buraco cada vez maior para Portugal.
As perspectivas para os
próximos quatro anos do Banco de
Portugal e da Comissão
Europeia são ainda mais arrasadoras para Portugal:
depois de um resultado ligeiramente acima dos 2% em 2018, é bastante provável
que voltemos a crescer abaixo desse valor. Ou seja, deveremos ter quatro anos
de desaceleração económica com um crescimento anémico que provavelmente fará
com que Portugal seja ultrapassado pela Eslováquia em termos de poder de
compra, depois da Estónia e da Lituânia já o terem feito.
Portanto, quando ouvimos os
auto-elogios de António Costa pelos feitos do seu Governo é destes números que
temos de recordar. Porque são estes dados que permitem perceber se o país está
no caminho certo para cumprir o grande desígnio do regime democrático:
assegurar aos portugueses um poder de compra dentro da média europeia. Bem pode
Costa garantir que não se deixa iludir pelos seus feitos que o registo de
auto-elogio não passa disso mesmo — de uma
grande, tremenda e irrefutável ilusão.
2. A verdade é que não nos podemos
queixar. Os avisos estão à nossa vista desde que António Costa se coligou
com os partidos mais retrógados e conservadores do nosso espectro
político-partidário e prometeu virar a página da austeridade — que, agora, são
só “anos difíceis”.
A ausência de reformas dignas desse nome que
permitam colocar o país a crescer anualmente mais do que 3% — e bem mais do que
a média da União Europeia. Para tal, é essencial atrair investimento direto
estrangeiro, face à descapitalização do nosso sistema financeiro e das nossas
empresas. Apesar de termos melhorado a performance, ainda estamos muito longe
dos países de leste do ‘nosso campeonato’.
Em vez de tentarmos reduzir
a nossa carga fiscal sobre a produção e as empresas, assim como sobre as
famílias, seguimos o caminho inverso: batemos o record de impostos do Estado em
percentagem do PIB. Nunca como hoje se cobraram tantos impostos sobre a riqueza do país.
Se somarmos as contribuições sociais, estamos a falar de 36,9% do PIB em 2017.
E com tendência para subir em 2018.
Pior: no que diz respeito a impostos sobre a
produção e importações, Portugal tem uma taxa de 15,1% do PIB — superior à da
UE (13,6%).
Uma vez mais, os países do
‘nosso campeonato’ da UE seguem o caminho contrário com uma carga fiscal realmente
competitiva para atrair investimento directo estrangeiro: Irlanda (23,5% do
PIB), a Roménia (25,8%) e a Bulgária (29,5%).
Não será por acaso que a
Roménia, juntamente com a Polónia, República Checa, Hungria e Eslováquia são
dos países da UE que conseguem atrair mais investimento directo estrangeiro,
como já recordamos aqui.
Estes dados só provam que o excesso de peso do Estado
na economia pode ser o sonho de partidos como Bloco e o PCP — que sonham em
transformar Portugal numa espécie de Venezuela em que o regime político toma
conta da economia para destruir tudo o que seja privado — mas nada disto é do
interesse da prosperidade económica do país.
3. Há muitos outros
sinais que continuamos a ignorar. Por exemplo, a excessiva dependência
que Portugal começa a ter face ao turismo. O peso deste
sector no PIB já é de 9% e vale 20% das exportações. Tem atraído muito
investimento em termos de imobiliário mas o excesso de peso do turismo na economia que faz com
que a política de baixos salários e de mão de obra com baixo valor acrescentado
seja ainda mais preponderante — um factor que contraria uma grandes promessas
de António Costa em termos de política salarial.
É
bom termos um sector turístico competitivo mas precisamos de ter um sector
industrial com perfil exportador igualmente competitivo, sob pena do Ministério
da Economia ter de mudar de nome para Ministério do Turismo. A
reindustrialização de que falava Álvaro Santos Pereira é fundamental para o
futuro do país.
Temos ainda o eterno problema chamado dívida. Apesar da dívida pública
ter descido em termos de peso sobre o PIB, não pára de subir em termos
nominais. Com a desaceleração do crescimento económico, a situação da dívida
vai agravar-se. Já para não falar da subida da Euribor, a taxa diretora mais
utilizada nos contratos de crédito da habitação, que se avizinha a partir de
2019.
4. E
depois temos os esquecidos. É
assim que devem ser classificados os trabalhadores do sector privado no
activo — pelo
menos, para esta maioria PS/PCP/BE. Não fazem parte dos dois grupos eleitorais core escolhidos por
António Costa e os seus parceiros (funcionários públicos e pensionistas), não
são representados pelos sindicatos da CGTP e da UGT (a taxa de sindicalização
no setor privado e residual) e pagam todos os impostos, taxas e taxinhas
impostas pelo Governo sem tossir nem mugir.
