Encontrei hoje o comentário de
Adriano Lima ao texto de Salles da Fonseca que me servira de
introdução a duas crónicas do Observador,
aplicando as definições de valor
e importância definidos, para
exemplificar ou contestar determinadas actuações ou pontos de vista de gente
nacional. O comentário de Adriano Lima é antes, uma argumentação do mesmo teor
abstracto, como, de resto, o texto pedia. Por isso volto a transmiti-lo, com o
comentário adequado, de Adriano Lima.
Sem filosofia, ou análise da teoria
exposta, e apenas com recurso, sem “peneiras”, contudo, ao “saber do experto peito” como o do nosso
“Velho”
camoniano, tantas vezes usado para ironizar competências retrógradas, eu apenas
lembro quanto os meios mediáticos – para além do papel da cunha ou do compadrio,
tão usados no nosso posicionamento social – quanto os meios mediáticos, repito,
usam e abusam do processo de catapulta para a importância a atribuir a cada um,
com entrevistas frequentes, meio poderoso de chamar a atenção para as figuras
humanas que assim se “valorizam” ganhando “importância” – o que não deixa de
ser justo e simpático, para tantas figuras de mérito injustamente esquecidas.
Mas reconheço que estas
observações nada têm a ver com a análise filosófica do ser. Ou do “nada”, que
tudo é, afinal, vazio, já o informara o “Eclesiastes”.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA
NAÇÃO, 10.01.1
O
valor individual é um conceito endógeno, de medida subjectiva pelo próprio na
razão inversa da humildade, na razão directa da vaidade e tem carácter
estruturante, perene.
A
importância é exógena, de medida objectiva pelos circundantes próximos ou
longínquos, sem obrigatória relação directa com a realidade, frequentemente
caduca, raramente perene, medida na razão inversa da inveja alheia e na razão
directa dos favores esperados pelos observadores.
Como
seria a sociedade se o valor individual fosse reconhecido externamente e a
importância medida pelo próprio com humildade?
Não
tenho uma resposta curta para a questão assim definida, apenas posso concluir
que a ordem dos factores não é arbitrária e que a importância de cada um é
apenas a que os outros lhe atribuem.
COMENTÁRIO
ADRIANO LIMA 10.01.2019
Uma pertinente reflexão sobre uma
questão cada vez mais central nas sociedades contemporâneas. A meu ver, a
análise suscita a intervenção de dois campos distintos, o filosófico e o
científico. O valor individual, que cada um constrói para si conforme a
bitola da sua vaidade ou presunção, prende-se directamente com a natureza
ontológica do ser, logo, suscita o campo da filosofia ou metafísica. A
importância será um problema mais do campo social, logo, científico. No
entanto, não é assim tão nítida essa diferenciação se o carácter do homem é
sempre influenciado pelo meio social e se este é, por sua vez, produto do homem
e do seu comportamento, com as suas virtudes e com os seus defeitos e
imperfeições de toda a espécie. Portanto, julgo que há uma
interdependência, uma pescadinha de rabo na boca. Um ser humano mais perfeito é
algo realizável por si só, no cadinho da sua natureza, fruto de uma metamorfose
natural e conforme uma lei determinista? Ou é algo dependente do arbítrio da
sociedade, ou seja, do exterior?
Não sei responder mas ouso pensar
que a mente humana é o resultado de uma complexa interacção de variáveis
exteriores. Estas teriam um efeito benéfico na formatação da mente se os
valores da Ética e da Moral (kantianas) sobrevivessem às tempestades que abalam
constantemente as sociedades humanas. Hoje, apesar dos recursos da
modernidade, não estamos melhores do que há cem anos.
Desculpe se fiz uma pequena
deriva, mas quis apenas dialogar. Parabéns pelas reflexões que constantemente
nos oferece.
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