Entre professores, médicos, enfermeiros, funcionários judiciais, do
fisco, do Serviço Estrangeiros e Fronteiras, entre muitos outros, todos têm
direito a reclamar progressões de carreiras, aumentos salariais, menos horas de
trabalho (35 horas contra 40 horas) e mais direitos na proteção do trabalho,
nos salários e nas pensões. Não é por isso de admirar que, entre 2011 e 2017, o
salário médio do sector público tenha subido 6%
contra apenas 3% no sector privado.
O país cada vez mais desigual entre a função pública (com 671 mil trabalhadores)
e os trabalhadores do sector privado (quase quatro milhões) que está a ser
construído pelo Governo Costa não é coisa que tire o sono nem ao Presidente da
República omnipresente nem à comunicação social.
5. A Opinião Pública ficou surpreendida com o
facto de a manifestação nacional dos coletes amarelos ter sido um enorme flop.
Confesso-vos que não faço desse grupo. Enquanto que França é governada por um
reformista (o presidente Macron) contra quem os gilets jaunes protestavam,
Portugal é governada por um conformista (António Costa) que está focado em ter
uma maioria absoluta em 2019. A receita, aliás, é simples: não reformar para
manter as regalias de pensionistas e funcionários públicos.
Vivemos uma ficção criada pelo Grande Elias
do séc. XXI. Enquanto o personagem de António Silva inventava esquemas para
sacar dinheiro aos amigos, António Costa finge ser um otimista irritante para
vender a ilusão de que uma maioria absoluta do PS em 2019 levará o país ao
caminho da riqueza material e da felicidade eterna com pouco esforço. É
provável que, tal como aconteceu com os ilusionistas António Guterres e José
Sócrates, seja bem sucedido.
Bom Ano Novo para todos os leitores.
Alguns dentre os 61 COMENTÁRIOS:
Joaquim
Moreira : Não deve ter qualquer receio em lhe chamar Aldrabão.
Conhecido no meio como grande manipulador, tem-se revelado tudo isso e muito
mais. A sua ambição política é tal que se está absolutamente nas tintas em
fazer mal. Sempre criando a ilusão de que está a fazer bem. Até porque sabe
muito bem que o mais importante é ter conseguido o poder, e agora tudo fazer
para o manter. O mais grave é o apoio que tem tido e que continua a ter de
vasta gama da elite e de grande parte dos media, sobretudo comentadores. E a quase
totalidade atribui a responsabilidade à oposição. Não percebendo que esta
solução, é ao mesmo tempo governo e oposição.
Liberal
Impenitente: Conforme dizia um comentador do DN de outrora citando
Thatcher, o socialismo acaba-se quando se acaba o dinheiro dos outros. Enquanto
não se acabar, haverá ilusionismo.
António
Sennfelt: Portugal, desde 25.04.74, já por três ocasiões, e
sempre sob um governo socialista, teve de pedir a intervenção financeira
externa, quer do FMI, quer da UE! Tudo indica que vamos a caminho da quarta! O
pior é que a tendência para se repetir sempre o mesmo erro tem uma designação
em psicologia clínica...
José Carlos Lourenço: A ilusão promovida pelo Costa oportunista, manipulador
e aldrabão e seus partenaires de ocasião, teve pasto favorável para se
desenvolver devido ao atraso congénito educacional tuga, bem como ao facto da
clientela corporativa geringonceira (funcionários e aposentados do sector
público) ser o principio e o fim de todas as preocupações governativas. A
comunicação social controlada e manipulada pelo "pensamento correcto"
marxista também cumpre o seu papel a preceito. No entanto, e como por
vezes a mentira tem a perna curta, parece que os "ares" estão a
mudar, em resultado da politica miseravelmente oportunista de priorizar a
chamada reversão de rendimentos em beneficio dos mesmos do costume (clientela
eleitoral), à custa da enorme retracção do investimento público e consequente
deterioração dos serviços e apoios públicos (saúde, educação,
infraestruturas básicas, transportes públicos, protecção civil, etc,
etc). A inexistência de reformas politicas e económicas incrementa a
despesa pública (despesas fixas com pessoal), que é financiada pelo aumento da
dívida pública e pela "eficácia" fiscal (cerca de 37 % do PIB). Com
o crescimento económico a abrandar, qualquer abanão na conjuntura externa vai
fazer cair o castelo de ilusões. Pode ser que 2019 seja a antecâmara do funeral
geringonceiro. A próxima bancarrota está a trilhar o caminho habitual....
victor
guerra: Costa beneficiou de uma expansão do turismo, que se
verificou em toda a Europa, do crescimento económico dos parceiros comerciais,
de uma politica de juros por parte do BCE, que vai trazer problemas e da
expansão de certas actividades, como o sector automóvel e o imobiliário. Todas
as previsões para 2019 são negativas para este quadro. Até onde vai continuar a
mentir, ou a calar, a comunicação e o staff técnico do PR?
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